AS DOZE POTIGUARAS

Pelos altos da magnífica e imensa serra do Ibiapaba, por todos os seus recantos e sombras, vagavam as doze guerreiras virgens da valorosa nação Potiguara, de nobre origem tupi. Seus nomes eram: Ité, Jacanã, Itá, Moré, Diná, Baté, Iá, Irí, Ió, Juçara, Cae e Bariti.

Juçara, filha de Itambé chefe supremo de toda a nação dirigia o grupo das virgens cantoras que continuamente subiam o sacro monte para louvarem a divina Caupé (filha de Tupã) e o maravilhoso Tambatajá.

Nos velhos tempos, o herói Taperú, protegido de Tolori (deus do céu), apaixonara-se violentamente pela bela Juçara, porém, a jovem não desejando casar-se, fugiu apavorada para junto de Araça, sua irmã e por muito tempo se movimentou o guerreiro para conseguir o amor da formosa jovem. Tudo em vão...

Despeitado e irado, secretamente organizou um grupo de guerreiros inimigos e uma bela tarde, quando as virgens corriam pelos vales de Baturité, perto do lendário Pacoti, aproximaram-se os impiedosos guerreiros e lançaram-se sobre as belas moças.

As jovens não possuíam armas, mas apanhando pedras, tentaram resistir a fúria assassina dos comandados pelo infiel Taperú.

Uma pedra certeira atirada por Juçara arrebentou-se na face do primeiro guerreiro Jurú que imediatamente caiu para trás, jorrando sangue de sua ferida.

"-Morte!" Gritaram os inimigos e uma apavorante carnificina se originou. Gritos alucinantes ecoavam no ar.

As moças lutaram bravamente antes de caírem por terra. Juçara, gravemente ferida, morreu nos braços de sua querida irmã. Araçá, abraçou-lhe o lindo corpo e beijou-o, procurando segurar-lhe o derradeiro alento. Suplicando a benção e a proteção da imortal Caupé, Araçá arrancou do corpo da irmã a lança e atirou-se sobre ela.

Por algum tempo ainda, durou a luta entre os guerreiros e as jovens, até que todas estavam mortas. Fugiram então, os cruéis inimigos, levando alguns feridos.

Quando a noite caiu sobre aquele triste lugar, a divina deusa Caupé e o belo deus Tambatajá, do sangue das virgens que corria sobre a relva verde, fizeram nascer doze lindas plantas e de cada uma nasceu formosas e lindas azaléias, que lá vivem até os dias de hoje.

Segundo uma lenda mais remota, Ité, Jaçanã, Cae, Irí e Moré eram parentes. Por este motivo, Tainacam, por ordem de Tupã, conduziu os corpos destas virgens para os céus e foram transformadas em estrelas, que passaram a formar a encantadora constelação do "Cruzeiro do Sul", que em tupi se chama "Curussá".

SUA HISTÓRIA...

Potiguaras, que vale dizer, "comedores de camarões", foram amigos diletos dos franceses. Lutaram sem tréguas contra os caetés e os tapuias, no sertão. O ânimo belicoso e altivo destes ameríndios que campeavam o litoral da Paraíba foi perpetuado pelos seus atuais descendentes que o conservam como um legado sagrado.

Em 1582, devido aos clamores do povo de Pernambuco e Itamaracá, ficou resolvido fazer-se a conquista da Paraíba. Aprontou-se então, uma expedição chefiada por Frutuoso Barbosa, para realizar tal operação.

Orientados pelos franceses, os potiguaras conseguiram armar uma emboscada aos expedicionários, acarretando-lhes um revés seríssimo.

Animados com a vitória, os potiguaras invadiram as capitanias vizinhas, fazendo largos estragos. Em vista de resistência tão tenaz, foi arquitetado um plano combinado. Enquanto os navios de Flores Valdez investiam pelo mar, o insistente Frutuoso Barbosa marchava com suas tropas por terra.

