No
resgate e popularização da mitologia nórdica, poucas narrativas fascinam
tanto como a do mito das Valquírias. Celebradas pela música wagneriana,
pela literatura, cinema e até mesmo pelas histórias em quadrinhos, as
guerreiras de Odin ocupam um lugar especial em nosso imaginário sobre a
cultura dos Vikings. Mas, então, quem são elas?
As Valquírias são as
"Defensoras dos Assassinados" da mitologia nórdica, correspondendo às
Erínias gregas. Mas elas não possuíam a ânsia grega de vingança do
matricídio, a proteção da linhagem feminina ligada às Erínias. Mas, os
nomes das Valquírias, tal como preservados em algumas histórias, retêm uma
concepção das selvagens primais das Erínias, são eles: Hlokk (a
Estridente), Goll (a Gritadora) e Skogul (a Violenta).

Numa visão de sonho que teria ocorrido antes da
batalha de Clontarf em Dublin (1014), um
estranho grupo de 12 mulheres foi visto tecendo
uma macabra tapeçaria feita de cabeças e
entranhas de homens. O poema é composto de 12
estrofes e 88 versos:
“A urdidura é feita de entranhas humanas;
Cabeças humanas são usadas como pesos;
As varas do tear são lanças encharcadas de
sangue;
As hastes são firmes,
E flechas são as lançadeiras.
Com espadas nós teceremos
A teia da batalha. (2ª estrofe, NJÁL’S SAGA 157)
É horrível agora
olhar para o redor,
uma nuvem vermelha de sangue
Escurece o céu.
O firmamento está manchado
com o sangue dos homens,
e as valkyrjor
cantam sua canção”. (10ª estrofe, NJÁL’S SAGA
157).
Podemos perceber no poema as Valquírias como
tecelãs do destino dos homens, sendo comparáveis
as Erínias (ou Nornas germânicas). Um destino
terrível, sangrento. Verdadeiras agentes da
morte, escolhendo quais guerreiros tombarão no
campo de batalha, trazendo muito sangue e dor,
cujo símbolo principal é a lança, o maior
atributo do deus Odin.
A mitologia nórdica foi
escrita em um período de guerras extremamente patriarcal do
desenvolvimento das sociedades germano-escandinavas e, por isso, as
Valquírias, embora sem dúvida remanescentes de uma deusa tríplice
anterior, têm estreitas ligações com o masculino heróico. Geirahod era a
Valquíria que decidia a vitória nos combates, juntamente com um grupo de
guerreiras chamadas "As Luzes da Noite", devido ao esplendor luminoso de
suas armaduras. São as Valquírias também, que levam as almas nobres dos
que perderam a vida nas batalhas para a companhia de Odin, em Valhala,
onde essas alcançam a recompensa eterna.

Valhala é o grande palácio
de Odin, onde ele se diverte em festas na companhia dos heróis que morriam
em combate. Lá era servida a carne de javali Schrinnir e o hidromel
fornecido pela cabra Heidrum. Quando não encontravam nos festins, os
heróis se divertiam lutando. Todos os dias dirigiam-se ao pátio ou campo e
lutavam até fazerem-se em pedaços. Esse era seu passatempo, mas chegada a
hora da refeição, eles se restabeleciam dos ferimentos e voltam ao festim
no Valhala.
Raramente se apresentavam as
Valquírias como três. O seu aparecimento sempre se dava em múltiplos de
três, como as Nove, ou as Três Noves e, em uma história, até como as Nove
Noves.

As Valquírias tem
freqüentemente inspirado poetas como mulheres guerreiras que cavalgam
corcéis, armadas de elmos e lanças. Elas foram um arquétipo tão poderoso
da alma nórdica, que foram vistas, em épocas ulteriores, como dotadas de
uma faceta delicada e suave em sua natureza, podendo parecer como
Donzelas-Cisne, capazes de voar através dos céus, carregando os guerreiros
mortos para o Valhala. Os nórdicos desejavam a tal ponto suavizar e tornar
agradável a terrível faceta primal da Deusa que a representavam em uma
forma mais branda, razão por que as Valquírias por vezes assumiam a forma
de afáveis Donzelas-Cisne. Foi por isso, que elas passaram para o
imaginário artístico moderno com as enormes asas laterais em seus
capacetes.
Elas tinham múltiplas
tarefas como:de selecionar os guerreiros mortos, que perecem na batalha ou
em combate, como enfrentando um dragão, etc. Estes guerreiros mortos são
conhecidos como os Einherjar, e são escolhidos para lutar ao lado dos
deuses no Ragnarok. Os nórdicos acreditavam que chegaria um tempo que
seriam todos destruídos, mas este tempo não chegaria inesperadamente e
para este dia davam o nome de Ragnarok. Os Einherjar esperam pelo Ragnarök
(O Crepúsculo dos Deuses), no palácio de Odin, chamado Valhala. As
Valquírias tinham ainda a função de servir o hidromel em chifres ou taças
para os Einherjar no Valhala (as donzelas-do-hidromel). E por fim ajudam
ou protegem um guerreiro no campo de batalha (as donzelas-guerreiras e
donzelas-escudeiras).
Três Valquírias aparecem na
Völsungasaga (“A Saga dos Volsungos”) e nas Baladas Heróicas da
Edda Poética. Sigrún (“runa-vitoriosa”) casada com o herói Helgi, o filho
de Sigmundr. As outras duas Valquírias são Brunhild (“brilhante-na-batalha”)
e Gudrun (“runa-da-batalha”), e estas duas são associadas com o herói
Sigurd, um outro filho de Sigmundr. Gudrun também tem sido associada com
Helgi em outra fonte, como a primeira esposa do herói.
Outra Valquíria que aparece
nos poemas da Edda Poética é Svava, aquela que se enamorou do jovem herói
Helgi, dando-lhe este nome e ensinando-o a falar. Svava porém seria outro
nome para Sigrún, que é casada com Helgi, em outras duas baladas da Edda
Poética, todas essas baladas seriam então versões diferentes de uma mesma
história. Temos ainda, entre essas lendárias cavaleiras, a mais jovem Norn
chamada Skuld.

Na Völuspá ("A
Profecia da Vidente"-ver obs.1), da Edda Poética, vemos também descritas
suas famosas cavalgadas através dos céus, imortalizada na música do
compositor clássico alemão Richard Wagner. Richard Wagner, o famoso
compositor clássico da tetralogia Der Ring des Nibelungen (“O Anel
dos Nibelungos”), deu uma origem para as suas Valquírias, que seriam então
nove filhas do deus Wotan (Odin) com a deusa Erda (Jörd), a Mãe-Terra.
Aquelas que cavalgam pelos campos de batalha recolhendo os guerreiros
mortos, sendo uma delas Brunhild (Brynhild), aquela que foi punida com a
mortalidade.
Brunhild é a mais famosa de
todas as Valquírias. Na Völsungasaga e na Edda Poética, Odin pune Brunhild,
por auxiliar o rei errado a morrer em batalha. Odin então a condena a
casar-se apenas com um guerreiro valente e destemido, então ela foi
deixada adormecida em um Anel de Fogo, até o valente herói poder
atravessar as chamas e utilizando sua espada mágica (Gramr) corta a malha
justa ao seu corpo, despertando a Valquíria.
Sigurðr atravessou através das chamas, duas vezes. A
segunda vez, ela foi enganada para casar-se com Gunnar, o irmão de Gudrun,
enquanto o herói casou-se com Gudrun. Por fim ela causou a morte de
Sigurðr. Brunhild caída em desgosto, morre na pira funerária de Sigurðr.
Brunhild recebe um nome
diferente em uma das baladas da Edda Poética. Na "A Balada de Sigrdrífa",
Brunhild é conhecida como Sigrdrífa (“estimuladora-da-vitória”), onde ela
ensina para o herói a runa da vitória.

