
LUTINS
Buscando a etimiologia da palavra "lutin", no
antigo francês "netun", derivado do latim
"neptunus", que daria "nuton" por influência de
"nuit" (noite) e depois luiton, luton e lutin.
Os lutins seriam, pois, os filhos de Neptuno e
filhos da noite.
O
lutin parece, segundo as lendas, ter sido a
princípio um gênio familiar, tutelar. Ajudava
nos trabalhos da fazenda e do lar, sobretudo nos
mais difíceis. Porém não podiam ofendê-lo. De
benévolo poderia acabar sendo malicioso. O lutin
passou para opinião popular como um espírito de
caráter travesso.

Anatole Le Braz, autor de La Légende de la mort,
descreveu o lutin, tal como conheceu quando era
criança, em sua correspondência com o
folclorista Evans Wents: "Cada casa tinha o seu.
Era algo assim como o pequeno deus Penate (deus
que protegia o lar).
Visível ou invisível presidiam todos os atos da
vida doméstica. No interior das casas ajudavam
os serviçais, sopravam o fogo do lar, acalmavam
os gritos dos bebês e vigiavam a comida dos
homens e dos animais. A eles correspondia o
governo dos estábulos; graças a eles, as vacas
sempre tinham leite abundante e os cavalos pelo
reluzente. Eram o gênio bom da família, porém
com a condição que todos tivessem para com eles
as considerações que tinham direito. Se lhe
faltassem o respeito, sua bondade se
transformava em maldade e daí podiam enredar a
lã das rocas, emaranhar as crinas dos cavalos,
secar os ubres das vacas ou pelar os lombos das
ovelhas.
Os lutins eram chamados também de lubins,
lupins, ludions, letties, luitons ou luprons.
Devemos recordar que o rei da França Luiz X
recebeu o sobrenome de "Le Hutin". Esse adjetivo
antigo, hutin, significava "cabeça dura,
briguento, perturbador", qualificativos que se
adaptam perfeitamente aos nossos homenzinhos.
Petrus Barbygère, em suasCroniques alfiques,
afirma que os lutins são descendentes do rei
Lutt, soberano dos Gênios Capuchões e de Ellyn,
Fada dos milagres da manhã. Nas novelas
francesas da Idade Média aparecem em cena
numerosos lutins como Picolet, Gringalet,
Malabron ou Zéphyr.
Para Collin de Plancy, a palavra "lutin" vem
claramente de "lutte" (luta): "Os lutins
se chamavam assim porque as vezes gostavam de
lutar com os homens. Havia um em Thermesse que
brigava com todos que chegavam nessa cidade.
Porém, os lutins não são duros nem violentos em
todas suas brincadeiras".
A
maioria dos lutins viviam antigamente na França.
Porém alguns deles são procedentes do sudoeste
da Inglaterra, onde se aliaram com os pixies. Na
Itália são conhecidos como foletti. Em Flandes
recebem o nome de kwuelgeert e plageert.

Um lugar propício às atividades boas ou más dos
lutins é a cavalaria. Eles são grandes amigos
dos cavalos, que cuidam e limpam com grande
atenção. Na Bretanha existe inclusive uma
categoria de lutins especialmente dedicada ao
cuidado dos cavalos; seu nome é gobylin ou
jodouyn.

