O SETE ESTRELO


Dizem que havia outrora, às
margens do rio Uanauá, moças
virgens que guardavam os talismãs
e os atributos de Jurupari.
Contam que uma vez uma dessas
moças fugiu e foi procurar marido.
Entrou na floresta e ao anoitecer
adormeceu. De madrugada acordou e
sentindo-se sozinha começou a
chorar, quando ouviu a voz de
alguns homens. Um deles falava:
-"Só vou me casar o dia que
encontrar uma moça bonita".
Depois disso, encontraram a jovem
e o índio, vendo-a, achou muito
bela e ela também o achou bonito.
O homem então lhe disse:
-"Quer casar comigo?"
A moça imediatamente respondeu:
-"Quero!"
O jovem índio então levou-a com
ele. Ele pertencia a nação
jacamim. Depois de casados, os
jovens foram banhar-se num riacho
e aí acharam a erva jacamim, com a
qual esfregaram o corpo e se
lavaram. Dizem que ambos se
transformaram em jacamim (ave
gruiforme).
Depois disso sentiu que tinha
ovos, e a barriga cresceu tanto
que não podia andar.
A índia disse:
-"Isso acho que não são ovos,
talvez sejam filhos".
Alguns meses depois, deu a luz à
luz duas crianças, uma mulher e um
homem. E, as crianças foram
crescendo.
O menino era muito belo e dizem
que gostava de flechar, mas a mãe
lhe disse:
-"Meu filho, em tempo algum tu
flecharás um jacamim."
A mãe, uma noite foi ver os filhos
enquanto dormiam e levou o maior
susto. A menina tinha sete
estrelas na testa e o menino uma
cobra de estrelas enrolada pelo
corpo. A mãe chamou o marido para
também ver. O pai assustou-se
também e falou:
-"Eu sou ave, como é que tenho
crianças?"
Em seguida, procurou seus pais e
perguntou-lhes:
-"Como pode, eu sou uma ave e a
minha mulher teve essas crianças?"
Os pais disseram-lhe:
-"Eles são teus filhos. Quando
estiveste com tua mulher ela
estava olhando para as estrelas e
por isso saíram estrelas neles."
Enquanto o pai conversava com seus
pais, o menino pegou seu arco e
flechas e foi caçar. Encontrou
muitos jacamins pelo caminho e
matou todos. Depois chamou a mãe:
-"Minha mãe, eu matei todos os
jacamins, vem ver!"
-"Vamos", falou a mãe.
Quando eles chegaram, ela viu que
o menino tinha matado o pai e
todos os pais.
A mãe então falou-lhe:
-"Meu filho, tu mataste teu pai e
agora quem se encarregará de nosso
sustento?"
Então o menino para consolar a mãe
disse:
"Não entristeça os eu coração mãe,
pois eu não deixarei que nada te
falte."
Só restou para mãe índia e seus
filhos, retornar para a terra dos
avós. No caminho falou ao filho:
-"Meu filho, não sei o que direi
quando chegarmos à terra de teu
avô. Quando daqui saí era virgem,
não tinha filhos, agora teu avô
irá, como castigo, meter-me na
casa tenebrosa para que eu não
conheça homens."
-"Deixe estar, minha mãe, quando
eu chegar lá vou acabar com essas
coisas."
Quando chegaram na terra do avô, o
menino pegou uma grande pedra e
lançou sobre a tal casa e a
achatou e todas as mulheres que se
encontravam dentro fugiram. O avô
que presenciou tudo aquilo, ficou
com medo do menino, assim como
toda a tribo.
Depois disso, ficaram muito bem na
terra dos parentes.
Depois de um certo tempo, a menina
ficou muito doente, pois não
encontrava marido.
O menino então disse a sua mãe:
-"Dê a mim minha irmã para que eu
possa levá-la e curá-la, pois só
eu sei onde encontrar o remédio".
O irmão então levou-a para o céu e
ela é agora o que vemos e chamamos
de Sete Estrelas (Plêiades).
A mãe, vendo que seus filhos
estavam demorando muito, saiu para
procurá-los e quando passava por
um riacho, a cobra grande a
engoliu. Na volta, o filho também
saiu ao seu encalço. Foi por todas
as terras e por onde foi passando
deixou filhos até encontrar a mãe.
Ao achá-la, levou-a para o céu.
Ela é hoje aquela pequena estrela
que nós chamamos de Píton ou Cobra
Grande.
Essa história aconteceu em nosso
princípio, na origem de nossos
avós.

A lenda do Sete Estrelo, com todo
seu cunho de ingenualidade, tenta
explicar a origem das Plêiades.
Assim
como nossos índios, os gregos
também povoaram a esfera celestial
com suas lendas e mitos. As
Plêiades, segundo eles, são as
sete filhas de de Atlas e Plêione.
As Plêiades são visíveis tanto no
hemisfério sul como no hemisfério
norte e são constituídas de várias
estrelas que foram formadas ao
mesmo tempo dentro de uma grande
nuvem de gás ou poeira estelar.
Os índios tupinambás já tinham
conhecimento das Plêiades e as
chamavam de "Sheichu". Quando as
viam no céu, sabiam que o período
das chuvas estava próximo.
Elas não são visíveis durante um
período de um mês no ano.
O nascer helíaco das Plêiades
ocorre perto do dia 5 de junho, o
primeiro dia em que elas se tornam
visíveis de novo, perto do
horizonte, no lado leste, antes do
nascer do sol. Esse dia marcava o
início do ano.
Por volta do dia 10 de novembro,
as Plêiades nascem logo após o
pôr-do-sol, este dia recebe o nome
de nascer anti-helíaco das
Plêiades, pois o Sol se encontra
no lado oeste e as Plêiades no
lado leste. Perto de 1 de maio,
acontece o ocaso helíaco das
Plêiades, pois elas desaparecem do
lado oeste, logo após o
pôr-do-sol. Depois desse dia, elas
não são mais visíveis à noite, até
perto do dia 5 de junho quando
ocorre, novamente, seu nascer
helíaco.
As Plêiades foram e ainda são um
calendário muito utilizado pelo
nosso indígena.

Texto pesquisado e desenvolvido
por
ROSANE VOLPATTO

|