A MULHER FILHOTE DE
BÚFALO BRANCO


O nome sioux é
uma corruptela francesa de um termo algoquim de
reprovação, que significa “serpente” ou “inimigo”
Os sioux são identificados com as pradarias e as
planícies. Em 1600 eles viviam nas cabeceiras do
rio Mississipi. Antes de 1700, começaram a migrar
para as planícies e pradarias a partir das áreas
das Woodlands, no Meio-Oeste. Este povo é famoso
por sua busca de visões, sua dança do sol e seus
homens santos.
A primeira
figura santa é a Mulher Filhote de Búfalo Branco.
Ela é uma heroína cultural. Foi ela quem trouxe
aos sioux o cachimbo sagrado. Fonte de profundo
conhecimento espiritual, a Mulher Filhote de
Búfalo Branco é uma poderosa mensageira de “Wakan-Tanka”,
o Grande Espírito. Ela mesma é chamada de “wakan”,
que pode significar “sagrada” e “poderosa”, além
de “antiga”, “velha” e “resistente”. Esta
personagem lendária tem a beleza da juventude e a
sabedoria da eternidade.
Segundo Black
Elk:
Há muito tempo
atrás, dois batedores haviam saído para procurar
um bisão e quando chegam ao topo de uma colina,
olhando para o norte, viram que vinha de muito
longe alguém. Quando chegou mais perto, gritaram:
-“É uma
mulher!”, e era.
Então um dos
batedores, tolo que era, teve maus pensamentos e
os disse. Mas o outro respondeu:
-“Esta é uma
mulher sagrada, jogue fora todos os maus
pensamentos”.
Quando ela chegou
mais perto, viram que usava um traje de couro
branco que brilhava ao sol.
Ele estava bordado com lindos
desenhos sagrados de espinhos do porco-espinho, em
cores tão radiantes que nenhuma mulher seria capaz
de fazer. Em suas mãos ela levava um fardo grande
e um leque de folhas de sálvia. Tinha seus cabelos
soltos exceto por uma trança no lado esquerdo que
era amarrada com pele de búfalo. Seus olhos eram
negros e brilhantes, com grande poder neles. E ela
sabia os pensamentos deles e disse em uma voz que
era como cantasse:
-“Vocês não me
conhecem, mas se quiserem fazer o que pensam,
podem vir”. E o tolo foi, mas quando chegou perto
dela, surgiu uma nuvem branca que o envolveu. E a
linda mulher saiu da nuvem, e quando ela se
afastou o homem tolo era um esqueleto coberto de
vermes.
Então ela falou
com o homem que não era tolo:
-“Você voltará
para casa e contará ao seu povo que eu estou
chegando e que uma grande tenda deverá ser
construída para mim no centro da nação.” E o
rapaz, que estava com muito medo, foi rapidamente
avisar seu povo, que imediatamente fez o que lhe
fora dito. E lá, ao redor da grande tenda, eles
esperaram a mulher sagrada. E depois de algum
tempo ela veio, muito bonita e cantando e...entrou
na tenda... E, enquanto cantava, de sua boca saía
uma nuvem branca de cheiro bom. Então ela deu algo
ao chefe: um cachimbo.
-“Olhem”, disse
ela. “Com isto vocês se multiplicarão e serão uma
boa nação. Nada que não seja bom sairá disto.
Somente as mãos dos bons deverão cuidar dele e os
maus não poderão sequer olhar para ele.”
A
mulher colocou uma lasca de búfalo seco no fogo e
acendeu o cachimbo com ela. Este era
peta-owihankeshni,
o fogo sem fim, a chama a ser passada de geração a
geração. E então falou:
“Aqui se encontra o cachimbo sagrado, com ele, nos
invernos futuros, enviarás vossa voz a Wakan-Tanka,
vosso Avô e Pai. Com este cachimbo de mistério
caminharás pela Terra, pois a terra é vossa Avó
e Mãe e é sagrada. O fornilho desse cachimbo é de
pedra vermelha. É a Terra. Este jovem bisonte que
está cravado na pedra, e que olha para o centro,
representa os quadrúpedes que vivem sobre vossa
mãe. A haste do cachimbo é de madeira, e isto
representa tudo o que cresce sobre a Terra. E
estas doze plumas que caem do local onde a haste
se encaixa no fornilho são de Águia Pintada e
representam a Águia e todos os seres alados. Todos
estes povos e todas as coisa do Universo estão
vinculadas a ti que fumas o cachimbo; todos enviam
suas vozes a Wakan-Tanka, o Grande Espírito.
Quando orais com este cachimbo, orais por todas as
coisa e com elas.”
"Com este
cachimbo sagrado," ela continuou,"vocês caminharão
como uma prece viva. Com seus pés descansando
sobre a terra e a haste do cachimbo alcançando os
céus, os seus corpos formam uma ponte viva entre o
Sagrado Abaixo e o Sagrado Acima. Wakan Tanka
sorri para vocês, porque agora nós somos um:
terra, céu, todas as coisas vivas, os seres de
duas pernas, os de quatro pernas e os de asas, as
árvores, as ervas. Juntos com o povo, estão todos
relacionados, uma família. O cachimbo os mantém
todos juntos.”
Portanto, fumar o cachimbo é um meio de se unir
com a terra e todas as suas criaturas: é um modo
de enviar a voz de alguém ao Grande Espírito.
Quando você reza com o cachimbo se une a todas as
criaturas vivas: cada uma delas é seu parente.
Todas as coisas do
Universo se ligam horizontalmente à haste do
cachimbo. O fogo, alimentado pelo sopro do vento e
dos homens, queima dentro do fornilho e as ervas
do chão são símbolos do mundo terrestre. Aromas,
fumaça e vozes sobem na verticalidade ao Grande
Espírito.
Enquanto ela
estava dentro da tenda, a Mulher Filhote de Búfalo
Branco revelou ao povo que:
“Todo amanhecer
é um acontecimento sagrado, e todo dia é sagrado,
pois a luz vem de seu Pai “Wakan-Tanka”; e também
vocês devem sempre se lembrar de que os de duas
pernas e todos os outros povos que habitam esta
terra são sagrados e devem ser tratados como
tais”.
Ela ensinou
também, a eles as sete cerimônias sagradas. Uma
delas foi a Tenda do Suor, ou Cerimônia d
Purificação. A outra foi a Cerimônia de Nomeação,
dando nomes às crianças. A terceira foi a
Cerimônia de cura. A quarta foi a criação de
parentesco ou Cerimônia de adoção.A quinta foi a
Cerimônia de casamento. A sexta foi a Busca de
Visão e a sétima foi a Cerimônia da Dança do Sol,
a Cerimônia do povo de todas as nações.

