Entre os bailados
folclóricos do Ciclo Natalino da Amazônia, podemos citar o das PASTORINHAS. Esse é o único cujos
componentes são em geral compostos por moças. Foi introduzida no Brasil no século XVI, pelos jesuítas, que para
catequizarem os índios, elaboravam verdadeiras peças teatrais de representação
do nascimento de Jesus.
Nossos índios, acostumados
com seus ritos, que eram realizados em cada momento que julgavam importantes em
suas vidas, identificaram-se com estes eventos, pois eles eram constituídos de
representações dramáticas muito coloridas, movimentadas, com muitas danças e
cantos.
Nessa época, os bailados
pastoris aconteciam sempre à noite, após novenas solenes, que reunia todas as
autoridades eclesiásticas, políticas e o povo, que tinha nesse acontecimento, o
mais importante do ano.
Toda a apresentação era
inspirada nos autos da natividade e realizada em frente a um grande presépio,
todo ornamentado, cujo ponto principal era a imagem do Menino Jesus.
alas, comandadas por uma mestra e
uma contramestra, cantando e exaltando o nome do Menino Jesus.
Acompanhava os cânticos uma
banda composta de instrumentos da época. As primeiras melodias pastoris
brasileiras não eram de caráter folclórico, mas hinos religiosos adaptados para
exibições públicas. Com o tempo, os instrumentos foram sendo substituídos por
outros de origem eminentemente popular e as melodias, antes religiosas, deram
lugar às profanas.
Hoje, as Pastorinhas são
acompanhadas de uma bandinha composta de violão, pandeiro, bombo e clarinete. As
moças portam pandeiros primitivos, só com o arco enfeitado de rosas e fitas
coloridas.
As Pastorinhas também são
conhecidas como "Filhas de Maria" e são em número de 22 figuras:
As Pastorinhas se colocavam à
frente desse presépio, distribuídas em duas
Pastor Guia, Pastor Divino,
Mestra, Contramestra, Diana, Borboleta, Portuguesa, Espanhola, Anjo Gabriel,
Sabina, Cão, Ceifiera, Gentileza, Rosa, Sucena, Flora, Florista, Libertina,
Perdida, Pequenina, Cigana e Saloia e a ensaiata que supervisiona a festa e
prepara a saída e entrada de cada brincante.
O primeiro
personagem a
entrar no palco é
o Pastor Guia que
inicia a festa
cantando:
"Sou o Pastor
Guia, que alegre
venho, acordo
cedo e vou para
as campinas, eu
vou juntar meu
lindo rebanho,
que é dos
maiores; sou eu o
Pastor Guia, que
venho anunciar:
eu trago as
minhas ovelhas
que é para elas
não se debandar."
Foi mantida na
narração a
linguagem em
versão original,
assim como as
cores
correspondentes à
cada personagem:
Anjo -
vermelho
Gentileza -
azul
Pastor
Guia-
vermelho
Açucena -
azul
Mestra -
vermelho
Ceifeira -
azul
Diana -
vermelho
Sabina -
azul
Saloia -
vermelho
Florista -
azul
Hora - vermelho
Libertina -
azul
Jardineira
-
vermelho
Pastor Guia
-
azul
Galego -
vermelho
Contramestra
-
azul
Cigana rica
-
vermelho
Borboleta -
azul
Diabo -
vermelho e
preto
Pequenina -
azul
Rosa -
vermelho
Galega -
azul
Baiana -
vermelho
Cigana -
azul
Camponesa -
vermelho
Perdida -
azul
Estrela -
azul
PASTOR DIVINO
Sou pastor divino
Das montanhas de
Belém
Eu venho rever ao
mundo Jesus
Para o nosso bem
(bis)
ANJO GABRIEL
Acordem belas
pastoras,
Acordem com todo
amor,
Que em Belém foi
nascido
Jesus para nos
salvar.
PASTORAS
Que vozes são
estas
Que vêm
despertar.
ANJO
É o anjo do
Senhor que vem
anunciar
O nascimento de
Cristo, que vem
nos salvar;
Vão pastoras, vão
com alegria
Anunciar o
nascimento de
Jesus.
PERDIDA
Perdida meu Deus,
perdida delas
estou.
Eu não sei aonde
as pastoras
estão.
Todas de mim se
esconderam;
Chamei, tornei a
chamar,
Mas nenhuma me
respondeu.
Eu vim cumprir
minha sina,
A sina que Deus
me deu.
CHAMADA DAS
PASTORAS
Longe, longe das
campinas
Meia noite deu
sinal que Jesus
nasceu
na cidade de
Judá.
Pastoras já é
tempo de fazer
nossa jornada
Que a noite vai
surgindo,
Vai rompendo a
madrugada
Madrugada lá, lá,
lá (bis)
BORBOLETA
Borboleta
bonitinha saia
logo do arusar
Venha adorar Deus
Menino na lapinha
de Belém.
Borboleta é meu
nome, porém eu
danço muito bem,
Venho adorar Deus
Menino na lapinha
de Belém.
