A LUA E A MENSTRUAÇÃO
Por Rosane Volpatto

A cada 28 dias a Lua completa seu ciclo de
crescente a minguante. A Lua Nova marca a
primeira iluminação e um fiapo fica visível no
céu noturno. A Lua então cresce até o primeiro
quarto, quando se pode visualizar a metade de
seu disco. Continua a crescer e completa-se até
atingir a Lua Cheia. Neste ponto, começa a
diminuir de tamanho até o terceiro quarto,
quando novamente só se vê a metade do disco e
continua assim até que não se veja mais seu
disco. Em quinta fase, esta Lua Escura dura três
noites e esta, é este é o mais poderoso de todos
os ciclos da Lua.
A Lua, com seu ciclo de nascimento, crescimento
e morte, é um lembrete poderoso, todos os meses,
da natureza dos ciclos. Em épocas remotas, os
ciclos menstruais das mulheres eram
perfeitamente alinhados com os da Lua. A mulher
ovulava na Lua Cheia e menstruava na Lua Escura.
A Lua Cheia era o ápice do ciclo da criação, era
quando o óvulo era liberado. Nos 14 dias que
antecedem esta liberação, as energias da criação
reúnem tudo que é necessário para constituir o
óvulo. Quando passava a Lua Cheia e o óvulo não
era fertilizado, tornava-se maduro demais e se
decompunha, derramando-se no fluxo natural de
sangue na Lua Escura. Quando a mulher vive em
perfeita harmonia com a Terra, ela só sangra os
três dias da Lua Escura. Quando a Lua Nova
emerge, seu fluxo naturalmente deve cessar e o
ciclo da criação é reiniciado dentro dela.

Em nossa sociedade atual, o uso de pílulas
anticoncepcionais, fez com que a mulher deixasse
de incorporar e compreender este ciclo de
criação e destruição dentro de si.
Alguns índios norte-americanos, consideravam a
Lua uma mulher, a primeira Mulher e, no seu
quarto minguante ela ficava “doente”, palavra
que definiam como menstruação. Camponeses
europeus acreditavam que a Lua menstruava e que
estava “adoentada” no período minguante, sendo
que a chuva vermelha que o folclore afirma cair
do céu era o “sangue da Lua”.
Em várias línguas as palavras menstruação e Lua
são as mesmas ou estão associadas. A palavra
menstruação significa “mudança da Lua” e “mens”
é Lua. Alguns camponeses alemães chamam o
período menstrual de “a Lua”. Na França é
chamado de “le moment de la luna”.
Entre muitos povos em todas as partes do mundo
as mulheres eram consideradas “tabu” durante o
período da menstruação. Este período para
algumas tribos indígenas era considerado um
estado tão peculiar que a mulher deveria
recolher-se à uma “tenda menstrual” escura, pois
a luz da Lua não deveria bater sobre ela. O
isolamento mensal da mulher, tinha o mesmo
significado que os ritos de puberdade dos homens.
Durante este curto espaço de tempo de solidão
forçada, as mulheres mantinham um contato mais
íntimo com as forças instintivas dentro de si.
Em tribos mais primitivas, nenhum homem podia se
aproximar de uma mulher menstruada, pois até sua
sombra era poluidora. O sangue menstrual, nesta
época, era tido como contaminador. Acreditavam
também, que a mulher menstruada tinha um efeito
poluente sobre o fogo e se por algum motivo se
aproximasse dele, esse se extinguiria. Ainda, de
acordo com o Talmude, se uma mulher no início da
menstruação passasse por dois homens, certamente
um deles morreria. Se estivesse no término de
seu período, provavelmente causaria uma violenta
discussão entre eles.
Por vários motivos as mulheres acabaram impondo
à si mesmas uma abstinência, muito embora, tanto
nelas como nos animais, o período de maior
desejo sexual é imediatamente anterior ou
posterior a menstruação.
Na Índia, acredita-se ainda hoje, que a
Deusa-Mãe menstrua. Durante essa época, as
estátuas da deusa são afastadas e panos
manchados de sangue são considerados como
“remédio” para a maior parte das doenças. Na
Babilônia, pensava-se que Istar, a Deusa Lua,
menstruava na época da Lua Cheia, quando o
“sabattu” de Istar, ou dia do mal, era observado.
A palavra “sabattu” vem de sabat e significa o
descanso do coração. É o dia de descanso que a
Lua tem quando está cheia. Este dia é um
percursor direto do sabá e considerava-se
desfavorável qualquer trabalho, comer comida
cozida ou viajar. Essas eram as coisas proibidas
para a mulher menstruada. O sabá era
primeiramente observado somente uma vez por mês
e depois passou a ser observado em cada uma das
fases da Lua.
Hoje, uma compreensão científica e objetiva já
nos livrou de todos estes tabus, mas é bom
lembrar que em certo momento histórico,
inconscientemente, a natureza instintiva
feminina podia provocar a anulação dos homens.
Bibliografia consultada:
O Casamento do Sol com a Lua. Raissa Cavalcanti.
Editora Cultrix, São Paulo.
A Grande Mãe. Erich Neumann. Editora Cultrix,
São Paulo.
As Deusas e a Mulher. Jean Shinoda Bolen.
Editora Paulus, São Paulo.
Os Mistérios da Mulher. M. Esther Harding.
Editora Paulus, São Paulo.
O Novo Despertar da Deusa. Organização Shirley
Nicholson. Editora Rocco Ltda, Rio de Janeiro
Variações sobre o tema mulher. Jette
Bonaventure. Editora Paulus, São Paulo.


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