Ao deixar o
povo, ela disse:
“Olhem este
cachimbo! Sempre se lembrem de como ele é sagrado.
Tratem-no como tal e ele irá com vocês até o fim.
Lembrem-se, em mim existem quatro eras. Estou
partindo agora, mas voltarei para seu povo a cada
era, e no fim eu voltarei.”
Ao deixar a
tenda, ela caminhou uma curta distância, sentou-se
e ergueu-se na forma de um filhote de búfalo
marrom e vermelho. Caminhou mais um pouco,
deitou-se mais uma vez e ergueu-se como um búfalo
preto. Nesta forma, ela se afastou ainda mais do
povo. Então curvou-se para cada um dos cantos do
universo e desapareceu no alto da colina.
Você deve estar
se perguntando por que esta mulher é chamada de
“Mulher Filhote de Búfalo Branco”. Conforme já
falamos, ela é uma figura que dá vida a seu povo e
está identificada com o búfalo porque representa
toda a criação, assim como o búfalo para o sioux.
É este animal mais importante para este povo, pois
dava-lhes comida, roupas e até mesmo casas, que
eram feitas de peles curtidas. Como o búfalo
continha todas estas coisas em si e, por muitas
outras razões, ele era um símbolo natural do
universo, a totalidade de todas as formas
manifestas. Tudo está simbolicamente contido neste
animal: a terra e tudo que cresce nela, todos os
animais e até mesmo os povos de duas pernas; e
cada parte específica do animal representa para o
índio uma dessas “partes” da criação. E também o
búfalo tem quatro patas, e elas representam as
quatro eras, que são uma condição integral da
criação.
E
ainda, quando a Mulher Filhote de Búfalo Branco
prometeu voltar, ela fez umas profecias. Uma delas
foi o nascimento de um novilho de búfalo branco
que seria um sinal de que estaria próximo o dia de
sua volta para purificar o mundo novamente,
trazendo harmonia e equilíbrio espiritual.
Três destes animais já nasceram
desde 1995. Um morreu logo após seu nascimento. o
último nasceu em Dakota do Sul, EUA. Este filhote
de búfalo é considerado como um presente para
todos os indígenas e pessoas do mundo, capaz de
unir todas as crenças no ideal de harmonia e de
amor universal.

O cachimbo do
Filhote de Búfalo Branco está em um lugar sagrado
(Green Grass)
em uma Reserva Indígena do Rio
Cheyenne na Dakota do Sul mantido por um homem que
é conhecido como o Guardador do Cachimbo do
Novilho de Búfalo Branco, Arvol Looking Horse.Ele
diz que está escrito que na próxima vez em que
houver caos e disparidade, a Mulher Filhote Búfalo
Branco retornará.
A Mulher
Filhote de Búfalo Branco representa o conhecimento
cósmico e a energia; como o bisão, ela representa
a totalidade como o universo; e também a
totalidade como as quatro eras. Em um certo
sentido, podemos ver a Mulher Filhote de Búfalo
Branco como aquela parte sábia porém oculta de nós
mesmos que sempre tem acesso ao conhecimento
sagrado e transcendente, conhecimento que,
paradoxalmente, está relacionado às nossas vidas
no mundo cotidiano.
“De
Wakan-Tanga, o Grande Mistério, vem todo o poder.
É de Wakan-Tanga que o homem santo tem sabedoria e
poder para curar e para fazer amuletos santos. O
homem sabe que todas as plantas que curam são
dadas por Wakan-Tanga. Também assim é com o Búfalo
Sagrado, pois ele é um presente de Wakan-Tanga”.
Flat-Iron (Maza Blaska) OglalaSioux.
Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO