~*~JONGO, ANCESTRAL DO SAMBA~*~

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JONGO, ANCESTRAL DO SAMBA

 

Quando os negros foram trazidos para o Brasil, trouxeram como bagagem suas práticas sociais, entre elas: a música, a dança e a religião. A música para eles, tinha conotação tanto religiosa como festiva e geralmente era associada a dança e ao canto.

 

É evidente, que com o passar do tempo, todas estas práticas foram sofrendo modificações ou ajustes, uma vez que, mesclou-se com a cultura do povo que aqui já habitava, passando então, a abordar novos temas. Também foram utilizados para estas evoluções, instrumentos europeus e indígenas, pelo seu fácil acesso e sobretudo, foi adotada a língua portuguesa, como língua de expressão.

 

Jongo é portanto, uma dança de origem afro-brasileira, do mesmo tronco do batuque, ambos ancestrais do samba e do pagode. O Jongo formou-se nas terras por onde andou o café. Surgiu na Baixada Fluminense, subiu a Mantiqueira. Entrou também pela Zona da Mata mineira. No estado montanhês o jongo é conhecido por "caxambu", aliás, denominação dada também ao instrumento fundamental dessa dança, o ataque grande, membranofônio, ora chamado tambu, ora angona, ora caxambu. Denominação essa só adstrita ao jongo porque ele tem muitos outros nomes pelo Brasil afora, em outras danças e cerimônias.

 

Em Taubaté, São Luís do Paraitinga, Pindamonhangaba e Cunha, encontram-se os últimos redutos de jongueiros do Vale Paulista, no momento, em fase de revivescência. Estruturado em roda, em torno de uma fogueira que ajuda a manter a afinação dos tambores, acontece hoje em praças públicas, da mesma forma que, outrora, acontecia nos terreiros. Com ela, os participantes homenageiam São Benedito e os antepassados negros. 

 

 

 

DANÇA

 

Na dança participam homens e mulheres alternados, sempre em redor dos instrumentos, sendo o tambu e o candogueiro colocados no solo. É uma dança de roda que se movimenta no sentido contrário aos dos ponteiros do relógio.

 

No centro da roda, se posiciona um solista, um jongueiro, que canta sua canção, o “ponto”. Os demais respondem em coro de algumas vozes, fazendo movimentos laterais e batendo palmas, nos lugares. O solista improvisa passos movimentando todo o seu corpo. De vez em quando os dançantes dão um giro com o corpo e quando se cansam, saem da roda e descansam.

 

 

INSTRUMENTOS

 

O instrumental é composto geralmente, por dois tambores, um grande, o Tambu e um menor (também chamado joana), o Candongueiro. Encontramos ainda: uma Puíta, a nossa tão conhecida cuíca artesanal; um chocalho, o Guaiá, feito de folhas-de-flandes ou latas usadas.

 

O Tambu, atabaque grande, é um pedaço de madeira em que por meio de fogo é feito um buraco de ponta a ponta. Esse toco tem mais ou menos uns 100 a 120 cm de comprimento, e um diâmetro aproximado de 40 cm. Numa de umas extremidades é colocado um pedaço de couro de boi, e a outra fica livre. Para afinar o tambu, levam-no róximo ao fogo, o que lhe dá um som mais limpo e mais agudo. Quando o couro está frio, dizem que o tambu está rouco.

 

A execução do Tambu é feita com o tocador montado sobre ele, batendo no couro com as mãos espalmadas. Já o Candongueiro fica preso à cintura do tocador, que permanece de pé ou sentado.

 

O candongueiro, atabaque menor, é mais delicado e de menor dimensão, 80 a 100 cm, 30 cm de diâmetro, e o seu som é mais agudo, mais "mulher" e lhe foi dado o nome de "joana".

 

A Puíta é um pau roliço, oco, de mais ou menos 30 cm de comprimento e 15 ou 20 cm de diâmetro. Uma das bocas é recoberta por um couro. No centro deste amarram uma haste de madeira, bem lisa, de 30 cm de comprimento. Ela é tocada da seguinte maneira: o tocador coloca o instrumento entre os joelhos pressionando-o, e com um pano molhado esfrega a haste tirando o som. De vez em quando, coloca uma das mãos sobre o couro, externamente, o que faz tirar sons diferentes, ruídos que mais parecem grunhidos. Para conservar o pano molhado, trazem uma cabaça com água. Tomam um pouco da água e depois cuspindo-a na mão esfregam a haste. Há tocadores que não usam pano, somente a mão molhada, e assim conseguem tirar mais uma gama maior de sons do instrumento.

 

O Guaiá é uma latinha que contém dentro chumbinho, pedrinhas ou "conta de capiá", tendo uma alça para segurar. Assemelha-se a uma caneca fechada. É um chocalho com alça. É tocado somente para mudar o canto, para desatar o ponto que está sendo dançado.

 

 Ultimamente, têm-se visto violões e cavaquinhos no acompanhamento e alguns conjuntos de jongo usam até mesmo instrumentos de sopro em suas apresentações.

 

 

MELODIA

 

As melodias são construídas com o uso de poucos sons. A dificuldade reside no texto literário dos “pontos”, pois são todos enigmáticos, metafóricos. A inexistência de textos de sentido simbólico, que dá às palavras uma semântica peculiar aos jongueiros, parece ter tido origem durante a escravidão, quando os negros necessitavam transmitir informações indecifráveis pelos senhores.

 

O ponto pode ser cantado, rezado ou gungurado, isto é, usando a técnica erudita da "boca chiusa" - sussurro, murmúrio.  

 

O jongo tem início sempre com uma louvação, acompanhada com muito respeito por todos os participantes. Em seguida são cantados os “pontos”, baseados em um verso curto e fácil de ser cantado, que nem sempre são improvisados, pois há aqueles tradicionais que correm o mundo. O ajuste das palavras à música é regulado por compassos fortes.

 

 

Quando o solista quer desafiar alguém, canta o “ponto de demanda”; este deverá decifra-lo, cantando a resposta: fala-se então que “desatou o ponto”. Se não for decifrado, diz-se que “ficou amarrado”. Neste caso, o jongueiro “amarrado” pode passar por várias situações humilhantes e vexatórias, como cair no chão desacordado, ficar sem voz, ou não conseguir andar. É no domínio desse aspecto que se estabelece a hierarquia existente entre os participantes: “cumba” é termo que define os pretos-velhos, antigos na idade e na prática dessa expressão, mestres na arte do improviso, do “amarrar” e do “desatar pontos”.

 

O decifrador deve colocar a mão em um dos tambores e gritar “cachoeira” ou “machado” ocasião em que todos se calam. Em seguida canta a resposta.

 

 

MAGIA

 

Durante o jongo não há práticas fetichistas nem movimentos convulsivos na dança, mas ela é aproveitada veladamente, em ambientes mais tradicionais, para contatos sutis com a magia.

 

Acredita-se que um jongueiro quando é derrotado pode atrair para si alguma desgraça. Quando vai enfrentar um adversário afamado é bom enfiar uma faca de ponta fina em um pé de bananeira, fazendo assim uma "fundanga" para que ele não seja capaz de desatar um ponto.

 

Para se livrar de qualquer perigo, deve-se dançar com um galhinho de arruda ou guiné na orelha esquerda.

O jongo só deve ser dançado à noite, pois as artes que são feitas nele somente são realizadas enquanto não há sol. Geralmente as danças têm início às 21 horas e se prolongam até às 8 horas da manhã do dia seguinte.

 

 

Segundo Edir Gandra, autora de Jongo da Serrinha: do terreiro aos palcos (Rio de Janeiro: GGE/UNI-RIO, 1995),


"o jongo é uma dança de roda, da qual participam homens e mulheres, realizada ao ar livre e à noite; conta a tradição oral dos jongueiros que era dançada pelos escravos, que a transmitiram a seus descendentes”.

 

No jongo os escravos podiam através dos pontos fazer suas combinações, contar suas amarguras e criticar seus senhores.

O jongo era uma "brincadeira" permitida pelos senhores, já que outros ajuntamentos dos negros, para os brancos, poderiam resultar em movimentos revoltosos. Assim preservou-se essa expressão folclórica até os dias atuais.

 

Hoje, encontramos no Grupo Cultural Jongo da Serrinha, formado pela quinta geração de jongueiros e por crianças e jovens da comunidade sob a liderança de Tia Maria do Jongo, um excelente trabalho de divulgação e preservação do patrimônio afro-brasileiro. Parabéns a todos!

 

 

Ocorrência:
Cunha, Lagoinha, Pindamonhangaba, São Luís do Paraitinga, Taubaté.

O jongo é uma das mais ricas heranças da cultura negra presente em nosso folclore, pois então, NÃO VAMOS DEIXAR ESTE SONHO ACABAR!

 


 

Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto