MITOLOGIA ROMANA


A religião romana primitiva se modificou com pela incorporação de novas crenças em épocas posteriores, e por assimilação de grande parte da mitologia grega. A religião romana se consolidou antes de que começasse a tradição literária e os primeiros escritores que se ocuparam dela, desconheciam suas origens. Assim ocorreu com os "Fastos" do poeta Ovídio, que possuía grande influência dos modelos alexandrinos, que incorporavam crenças gregas para preencher os vazios da tradição romana.

O primeiro grande ancestral de todas as coisas romanas foi Eneas, um príncipe troiano que escapou do ataque de Tróia, passando também pelos legendários reis de Alba até os gêmeos Rômulo e Remo.

A religião romana se caracterizava por ser politeísta e antropomórfica. Os Deuses personificavam aspectos da natureza.

Entretanto, o ritual romano distinguia seus Deuses por classes: os "di indigetes" e  os "di novensides" ou "novensiles". Os primeiros eram Deuses nacionais protetores do Estado. O caráter dos "indigetes" e seus festivais mostra que o primitivo povo romano não era só uma comunidade agrícola, mas também praticava o combate e a guerra. Trinta dos deuses "di indigetes" eram venerados em festivais especiais. Os dias das festas se introduziram em um calendário. Na maioria dos casos, esses Deuses, considerados menores, tinham qualidades abstratas e não tinham correspondência exata com os Deuses gregos.

Entre eles, destacamos: Abundantia, Ann Perenna, Carmenta, Clementia, Corus, Dea Dia, Dea Tacita, Faustitas, Febris, Fides, Feronia, Honos, Fraus, Indivia, Jana, Juno, Lares, Lucina, Lupercus, Mefitis, Mena, Moneta, Naenia, Nundina, Orbona, Paventia, Pietras, Pomona, Porus, Pudicitia, Semonia, Statanus, Suedela, Vacuna, Vica Pota, Virtus, Vitumnus, Volumna.

 

  CONCEITO

Como todos os mitos e lendas antigas, a mitologia romana reúne crenças, rituais e outras práticas relacionadas com o sobrenatural, a partir de uma base cultural própria, nesse caso, desde o período lendário. No princípio da Idade Média, entretanto, a religião cristã absorveu as religiões do Império Romano.

OS SACERDOTES

Se distingue essa religião por seus ritos e por um numeroso grupo de sacerdotes encarregados deles. Esses sacerdotes formavam parte de associações chamadas colégios:

1. Os Pontífices: encarregados dos ritos.

2. As Vestais: encarregadas de manter acesa o fogo sagrado da Deusa Vesta, com voto de virgindade.

3. Os Augures: observando o vôo das aves, adivinhavam a vontade dos Deuses.

DEUSES DO POVO ROMANO

Se distingue claramente no ritual romano duas classes de Deuses:

INGIGETES: Trinta desses Deuses eram venerados em festivais especiais. Se trata de Deuses nacionais protetores do Estado. Os primeiros sacerdotes adquiriram esse nome, assim como as festividades fixas do calendário indicavam seus nomes e natureza.

NOVENSIDES OU NOVENSILES: O culto dessas divindades se introduziu no período histórico.

As primeiras divindades romanas incluíam numerosos Deuses, onde cada um protegia um tipo de atividade humana. Se invocava essa série de Deuses quando se tratava de relacionar uma atividade muito específica. No caso da colheita, um velho ritual acompanhava o ato de semear ou arar a terra. Em cada fase da operação (semear-colher) se invocada uma divindade diferente, cujo nome derivava regularmente do verbo correspondente ao ato que se realizava. Nesse caso se tratava de Deuses secundários ou subalternos a quem se invocava junto com as divindades maiores ou superiores.

O primitivo povo romano, como muitos outros, um povo de agricultores durante sua etapa lendária, também eram grandes guerreiros. Aqui há uma estreita relação entre os Deuses e as necessidades práticas da vida cotidiana.

Para os romanos, o mais sagrado era a casa e o fogo do lar. Cada casa tinha seus Deuses. Se realizava o culto aos Deuses protetores do campo e do lar, conhecidos como Lares; aos espíritos dos parentes mortos, denominados de Manes; aos Diparentes (alma dos antepassados); aos Penates (Deuses da família, protetores das provisões) e aos protetores da faculdade procriadora do homem, chamados de Gênios.

Sendo assim:

Janu e Vesta, guardavam as portas e o lar, enquanto que o Deus Lares protegia o campo e a casa; Pales, era responsável pelo gado; Saturno, pela semente; Ceres era a Deusa encarregada do crescimento dos cereias; Pomona, pelos frutos e Consus e Ops, das colheitas.

Júpiter, o majestoso e rei dos Deuses, era venerado por contribuir com suas chuvas para que a terra desse bons frutos. Se considerava que tinha o poder sobre o raio e estava encarregado de reger a atividade humana e, com seu poder total, protegia os romanos em suas atividades militares nas fronteiras de sua própria comunidade, que cada vez mais foi se ampliando.

