LETRA DA MÚSICA:
Boi
Chamador:
Olá mestre vaqueiro
Você me preste atenção.
Cantoria:
Olé, olá etc.
Nosso boi quer vadiá.
Chamador:
Vá buscar meu boi malhado
Traga pro meio do salão.
Cantoria:
Olé, olá, etc.
Chamador:
É hora de nós brinca
Mas tá chegando a ocasião.
Cantoria:
Olé, olá, etc.
Chamador:
Esse nosso boi malhado
É brabo como leão.
Cantoria:
Olé, olá, etc.
Chamador:
Meia volta, meia volta
Bota o vaqueiro no chão.
Cantoria:
Olé, olá, etc.
Cavalinho.
Chamador:
Ó meu cavalinho
Pode preparar
Entra no terreiro
Quando eu te chamar.
Cantoria:
Entra no terreiro
Quando eu te chamar.
Chamador:
Ó meu cavalinho
Ele já chegou
O dono da casa
Não cumprimentou.
Cantoria:
Olé, olá, etc.
Chamador:
Bota logo de repente
Que é chegada a ocasião.
Cantoria:
Olé, olá, etc.
Chamador:
Olha lé mestre vaqueiro
Vai fazer a benzedura.
Cantoria:
Olé, olá, etc.
Chamador:
Para ver o resultado
Na doença ou na ventura.
Cantoria:
Olé, olá, etc.
Chamador:
O ginete do cavalo
Onde é que ele está?
Cantoria:
Olé, olá, etc.
Chamador:
Vai o laço preparando
Quando o boi se levantá.
Cantoria:
Olé, olá, etc.
Cantoria:
O dono da casa
não cumprimentou
Chamador:
Este meu cavalo
Vem lá de fora
Bota o boi no laço
Está chegando a hora.
Cantoria:
Bota o boi no laço
Está chegando a hora.
Chamador:
Ó meu cavalinho
Me preste atenção
Bota o boi no laço
E deixa o salão.
Cantoria:
Bota o boi no laço
E deixa o salão.
Chamador:
Ó meu cavalinho
Escutai o meu cantar
Laça o boi ligeiro
Vamos apreciar.
Cantoria:
Laça o boi ligeiro
Vamos apreciar.
Chamador:
Ó meu cavalinho
Não quero demora
O boi tá no laço
Nós vamos embora
Cantoria:
O boi tá no laço
Nós vamos embora.
CABRA
Chamador: Olha lá mestre vaqueiro.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Arrepara o meu cantar.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Vai buscar a tua cabra.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Vai buscar ela pra cá.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Traga pro meio do terreiro.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Quero ver ela berrar.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Dá um pulo e dá um berro.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Para o povo apreciar.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Olha lá mestre vaqueiro.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Você me preste atenção.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Traga a cabra no pescoço.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Dá uma volta no salão
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Quero ver a minha cabra.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: O vaqueiro procurar.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Olha lá o vaqueiro na frente.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Quero ver o lado de lá.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Olha lá mestre vaqueiro.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Tá chegando a hora.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Tire o bicho do salão.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: Eu te ajudar
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Chamador: E bancar o gavião.
Cantoria: Ei cabra, ei cabra
Cantoria:
Ô vaqueiro traz a cabrinha
Minha cabrinha danada
Ou que bichinho malvado
Minha cabrinha adorada
Dá um berro bem forte
Minha cabrinha do norte.
O coro repete em cada estrofe:
Ei cabra, ei cabra.
Chamador:
Olha lá mestre vaqueiro
Escuta o meu cantar
Vai buscar o bicho urso
No salão pode dançar.
Cantoria:
Ai, ai, ai
Nosso urso já chegou
Ai, ai, ai
Nosso urso é dançador.
Chamador:
Deixa o bicho solto
Quero ver ele dançar
Cuidado rapaziada
Pro bicho não te pegar.
Cantoria:
Ai, ai, ai
Nosso urso já chegou
Ai, ai, ai
Nosso urso é dançador.
Chamador:
O urso é bicho brabo
E medo é que não tem
Ele não corre perigo
Quando está na corrente.
Cantoria:
Ai, ai, ai
Nosso urso já chegou
Ai, ai, ai
Nosso urso é dançador.
Chamador:
Olha lá mestre vaqueiro
Escutai o meu cantar
O bicho este está solto
É hora de amarrar.
Cantoria:
Ai, ai, ai
Nosso urso já chegou
Ai, ai, ai
Nosso urso é dançador.
Chamador:
Olha lá mestre vaqueiro
Você me preste atenção.
Pegue a corrente do bicho
Amarre ele no salão.
Cantoria:
Ai, ai, ai
Nosso urso já chegou
Ai, ai, ai
Nosso urso é dançador.
Chamador:
Olha lá mestre vaqueiro
Escutar o meu cantar
Bota o bicho na corrente
Que é hora de tirar.
Cantoria:
Ai, ai, ai
Nosso urso já chegou
Ai, ai, ai
Nosso urso é dançador.
Chamador:
Agora chegou a hora
Nós vamos arretirar
O bicho está na corrente
Perigo nunca vai dar.
Cantoria:
Ai, ai, ai
Nosso urso já chegou
Ai, ai, ai
Nosso urso é dançador.
Chamador:
Senhor mestre vaqueiro
Você me preste atenção.
Bote a corrente no bicho
Tire o bicho do salão.
Cantoria:
Ai, ai, ai
Nosso urso já chegou
Ai, ai, ai
Nosso urso é dançador.
BERNÚNCIA
Cantoria:
Olé, olé, olé, olé, olá
Arreda do caminho
Que a bernúncia quer passar.
Chamador:
A bernúncia é bicho brabo
Eu lhe digo porque é
Cuidado com esse bicho
Só dá de morder mulher.
Cantoria:
Olé, olé, olé, olé, olá
Arreda do caminho
Que a bernúncia quer passar.
Chamador:
Ó senhor mestre vaqueiro
Escutai o meu cantar
Vá arrumar um menino
Pro bichinho mastigar.
Cantoria:
Olé, olé, olé, olé, olá
Arreda do caminho
Que a bernúncia quer passar.
Chamador:
A bernúncia é bicho brabo
Quando ela vai comer
Chega no meio do salão
Remói se tudo vê.
Cantoria:
Olé, olé, olé, olé, olá
Arreda do caminho
Que a bernúncia quer passar.
Chamador:
O bicho já comeu
Agora sua refeição
Olha lé mestre vaqueiro
Faz a volta no salão.
Cantoria:
Olé, olé, olé, olé, olá
Arreda do caminho
Que a bernúncia quer passar.
Chamador:
Ó mestre vaqueiro
Escutai o meu cantar
O bucho está na corrente
Já pode se arretirar.
Cantoria:
Olé, olé, olé, olé, olá
Arreda do caminho
Que a bernúncia quer passar.
Chamador:
A bernúncia vai embora
Ela deixa de saudar
Ela vai no meio daqueles.
que acabam de amarrar.
Cantoria:
Olé, olé, olé, olé, olá
Arreda do caminho
Que a bernúncia quer passar.
MARICOTA
Chamador:
Fizemos um baile de ê
Fizemos um baile de cá
Está chegando a hora
De dançar a maricota.
Cantoria:
Está chegando a hora
De dançar a maricota.
Chamador:
A minha maricota
É moça delicada
Dança no meio da sala
Fazendo seu rebolado.
Cantoria:
Dança no meio da sala
Fazendo seu rebolado.
Chamador:
A minha maricote
É moça de estimação
Todo mundo bate palmas
Quando entra no salão.
Cantoria:
Todo mundo bate palmas
Quando entra no salão.
Chamador:
Ó Senhor mestre Mateus
Escutai o meu cantar
Traga a moça pela mão
Quando ainda pode desfilar.
Cantoria:
Traga a moça pela mão
Que ainda pode desfilar.
Chamador:
Chamo mestre Mateus
Vaqueiro faz a união
Dá uma volta em roda
Leva a moça pela mão.
Cantoria:
Dá uma volta em roda
Leva a moça pela mão.
