TOM JOBIM

“Depois de ajudar a mudar os rumos da MPB com a bossa nova, o ex-pianista de boate alcançou a consagração ao compor canções que viraram clássicos”.

 

Em um final de tarde dos anos 60, alguém gritou dos fundos do Bar Veloso em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro:

 

-“Tom, ligação para você. É Frank Sinatra.”

 

Tom Jobim bebericou mais um gole de chope, ergueu-se e apanhou o telefone. Estava curioso para saber quem era o autor do trote. Surpreendeu-se ao ouvir do outro lado da linha, o vozeirão do cantor americano:

 

-“Quero fazer um disco com você.”

 

O LP Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, lançado em 1966, ganhou o Grammy (prêmio mais importante da indústria fonográfica) de álbum do ano e catapultou o ex-pianista de boates cariocas ao estrelato. A consagração internacional alcançava o compositor que, oito anos antes, havia alterado os rumos da música popular brasileira a estabelecer o modelo harmônico da bossa nova.

 

A revolução musical teve como um de seus mais importantes cenários o Bar Veloso, o mesmo para onde Sinatra telefonara. O botequim era o quartel-general onde Tom Jobim e seu parceiro Vinícius de Moraes estacionavam o copo no ar para admirar uma bela garota de 15 anos que por ali passava todas as tardes. Resolveram compor um samba para a musa: nascia “Garota de Ipanema”, uma das cinco canções mais executadas de todos os tempos.

 

Tom costumava permanecer no bar até as 15h30min. Depois, enchia um garrafão de vinho com chope, depositava-o sobre o piano e começava a trabalhar. O método rendeu clássicos como:”Chega de Saudade”, “Desafinado”, “Eu sei que vou te amar” e “Águas de Março”, as mais populares de suas cerca de 300 obras.

 

As gravações no Exterior eram freqüentes, pondo seu maior temor à prova. Tom Jobim padecia de um pavor irracional de aviões. A primeira viagem a Nova York fora precedida por cenas dramáticas e desesperadas tentativas de desistência. As viagens, porém, eram inevitáveis. Pouco executado pelas rádios brasileiras, o compositor só encontrava reconhecimento e os prêmios no Exterior. Dizia que o único país onde o atacavam era o Brasil. Mas não cogitava abandonar o país. Uma vez lhe perguntaram porque sempre retornava.

 

- “Volto para me aporrinhar. Para responder este tipo de pergunta. Para ser um dos 5% de brasileiros que pagam imposto de renda. Para perder o apetite ou morrer de indigestão. Volto porque nunca saí daqui”, retrucou.

 

Mesmo a morte ele esperava que ocorresse em território nacional:

 

-“Pretendo morrer aqui. É mais confortável morrer em português. Como é que você vai dizer para o médico, em inglês, que está sentindo uma dor no peito que responde na cacunda?”

 

O desejo foi frustrado. Em 1994, aos 67 anos, teve uma parada cardíaca em um hospital de Nova York. Ironicamente, o Aeroporto do Galeão, onde vivera tantos momentos de pavor, foi rebatizado Antônio Carlos Jobim.

 

RESUMO SUCINTO DE SUA JORNADA:

 

Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim 25-1-1927 (Rio de Janeiro), 8-12-1994 (New York).

 

Estudou violão e piano, trabalhou num escritório de arquitetura mas gostava mesmo de tocar em bares e passou a trabalhar em gravadoras com transcritor de músicas e a partir de 1952 também como arranjador.

A partir de 1953 tem as primeiras músicas gravadas. O primeiro sucesso é Tereza da Praia (1954), seguindo-se Sinfonia do Rio de Janeiro (1954, com Billy Blanco) e A chuva caiu (1958, com Luis Bonfá).

 

Em 1956 musicou a peça Orfeu da Conceição de Vinícius de Morais, com cenários de Oscar Niemeyer, apresentada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Destacaram-se dessa parceria Se todos fossem iguais a você (1957).

 Seguiram-se sucessos como Por causa de você (1957) Estrada do Sol(1958), ambas com Dolores Duran, Eu sei que vou te amar (1959, com Vinícius de Moraes) e A Felicidade, incluída no filme Orfeu do Carnaval (direção de Marcel Camus), baseado na peça Orfeu da Conceição, que ganhou a palma de ouro em Cannes (França) e Oscar de melhor filme estrangeiro (Hollywood).

 

Em 1958 destacam-se no LP de Elizete Cardoso, com a participação de um violonista com uma 'batida' inovadora, João Gilberto, as obras Outra vez , Chega de Saudade e Canção do amor demais (que dava nome ao LP). João Gilberto lança o LP Chega de Saudade em 1959, onde destacam-se Desafinado e Samba de uma nota só (ambas com Newton Mendonça).

 

Em 1962 participa do show de Bossa Nova no Carnegie Hall, destacando-se nesse ano Garota de Ipanema (com Vinícius de Moraes). Dessa parceria destacam-se também Insensatez (1960) e Samba do Avião (1962). A partir desse momento grandes intérpretes e instrumentistas passaram a gravar suas músicas, transformando-se em nome internacional.

 

Em 1967 grava um LP em dupla com Frank Sinatra. Seguem-se sucessos como Sabiá (1968, com Chico Buarque), vencedora do III FIC (Festival Internacional da canção) da TV Globo, apesar da preferida do público ser Caminhando de Geraldo Vandré, Wave (1969), Águas de março (1972), Ana Luiza (1973). Compôs Eu te Amo (1980, com Chico Buarque) para o filme de mesmo nome (direção de Arnaldo Jabor), Luíza (1981, para a novela Brilhante da TV Globo), a trilha sonora do filme Gabriela (1982, baseado na obra de Jorge Amado, direção de Bruno Barreto), a trilha sonora do filme Para viver um grande amor(1983, dividindo a trilha com Chico Buarque e Djavan), a trilha sonora da novela mini-série O tempo e o vento (1985, baseado em Érico Veríssimo na TV Globo), Anos Dourados, tema da novela mini-série com o mesmo nome da TV Globo.

 

Em 1990 foi eleito membro da Academia Nacional de Música Popular dos Estados Unidos. Caracterizou-se também pela participação em eventos a favor da preservação da ecologia.

 

PRÊMIOS/HOMENAGENS

 

1959 - Cannes (França) - Palma de Ouro para o filme Orfeu da Conceição no Festival de Cannes

1962 - Los Angeles (Estados Unidos) - Prêmio de melhor arranjo musical pelo disco João Gilberto, conferido pela National Academy of Recording Arts and Sciences

1967 - Los Angeles (Estados Unidos) - Prêmio Grammy para o álbumFrancis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim

1968 - Rio de Janeiro RJ - Primeiro lugar no III Festival Internacional da Canção da Rede Globo com a música "Sabiá", em parceria com Chico Buarque

1971 - Rio de Janeiro RJ - Prêmios Coruja de Ouro Instituto Nacional de Cinema, pela trilha sonora do filme A Casa Assassinada, direção de Paulo César Saraceni

1978 - Rio de Janeiro RJ - Homenagem com a Ordem do Rio Branco

1978 - Paris (França) - Homenagem com L´Ordre de Grand Comandeur des Arts et des Lettres

1982 - Rio de Janeiro RJ - Prêmio Shell de Música Popular Brasileira, pelo conjunto de sua obra

1990 - São Paulo SP - Título de Magnífico Reitor da Universidade Livre de Música

1992 - Rio de Janeiro RJ - Enredo "Se Todos Fossem Iguais a Você", da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira

 

Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto