A Catira tem sua origem muito
discutida. Alguns dizem que ela veio da África junto com os negros, outros acham
que é de origem espanhola, enquanto estudiosos afirmam que ela é uma mistura com
origens africana, espanhola e também portuguesa – já que a viola se originou em
Portugal, de onde nos foi trazida pelos jesuítas.
Diversos autores nos contam que a
catira (ou cateretê) no Brasil, é conhecida desde os tempos coloniais e que o
Padre José de Anchieta, entre os anos de 1563 e
1597, a
incluiu nas festas de São Gonçalo, de São João e de Nossa Senhora da Conceição,
da qual era devoto. Teria Anchieta composto versos em seu ritmo e a considerado
própria para tais festejos, já quer era dançada somente por homens, fato que se
observa, ainda hoje, em grande parte do país. Atualmente, ela é dançada também
por homens e mulheres ou só por mulheres.
Catira ou Cateretê é uma dança
genuinamente brasileira.
O Catira ou Cateretê é conhecido e
praticado, largamente, no interior do Brasil, especialmente nos Estados de Minas
Gerais, São Paulo, Goiás e, também, em menor escala, no Nordeste.
EVOLUÇÃO
A Catira em algumas regiões é
executada exclusivamente por homens, organizados em duas fileiras opostas. Na
extremidade de cada uma delas fica o violeiro que tem à sua frente o seu
“segunda”, isto é, outro violeiro ou cantador que o acompanha na cantoria,
entoando uma terça abaixo ou acima. O início é dado pelo violeiro que toca o “rasqueado”,
toques rítmicos específicos, para os dançarinos fazerem a “escova”, bate-pé,
bate-mão, pulos. Prossegue com os cantadores iniciando uma moda viola, com
temática variada em estilo narrativo, conforme padrão deste gênero musical
autônomo. Os músicos interrompem a cantoria e repetem o rasqueado. Os dançarinos
reproduzem o bate-pé, o bate-mão e os pulos. Vão alternando a moda e as batidas
de pé e mão. O tempo da cantoria é o descanso dos dançarinos, que aguardam a
volta do rasqueado.
Acabada a moda, os catireiros
fazem uma roda e giram batendo os pés alternados com as mãos: é a figuração da
“serra abaixo”, terminando com os dançarinos nos seus lugares iniciais. O Catira
encerra com Recortado: as fileiras, encabeçadas pelos músicos, trocam de lugar,
fazem meia-volta e retornam ao ponto inicial. Neste momento todos cantam uma
canção, o “levante”, que varia de grupo para grupo. No encerramento do Recortado
os catireiros repetem as batidas de pés, mãos e pulos.
COREOGRAFIA (segundo Rossini Tavares de Lima)
Rossini Tavares de Lima, em seu livro "Melodia e
Ritmo no Folclore de São Paulo", apresentada a
coreografia da Catira assim:
"Para começar o Catira, o violeiro puxa o
rasqueado e os dançadores fazem a "escova", isto
é, um rápido bate-pé, bate-mão e seis pulos. A
seguir o violeiro canta parte da moda, ajudado
pelo "segunda" e volta ao "rasqueado". Os
dançadores entram no bate-pé, bate-mão e dão
seis pulos. Prossegue depois o violeiro o canto
da Moda, recitando mais uns versos, que são
seguidos de bate-pé, bate-mão e seis pulos.
Quando encerra a moda, os dançadores após o
bate-pé- e bate-mão, realizam a figura que se
denomina "Serra Acima", na qual rodam uns atrás
dos outros, da esquerda para a direita, batendo
os pés e depois as mãos. Feita a volta completa,
os dançadores viram-se e se voltam para trás,
realizando o que se denomina "Serra Abaixo",
sempre a alternar o bate-pé e o bate-mão. Ao
terminar o "Serra Abaixo" cada um deve estar no
seu lugar, afim de executar novamente o bate-pé,
o bate-mão e seis pulos".
O Catira encerra-se com o
Recortado, no qual as fileiras trocam de lugar e
assim também os dançadores, até que o violeiro e
seu "segunda" se colocam na extremidade oposta e
depois voltam aos seus lugares. Durante o
recortado, depois do "levante", no qual todos
levantam a melodia, cantando em coro, os
cantadores entoam quadrinhas em ritmo vivo. No
final do Recortado, os dançadores executam
novamente o bate-pé, o bate-mão e os seis
pulos."
CATIRA EM VOTUPORANGA (SP)
Na
região de Votuporanga, a dança Catira apresenta
características semelhantes à mesma dança
verificada em outras partes do país, todavia
alguns grupos desenvolvem diversas coreografias,
esmerando-se também em passos até acrobáticos.
Em
geral, a evolução da dança é realizada por um
grupo de 6 ou 8 participantes, quase sempre
homens, embora as mulheres hoje já gostam de
participar, mais uma dupla de violeiros.
