TUPANCIRETÃ

A lenda por mais superficial ou extravagante que seja, sempre conserva a essência da realidade flagrante, envolta na comovente evocatividade da tradição.

A história da denominação do nome cidade gaúcha de Tupanciretã está refletida em uma bela lenda tupi-guarani. Segundo ela, foram os padres jesuítas que ensinaram os índios a chamarem o Deus Todo-poderoso dos cristãos de Tupã, divindade indígena associada ao raio e ao trovão. A "Mãe" de tudo, em guarani era conhecida por "Cy". Sendo assim, a Nossa Senhora, que é a Mãe de Deus, ficou sendo chamada, para os missioneiros, de 'Tupancy". E, retan, significava "terra de". Tupanciteran, então, seria "terra da Mãe de Deus" que, segundo esta mesma lenda, ficava na região que, atualmente, possui este mesmo nome, no Rio Grande do Sul.

A LENDA

No vasto território das Missões, onde viviam os Sete Povos, não havia estradas nem ranchos de pouso. Apenas, de légua em légua, os viajantes da noite viam brilhar na distância, por entre as árvores, a luz de um candeeiro. Na maioria das vezes, era um rancho de palha, com a capelinha ao lado. Então, estes andarilhos cansados se dirigiam para lá e, chegando bem próximos, gritavam:

- "Ó de casa!"

Uma voz bondosa sempre respondia:

-"Sejam bem-vindos! Cheguem-se!"

Quando entravam, eram recebidos com carne grelhada, chimarrão, mas principalmente pela singela hospitalidade que sempre existiu na alma do povo que habita a campanha gaúcha.

Isto acontecia na época em que os jesuítas faziam longas excursões, acompanhados dos índios. Em uma destas excursões, pelos caminhos mal delineados, nas proximidades do planalto da Coxilha Grande, uma tempestade terrível se formou. O céu foi tomado por imensas nuvens negras que encobriram a Lua e as estrelas. Só os relâmpagos passaram a iluminar a trágica paisagem. E o rugir dos trovões pareciam com um fragor de montanhas rolando uma sobre as outras.

Exaustos, molhados, famintos e aflitos, eis que de repente, um relâmpago lhes mostrou, na fímbria do horizonte, em plena noite, o resplendor de um vulto. A silhueta, embora muito pouco clara, era a da bela imagem da Nossa Senhora, que lhes apontou um certo lugar.

Um jesuíta, ajoelhou-se no solo lodoso e cheio de alegria cristã exclamou:

-"TUPAN-CY!"

E, os índios aterrados, repetiam:

-"TUPAN-CY-RETAN!", que quer dizer "TERRA DA MÃE DE DEUS", ou simplesmente: "TERRA DA NOSSA SENHORA".

Neste lugar, os padres fizeram erigir uma cruz e erguer uma capelinha, que tornou-se abrigo aos desabrigados no meio da mata. E ali, floresceu, aos poucos, uma povoação, que em português, passou a chamar-se de Tupanciretã. Até hoje, ainda é uma terra hospitaleira, que recebe todos como seus filhos, sob a proteção de Nossa Senhora.

Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto

Bibliografia:

Estórias e Lendas do Rio Grande do Sul - Barbosa Lessa; Gráfica e Editora EDIGRAF Ltda; SP

Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul - Antonio Augusto Fagundes; Martins Livreiro Editor; 1992