Chamador:
A minha maricota
Ela vai se arretirar
Mateus e o vaqueiro
Deixa o povo apreciar.
Cantoria:
Mateus e o vaqueiro
Deixa o povo aprecia.
Chamador:
Fizemos um baile ê
Fizemos um baile de cá
Está chegando a hora
De dançar a maricota.
RETIRADA;
Chamador:
Ô senhor mestre da sala
Olê lê escutai o meu cantar.
Cantoria:
Nosso boi vai embora olê lê
Ou brinca ou meu boi ôi á.
Chamador:
Ô senhor me dá licença
Olê lê que quero me retirar.
Cantoria:
Nosso boi vai embora olê lê
Ou brinca ou meu boi ôi á.
Chamador:
No meio de tanta gente
Olê lê agora quero cantar.
Cantoria:
O nosso boi vai embora
Olê lê ou brinca ou meu boi ôi á.
Chamador:
Pedimos licença a todos
Olê lê agora vamos descansar.
Cantoria:
Nosso boi vai embora olê lê
Ou brinca ou meu boi ôi á.
Chamador:
Senhor mestre da sal
Olê lê cuidado muita atenção.
Cantoria:
Nosso boi vai embora olê lê
Ou brinca ou meu boi ôi á.
Chamador:
Fazemos a meia lua
Olê lê saímos deste salão.
Cantoria:
Nosso boi vai embora olê lê
Ou brinca ou meu boi ôi á.
A cantoria e os músicos vão na frente, seguidos do boi, cavalinho, cabra, bernúncia e as outras fifuras.
Coro:
Vamos baianinha
Vamos passear
Vamos lá na vila
Pra ver meu boi brincar.
Chamador num improviso:
Lá em cima daquele morro
Vem um tucano voando
Se o bico vem escrevendo
As asas vêm apagando.
Coro:
Vamos baianinha
Vamos passear
Vamos lá na vila
Pra ver meu boi brincar.
Chamador:
Mandei fazer um laço
Do couro da cotia
Pra laçar meu boi barroso
Em pingo do meu dia.
Coro:
Vamos baianinha
Vamos passear
Vamos lá na vila
Pra ver meu boi brincar.
Chamador:
Mandei fazer um laço
Do couro do jacaré
Pra laçar meu boi barroso
No cavalo pangaré.
O grupo vem vindo, o chamador diversificando os versos e a cantoria, respondendo em coro, até chegar ao lugar da apresentação. Defronte a casa forma-se um grande círculo com cantadores, músicos e espectadores. Os bichos ficam um pouco retirados do círculo. Os instrumentos tocam, o vaqueiro e o Mateus surgem no meio do círculo para dançar, e o chamador entoa:
Oh senhor mestre vaqueiro
Façe sua obrigação
Vá buscar o boi oh! Maninho
E dança bem ligeiro.
O Coro repete:
O meu boi malhado aí
Ele é corriqueiro
Espalha bem o povo oh! Maninho
E dança bem ligeiro.
Chamador:
O meu boi chegou, aí
Ele vai dançar
O dono da casa, oh! Maninho
Vá cumprimentar.
O coro repete.
Chamador:
Meu boi tá doente
Chame seu doutor
Pra benzer o boi, oh! Maninho
Que ele tá com dor.
Entra em cena o doutor, que bate nas costas do boi, levanta o rabo, examina, sacode o boi e diz:
Este boi tá doente
Um purgante vai tomar
Depois vou benzer ele
Que é pra ele miorá.
Tira da maleta um ramo de erva, um vidro de água, despeja na boca do boi e benze:
Eu benzo esse boi
Com raminho de arueira
Pra tirá a diarréia
E também a bicheira.
O doutor manda que o Mateus fique com o ouvido encostado na testa do boi para escutar se ele geme e, ao Vaqueiro, é ordenado dar um sopro abaixo da cola do boi. O boi, ao sentir o sopro, dá uma guinada para frente, jogando o Mateus no chão. O doutor diz que o boi está melhorando e benze outra vez:
Eu benzo meu boi
Com galinho de alecrim
Senhor dono da casa
Peça um dinheirinho pra mim.