Não existe indumentária fixa, mas para mostrar a
organização, os grupos preferem trajar roupas
que lembre o caboclo, ou melhor, o boiadeiro:
chapéu às vezes de aba meio larga, camisa xadrez
ou estampada e de mangas compridas, calças
lisas, sapatos ou de preferência botas; alguns
usam um largo cinturão, outros preferem um lenço
amarrado na cintura; Há também quem use um lenço
amarrado no pescoço. Apesar da
semelhança das roupas com o jeito americano a Catira não tem nenhuma influência
da dança country.
Quanto a posição dos elementos: logo após os
violeiros, vem o "palmeiro" (que em vez de um
participante pode ser um par, e portanto o
primeiro par após os violeiros); é quem "puxa" o
palmeado, um catireiro bem treinado. A seguir,
outros pares, completam 6 ou 8 dançadores. Os
violeiros ficam frente a frente, ou virados para
os demais participantes; estes, por sua vez, têm
a posição inicial de pares frente a frente.
Posição normal e inicial:
Os
violeiros iniciam a moda da viola, e após cada
parte dela os demais elementos executam os
figurados, em que se realçam o bate-pé e o
palmeado.
Na
primeira fase, que alguns chamam de Catira
propriamente, há por exemplo o figurado
denominado Meia Lua, onde os participantes ficam
em fila indiana e vão dançando até formar uma
circunferência. Nesta posição eles realizam uma
série de movimentos como o pula lenço: metade
total dos dançadores, em posições alternadas,
utilizam seu próprio lenço segurando-o por duas
pontas opostas, e passam a dançar pulando de
momento a momento o lenço esticado (mais ou
menos como a brincadeira de pular corda feita
por crianças); enquanto isso, os demais
dançadores continuam executando seus passos, sem
lenço. Fazem outros movimentos, como quando os
dançadores ficam ainda em pares, porém virados
para fora, e portanto de costas um para o outro.
Esses movimentos são efetuados durante a moda de
viola.
Depois fazem o recortado.
A partir da posição normal (pares frente a
frente), a cada estrofe da moda os pares mudam
de lugar, longitudinalmente, começando pelos
violeiros. Assim, após cada estrofe determinada,
os dois violeiros invertem sua posição com a do
primeiro par, que é o do "palmeiro" e seu
parceiro. Nova estrofe, e os violeiros passam a
ocupar o lugar do segundo par de dançadores; a
seguir trocam de lugar com o par colocado
normalmente no fim do grupo (quando se trata de
grupo de seis dançadores). Nessas mudanças, o
par do "palmeiro" também acompanhou o de
violeiros, e assim por diante, até chegar à
"tala" (últimos dois dançadores), de forma que,
no final, todos estão em lugares invertidos,
conservando porém a mesma disposição geral.
O
primeiro par é chamado de "palmeiro, o segundo é
conhecido por "grupo do meio" e o último par é o
"tala".
Chegando a inversão completa (4) as posições dos
pares de catireiros passam a ser trocadas outra
vez em sentido oposto, voltando então cada par
ao seu lugar original. Forma-se portanto a
posição inicial do grupo.
Durante o Recortado são feitas também mudanças
de lugar entre os próprios pares, portanto de
uma ala para outra.
Para terminar, vem a Chula. Sem ordem, certa de
posição dos catireiros, o violeiro toca em ritmo
mais rápido, chamado "lundu", e cada dançador
individualmente faz seu sapateado solto por
alguns momentos; quando termina, dá sinal para
outro catireiro, que então passa a fazer seu
figurado individual, solista.
Cada grupo de Catira tem sua coreografia, que
pode apresentar figurados novos, sempre com
palmeado e sapateado, e há o caso de um violeiro
que, sem parar de tocar, também executa um
sapateado.
A catira, ou cateretê, a mais
brasileira de todas as danças, é hoje apresentada nas festas de peões, clubes,
colégios, etc. e é muito apreciada principalmente nos estados de Goiás, São
Paulo e Minas Gerais onde está sempre presente nas Folias de Reis, nas Festas do
Divino, etc.
Os temas das “modas” estão ligados
ao cotidiano - trabalho, amores, estórias, etc. – e são apresentando por dupla
de violeiros e 10 dançadores.
O Professor Luiz Heitor, que
pesquisou a Catira em Goiás, afirma que a “grande arte dos catireiros está nos
bate-pés e palmas, cujo ritmo é diferente a cada aparição de elementos
coreográficos. A catira é uma especialização coreográfica. Qualquer um não pode
dançá-la.”
“Parece uma coisa à toa
Mas tem muito que sabê;
Que não é qualquer pessoa
Que dança o cateretê!”
Catira ou cateretê, uma
manifestação cultural que demonstra a alegria, a criatividade, a arte desse
grande povo brasileiro.