DEUSA
DEMÉTER
Acredita-se
que o culto à Deméter tenha sido trazido à Grécia vindo de Creta
durante o período micênico, carregando consigo o seu nome.. Sendo assim, ela é descendente direta da Deusa-Mãe cretense, que com suas virgens e
sacerdotisas, empunhavam serpentes e prestavam culto ao touro. Neste caso,
podemos afirmar que Deméter representaria a sobrevivência da religião e dos
valores matriarcais durante a cultura patriarcal guerreira dos gregos
clássicos.
O hino homérico relata que
ela teria chegado a Eleusis disfarçada de anciã, na época em que as pessoas
vinham do outro lado do mar, de Creta.
A filha de Deméter,
Perséfone, também nasceu em Creta, e a lenda arcaica da união de Zeus, em forma
de serpente, com sua filha também teve lugar em Creta. O filho que nasceu dessa
união foi Dionísio. As coincidências demonstram que existe uma conexão entre a
Deméter documentada em Creta e a que é conhecida na Grécia.
Na
Grécia antiga, Deméter era responsável por todas as formas de reprodução da
vida, mas principalmente da vida vegetal, o que lhe rendeu o título de
"Senhora das
Plantas", "A Verde", "A que atrai o fruto" e "A que atri as
estações". As pessoas a honravam ao usar guirlandas de flores enquanto marchavam
pelas ruas, geralmente descalças. Acreditava-se que pisar na terra descalço
aumentava a comunicação entre os humanos e a Deusa.
Para
os gregos, Deméter era a criadora do tempo e a responsável por sua medição
em todas as formas. Seus sacerdotes eram conhecidos como Filhos da Lua.
Outro
vestígio da antiga consciência matriarcal da Deusa-Mãe, foi transmitido na
devoção católica popular da Virgem Maria entre os povos do Mediterrâneo. Quase
certamente há uma continuidade psíquica entre Maria, a Mãe de Deus, as
antigas deusas da Grande Mãe no Mediterrâneo e no Oriente Próximo e a deusa
Deméter. Mas embora se conheça muitas representações medievais de Maria com
cereais e flores, ela não possui o poder emocional das antigas Mães da Terra e
suas filhas.
Deméter
era a protetora das mulheres e uma divindade do casamento, maternidade, amor
materno e fidelidade. Ela regia as colheitas, o milho, o arado, iniciações,
renovação, renascimento, vegetação, frutificação, agricultura,
civilização, lei, filosofia da magia, expansão, alta magia e o solo.