Podemos perceber na atitude de Brunild ao desobedecer as ordens de Odin,
como uma tentativa da mulher para equiparar-se som o homem. O fogo é um
símbolo odinista, bem como o segredo das runas. Ao penetrar no anel de
fogo e principalmente, ao retirar com sua espada a cota de malha da
guerreira, o herói Sigurðr encarna o protótipo do ideal masculino:
controlar a mulher e submetê-la ao domínio do lar.
A
punição da Valquíria é o casamento. É com essa prática que ela deixa de
ser desafiadora do mundo masculino e torna-se dominada.
“Casar-se com um homem é, para uma Valquíria, pura punição inflingida por
Odin” (BOYER, 1997b: 745). Tornando-se apenas reprodutoras da prole real,
elas deixam de ser uma ameaça ao ideal guerreiro:
“quando as Valquírias consentem em ter um filho, perdem ipso facto seu
status e se tornam simples mulheres, se assim se pode dizer, servas dos
guerreiros-escolhidos do Valhala e mães de príncipes."
Dia 31 de janeiro é a data
dedicada às Valquírias. Acreditava-se que a aurora boreal, o Sol da
meia-noite dos países nórdicos, era a luz refletida pelos escudos das
Valquírias ao levarem as almas para Valhala.
No primórdio dos tempos, as
Valquírias foram adoradas com sacrifícios (geralmente animais), mas hoje
elas possuem uma conotação mais benigna e foram trazidas para nossa vida
atual. De Deusas de Guerra, passaram a representar o lado escuro de nossas
mentes e corações. Quando uma Valquíria está ao nosso lado, podemos viajar
à estes lugares e retornarmos mais fortalecidas. As Valquírias chegam até
nossas vidas, para lembrar-nos, que assim como a semente precisa ser
enterrada na terra escura, nosso espírito também necessita abraçar sua
escuridão a fim de crescer.
Em cada um de nós há um
herói, à deriva entre as correntes de ambivalência que se cruzam. Em cada
um de nós há o arquétipo do herói, com a capacidade de fazer frente as
desafios da vida. E, a única medida pela qual poderemos ser julgados
quando tudo terminar, é pelo que nos tornamos diante de todas as forças
que tentaram nos deter. As histórias de heróis podem nos guiar, mas cabe a
cada um responder ao seu próprio chamado, individualizando-se.
A busca do verdadeiro herói
implica em uma viagem, da inconsciência até o conscientização, das
tenebrosas profundezas até as altitudes luminosas, da dependência à
auto-suficiência. O ritual abaixo vai lhe auxiliar bastante na busca de
seu interior heróico, portanto, não deixe de fazê-lo.
RITUAL DAS VALQUÍRIAS
Para este ritual de
meditação você precisará:
9 ou 13 velas pretas, sendo
que 1 deve ser maior que todas as outras;
Un caderno e uma caneta;
Um atame.
Trace o círculo e posicione
as velas em torno dele, deixando a maior para ser posicionada no centro do
círculo. Chame os quatro elementos, para participarem do ritual.
De pé, no centro do círculo,
com os braços esticados para cima e com o atame em sua "mão de poder",
diga:
Convido-as, Valquírias,
Donzelas-Cisne,
Para estarem comigo
presentes agora,
E enquanto durar minha
própria batalha,
Ao encontro com meus
demônios interiores.
Sente-se em frente da vela
preta grande, mas não a acenda ainda.
Sente-se na frente da vela
preta grande, mas não se ilumine ainda. Certifique-se que esteja sentada
confortavelmente. Agora, através dos pés, tente conectar-se com a terra e
relaxe o corpo. Respire profundamente e inspire devagar. Visualize então
uma floresta escura, onde uma força desconhecida começa a puxá-la. Você
muitos animais pequenos, árvores, que parecem guiá-la. Há mesmo um animal
que estará com você desde o início desta viagem até o fim, é o seu animal
de poder. É importante identificá-lo, pois ele poderá lhe auxiliar em
outras viagens, é só chamá-lo.
De repente você depara-se
com uma toca de grande profundidade, que até parece ser moradia de algum
animal da floresta. Respire profundamente, pois deverá rastejar pelo
buraco. Sinta o frescor da terra úmida, com a mudança de temperatura, pois
aqui o calor do sol nunca chega. Penetre o mais profundo que conseguir e
alcançará uma seção com muitos túneis, bem no interior da terra. Agora
pensará que caminho tomar e é então que uma voz que lhe dirá:
-"Não pare minha filha,
estou aqui. Venha um pouco mais a frente e me verá".
Siga o som da voz e lá à
frente encontrará uma mulher pequena, de cabelos loiros e olhos azuis,
vestindo um lindo casaco de penas de cisne para lhe aquecer. Está na
frente do fogo e convida você para juntar-se a ela.
-"Seu coração é corajoso",
lhe dirá. "Somente um bravo coração poderia encontrar minha morada. Eu sou
a Valquíria. Estou aqui para ajudá-la a enfrentar seus medos".
Ela lhe dará um chá para
tomar e em seguida começará a sentir muito sono. Você fecha os olhos para
descansar e encontra-se agora em um outro túnel, mas não estará sozinha,
pois a Valquíria sempre estará ao seu lado.
Você pergunta: - "O que faço
agora?"
A Valquíria responderá: -
"Me fale de seus medos."
Comece com os medos que você
tinha na infância e relate até os dias atuais. Ao falar sobre eles,
sentirá que eles já não a assustam tanto, muito pelo contrário, estão se
tornando amigáveis. Entregue então, todos os seus medos como presentes à
Valquíria, dizendo-lhe também como conseguiu solucioná-los.
A Valquíria lhe dirá que
sempre que tiver necessidade de enfrentar seus medos, ela estará no mesmo
lugar esperando por você. Abrace-a e beije-a com carinho e peça-lhe para
lhe mostrar a saída. Inicie então, a subida pelo longo túnel. Ao chegar à
entrada, verá que todos os animais permaneceram aguardando-a. Eles
trouxeram muitas frutas para compartilharem com você. Coma com eles e
agradeça pela ajuda.
Respire e inspire
profundamente e quando você sentir que está de volta ao seu corpo, abra os
olhos. Acenda a vela preta e em seguida escreva tudo o que se lembra da
viagem em seu caderno. Se quiser, beba um pouco de água.
Quando terminar de escrever,
agradeça novamente as Valquírias e os elementos que compareceram em seu
ritual e feche o círculo. Deixe as velas queimarem até o fim.
Animais correspondentes:
Cavalo e o lobo
Runas: Elhaz que significa a
proteção
Cores: Preto
Sinal Astrológico: Câncer

OBSERVAÇÕES:
1- O Poema Eddico Völuspa,
descreve um período de caos primitivo, seguido da criação de gigantes,
deuses e finalmente a humanidade.
Texto pesquisado e
desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO
Bibliografia Consultada:
O Novo
Despertar da Deusa - Shirley Nicholson
Os Mistérios da Mulher - M. Esther Harding
A Grande
Mãe - Erich Neumann
O
Anuário da Grande Mãe - Mirella Faur
Os Mistérios Wiccanos - Raven Grimassi
Livro Mágico da Lua - D.J. Conway
O Medo
do Feminino - Erich Neumann
O Livro
de Ouro da Mitologia - Thomas Bulfinch
Mitos Paralelos - J. F. Bierlein
Consciência Solar, Consciência Lunar - Murray
Stein
O
Caminho para a Iniciação Feminina - Sylvia B.
Perera
Rastreando os Deuses - James Hollis
O Amor
Mágico - Laurie Cabot e Tom Cowan
El Libro
de Las Diosas - Roni Jay
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