A RATOEIRA

O Estado de Santa Catarina tem um contingente significativo da cultura de base açoriana. Enraizada no modo de viver do povo catarinense, essa influência
tem na dança a sua expressão mais legítima.
A ratoeira é uma dança de ciranda onde
os jovens demonstram sua alegria e simpatia ao seu bem-amado.

As ratoeiras tinham lugar nos bailes, de preferência
pela meia-noite, após haverem pedido licença aos pais das moças. Dado início
à formação da ratoeira, tocava-se uma valsa, e os que tomam parte nesta
convidam os seus pares e saem dançando naturalmente, logo que todos se
encontrem dançando, formam um círculo de mãos dadas. Após, alguém dos mais
idosos, determina quem deverá cantar em primeiro lugar, se moça ou rapaz.
A música
aproxima-se do círculo para acompanhar as quadrinhas, que vão desde as declarações
de amor e confirmações, e até desafios aos rivais, não raro ouvindo-se
quadras verdadeiramente sarcásticas e satíricas. Geralmente, para darem início
às trocas de quadrinhas, apresenta-se um par voluntário, e, se isto não
acontecer, será lançada uma sorte, e o primeiro par posiciona-se no centro do
círculo para recitar um verso. Quando um rapaz é apontado para cantar a
primeira quadra, a moça responderá, e assim até o término da ratoeira.

Às vezes a
roda ficava tão grande que era necessário que montar outra roda. As quadras
sempre eram tiradas de improvisos, mas havia a obrigação de fazer as quadras
com inteligência, jogava-se então, para a pessoa escolhida na roda, e a mesma
tinha de responder com outra quadra. Quando falava-se de amor, de paixão, de
amizade, ou gratidão não havia problema, aliás, quando alguém resolvia
lembrar algum episódio de alguém da roda e ainda torná-lo público, a roda
pegava fogo.
Era cantada mais ou menos
assim:

VERSO DE ENTRADA:
Ratoeira bem cantada
Faz chorar, faz padecer
Também faz triste o
amante
De seu amor esquecer
Após
o verso de entrada continuava-se cantando os versos que podem ser classificados
como refrão na cantiga:
Choveu
no enxuto
Choveu
no molhado
Choveu
no meu peito
Meu
cravo encarnado
Meu
cravo encarnado
Meu
manjericão
Dá
três pancadinhas
No
meu coração
O
meu coração
Não
tem alegrias
Não
posso viver
Sem
te ver todo dia
Sem
te ver todo dia
Meu
botão de flor
Que
moço(a) bonita
Pra
ser meu amor

Após
cantado o refrão chegava a vez de alguém recitar um verso de forma cantada,
para alguém que estivesse na roda. O mais interessante e espetacular desta
manifestação folclórica é que todos os versos que eram cantados e
direcionados a qualquer pessoa que estivesse participando da roda eram, em sua
maioria, criados na hora. Pois cada verso que um membro recebia de outro era
respondido com outro verso.

EXEMPLOS DE VERSOS DE
IMPROVISO:
Lá em cima daquele morro
Tem palmito e palmiteira
Também tem moço bonito
Para mim que sou solteira
A moça que é bonita
Pelo andar se conhece
Tem o passo miudinho
Tem um corpo que remexe

Quem quiser namorar moça
Sem o pai e mãe saber
Chega na porta e pergunta
Se tem ovos para vender
O fiado me dá pena
A pena me dá cuidado
Para me livrar da pena
Não devo vender fiado

CANTIGA DE RATOEIRA
A folha de bananeira
Pra banda está virada
Virou pra banda sul
Eu pra lá não tenho
nada.
Alfinete miudinho
Preguei na almofada
O dia que não te vejo
Não como, não faço
nada.
Fui fazer a minha cama
Me esqueci do cobertor
Deu um vento na roseira
Encheu minha cama de flor
Quando passares por mim
Não me olhes pelas costas
Que não sou crivo nem
renda
Que se tira pela amostra.
A folha de bananeira
Pra banda se virou
Virou pra banda norte
Pra lá eu tenho meu amor.
Esta manifestação folclórica
desapareceu dos costumes regionais por volta da década de 1960. Hoje é somente
lembrada, a ratoeira não é mais bem cantada. Manifesta-se apenas na mente
daqueles que um dia criaram e cantaram versos, daqueles que conquistaram com
seus versos. Quantos namoros surgiram em uma roda de ratoeira....!

Texto pesquisado e desenvolvido por
Rosane Volpatto

Bibliografia:
Folclore Catarinense - Doralécio Soares
Folclore - Cáscia Frade

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