O RAPTO DE PERSÉFONE

Quando
falamos de Deméter, devemos falar de duas Deusas. O cerne do mito e do culto a
Deméter, era o fato dela ter perdido sua adorada filha Coré (donzela, em
grego). A intimidade entre mãe e filha ressalta o caráter profundamente
feminino dessa religião e constelação mitológica. Coré mais tarde passa a
ser conhecida como Perséfone.
O
mais antigo documento que narra este mito é o belo "Hino à Deméter"
homérico, que nos fala tanto da Deusa Deméter como de sua filha Coré. O
objetivo deste poema é explicar a origem dos mistérios de Elêusis.
A
jovem Coré, diz a narrativa, encontrava-se colhendo flores, quando
foi atraída por um narciso muito belo, mas ao estender a mão para pegá-lo, a terra se
abriu e Plutão (Hades), Senhor dos Mortos, em sua carruagem
de ouro puxada por dois cavalos negros, arrebatou-a e levou-a para ser sua
noiva e Rainha do Subterrâneo. Coré lutou e gritos, mas
nem os deuses imortais como os homens mortais, ouviram seus clamores. Deméter só
pode ouvir o eco do apelo de sua filha e então apressou-se para encontrá-la.
Procurou sua filha por nove dias e nove noites, não parando para comer, dormir
ou banhar-se, só andando errante pela terra, carregando em suas mãos tochas
acesas. Porém quando se apresentou pela décima vez a Aurora, encontrou-se
com Hécate, Deusa da Lua Escura, que lhe diz:
-"Soberana Deméter,
dispensadora das estações, de esplendidos dons, quem dos deuses celestes ou dos
homens mortais raptou Perséfone e afligiu teu animo? Ouvi a sua voz, porém não
vi com meus olhos quem era. Em breve vamos desfazer esse engano".
Assim falou Hécate que
partiu com Deméter, levando em suas mãos as tochas acesas. As duas então
chegaram até Hélio, o deus do sol, que compartilha esse título com Apolo e a mãe
aflita perguntou:
-"Sol, respeita-me tu ao
menos, como Deusa que sou...A filha que pari, encantadora por sua figura...ouvi
sua vibrante voz através do límpido éter, como a de quem se vê violentada, mas
não a vi com meus olhos. Porém tu que sobre toda a terra e por todo o mar
diriges desde o éter divino a olhar de teus raios, diga-me sem enganos se teria
visto a minha filha querida em alguma parte; quem dos deuses ou dos homens
mortais ousou capturá-la para longe de mim, contra sua vontade, pela força".
Hélio então respondeu:
-"Filha de Rea, ...pois é
grande o meu respeito e compaixão que sinto por ti, aflita como estás por tua
filha de esbeltos tornozelos. Nenhum outro dos imortais é mais culpado que Zeus
fazedor de nuvens, que a entregou à Hades para que se torne sua esposa...Assim
que tu, Deusa, dá fim a teu copioso pranto. Nenhuma necessidade há de que tu,
sem razão, guarde então um insaciável rancor."
Deu a entender para a
Deméter que ela deveria aceitar a violação de Perséfone, pois Hades, não era um
genro tão sem valor, mas a Deusa não aceitou seu conselho e agora sentia-se
traída por Zeus. Retirou-se do monte Olimpo, disfarçou-se de uma mulher anciã e
vagou sem ser reconhecida entre as cidades dos homens e os campos. Um certo dia,
ela se aproximou de Elêusis, sentou-se perto do poço Partenio e foi encontrada
pelas filhas de Céleo, o governador de Elêusis. Quando Deméter disfarçada lhes
revelou que procura um emprego de babá, ela a levaram para casa, à sua mãe
Metanira, para cuidar do um irmãozinho chamado de Demofonte.
Sob os cuidados da Deusa,
Demofonte criou-se como um deus. Ela o alimentou com ambrosia e secretamente o
colocou em um fogo que o teria tornado imortal não tivesse Metanira entrado no
local e gritado por medo do filho. Deméter reagiu com fúria, reclamou à Metanira
por sua estupidez, e revelou sua verdadeira identidade. Ao mencionar seu nome
mudou completamente seu visual revelando sua beleza divina. Seu cabelo dourado
caiu pelas costas, e seu perfume e esplendor encheram a casa de luz.
Imediatamente Deméter
ordenou que fosse construído um templo só seu e lá permaneceu envolta em sua dor
e não permitindo que nada germinasse na terra.
Zeus, tendo conhecimento da
situação enviou sua mensageira Íris até Deméter, pedindo que Deméter retornasse
ao Olimpo. Como não concordou, um a um dos deuses olímpicos vieram até ela,
trazendo dádivas e honras. Mas a cada um Deméter fez saber que de modo algum
retornaria ao monte Olimpo, até que sua filha lhe fosse devolvida.
Finalmente Zeus resolve
enviar seu mensageiro Hermes até Hades, ordenado-lhe que trouxesse Perséfone de
volta para que "quando sua mãe a visse com seus próprios olhos, abandonasse a
sua raiva". Hermes ao chegar ao mundo de Hades, encontrou-o sentado próximo à
Perséfone que se encontrava muito deprimida.
O Senhor dos Mortos, antes
de libertar Perséfone, deu-lhe uma semente de romã para comer, o que faria com que ela voltasse
para ele. Assim, foi-lhe permitido voltar para Deméter dois
terços do ano e o restante do ano no mundo das trevas com Hades.
Com
a satisfação de recuperar a filha perdida, Deméter fez com que os cereais
brotassem novamente e com que toda a Terra se enchesse de frutos e flores.
Imediatamente mostrou esta feliz visão aos princípios de Elêusis, Triptolemo,
Diocles e ao próprio rei Celeo e, além disso, revelou-lhes seus sagrados ritos
e mistérios.
O
amor entre Deméter e Coré é um sentimento que somente uma mãe e uma filha
podem realmente compartilhar. Não importa o quanto um pai ame e adore sua filha,
jamais chegará perto do estreito vínculo que existe entre mãe e filha. Ao dar á luz, a mãe, vê a si mesma em pura
inocência naquela pequena pessoinha. Jung nos diria que uma mãe vê em sua
filha é a percepção de seu próprio "self" feminino transcendente,
a perfeição do ser feminino.
Podemos
afirmar, com convicção, segundo Carl Jung, que
"em toda mãe já existiu uma filha e toda a filha
contêm sua mãe" e que toda mulher se estende para trás em sua mãe e para
frente em sua filha. A conscientização destes laços gera o sentimento de que
a vida se estende ao longo de gerações e provocam a sensação de
imortalidade.
ARQUÉTIPO
MATERNAL

No
momento que a mulher recebe em seus braços o seu bebê, o poder arquetípico de
Deméter é plenamente despertado. As dores do parto, consideradas como uma
transição iniciática, desaparecem e uma irradiação de amor demétrico tudo
abrange. Estará aqui e agora desperta para uma nova fase de sua vida: ser mãe.
Uma vez mãe, permanecerá sempre mãe, pois nada apaga a emoção de carregar
um filho sob o coração.
O
arquétipo da Mãe era representado no Olimpo por Deméter. Embora muitas
Deusas
tenham sido mães, nenhuma se compara à esta Deusa, pois ela deseja ser mãe.
Quando está grávida ou criando seus filhos, Deméter atinge o ápice de sua
plenitude enquanto mãe. Ela orgulhosamente proporcionou vida nova e novas
esperanças à sua comunidade. No antigo simbolismo de seu ciclo, ela
corporifica agora a lua cheia, e também o verão abundante com frutos da terra.
O cálice da força vital dentro de si está transbordante.
Este
arquétipo não está restrito à mãe biológica. Ser mãe de criação ou ama
seca, permite que outras mulheres expressem seu amor maternal. A própria
Deméter representou este papel com Demofonte.

MÃE-NATUREZA
O
povo grego. ano após ano, via, com natural pesar, os dias brilhantes do verão
desvanecer-se com a tristeza da estagnação do inverno. Ano após ano, saudava
a explosão de vida e cores da primavera. Habituado a personificar as forças da
natureza e a vestir suas realidades com roupagem de fantasia mítica, ele criou
para si um panteão de deuses e deusas, de espíritos e duendes, que oscilavam
com as estações e seguiam as flutuações anuais de seus fados com emoções
alternadas de alegria e tristeza, que expressava na forma de ritual e de mito.
Um destes mitos é o da Deusa Deméter. Os romanos a conheciam como Ceres.
O
símbolo principal de Deméter era um feixe de trigo e, em seus mistérios em, Elêusis, uma única espiga de milho. É retratada como uma mulher bonita de
cabelo dourado e vestida com roupão azul, considerada a Senhora das Plantas.
Seu animal sagrado é o porco, que representava um sacrifício de fertilidade em
todo o mundo por causa de seus múltiplos úteros. Seu animal sagrado marinho
era o golfinho.

AS TESMOFORIAS
O
festival
grego da
"Tesmoforias"
era
celebrado
anualmente
em
outubro,
em honra a
Deméter e
era
exclusivo
para
mulheres.
Se
constituía
de três
dias de
celebrações
pelo
retorno de
Core ao
Submundo.
Neste
festival,
os
iniciados
compartilhavam
uma
beberagem
sagrada,
feita de
cevada e
bolos.
Uma
das
características
da
Tesmoforia
era uma
punição
aos
criminosos,
que agiam
contra as
leis
sagradas e
contra as
mulheres.
Sacerdotisas
liam a
lista com
os nomes
dos
criminosos
diante das
portas dos
templos
das
Deusas,
especialmente
Deméter e
Ártemis.
Acreditava-se
que
aqueles
desta
forma
amaldiçoados
morreriam
antes do
término
de um ano.
O
primeiro
dia da
Tesmoforia
era
celebrado
o
"kathodos"(baixada)
e
o
"ánodos"(subida), um ritual
em que as
sacerdotisas
castas
levavam
leitões
para serem
soltos
dentro de
grutas
profundas
cheias de
serpentes e
os
restos
decompostos
dos porcos
do
ano
anterior eram
recolhidos.
O segundo dia
era
chamado de
"Nestía",
nele as
mulheres
jejuavam,
sentadas
no chão,
imitando a
forma
ritual dos
processos
da
natureza
e, de
acordo com
uma
perspectiva
mitológica,
representando
a dor de
Deméter
pela perda
da filha,
quando,
inconsolada,
se sentou
ao lado do
poço.
O ambiente
era triste
e,
portanto,
não se
usavam
guirlandas.
No
terceiro
dia,
se
celebrava
um
banquete
com carne
e os leitões
recolhidos
(do ano
anterior)
eram
espalhados
na terra
arada,
e se
invocava a
Deusa de
belo
nascimento,
"kalligeneia".

MISTÉRIOS
ELEUSIANOS

O
propósito
e o
significado
dos
Mistérios
Eleusianos
era a
iniciação
à uma
visão. "Eleusis",
significa
"o lugar
da feliz
chegada",
de onde os
campos
Elíseos
tomam seu
nome. O
termo
"Mistérios"
provêm da
palavra "muein",
que
significa
"fechar"
tanto os
olhos como
a boca.
Faz
referência
ao segredo
que rodeia
as
cerimônias
e a
conformidade
requerida
do
iniciado,
ou seja,
se exige
de ele ou
ela
permita
que se
faça algo:
daí se
deduz o
significado
de
"iniciar".
A
culminação
da
cerimônia
consistia
na
exposição
de objetos
sagrados
no
santuário
interno à
mãos do
sumo
sacerdote
ou
hierofante
(hiera
phainon),
"o que faz
que os
objetos
sagrados
apareçam".
Era
somente
permitido
fazer
alusões
indiretas
sobre o
que
ocorria.
Entre
elas, a
fundamental
era que
Deméter
falava à
sua filha
e se
reunia com
ela em
Eleusis.
Mas,
alguns
escritores
cristãos
violaram
essa regra
e um
assinalou
que o
ponto
culminante
da
cerimônia
consistia
em cortar
uma espiga
de trigo
em
silêncio.
Qualquer
pessoa
podia
assistir
os
Mistérios,
desde que
falasse
grego,
mulheres e
escravos
inclusive,
desde que
não
tivessem
as mãos
sujas de
sangue por
nenhum
crime. Os
Mistérios
eram
realizados
uma vez ao
ano para
mais ou
menos três
mil
pessoas.
Se sabe
que esses
iniciados
não
formavam
nenhuma
sociedade
secreta,
eles
vinham de
todos os
pontos da
Hélade,
participavam
da
experiência
e logo se
separavam.

Os
Mistérios
menores,
que se
celebravam
até o
final de
inverno no
mês das
flores, o
Antesterion
(nosso
fevereiro)
e era
pré-requisito
para a
participação
nos
Mistérios
maiores,
que se
celebravam
no outono.
Esses
Mistérios
exploravam
o que
havia
acontecido
à
Perséfone,
Deusa do
Mundo
Subterrâneo,
quando
estava
colhendo
flores em Nisa. Se
diz que
ela foi
raptada
por Hades
enquanto
colhia um
narciso de
cem
cabeças.
Os gregos
chamavam
de narciso
toda a
planta que
tinha
propriedades
narcóticas.
Esse rapto
representa
várias
idéias,
uma é o
processo
que
experimenta
a semente
ao cair na
terra e
decompõem-se
para
voltar de
novo à
vida. Que
se
representava
simbolicamente
como as
primeiras
núpcias
entre os
reinos da
vida e da
morte.
Porém,
também
representa
o rapto
extático
que
proporcionavam
certas
substâncias
que
estavam
relacionadas
com
Dionísio,
deus da
embriaguez,
que por
sua vez
era Senhor
de Hades
por sua
relação
com tudo
que
apodrecia,
fermentava
e se
transformava
em outra
coisa.
O primeiro
estágio da
iniciação
no
Mistérios
menores
era o
sacrifício
de um
porco
jovem, o
animal
consagrado
à Deméter,
que
substituía
simbolicamente
a morte do
próprio
iniciado.
Como nas
Tesmoforias
esse rito
se ajusta
à variante
órfica do
mito, que
associava
a morte do
leitão com
o rapto de
Perséfone.
O segundo
estágio da
iniciação
era uma
cerimônia
de
purificação
na qual o
iniciado
era
vendado.
As
sucessivas
etapas dos
ritos de
iniciação
são
descritas,
através de
alusões,
inteligíveis
para os já
iniciados,
porém não
para os
profanos.
O
acontecimento
central
dos Mitos
Eleusinos
era a
noite em
que se
consumia a
poção
sagrada
Kykeon. Os
ingredientes
dessa
poção se
constituiu
um segredo
durante
esses 4
mil anos.