Identificados entre si, nos primeiros tempos se sobressaíam os Deuses Marte e Quirino (fundador de Roma ou Rômulo, representando as pessoas comuns). Marte, por exemplo, protegia os jovens em suas atividades diárias, sobretudo quando essas eram realizadas durante a guerra. Era honrado em março e outubro. Já em tempos de Paz, Quirino era o protetor da comunidade, de acordo com novos estudos.

A cabeça do panteão mais antigo estada a tríada formada por Júpiter, Marte e Quirino, com as consortes Juno e Vesta. Os sacerdotes ou "flamines", responsáveis por seus cultos, pertenciam a hierarquia mais alta.

Nos primeiros tempos, esses Deuses tinham uma individualidade pouco definida, e suas estórias pessoais careciam de bodas e genealogias e, o que a diferencia da mitologia grega, é que os Deuses não atuavam como os mortais. Essa é a razão para não existirem muitos relatos sobre suas atividades.

O culto mais antigo se associava com Numa Pompilio, o segundo rei Lendário de Roma, cuja consorte e conselheira, Egéria, segundo se acreditava, era a Deusa romana das fontes e dos partos. Relacionada com ela, se adicionaram novos elementos em uma época relativamente posterior.

Houve outras incorporações importantes como a culto à Diana no monte Aventino e a introdução dos Livros Sibilinos. Essas são profecias sobre a história do mundo que, segundo o mito, obteve Tarquino no final do século VI a.C de Sibila de Cumas.

INCLUSÃO DE OUTRAS DIVINDADES

A expansão romana teve como conseqüência a aceitação dos Deuses nativos de seus vizinhos. Ao que parece, os romanos não tiveram nenhum problema para conduzir os Deuses recém assimilados para seus próprios templos. Mesmo quando a população e as cidades cresceram, aos estrangeiros ou conquistados, sempre foi permitido o culto de seus próprios Deuses. Graças a esse processo de assimilação cultural, Junto com Castor e Pólux, parecem haver contribuído ao panteão romano Diana, Minerva, Hércules, Vênus e outras divindades menores. Alguns ídolos eram romanos e outros procediam da vizinha Grécia.

Cibeles era considerada a primeira Deusa da religião oriental que chegou a Roma. Chegou junto com seu amante, Atis, pois se tratavam de um casal divino. Cibeles, chamada de "Grande Mãe", simbolizava a fertilidade e o poder da Natureza. O símbolo do culto de Cibeles era um meteorito negro. Nas cerimônias de seu culto, os fiéis eram borrifados com sangue de suas vítimas, que deviam purificar o homem e torná-lo imortal. Sem dúvida, trata-se de um ritual bem primitivo.

Do Irã, povo persa, chegou Mitra. Era um Deus-soldado. Mitra era considerado entre os persas como um intermediário entre as forças boas e más. Também há conotações de grande violência em seus ritos, pois os fiéis deviam ficar cobertos pelo sangue de um touro degolado. Era desse modo que o adepto se convertia em um soldado de Mitra, pois esse, no princípio do mundo, capturou um grande touro que o simbolizava e o sacrificou por ordem do Deus Sol.

As Deusas e Deuses gregos mais antropomorfos acabaram se identificando com as Deusas e Deuses romanos mais importantes com cujos atributos e mitos também se incorporaram.

FESTIVIDADES RELIGIOSAS

Os romanos aceitaram com boas graças a incorporação de novos Deuses procedentes de outras culturas e assim se refletia no calendário religioso romano. E assim foi feito, quando os povos conquistados também assimilaram os Deuses romanos. Houve, portanto, uma mescla entre conquistadores e conquistados.

Originalmente haviam poucas festividades romanas. Algumas das mais antigas sobreviveram até finais do Império pagão, preservando a memória da fertilidade e os ritos propiciatórios de um primitivo povo agrícola. A incorporação de novos Deuses e ritos incrementou o calendário religioso e chegou a ser tão excessivo em número de festas religiosas que ultrapassaram aos dias dedicados ao trabalho.

Entre as festividades religiosas romanas mais importantes figuravam as Saturnais, as Lupercais, a Equiria e os jogos Seculares.

As Saturnais se celebravam durante sete dias, de 17 a 23 de dezembro, durante o período em que começava o Solstício de Inverno. De grande importância eram essas festas, porque toda a atividade econômica se alterava: tudo se suspendia e os escravos ficavam livres, embora por um curto espaço de tempo. Predominava um ambiente de alegria e presentes eram trocados.

As Lupercais era uma antiga celebração na qual originalmente se honrava a Luperco, um Deus pastoril. A festividade se celebrava em 15 de fevereiro na gruta de Lupercal situada no monte Palatino. Aqui nos encontramos com a história de Rômulo e Remo (fundadores de Roma), que foram resgatados por uma loba das águas do rio Tibre e os amamentou. Os gêmeos tinham sido lançados ao rio para se afogarem pelo tio Amulius, que desejava ser o próximo governante.