Aí forma-se uma confusão entre o Vaqueiro e o Mateus pra receber o dinheiro, até que finalmente o doutor pega as notas e as guarda na maleta.
O chamador canta:
Levanta meu boi, ai
Levanta devagar
Venha pro terreiro, oh! Maninho
Outra vez brincar.
CAVALINHO
Entra o cavalinho e o chamador canta:
O meu cavalinho, ai
Cavalo picaço
Venha pro salão, oh! Maninho
E bota o boi no laço.
O coro repete.
Chamador:
O meu cavalinho, ai
Cavalo alazão
Bota o boi no laço, oh! Maninho
Tira do meio do salão.
Chamador:
O meu cavalinho
Ele já chegou
O dono da casa
Não cumprimentou.
O coro repete.
O cavalinho laça o boi e retira-o do salão.
RESUMO E DESTAQUES DO FOLGUEDO:
O Folguedo, em resumo, conta a história de um boi que está muito doente e deve ser levado ao veterinário. Esse, com poucos remédios e sua benzedura, livra o boi da agonia da morte. Termina com sua cura e com o Vaqueiro lançando o boi. Todos os personagens dançam ao som da cantoria e com o chamador que canta os versos para chamá-las. As cantorias diferem, havendo muita improvisação.
O Mateus e o Vaqueiro são os responsáveis por tornar a brincadeira mais divertida, pois são eles que ficam entregues as palhaçadas e a dramatização do auto. Brincadeira de boi, com um Mateus que não seja cômico, não despertará a atenção do público, pois é ele que deve improvisar o espetáculo e criar situações embaraçosas.
A Dona Maricota, com seus três metros de altura, ensina para as crianças que "tamanho não é documento", pois com seus braços longos e mãos espalmadas, vai distribuindo muitas carícias. Já a Cabrinha e a Bernúncia, conhecida como a que"come tudo que lhe dão", inclusive "gente", possuem coreografia própria. Bernúncia nada mais é do que o bicho-papão, que a maioria das crianças temem. Suas histórias eram contadas por negras-escravas africanas, à título de obrigar as crianças a se comportarem e não saírem à noite.
A Maricota e a Bernúncia foram acrescentadas ao folguedo nos últimos anos, entretanto outras figuras fantasmagóricas já haviam sido introduzidas em alguns Bois-de-Mamão como a Caipora, que figurava como fantasma de assombração.
Segundo Câmara Cascudo, a Bernúcia foi introduzida em São José por volta de 1923, por um preto de nome Felipe Roque de Almeida, trazida por ele dos sertões de Itajaí. O "bicho" teria sido "inventado" por um indivíduo daquelas paragens que procurou fazê-lo o mais grotesco possível e, antes de exibi-lo no Boi, foi mostrá-lo a uma tia, encancarando a boca, o que proporcionou à velha tal susto que a mesma o esconjurou, nervosa, repetindo o sinal da cruz: Abrenúncio! (Satanás!), Abrenúncio! (Satanás!).
Já Maricota, dizem que passou a ser figurante no Boi-de-mamão lá pelos anos 70 (1970). Ela surgiu a prtir da chegada de um circo na cidade de Florianópolis. Em uma das apresentações desse circo, existia uma mulher muito alta, que interagia com dois palhaços. Essa interação acontecia de uma forma bem violenta. A mulher ficava distribuindo bofetadas nos dois palhaços, e esses tentavam fugir de seus golpes.
O Cavalinho, embora a maioria das pessoas não perceba, é a figura mais compenetrada em seu papel, apresentando movimentos perfeitos. Seus rodopios são calculados, seus movimentos são rápidos, aparecendo; boleando boi, em volta do boi ou investindo contra a platéia. O ponto culminante desse folguedo é a cena do laço. Quando o Vaqueiro laça o boi, após sua ressurreição, toda a platéia aplaude. Já o boi, que pressente o laço, corcoveia, mas o Vaqueiro deve envolver as aspas do boi , para fazer sua retirada, antes que machuque alguém.
VÍDEOS
Bibliografia:
Versos e partituras retirados do livro "Folclore Catarinense" de Doralécio Soares; pgs 61-83.