Os
Mistérios
maiores se
celebravam
a
princípio
à cada
cinco
anos. Mais
tarde
passaram a
celebrar
anualmente,
no outono:
começava
no dia 15
do mês
Boedromión
(nosso mês
de
setembro)
e duravam
nove dias.
Se reuniam
iniciados
de todos
os lugares
do mundo
helênico e
romano, e
se
declarava
uma trégua
entre as
cidades
estado
gregas
durante
quarenta e
cinco
dias,
desde o
mês
anterior
até o mês
seguinte.
Na véspera
do início,
se levavam
os objetos
sagrados,
o "hierá",
de Deméter
em
procissão
desde
Eleusis
até Atenas.
1- dia 15 do boedromion: Agyrmos, reunião. Proclamação:
Nesse dia
tinha
lugar a
convocação
e
preparação
dos
iniciados.
Os
hierofontes
declaravam
o "prorrhesis",
o início
dos ritos.
2 dia- 16: Elasis ou Helade Mistay: "Ao mar, ó iniciados!"
No segundo
dia os
iniciados
se
purificavam
no mar (Falero),
num rito
chamado de
"expulsão".
Durante nove dias fariam estas abluções na
água do mar, nove dias como Deméter peregrinou pela terra em busca da
verdade sobre o rapto de Perséfone.
Nesse
mesmo dia,
os
iniciados
sacrificavam
um leitão
enquanto o hierofante os instava:
Helade, Mysthai!
3 dia- 17: Hiereia Deuro: Sacrifício
Parece que
nesse dia
se
celebravam
o
sacrifício
oficial em
nome da
cidade de
Atenas.
4 dia- 18: Asclepia
Esse dia
era
chamado de
Asclepia
em honra
de
Asclepio,
deus da
cura, era
outro dia
de
purificação.
5 dia- 19: Yacós ou Pampa, procissão
Esse era
um dia de
celebração
onde se
realizava
um grande
procissão
que
inciava em
Ceramico
(Cemitério
de
Atenas) até Eleusis,
seguindo o
itinerário
sagrado.
Percorriam
uns 32 Km.
Algumas
sacerdotisas
levavam as
"hierás"
em "kistas"fechadas,
ou cestas,
rodeadas
por uma
multidão
que
dançava e
gritava o
nome de
Yaco, cuja
estátua,
coroada de
myrto e
carregando
uma tocha.
Yaco era o
outro nome
de
Dionísio
que,
segundo a
lenda
órfica,
era filho
de
Perséfone
e Zeus,
pai da
mesma. Fui
concebido
em uma
noite em
que o deus
se
aproximou
de uma
caverna
subterrânea
transformado
em
serpente.
Não se
tratava de
Dionísio,
deus do
vinho e do
touro
(cujo
equivalente
é o
cretense
Zagreo),
deus que é
desmembrado,
porém vive
de novo.
Era
Dionísio
como
criança de
peito
místico, o
deus que
morre e
vive
eternamente,
imagem da
renovação
perpétua.
Na
fronteira
entre
Eleusis
(era uma
cidade
pequena à
30km
noroeste
de Atenas) e
Atenas,
pessoas
mascaradas
parodiavam
a
procissão.
Encenavam
o mito que
relatava
como Yambe
ou Baubo
animou
Deméter.
Como em
tantas
festas de
renovação,
preparavam
o
nascimento
do novo
para
substituir
o velho.
Quando as
estrelas
apareciam,
os "mystai"
(iniciados)
rompiam
seu jejum,
pois o dia
vigésimo
do mês
havia
chegado e
segundo as
"Ranas" de
Aristófanes,
o resto da
noite
passavam
entre
cantos e
bailes. Os templos
de Poseidón e
Ártemis se
abriam
para
todos,
porém
atrás
deles
estava a
porta que
dava ao
santuário,
e nada,
exceto os
iniciados,
poderiam
passar sob
pena de
morte.
6 dia - 20: Telete (mysteriodites Nychtes)
Esse era
um dia de
descanso,
jejum,
purificação
e
sacrifícios,
de acordo
com o mito
de jejum
de
Deméter,
representando
o ritual
de
esterilidade
do
inverno. O
jejum se
rompia com
a bebida
de cevada,
mel e
polén (Kykeon) que
preparavam
e
então se
permitia
que os
iniciados
entrassem
no
santuário
sagrado.
Essa
celebração
acontecia
em um
lugar
chamado de
Telesterion,
chamado
assim
porque
aqui se
alcançava
"o
objetivo"
ou "telos".
Era um
local
enorme,
que podia
albergar
milhares
de pessoas
e onde se
exibiam os
objetos
sagrados
de Deméter.
No centro
estava o Anactoron,
uma
construção
retangular
de pedra
com uma
porta em
um de seus
extremos,
que só o
hierofonte
podia
passar.
Essa era a
parte mais
reservada
dos
Mistérios
eleusianos.
Mas o que
exatamente
ocorria
neste
momento?Seria
o começo
da própria
iniciação?
Parece que
se
desenvolvia
em três
etapas: "drómena,
o feito
(Ação); legómena,
o dito
(texto
falado); deiknýmena,
o
mostrado
(visão).
Depois
tinha
lugar uma
cerimônia
especial
conhecida
como "epoptía",
o estado
de "haver
visto", se
celebrava
para os
iniciados
do ano
anterior.
Em drómena
os
iniciados
participavam
de um
desfile
sagrado
pelo qual
se
representava
o relato
de Deméter
e
Perséfone.
Os
legómena
consistiam
em
invocações
ritualísticas
curtas,
pequenos
comentários
que
acompanhavam
o desfile
e
explicavam
o
significado
do drama.
Os
deiknýmena,
a exibição
dos
objetos
sagrados,
culminava
na
revelação
proferida
pelo
hierofante,
cuja
difusão
era
proibida.
Os epoptía
também
incluiam a
exibição
de "hierá",
não se
sabe ao
certo o que
eram esses
objetos
sagrados.
Segundo as
fontes arqueológicas
de
A. Kórte (Zu
den
Eleusinischen
Mysterien,
«Archiv
für
Religions
Wissenschaft»
15, 1915,
116)
supõe-se
que a
enigmática
cesta que
tomavam os
iniciados,
entre
outros
objetos,
havia um
que
representava
o órgão
sexual
feminino,
o qual, em
contato
com o
corpo dos
mystai,
contribuía
com a sua
regeneração
e passavam
a ser
considerados
filhos de
Deméter.
M. Picard
(L'épisode
de Baubó
dans les
mystéres
d'pleusis,
«Revue
d'histoire
des
religions»
1927,
220-255) adiciona
o órgão
masculino.
O iniciado
tocaria
sucessivamente
os dois
objetos,
simbolizando
assim a
verdadeira
união
sexual.
7 dia- 21: Epopteia
Somente à
tarde
tinha
início os
ritos
secretos.
Em
determinado
momentos
deviam
pronunciar
uma
contra-senha
sagrada:"Jejuei,
bebi o
kykeon, o
tomei do
canasto (calathus)
e, depois
de
prová-lo o
coloquei
de novo no
canasto e
dali, ao
cesto".
Misteriosas
palavras,
que sem
sombra de
dúvida,
tinham
grande
significado
para os
iniciados.
Todo o
resto do
dia era
passado em
compasso
de espera
e somente
à noite os
iniciados
entravam
no
santuário.
Um muro à
sua
direita
impedia
que vissem
o local da
"Rocha sem
alegria"
(local em
que se
supõe que
a Deusa
Deméter
esteve
sentada).
Ouviam
lamentos
procedentes
dali.
Chegavam
ao
Telesterion
e
depositavam
os leitões
nas "mégara",
uma
espécie de
sótão do
templo. Em
seguida
peregrinavam
fora do
Telesterion
em busca
de Core
(Perséfone),
na
escuridão
e com a
cabeça
coberta
com uma
carapuça
que não
lhes
permitia
ver nada,
cada
iniciado
era guiado
por um
mystagogo.
Imagine
andar na
escuridão,
totalmente
desorientado,
esperando
em
silêncio,
até que um
gongo soa
como um
trovão e o
hierofonte
clamando
por Core,
até que o
mundo
inferior
se abre e
das
profundezas
da terra
aparece a
Deusa. Daí
um clarão
de luz
enche a
câmara,
crescem as
chamas da
fogueira e
o hierofonte
canta:
-"A Grande
Deusa deu
à luz a um
filho
sagrado:
Brimo
pariu à
Brimós".
Então, em
silêncio
profundo,
levanta
com a mão
uma espiga
de trigo.
Para que
entendam,
Brimo era
uma Deusa
do Mundo
Inferior
em Tesália,
ao norte.
Os nomes
Brimo e
Brimós
sugerem à
introdução
da
agricultura
e de que
nos
Mistérios
da Grécia
houve
influência
tesalia.
Mas que
estão
fazendo
Brimo e
Brimós em
Eleusis?
Kerényi
diz que
Brimo é
"fundamentalmente
um nome
que
designa a
rainha do
reino dos
mortos,
atribuído
à Demeter,
Core e
Hécate em
sua
qualidade
de Deusas
do Mundo
Inferior".
Nesse
caso, o
filho é o
espírito
da
renovação
concebido
no Mundo
Inferior
como
testemunho
vivo de
que na
morte há
vida, já
que está
na
"riqueza"
da
colheita,
o
"tesouro"
do
conhecimento
intuitivo
espiritual.
Brimo,
portanto,
foi o nome
dado ao
filho de
Perséfone,
ao qual
ela deu à
luz no
inferno em
meio as
chamas.
Esse nome
parece
referir-se
à
Dionísio,
o deus de
vida
indestrutível.
8 dia - 22: Plemochoai
Era dia de
sacrifício
e festa.
Sacrificavam-se
touros à
Deméter e
Perséfone
(Core) e
outros
animais,
especialmente
leitões.
Este
festival
era
chamado
Plemochoai,
porque
esse era o
nome dado
aos vasos
(ou taças)
que o
sacerdote
enchia com
um certo
líquido e,
virando-se
para oeste
e depois
para
leste,
derrama ao
solo o que
continham.
O povo,
olhando
para o
céu, grita
"chuva!"
e, olhando
para a
terra,
grita
"concebe!",
hýe, kýe.
Harrison
escreve
que "o
rito do
matrimônio
sagrado e
o
nascimento
da criança
sagrada....era
o mistério
central".
Entretanto,
a
cerimônia
final nos
mostra o
matrimônio
simbólico
da chuva
celestial
com à
terra, que
havia de
conceber o
filho do
grão (da
semente),
porém
existia a
possibilidade
se ser
celebrado
esse
casamento
simbólica
ou
literalmente,
entre o
hierofante
e uma
sacerdotisa
antes do
regresso
de Core.
9 dia - 23: Epistrofe
Neste dia
os
iniciados
voltavam à
Atenas.
Eleusis voltava a velar-se em seus mistérios,
enquanto se despedia dos visitantes, agora renascidos, levando consigo as
experiências de vinculação com as divindades. Assim
acabam os
Mistérios
de Eleusis.

