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A Lenda do Primeiro Gaúcho   

Estávamos no século XVIII...

Uma partida de homens brancos atravessa as verdejantes campinas do Rio Grande do Sul, impulsionados pela necessidade de braços para as lavouras, buscam o índio. Hão de avassalar as tribos ocupantes desta região. Com esta intenção, viajam municiados e armados. 

Os índios Minuano, avisados pelas sentinelas da aproximação dos brancos, montam em seus fogosos cavalos e, armados com flechas, boleadeiras e lanças, deixam o acampamento e rumam para as coxilhas. Ao avistar os invasores se aproximando, os índios usam de sua tática de ocultar-se ao longo do dorso dos cavalos. Deste modo, dificilmente seriam descobertos pelo inimigo. Imóveis, esperam eles o momento exato para atira-se sobre os viajantes. 

Os homens brancos, não conhecedores dos hábitos e da tática empregada pelos índios habitantes das campinas do Sul, avistam à distância o bando de cavalos pastando e tomam esta direção, muito senhores de si. Mas, ao se aproximarem, os índios despencam dos animais e os recebem com uma saraivada de flechas. Respondem estes com tiros de arma de fogo. 

 

Nova investida dos índios, desta vez, servindo-se das lanças, o que obriga os invasores a fugir em desordem. Caído por terra acha-se um moço ferido. Ao seu lado uma jovem índia minuano, chamada Imembuí. Fascinara-a a coragem do estrangeiro. Tal homem, chamado de Rodrigo, sabe a sorte que lhe espera. E, interrogando a moça quando será sacrificado, responde-lhe esta que nada tema, pois estará a seu lado. Anima-o então com palavras confortadoras, cheias de simpatia e compaixão. 

O prisioneiro é levado para o acampamento dos Minuano. Os índios não gostavam de matar pessoas doentes. Enquanto esperam que se cure da ferida para sacrificá-lo, dão-lhe toda a liberdade sob a vigilância das sentinelas. O jovem branco resolve fazer uma viola. Uma tarde à sombra de uma árvore, com a pouca ferramenta de que dispõe, a muito custo vai improvisando um rústico instrumento. Cava-a, dando-lhe a forma da viola. Coloca uma tampa com abertura circular para dar vibração ao som das cordas. Para colar a tampa emprega o grude de parasita sombaré, das árvores da serra. E da própria fibra da parasita ele prepara as cordas para o instrumento. 

A índia que já lhe tem grande amizade, está sempre ao seu lado nas horas de folga. Enquanto o vê trabalhar, canta-lhe suavemente um canto doce e pitoresco minuano. Ainda não passara uma lua, e já, na grande ocara do acampamento, celebra-se o ritual do sacrifício. Todos os índios da nação, reunidos em torno dele, dançam e cantam sua morte. De vez em quando, passam, de mão em mão, cuias contendo o delicioso vinho fabricado com mel eiratim. Há um silêncio de morte em todo o acampamento. 

Certa manhã alguns índios o amarraram fortemente a um tronco. Havia chegado o dia do sacrifício. Imembuí não conseguira salvá-lo embora tivesse pedido várias vezes ao seu pai, que era o chefe, mas ele até que concordaria se não fosse a pressão de outros chefes

O chefe Minuano ordena que soltem o prisioneiro e tragam-no à sua presença. Fitando o moço nos olhos fala: 

- "Que a teus irmãos sirva de lição esta última derrota. Que não nos tornem a vir incomodar. Os que vierem nestes campos buscar escravos, hão de ser esmagados pelas patas de nossos cavalos. E tu, pagarás com a morte a tua audácia e dos teus!" 

Contudo, o chefe Minuano concede ao condenado um último pedido. Surpreende-se o branco com tal gesto. E, dotado de inteligência, num relance percebe como poderá livrar-se da morte. Sabendo da emotividade e a influência que exerce a música sobre aquelas criaturas, pede que lhe tragam o seu instrumento de cordas. Quer tocar pela última vez! É a jovem índia que lhe traz a viola, debaixo dos olhares curiosos dos índios. Cheio de fé, o moço pega a viola. Depois de alguns sonoros acordes, entoa uma canção. 

E, como por encanto, aquelas fisionomias rudes se transformam. Ouvem-no com enlêvo, exclamando a todo o instante: -"Gaú-che! Gaú-che!" ....o que significa: gente que canta triste.

 Sensibilizados pela doce cantiga do condenado à morte, os índios intercedem para que o sacrifício seja revogado. Enamorado da jovem índia, acaba casando-se com ela. E dessa bela união, do elemento branco com o indígena, resultou este tipo extraordinário de homem, conhecido como GAÚCHO.  

 

 

 

TEXTO PESQUISADO E DESENVOLVIDO POR

ROSANE VOLPATTO

Bibliografia:

Moça Lua e outras Lendas - Walmir Ayala; Edições Bels; 1974

Cultura Cívica Brasileira - Gonlçaves Ribeiro