Rômulo e Remo não se afogaram e foram encontrados por um pastor, Fausto (Fáustulo), que os levou para sua casa, onde acabou criando-os juntamente com sua mulher, chamada Aca Larentia. Quando tornaram-se adultos, o pai adotivo contou sua história e os gêmeos mataram o tio. Logo decidiram construir uma cidade nova junto ao rio Tibre. Rômulo escalou o monte Palatino e Remo o monte Aventino. Remo viu seis abutres e Rômulo viu doze. Rômulo reclamou aos Deuses para que o favorecessem e começou a arar um sulco para marcar os limites da cidade. Mas, levantou-se entre os irmãos uma grande disputa que terminou com a morte de Remo.

Retornando as festividades, a Equiria, por sua vez, era celebrada de 27 de fevereiro a 14 de março. Esse era um festival em honra ao Deus Marte. Fevereiro e Março apareciam como a época do ano em que se preparavam novas campanhas militares. Um dos sítios das celebrações era conhecido como Campo de Marte e era onde realizavam-se corridas de cavalos, que definiam claramente essa celebração.

Já os jogos Seculares incluíam espetáculos atléticos e sacrifícios. A festa era realizada em intervalos regulares, tradicionalmente só uma vez em cada "saeculum", século, porém essa tradição não era respeitada sempre.

TEMPLOS ROMANOS

Na religião romana teve muita importância a arquitetura do templo e o grande número de sítios para o culto. Aqui se reflete a receptividade da cidade romana a todas as religiões do mundo. Construído no Campo, o templo de Ísis e Serapis contemplou um estilo e materiais egípcios para albergar o culto helenizado da deidade egípcia Ísis. Essa é uma amostra da heterogeneidade dos monumentos religiosos romanos.

Os templos de Roma dignos de ser mencionados é o de Júpiter Capitolino e o Panteão. O templo de Júpiter Capitolino, no monte Capitolino, estava dedicado em 509 a. C. à Júpiter, Juno e Minerva. De estilo etrusco, foi construído à princípio sob essas diretrizes, porém logo foi reconstruído ou restaurado várias vezes durante o Império e destruído finalmente por vândalos em 455 d. C.

O Panteão foi construído entre 117 a 138 d.C. graças ao imperador Adriano. Se consagrou a todos os Deuses. Esse edifício foi substituído por um templo menor construído por Marco Agripa. Efectivamente, o seu nome está inscrito sobre o pórtico do edifício. Lê-se aí: M.AGRIPPA.L.F.COS.TERTIUM.FECIT, o que significa: "Construído por Marco Agripa, filho de Lúcio, pela terceira vez cônsul".

Atualmente o Panteão é o monumento nacional mais importante da Itália. Esse templo se converteu em Igreja cristã em 607.

DECADÊNCIA DA RELIGIÃO ROMANA

Nos encontramos no princípio da decadência da religião romana a partir de uma translação das qualidades antropomórficas dos Deuses gregos à religião romana e, sobretudo, à influência e predomínio da filosofia grega entre os romanos cultos. Essa circunstância teve uma drástica conseqüência: o desinteresse pelos velhos ritos e tradições. De alguma forma, a decadência de uma religião vem a fortalecer outras. Sendo assim, no século I a. C. os ofícios sacerdotais antigos praticamente desapareceram.

Desinteressando-se cada vez mais pelo antigo, os patrícios (topo da pirâmide social, descendentes dos primeiros romanos) deixaram de crer nos ritos. Só houve uma continuidade por interesse político, entretanto a maioria da população se inclinou por abraçar ritos procedentes do estrangeiro. Só a elite sacerdotal continuou controlando os cargos do pontífice e de "augur", cargos sem dúvida, tipicamente político e muito cobiçados.

O aparecimento do Imperador Augusto propiciou uma reforma geral e a restauração do antigo sistema. Augusto assumiu, também, como o mais alto sacerdote de todas as ordens sacerdotais e como imperador, não hesitou em proclamar-se um ser divino. Essa nova religião, a da adoração de Augusto, floresceu e foi observada em todo o império durante a sua vida, e se seguiu com os imperadores Cláudio, Vespasiano e Tito. A partir de então, depois do reinado de Marco Coceyo Nerva (96-98 d. C.), muito poucos imperadores não receberam essa distinção.

Conclui-se assim, que a expansão dos romanos trouxe invariavelmente a adoção de novos ritos. O estrangeiro foi se impondo pouco a pouco e assim apareceu o mito da Deusa egípcia Ísis e do Deus persa Mitra, que em alguns aspectos era similar ao cristianismo.

Finalmente foi se impondo o cristianismo, passando a ser a religião oficialmente tolerada em Roma a partir do governo de Constantino o Grande, imperador do ano de 324 até 337.

Os cultos pagãos foram proibidos no ano 392, através de um edito do imperador Teodósio.

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO

Bibliografia

El Gran Libro de La Mitologia - Editora Dastin; Espanha

Curso de Direito Romano - J. Cretella Júnior; 17 Edição; Editora Forense; Brasil

Mitologia Grega e Romana - P. Commelin; Ediouro; Brasil

Mítologia Universal - Neil Philip; Edilupa; Espanha