LUTINS BRETÕES

Os lutins perambulam sobre toda a Bretanha, que
é sua terra escolhida. Relatos antigos que falam
deles são muito abundantes e numerosos
testemunhos, cronistas ou folcloristas
apaixonados lhes dedicaram monografias muito
sérias.
Citamos, por exemplo, o estudo que G. Le Calvez
dedicou em 1886 aos lutins de Trégor: "O lutin
se esconde durante o dia, não pode ser visto,
mas as vezes se ouve mover-se. Não se pode dizer
com exatidão como é: suas formas, essencialmente
vaporosas trocam a olhos vistos. Porém, dá para
dizer que é um homenzinho negro, completamente
peludo e sempre está fazendo molecagem; que se
parece a um macaco (em bretão marmous) e tem os
pés fendidos. Seus olhos lançam fogo. Dancam e
se agitam continuamente no ar, onde vivem em
bandos de outros lutins. À noite, quando o fogo
flameja no lar e a vela está apagada, se pode
ver ele brincando entre as vigas negras do teto
ou girando rapidamente sobre si mesmo ao redor
dos palitos que mantem separadas as grandes
peças de toucinho, ora desmesuradamente grande,
ora reduzindo-se até encolher-se em uma bola ou
redizir-se a nada".

Um homem chamado Tanguy, carteiro de profissão,
descreve com bastante detalhe a aparência,
hábitos e costumes dos lutins bretões,
especialmente os folikeds. Eis aqui seu
testemunho:
"Os lutins durante o dia ficam nos celeiros das
casas e nos estábulos e, à noite, quando todo
mundo dorme, saem para ocupa-se dos bois e das
vacas, dos cavalos sobretudo, renovar a cama de
palha, por o feno nas manjedouras e reparar as
negligências dos criados. Um bom lutin, em uma
fazenda, é um tesouro e os animais que ele cuida
estão sempre gordos, fecundos e sãos. As vezes o
lutin pode ser generoso com a ama da casa ou
alguma jovem serviçal e enquanto ela dorme,
varre a casa, limpa os caldeirões e bacias, lava
a louça troca a água das tinas e jarros. E
quando as serviçais se levantam pela manhã, a
parte mais dura do trabalho está feita e era um
prazer ver como tudo estava limpo e ordenado e
olhar os móveis reluzentes como um espelho. Para
agradecer estes serviços, as serviçais deixavam
sobre a frigideira uma torta de trigo com muita
manteiga e um copo de leite ao lado. Uma vez
terminado o trabalho, se colocavam em círculo
sobre a pedra do lar, em torno das brasas
cobertas de cinzas e comiam e bebiam, em
silêncio. Ao primeiro canto do galo,
desapareciam por debaixo da porta, ou debaixo
dos móveis ou nos buracos das paredes, como
ratões."

AS DIABRURAS DOS LUTINS

Não é casualidade que o verbo
"lutiner"(enfurecer) seja sinônimo "enfurecer,
aborrecer". As brincadeiras, diabruras,
travessuras perpetradas pelos lutins poderiam
encher volumes de uma enciclopédia.
Geralmente considerados gentis criados, os
lutins também podem ser temidos como verdadeiros
diabinhos.
René-François Le Man, especialista em anões e
lutins bretões nos fala: "São espíritos que
atormentam os homens até a morte. Adota toda
classe de formas: a deum touro ou um carneiro
que mata os transeuntes a cornadas, ou de
uma lebre que se mete entre as pernas dos que
atravessam a ponte e lhes fazem cair. Porém sua
forma favorita é de um cão que joga fogo pela
boca. Na Baixa Bretanha, cada caminho, cada
ponte e cada precipício tem um lutin particular.
Também se encontra com frequência nas
encruzilhadas, onde os vemos como um homem com
um chapéu de abas largas, ou de belas jovens com
voz doce. Se alguém comete a imprudência de
deixar-se encantar por essas sereias da noite,
ao chegar até elas se ouvirá o ruído de um
trovão e caem fulminados. Os lutins como a
maioria de outros espíritos malignos, podem
atacar com êxito uma ou duas pessoas, porém não
tem poder sobre três batismos, ou seja, sobre
três pessoas reunidas. O poder de fazer mal é
intermitente. Só podem exercê-lo durante certos
dias, só lhes concedem, para atormentar os
homens, as horas impar da noite, desde que se
põe o sol até que sai."
Entretanto, na maioria das vezes, o lutin é
gentil e travesso, mas não tem maldade.
Contenta-se em dar medo, sem causar dano.
Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO


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