Os franceses queimaram seus navios e, reunidos com os índios, lutaram corajosamente para serem, finalmente, recalcados para o sertão. De modo a garantir a posse de tão gracioso litoral, foi erguido um forte de madeira. Após curta trégua os potiguaras voltaram à guerra, conseguindo tomar a fortaleza e expulsar os intrusos. Entretanto, gozaram por pouco tempo o sabor da vitória, pois nova expedição foi organizada para derrotá-los.

Expulsos dos seus pagos, os potiguaras alargaram-se para as bandas da serra de Ibiapaba. Ainda hoje os Potiguaras lutam pela remoção de ocupantes ilegítimos de seu território. Este bravo povo ama a terra em que nasceu e repousam seus antepassados. Unidos, buscam a justiça que deve ser estabelecida de qualquer maneira!

DANÇA DO TORÉ

A dança do Toré é uma louvação ao pai Tupã e a mãe Tamain, onde também são invocados os espíritos dos antepassados. O Toré para os índios representa a vida, um ato de louvor, como uma purificação de tudo àquilo que os cerca. Para sua realização, os índios se enfeitam de pinturas e vestimentas (cocares, tangas, anéis, colares), numa harmonia de comunicação entre o mundo dos homens e o mundo sobrenatural.


É sua projeção no futuro que os torna capazes de enfrentar todas as dificuldades no presente, alicerçados na memória histórica preservada pelos seus anciãos.

Este ritual é o principal espetáculo que os potiguaras apresentam para os turistas. Constituído de cânticos e muita religiosidade, é imperdível! Os potiguaras se apresentam em Natal, João Pessoa e na própria Aldeia São Francisco. Esta dança de movimentos circulares é realizada em torno de uma roda formada de crianças, dentro da qual encontramos um flautista e uma cantora. Os cantos são entoados em português, pois há mais de 300 anos os potiguaras deixaram de falar tupi. Agora, crianças e adultos voltaram a estudar a língua de seus antepassados. Não deixa de ser uma maneira de afirmar sua indianidade, uma busca à sua forma mais pura.

 

Os potiguaras de hoje se professam católicos, mas não dispensam seus rituais, principalmente o de Jurema que acontecem no decorrer do ano. Esses ritos de pajelança são realizados com defumação e cachimbo da paz, traços de resistência à cultura do homem branco.

Sobrevivem também da pesca, da agricultura de sobrevivência e do artesanato, onde afirmam a identidade de sua cultura. No ano de 2000, os Potiguaras alcançaram o número de 10 mil índios, sendo considerado o povo mais numeroso do Nordeste.

DEUSAS VIRGENS POTIGUARAS

As jovens virgens potiguaras podem ser associadas com os arquétipos das deusas virgens gregas como: Ártemis, Atenas e Héstia.

Todas as deusas virgens apresentam pontos que são comuns: todas são mulheres impenetráveis aos olhos dos homens. Elas não necessitam do homem, nem precisam ser aprovadas por ele, pois elas existem separadas dele.

A deusa virgem é imaculada, intocável e não manejada pelo homem. O aspecto da deusa virgem é uma pura essência de quem é mulher e daquilo que ela valoriza.

A mulher potiguara da atualidade, permanece competidora natural, apresentando admirável coragem e vontade de vencer. Conheço uma que é o exemplo vivo de todas estas qualidades, seu nome é Eliane Potiguara, uma mulher que tem a selva dentro de si.

O arquétipo destas deusas potiguaras encontra-se, portanto, bem vivo em nosso meio. E está, modificando a consciência de muitas mulheres. E dada a sua profunda empatia com a terra e todos os seres vivos, hoje ameaçados pelo devario da espoliação tecnológica, da poluição e da ganância, serão elas (deusas potiguaras), dentre de todas as deusas, talvez as que possuam a mensagem mais premente para todos nós.

Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto