Uma partida de homens brancos atravessa as verdejantes campinas do Rio
Grande do Sul, impulsionados pela necessidade de braços para as lavouras,
buscam o índio. Hão de avassalar as tribos ocupantes desta região. Com
esta intenção, viajam municiados e armados.
Os índios Minuano, avisados
pelas sentinelas da aproximação dos brancos, montam em seus fogosos
cavalos e, armados com flechas, boleadeiras e lanças, deixam o
acampamento e rumam para as coxilhas. Ao avistar os invasores se
aproximando, os índios usam de sua tática de ocultar-se ao longo do
dorso dos cavalos. Deste modo, dificilmente seriam descobertos pelo
inimigo. Imóveis, esperam eles o momento exato para atira-se sobre os
viajantes.
Os homens brancos, não conhecedores dos hábitos e da tática
empregada pelos índios habitantes das campinas do Sul, avistam à distância
o bando de cavalos pastando e tomam esta direção, muito senhores de si.
Mas, ao se aproximarem, os índios despencam dos animais e os recebem com
uma saraivada de flechas. Respondem estes com tiros de arma de fogo.
Nova
investida dos índios, desta vez, servindo-se das lanças, o que obriga os
invasores a fugir em desordem. Caído por terra acha-se um moço ferido.
Ao seu lado uma jovem índia minuano, chamada Imembuí. Fascinara-a a coragem do
estrangeiro. Tal homem, chamado de Rodrigo, sabe a sorte que lhe espera. E, interrogando a moça
quando será sacrificado, responde-lhe esta que nada tema, pois estará a
seu lado. Anima-o então com palavras confortadoras, cheias de simpatia e
compaixão.
O prisioneiro é levado para o acampamento dos Minuano.
Os índios não gostavam de matar pessoas doentes. Enquanto esperam que se cure da ferida para sacrificá-lo, dão-lhe toda a
liberdade sob a vigilância das sentinelas. O jovem branco resolve fazer
uma viola. Uma tarde à sombra de uma árvore, com a pouca ferramenta de
que dispõe, a muito custo vai improvisando um rústico instrumento.
Cava-a, dando-lhe a forma da viola. Coloca uma tampa com abertura circular
para dar vibração ao som das cordas. Para colar a tampa emprega o grude
de parasita sombaré, das árvores da serra. E da própria fibra da
parasita ele prepara as cordas para o instrumento.

A índia que já lhe
tem grande amizade, está sempre ao seu lado nas horas de folga. Enquanto
o vê trabalhar, canta-lhe suavemente um canto doce e pitoresco minuano.
Ainda não passara uma lua, e já, na grande ocara do acampamento,
celebra-se o ritual do sacrifício. Todos os índios da nação, reunidos
em torno dele, dançam e cantam sua morte. De vez em quando, passam, de mão
em mão, cuias contendo o delicioso vinho fabricado com mel eiratim. Há
um silêncio de morte em todo o acampamento.
Certa manhã alguns índios
o amarraram fortemente a um tronco. Havia chegado o dia do sacrifício.
Imembuí não conseguira salvá-lo embora tivesse pedido várias vezes ao seu
pai, que era o chefe, mas ele até que concordaria se não fosse a pressão
de outros chefes
O chefe Minuano ordena que
soltem o prisioneiro e tragam-no à sua presença. Fitando o moço nos
olhos fala:
- "Que a teus irmãos sirva de lição esta última derrota.
Que não nos tornem a vir incomodar. Os que vierem nestes campos buscar
escravos, hão de ser esmagados pelas patas de nossos cavalos. E tu, pagarás
com a morte a tua audácia e dos teus!"
Contudo, o chefe Minuano concede ao
condenado um último pedido. Surpreende-se o branco com tal gesto. E,
dotado de inteligência, num relance percebe como poderá livrar-se da
morte. Sabendo da emotividade e a influência que exerce a música sobre
aquelas criaturas, pede que lhe tragam o seu instrumento de cordas. Quer
tocar pela última vez! É a jovem índia que lhe traz a viola, debaixo
dos olhares curiosos dos índios. Cheio de fé, o moço pega a viola.
Depois de alguns sonoros acordes, entoa uma canção.

E, como por encanto,
aquelas fisionomias rudes se transformam. Ouvem-no com enlêvo, exclamando
a todo o instante: -"Gaú-che! Gaú-che!" ....o que significa:
gente que canta triste.
Sensibilizados pela doce cantiga do condenado à
morte, os índios intercedem para que o sacrifício seja revogado.
Enamorado da jovem índia, acaba casando-se com ela. E dessa bela união,
do elemento branco com o indígena, resultou este tipo extraordinário de
homem, conhecido como GAÚCHO.

TEXTO PESQUISADO E DESENVOLVIDO POR
ROSANE VOLPATTO
Bibliografia:
Moça Lua e outras Lendas - Walmir Ayala; Edições
Bels; 1974
Cultura Cívica Brasileira - Gonlçaves Ribeiro