PORTUGUESA
Dai-me licença
pastoras prá
portuguesa
entrar,
Que ela vem de
tão longe a Deus
Menino adorar,
Avisto terras
estranhas, areia
Portugal.
Avisto tantos
rapazes debaixo
do laranjal.
ESPANHOLA
Sou eu espanhola
mimosa da
Andaluzia
Sou eu a mimosa
rosa do meio dia.
Meu Deus, se eu
tivesse asas no
céu eu iria
Somente para
adorar Jesus,
José e Maria.
MESTRA
Boa Noite
senhoras e
senhores,
Olhem que a
mestra chegou,
Venho adorar a
Deus Menino,
filho de Nossa
Senhora.
Eu sou a mestra
bem faceira e bem
mimosa
No meu pisar
trago firmeza
Assim como no meu
olhar.
Boa Noite a
todos!
Sou a
contramestra,
bravos a minha
chegada,
Meus senhores
todos me prestem
atenção,
Sou a
contramestra do
lindo cordão.
Boa Noite a
todos!
Vim ajudar a
mestra
A fazer sua
jornada.
DIANA
Sou a Diana
mimosa e faceira,
A Deus Menino
venho adorar,
Por isso mesmo eu
ando entre as
flores,
Colhendo as
borboletas prá
depois amar.
VERSO DE DIANA
Sou a Diana,
rainha da caça.
Fui a Belém à
procura de Jesus
Para o nosso bem.
SABINA
Sou a Sabina, sou
encontrada todo o
dia na calçada.
A calçada é da
academia.
A academia é de
medicina.
Sem banana macaco
se arranja.
Mas viver sem
amor não é canja.
As estudantes da
academia,
Não passam sem
banana,
E a laranja é da
Sabina.
CEIFEIRA
Sou a Ceifeira, o
meu vestido é
azul.
Eu danço e sou
faceira porque
Venho lá do sul.
Sou a Ceifeira do
trigo,
Quem me deseja
comprar,
Com minha
roupinha de casa,
Eu venho ensaiar.
GENTILEZA
Sou a Gentileza
tão formosa e
bela,
Eu não sou rosa,
nem também
jasmim.
No meu jardim eu
sou a mais bela,
E entre as flores
eu sou um bugarim.
Sou a Gentileza
tão formosa e
bela,
Eu não sou rosa,
nem também
jasmim.
O que falta é
habilitação prá
Gentileza
Daqui desse
Cordão.
ROSA
Eu sou a Rosa,
faceira e mimosa;
Eu sou boneca e
sou melindrosa.
Lá no altar sou
altaneira
E no jardim eu
sou a primeira.
SUCENA
Neste palco eu
sou a Deusa,
Sou a Sucena
formosa.
Lá no meu jardim,
Sou a Sucena
formosa.
Lá no céu, as
estrelas brilham.
Meia noite, deu
sinal
Hoje é dia de
Natal.
FLORISTA
Boa noite, meus
senhores!
Chegaram as
floristas do
prado.
Eu ando vendendo
flores fiado.
Hoje é noite de
festa,
Noite de muita
alegria.
Venho adorar Deus
Menino,
Filho da Virgem
Maria.
LIBERTINA
Ó Libertina vem
adorar!
Ó Libertina vem
adorar Jesus no
seu nascimento.
Glória a Deus nas
alturas para
nosso
contentamento!
Passeando a
margem do rio,
Encontrei um
rapaz sedutor.
Ofereceu-me uma
coroa de rainha
Me dizendo que
era um pastor.
Qual a resposta
que destes?
A resposta que
dei foi o "não".
Libertina tu és
tão mimosa!
Libertina do meu
coração.
PERDIDA (Chamada)
Vamos a Belém
fazer oração.
Não fica ninguém
nesta solidão.
Perdida meu Deus.
Perdida delas
estou.
VERSO DA PERDIDA
Perdida, meu
Deus, perdida,
Nesse deserto do
além
Chamo, ninguém me
responde.
Olho, não vejo
ninguém.
Queria encontrar
uma pastora
perdida,
Que me levasse de
volta a Belém.
CÃO
- Ó gentil
pastora, eu quero
lhe falar.
Se queres um
guia, eu posso te
guiar.
Te darei o meu
tesouro,
Ricas montanhas
de ouro.
Se queres ser
minha rainha,
dizes:
É minha
E tudo terás.
PERDIDA
Eu não quero
tesouro,
Nem tampouco tua
riqueza.
Por estes campos
que habito,
Só me pertence a
natureza.
Aquela estrela
que brilha,
Que clareia a luz
do dia,
Eu venho adorar
Jesus,
Filho de Maria.
- As Filhas de
Maria já vão
embora;
já não podem
demorar
Elas vão colher
lindas rosas
Para Jesus
ofertar.
Adeus meu Menino,
Até amanhã se nós
viva for.
Adeus senhores,
adeus senhoras,
Até amanhã no
romper da aurora.
Estrela do céu
guia-me.
Neste mundo
encantador,
As filhas de
Maria vão deixar
o redentor.
Em Pernambuco do
Auto pastoril faz
parte uma figura
curiosa: o Velho.
Cabe a ele, com
suas largas
calças, seus
paletós
alambasados, seus
folgadíssimos
colarinhos, seus
ditos, piadas,
anedotas e
canções obscenas,
animar o
espetáculo,
mexendo com as
pastoras, que
formam dois
grupos: o cordão
encarnado e o
cordão azul.
O Velho também
tira pilhérias
com os
espectadores,
inclusive
recebendo
dinheiro para dar
os famosos
“bailes” -
descomposturas -
em pessoas
indicadas como
alvo. “Bailes”
que muitas vezes,
em outros tempos,
terminavam em
charivari, ao
qual não faltava
a presença de
punhais e
pistolas. O Velho
se encarrega
ainda de comandar
os “leilões”,
ofertando rosas e
cravos, que
recebem lances
cada vez maiores,
em benefício das
pastoras, que têm
seus afeiçoados e
torcedores.
Também nos
Presépios
encontram-se os
dois cordões. O
Encarnado, no
qual figuram a
Mestra, a1ª do
Encarnado e a2ª
do Encarnado,
e o Azul,
com a
Contra-Mestra,
a1ª do
Azul e a2ª do
Azul. Entre os
dois cordões,
como elemento
neutro, moderando
a exaltação dos
torcedores e
simpatizantes,
baila a Diana,
com seu vestido
metade encarnado,
metade azul.
Os pastoris
praticamente
desapareceram das
capitais e
grandes cidades
do Nordeste. Só
nos bairros e
povoados mais
distantes e em
algumas cidades
do interior eles
são vistos, mesmo
assim sem as
características
que marcavam os
velhos pastoris
nordestinos, não
deixando, no
entanto, de
cantar as
jornadas do
começo e do fim:
a do Boa Noite e
a da despedida.
PASTORINHAS DE
PARINTINS
"As Pastorinhas de
Parintins como em
todo o Brasil é
uma peça teatral
encenada e
cantada ao som de
cavaquinhos,
banjos,
castanholas.
Para manter a
história das
pastorinhas e
principalmente
relembrar ícones
que marcaram a
trajetória no
Município, os
grupos
folclóricos
criaram a
Associação
Cultural das
Pastorinhas de
Parintins. A
cultura das
Pastorinhas
ganhou força e
espaço no
Calendário
Cultural de
Parintins e já é
uma referência no
Amazonas. A
representatividade
à brincadeira
veio com a
criação da
Associação
Cultural das
Pastorinhas de
Parintins, uma
vitória que
serviu para
ampliar e
assegurar
recursos para a
brincadeira."
Texto encontrado
no Portal de
Parintins de
autoria de
Soriany Neves e
Foto de Celso
Luis.
PASTORINHAS EM
PIRENÓPOLIS (MG)
Trazida para
Pirenópolis pelo
telegrafista
nordestino Alonso
Machado, As
Pastorinhas é um
auto natalino
bastante
difundido no
nordeste onde é
conhecido como
Pastoril.
Trata-se de uma
peça teatral
cantada, tipo
opereta,
que relata a
anunciação do
nascimento de
Jesus.
Existem, hoje,
duas pastorinhas,
a infantil,
representada por
crianças de idade
de 10 a 12 anos e
a juvenil, de
meninas de 15
anos ou mais. A
mais tradicional
é As Pastorinhas
juvenil. Para a
população
local, é um feito
social de grande
importância para
uma menina de 15
anos, sair nAs
Pastorinhas, algo
como um "debut".
A peça, quando
representada, tem
grande público,
principalmente de
pais e parentes,
que ovacionam e
interagem com
grande fervor.
Alguns elementos são típicos de Pirenópolis, como
por exemplo, os símbolos da Fé, Esperança e
Caridade, representados por meninas menores de 10
anos, que cantam lindamente. Estes símbolos foram
introduzidos pelo Maestro Proprício de Pina em
1923, que foi o primeiro regente e quem obteve
junto ao telegrafista os originais. Também as
roupas, assim como as músicas sofreram
grandes adaptações. Conta-se, pela história oral,
que as primeiras Pastorinhas, chegavam a durar
mais de 4 horas e tinham diversos atos. Hoje a
peça não passa de 2 horas.
A par dos autos
pastoris,
escritos a
preceito e com
música delicada
de acordo com o
motivo religioso
que se celebra,
por poetas,
escritores e
compositores, nas
casas
particulares,
igrejas, teatros
e vários
estabelecimentos
públicos,
erguem-se os
presépios com
toda a sua
figuração
ingênua, mais ou
menos suntuosos.
Tudo isto a
recordar bastante
Portugal e como a
marca indelével
que ali ficou dos
nossos costumes,
da nossa fé.
Texto pesquisado
e desenvolvido
por
ROSANE VOLPATTO
Bibliografia:
Folclore Nacional
I - Alceu Maynard Araújo
Dança Brasil -
Gustavo Côrtes
Lendas e Mitos da
Amazônia - Ararê Marrocos Bezerra e Ana Maria T. de
Paula