M'Bororé
 

Os jesuítas em sua obra de catequese, no século XVIII, inicialmente fundaram Missões no Paraguai e na região de Guaíra, e, depois, cruzaram o rio Uruguai, penetrando no atual Estado do Rio Grande do Sul. Agrupavam os índios, que viviam dispersos em pequenos aglomerados na selva, para facilitar a catequização e a defesa contra os ataques dos escravagistas coloniais.

Assim começaram a surgir verdadeiras cidades, em território hoje pertencente ao Paraguai, Argentina, Brasil e Uruguai, formando a República Guarani. Esta “República”, embora submetida à Coroa Espanhola, gozava de uma relativa autonomia administrativa e econômica, prosperando por quase 200 anos.

No território que hoje corresponde ao Rio Grande do Sul as Reduções tiveram 2 ciclos distintos. O primeiro foi iniciado em 1.626 com a fundação de São Nicolau, seguida da criação de cerca de 18 núcleos, até 1634. Deste primeiro ciclo não resta nenhum vestígio, pois as Reduções – ainda incipientes – foram arrasadas pelos Bandeirantes, liderados por Raposo Tavares. Os índios que não foram mortos ou escravizados migraram então para o lado Ocidental do Rio Uruguai e se abrigaram em Reduções ali existentes.

Após a derrota dos paulistas, na histórica batalha de Mbororé, inicia-se o segundo ciclo das Reduções em solo rio-grandense, com a fundação de São Francisco Borgia (São Borja), em 1.687, seguido da refundação de São Nicolau, São Luiz Gonzaga e São Lourenço Mártir. Todas no mesmo ano. Mais tarde surgiram, sucessivamente, São Miguel Arcanjo, São João Batista e, por último, Santo Ângelo Custódio, em 1706. Estas Reduções passaram a ser conhecidas como os “Sete Povos das Missões da Banda Oriental do Uruguai”. Desenvolveram-se e alcançaram grande esplendor e riqueza.A cidade de São Miguel era a capital deste Império Guarani. Sua majestosa catedral, com altares recobertos em ouro e pratarias, parecia atestar as riquezas acumuladas em decênios.

Entretanto, conjuntamente, novas fazendas de gado e novos entrepostos de erva-mate iam se formando, sertão a dentro.

Gado, mate e produtos agrícolas foram os esteios, nesta época, do poderio econômico missioneiro.

Para por cabo àquele império autônomo que se formara na América do Sul e que haviam dividido entre si, Espanha e Portugal uniram-se e, primeiramente, tentaram enxotar os padres e índios se utilizando da força dos tratados.

Com o Tratado de Madri, em 1750, o reino de Espanha cedeu os Sete Povos para Portugal, em troca da Colônia do Sacramento, pequena cidade fortificada em frente a Buenos Aires, no atual território uruguaio. O mesmo tratado estabelecia que os índios e jesuítas dos Sete Povos deveriam abandonar as Reduções e suas terras, levando consigo apenas os bens móveis e semoventes, num prazo de um ano.Os índios não quiseram abandonar seus campos....os padres não quiseram abandonar suas cidades....

E assim, se originou uma das mais desiguais guerras daquele século: coligados, Espanha e Portugal ,contra os índios guaranis dos Sete Povos, na Batalha que ficou conhecida pelo nome de Caiboaté, no ano de 1756.

Diante ao avanço dos dois exércitos europeus, os lanceiros guaranis foram abatidos aos milhares. E dentro em pouco os exércitos invasores batiam às portas de São Miguel.

Os padres, na hora aflita da invasão, abandonaram as suas fazendas. e, na fuga precipitada, não podendo levar consigo as riquezas, confiaram-nas às terras e águas que lhe pareciam propícias.

No entanto, esses tesouros não ficaram de todo abandonados à cobiça dos homens. Índios devotados aos padres ficaram de guarda. E como aquilo já passou de mais de duzentos anos, eles fiéis à sua missão, envelheceram, morreram e mesmo depois de mortos, continuaram a defender os tesouros.

M'Bororé é o vigia das Casas Brancas.

Este índio era amigo dos padres das Sete Missões, da terra que dá vertentes para o Uruguai.

Dentro do mato, no alto de uma lombada, há uma casa branca, sem porta em nenhum lado, sem janela em nenhuma altura. Dentro, as salas estão lastradas de barras de ouro e barras de prata, tão pesadas que seriam necessários dois homens para remover cada uma delas. E todas as juntas das pilhas estão tomadas de pedras preciosas. Por cima de tudo, estão os castiçais, os resplendores de santos, feitos de ouro maciço. E salvas de prata, turíbulos e cajados. Seria um nunca acabar se fôssemos enumerar as riquezas ali reunidas.Quando os padres fugiram às pressas, M'Bororé ficou tomando conta da Casa Branca que já estava feita, sem portas nem janelas. Guardou-a enquanto era moço, guardou-a depois de velho e, depois de morto, continuou a guardá-la como um índio fantasma.

Continua a guardar até hoje, rondando a Casa Branca, 

sem portas...

sem janelas...

Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto

 

Bibliografia:

Estórias e Lendas do Rio Grande do Sul - Barbosa Lessa

Lendas do Sul - J. Simóes Neto

Lendas do Rio Grande do Sul - Dante de Laytano