~*~UNIVERSO MAIA~*~

 UNIVERSO MAIA

 

O nativo americano possui o dom da intuição, da razão, do livre arbítrio e da vontade. Capacidades que o tornaram o melhor observador da natureza, que passou a considerar seu guia e mestre. Adquirindo experiência a respeito do meio em que vivia, acabou por reconhecer que ele próprio era parte dessa natureza e que todas as coisas possuem alma, porque tem forma. Assim, os maias definiram a alma como algo material e não confundiam alma com espírito. Consideravam o espírito como energia solar e a alma como uma forma de manifestação do espírito.

img

A religião dos maias, portanto, baseou-se em todos os segredos que, por milhares de séculos, foram coletados da Mãe-natureza, deste plano terrestre em união com as leis cósmicas. Com este material, os iniciados maias formularam sua Religião-Ciência.

O povo maia possuíam uma grande religiosidade, apresentando um complexo e dominador panteão, que nos revela indivíduos de atividades essencialmente agrárias. Suas divindades apresentavam um caráter ambivalente, que podia ter um aspecto positivo, tanto quanto negativo. Sendo assim, a chuva que faz crescer as plantas, também podem afogá-las, por excesso e essa dualidade se identifica com um casal divino ou pode ainda manifestar-se nos perfis contraditórios de uma mesma divindade.

 

img

O estudo do panteão maia nos permite deduzir algumas generalidades básicas. Inicialmente observa-se divindades da chuva e da terra, ligadas às atividades da agricultura, que apresentam caracteres ofídicos, isto é, possuem traços de serpentes e crocodilos, mesclados com humanos. Estas divindades antropomorfas são excepcionais na imaginação religiosa maia.

Seguindo, observamos o caráter de "quadruplicidade" de numerosos deuses cuja personalidade se desintegra em quatro indivíduos, cada um correspondendo a um ponto cardeal. Era freqüente também o esquema que associava essas divindades a "duplos", correspondendo aos quatro pontos cardeais.

Na concepção maia, uma divindade pode revestir-se com um caráter benéfico e depois maléfico, passando da juventude à velhice ou até trocando de sexo. Constata-se, que não existe impermeabilidade entre os universos celeste, terrestres e subterrâneo e que uma divindade pode encontrar-se nestes mundos diversos e ter ciclos diferentes.

Simplificando, podemos reagrupar as divindades maias em 3 grandes famílias: celeste, terrestre e subterrânea. Para o céu existiam 13 divindades maiores, 7 para a terra e 9 para o mundo subterrâneo. Diferentes dos mexicanos, não prestavam culto ao deus do fogo. Estranhamente, seu grande deus, Hanab Ku, criador do mundo e pai de todas as divindades, ocupava um lugar medíocre no panteão maia.

Entre as divindades celestes, o Sol (Kinich Ahau, deus solar) e a Lua (Ixchel) detinham um lugar preponderante e todas as lendas estavam associadas a este casal. Antes de serem transferidos para o céu, os dois viviam como cônjuges sobre a terra, onde a madame Lua não era uma esposa fiel. No decurso de uma discussão o seu marido Sol lhe retirou um pouco de seu brilho.

Podemos entender com clareza porque os povos antigos escolhiam o Sol como deus dos homens e a Lua como das mulheres, pois suas características parecem corresponder ao masculino e feminino, e assim, se justifica a escolha destes símbolos. A história da maioria das religiões é a história do poder de tais símbolos.

As artes da música, da cerâmica e da caça foram colocados sob a proteção do Sol, enquanto que a gravidez, o parto, as colheitas e a tecelagem eram da alçada da Lua. Paradoxalmente, vemos no códice esta figurada em suas manifestações hostis e negativas e até destrutivas. Ixchel é entre outras, a deusa das inundações e aparece também, como uma velha colérica, cercada de símbolos fúnebres, uma serpente enrolada sobre o seu crânio, ossadas esparsas e fixas sobre uma saia e garras de rapina à guisa de unhas. O nascimento, a morte...., dois traços ambivalentes, mas que sempre fizeram parte do pensamento indígena.

 

DIVINDADES CELESTES

img

Itzamna aparece com freqüência como monstro bicéfalo, espécie de crocodilo ou lagarto, com uma testa em ponta e então simboliza a abóbada celeste. Aliás itzam significa lagarto em iucateque.

Uma das cabeças desse dragão celeste é viva representando onde os astros nascem e a segunda tem a aparência da morte representando o oeste onde desaparecem as estrelas e o Sol. Ele era representado também sob os traços de um velho magro, às vezes barbudo com um único dente de tubarão apontando de seu maxilar superior. Às vezes, sua cabeça singular brota da goela do dragão celeste.

Este jacaré obsedava os Maias, pois eles imaginavam que a terra era um disco circular pousado sobre um crocodilo, ou quatro, segundo outras versões. Um para cada ponto cardeal, flutuando sobre as águas subterrâneas e este disco comportava 9 diferentes mundos subterrâneos, empilhados, cada um dominado por um terrível e aterrorizante Senhor da Noite.

É necessário acrescentar, que os Maias concebiam o Céu composto por 13 Céus, um sobre o outro, chamados de "oxlahuntikú". Abaixo da Terra outros 9 Céus eram presididos pelos "bolontikú". O último dos Céus era o "Mitnal", o inferno, reino de Ah Puch, Senhor da Morte. De resto, quatro gênios protetores, os Bacabs sustentavam o Céu:

 

O do LESTE era rubro,

O do NORTE era branco,

O do OESTE era negro (noite) e

O SUL era amarelo.

Eles tinham a missão de cortar o vento com lâminas de obsidiana.

img

Itzamna, como a maioria dos deuses se "desquadruplicava" em 4 personalidades, um para cada pólo, com uma cor própria como atributo.

Na iconografia maia, estes monstros voltam com regularidade constante.

Podemos identificá-los como Chaacs, deuses da chuva e da vegetação.

 

Esses deuses eram bem conhecidos com seu nariz em forma de trompa, possuindo dois caninos pontiagudos. Os Chaacs podem ser uma manifestação dos Itzamnas, ou talvez uma manifestação regional, não se sabe ao certo.

Nós códices são reconhecidos pelos traços ofídicos, pois as serpentes estão a eles associadas, e podemos vê-los emborcando e entornando jarras cheias de água sobre o solo. Eles são os deuses da chuva, do vento, da vegetação, da fertilidade e da agricultura.

Entre os 13 deuses celestes está o planeta Vênus cuja importância foi menor apenas nos espíritos. Deve ser mencionado também Xaman Ek, o deus da Estrela Polar, de rosto simiesco, achatado e negro. Ele é o padroeiro e protetor dos mercadores que lhe fazem oferendas em pequenos oratórios postos à beira das estradas.
 

 

DIVINDADES TERRESTRES

 

 

 

img

Os astros foram para o céu e fizeram chover sobre a terra. É deste modo, que a semente germina e o milho amadurece. O camponês maia, antes mesmo de semear ou colher, jejuava e praticava abstinência por 13 dias e jamais deixava de fazer oferendas para as divindades do solo.

Personificar o milho como um ser vivo e divinizá-lo, pode nos parecer bastante estranho, mas esta concepção foi fundamental no pensamento maia, pois eles se diziam nascidos do milho. Sendo assim, o deus do milho era idolatrado ocupando um lugar de destaque em seu panteão e no coração dos camponeses.

É aliás o único deus que tem formas humanas, juvenis e amáveis. Ele se apresentava com os traços de um jovem, sua cabeça servia também de símbolo ao algarismo 8, de cabelos longos, sugerindo as barbas da espiga do milho.

Seu nome era Yum, Kax, o "Senhor dos Bosques" e revestia-se de todos os caracteres de uma divindade agrária. Deus da prosperidade e da abundância, o deus do milho também é associado a símbolos da morte. Não há como se criar vida senão com a morte.

Para que o grão germine é preciso enterrá-lo e deixá-lo agir como um cadáver. Sendo assim, representam-no em sua forma decapitada, ou trazendo a cabeça cortada com uma medalha no peito, para lembrar que o grão morre para que nasça a jovem planta.

Os feijões tiveram igualmente seus deuses, mas muito menos apreciados do que os do trigo. Podemos aproximar aos deuses telúricos os que residem no cume das montanhas, em relação com as nuvens e a chuva, na confluência dos rios, nas fontes ou nas grutas.

O deus Jaguar participava de dois universos: sob seu aspecto visível e externo, ele encarnava as forças do solo; sob seu aspecto oculto, enterrado em seu covil, encarnava as forças do subsolo.

DIVINDADES SUBTERRÂNEAS

 

img

Nove Senhores da Noite, ditos Nove Deuses (Bolontiku), presidiam aos diversos mundos subterrâneos superpostos: foram encontrados seus glifos, que não se conseguiu traduzir. Este é o domínio da morte e do além.

Os símbolos da morte, como crânios descarnados e ossos cruzados, voltam constantemente na iconografia maia.

Sob a forma de um esqueleto enfeitado de Guizos, Ah Puch é o deus da morte. Talvez Ek Chuah, o deus da guerra e dos sacrifícios, representado nos códices, não passe de uma segunda forma do deus da morte.

É fácil reconhecê-lo, pois possui uma silhueta magra, lábios grossos e caídos e às vezes possui a cauda de um escorpião.

Sua personalidade é dualista e ambivalente, ora é visto levando um fardo nas costa e é, igualmente muito apreciado pelos viajantes e vendedores ambulantes.

img

No rol dos deuses da morte e dos mundos infernais devemos incluir IXTAB, a deusa do suicida.

 

Ela está representada nos códices suspendida dos céus por uma corda atada no pescoço. Suicidas, sacrificados, soldados mortos em combate, mulheres mortas de parto, toda essa gente, tinha direito a ingressar direto no paraíso maia, lugar idílico, um éden plantado de "ceibas", as árvores sagradas.

São árvores imensas que contêm em seus grãos-cápsulas rebentos de "kapok".

As lendas maias nos ensinam que uma ceiba gigantesca atravessa todo o universo, dos mundos subterrâneos aos mundos celestes.

Os condenados quando morriam iam para o "Mitnal", o mundo inferior onde impera um frio insuportável. Segundo o pensamento maia, a morte, as enfermidades não tinham um caráter acidental, mas eram o justo castigo de erros passados, enviados pelos deuses irados.

 

 

img

Os maias sempre foram extremamente fascinados pela passagem do tempo, seu ritmo cíclico, como eram apaixonados pelo conhecimento da eternidade. Todas as divisões do tempo, dos dias, dos meses de 20 dias, dos anos, dos séculos de 52 anos, eram deificados. Eles prestavam culto às estrelas, erguidas em datas regulares, bem como os números, que lhes permitiam efetuar esses prodigiosos cálculos.

Durante os séculos XI -XII, é preciso notar o culto preponderante da Serpente Emplumada, Quetzalcoalt.

Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto

 

Bibliografia consultada:

Segredo das Civilizações Perdidas - Clifford Wilson

Os Segredos da Ciência Maia - Hunbatz Men

Atlântida, O Enigma dos Deuses - Curtis Masil

América Pré-Colombiana- Livraria José Olympio - LIFE

Grandes Civilizações Desaparecidas - Guy Annequin