A gestão
desse
culto era
exclusiva
das
famílias
aristocráticas,
com
funções
definidas
para cada
uma delas.
O sumo
sacerdote,
o chamado
hierofante,
devia
pertencer
a família
dos
Eumólpidas,
enquanto a
família
dos
Cérices
procediam
dos
sacerdotes
de traço
imediatamente
inferior,
o portador
da tocha.
A
sacerdotisa
vivia
sempre no
santuário.
O
hierofante
ostentava
o
privilégio
de
escolher
seus
iniciados.
Sobre
todos eles
se
sobrepunha
uma outra
figura, o
chamado
arconte
rei (archon
basileus)
no
eleusino,
que era
ateniense
(era os
atenienses
que
controlavam
o culto),
ao qual
assiste
uma equipe
de
colaboradores
(epistatai),
encarregados
das
finanças.
MORRER
PARA
RENASCER
Morrer
para
renascer,
esse é o
sentido da
iniciação.
O sangue
dos
animais
sacrificados
simbolizavam
a própria
morte do
iniciado.
É Plutarco
que nos
diz que
"morrer é
ser
iniciado".
Só através
da morte
se
regressa à
luz.
Clemente e
Foucart
realmente
estão de
acordo com
essa
idéia:
representar
a busca de
Deméter e
identificar-se
com
Perséfone
é
precisamente
vagar no
mundo
subterrâneo
da morte,
do mesmo
modo que
encontrar
Core é
retornar à
vida
depois da
morte.
Esse mito
grego
recupera
um mito
bem mais
antigo
conhecido
como a
"Descida
de Inanna",
que vai e
vem entre
ambos os
mundos.
Perséfone
aqui é a
faceta da
mãe que
desce e
regressa
de novo à
mãe,
configurando
uma
totalidade
nova. Se
percebe
claramente
uma
continuidade
nessa
relação:
vida em
morte e
morte em
vida. Se
"vê
através"
de uma a
outra, e
isso
liberta a
humanidade
de sua
natureza
de
entidades
antagônicas.
Quando mãe
e filha se
percebem
como uma
única
realidade,
nascimento
e
renascimento
se
convertem
em fases
que provêm
de uma
fonte em
comum:
através da
dita
percepção
se
transcende
a
dualidade.

A
DEUSA TRÍPLICE
A
triplicidade pode ser vista na lua, que é: crescente, cheia e minguante. E, no
fato da Deusa reger o mundo superior, a terra e o mundo inferior. Ela era
também a Donzela ou Virgem, a Mãe e a Anciã, as três principais fases da
vida de toda a mulher. Pois Deméter se vê "Donzela" em sua filha Coré. É "Mãe" desta filha e de tudo que brota e cresce. Mas, ao
perder sua filha Coré para Hades, torna-se "Anciã" associada
diretamente com a morte.
Para
cada fase ou ciclo há perdas que devem ser vivenciadas por todas as mulheres.
No primeiro ciclo, visualiza-se a "morte da donzela", que torna-se uma
jovem nubente e é uma iniciação para fase seguinte, que se tornará mãe,
abençoada com seus próprios filhos. Quando a Mãe não pode mais conceber
(menopausa), passa a tocha da maternidade para filha, transferindo para ela
todos os poderes da fecundidade. A morte da mãe, constitui a mulher idosa que
tem agora o potencial para ingressar na esfera espiritual das anciãs, guardiãs
dos mistérios da morte.
Hoje
estes ciclos raramente são reconhecidos e vividos plenamente pelas mulheres,
pelo fato de habitarem um mundo predominantemente masculino. A
realidade moderna e científica tornou a "Mãe" uma máquina
biológica de produção de bebês, que favorece ou prejudica a política
financeira de uma determinada sociedade.

DEMÉTER
HOJE
Por
mais belo que se pinte um quadro de uma mãe com o filho nos braços, ele
estará longe de ser a realidade para a maioria das mães das sociedades
industrializadas e urbanas do Ocidente. As pressões financeiras, privam a
mulher de permanecer no seio da família, cuidando de seus amados filhos. Até a
licença-maternidade, através de duras penas conseguida, possui um tempo
vergonhosamente limitado, pois a volta ao trabalho quase de imediato, não
permitem que a mãe acompanhe o desenvolvimento de seu bebê. Além de ser
estigmatizada por tal feito, pois ter um filho em nossos dias, significa estar
fora de ação, inativa e lhes é somente permitido olhar saudosamente para o
mundo que caminha sem elas.
Deméter
sofre com o eclipse em nossa civilização. As mulheres que representam seu modo
de ser, não têm condições de competir com as mulheres mais instruídas, pois
a Deméter natural não é tão intelectualizada. Ela adora apenas criar seus
filhos e acaba ficando muito sentimentalizada, tratada com condescendência e
destituída do poder por suas irmãs feministas.
Deméter
nas antigas comunidades agrárias, tinha dignidade, autoridade e uma vida
bastante gratificante. Tudo se perdeu numa sociedade onde tudo é subserviente
às exigências econômicas do monopólio do consumo.

RITUAL
Todos
nós
experimentamos
em nossas
vidas
momentos
em que
temos a
sensação
de
estarmos
mergulhando
no
Submundo e
nas
trevas,
sem
sabermos
se
conseguiremos
emergir
para a
luz
e tempos
melhores.
O
ritual que
se segue
é bem
simples e
lhe
ajudará
muito a
iniciar as
mudanças
inconscientes
necessárias
para
diluir
esses
sentimentos
obscuros e
negativos.
O
sentimento
de
desamparo
afeta
tanto o
espírito
quanto a
mente.
Quando se
atravessa
um
período
negativo,
o mais
importante
não é
saber o
porquê do
quadro,
mas sim
saber como
se pode
revertê-lo.
Material:
1
vela
branca em
um suporte
1
incenso de
patchulli
1
cobertor
1
sino
Acenda
a vela e
entre na
banheira
cheia de
água com
um pouco
de sal.
Concentre-se
na lavagem
de todas
as
vibrações
negativas.
Permaneça
na
banheira o
tempo
necessário
para
relaxar.
Depois
seque-se e
vista uma
túnica ou
roupão.
Segure a
vela com
uma mão e
o sino na
outra. No
sentido
horário
visite
todos os
cômodos
da casa,
badalando
o sino
enquanto
caminha.
Erga a
vela
diante de
cada
janela,
porta e
espelho e
em seguida
toque o
sino,
dizendo:
"Trevas,
fujam
deste sino
e desta
vela,
Que
entre o
equilíbrio.
Vá embora
a
escuridão".
Coloque
a vela no
suporte,
acenda o
incenso e
espalhe a
fumaça
gentilmente
sobre o
seu corpo.
Deite-se
em uma
posição
confortável
e
enrole-se
no
cobertor,
deixando
apenas o
nariz e a
boca
descobertos,
para
permitir
sua
respiração.
Feche
os olhos e
sinta-se
afundando
na Terra.
Relaxe
completamente
e deixe-se
levar às
profundezas.
À medida
que
afunda,
derrame
sua
infelicidade
e seus
sentimentos
depressivos
na Mãe
Terra e no
Senhor da
Floresta.
Se você
sentir
vontade de
chorar,
chore,
pois lhe
fará
muito bem.
Agora
escute o
seu
coração.
Deixe seus
sentimentos
fugirem ao
controle
da mente
consciente
e
alcançarem
aquele
ponto onde
não há
explicação
para se
ouvir o
que se
ouve,
sentir o
que se
sente,
deixe
rolar o
que tiver
que
rolar...
Você
sentirá
então, o
abraço da
Mãe Terra
e a
escuridão
e a
depressão
de seu
interior
começarão
a se
desintegrar.
Uma paz
profunda
tomará
conta de
todo o seu
ser.
À
medida que
sente
estar
dirigindo
a mente
para
pensamentos
mais
positivos,
comece a
se livrar
do
cobertor.
Mas saia
lentamente
de dentro
dele, como
se fosse
um bebê
nascendo
para um
novo
mundo.
Uma
vez livre
do
cobertor,
estique os
braços e
as pernas.
Não se
espante se
estiver
rindo ou
chorando
de
emoção,
é bem
normal.
Agradeça
à Deusa
por Sua
ajuda
passada,
presente e
futura e
dê
boas-vindas
às
mudanças
que
florescem
dentro de
você.
Agora
vá e
faça algo
que lhe
deixe
muito
feliz!

Texto
pesquisado
e
desenvolvido
por
Rosane
Volpatto
Bibliografia
consultada:
O
Oráculo da Deusa - Amy Sophia Marashinsky
A
Deusa e a Mulher - Jean Shinoda Bolen
A
Deusa Interior - Jennifer Barker Woolger/Roger J. Woolger
Mais bibliografia no link:
http://www.rosanevolpatto.trd.br/bibliografia1.html

 
 

 
|