Não é apenas pelo seu feitio
decorativo que o tajá (caladium bicolor) é festejado na Amazônia como planta
de estimação. Mais do que pela esvelteza das folhas, pela graça e elegância
do corte, pela simplicidade geométrica das linhas, ele possui segredos e
mistérios que só a alma cabloca entende e aprecia.
Enorme
é a variedade dessas plantas que formam as vistosas e esmeradas toiças da
planície:
o
tajapeba, com a sua raiz chata;
o
tajá-piranga, de uma coloração vermelha, que possui belo aspecto, mas
perigoso veneno e cujas raízes eram utilizadas pelos indígenas do Uaupés como
castigo para as mulheres curiosas que se atreviam a espiar as cerimônias
maçônicas do Jurupari;
o
tajá-pinima, o tajá tatuado, cheio de manchas;
o
tajá preto;
o
tajá-de-sol;
o
tajá-membeca;
o
tajá-puru, esta é a espécie mais sugestiva e preferida pelas virtudes que
são atribuídas às suas raízes, de fazer-nos felizes nos amores e afortunados
e bem sucedidos na caça e na pesca.
Possuindo
uma heráldica, uma tradição cativante que o recomenda às preferências
domésticas, já pelo talho ornamental, já pelos irresistíveis dotes
talismânicos, o tajá é visto em profusão nas casas de família de Belém e
Manaus e espalha-se pelas habitações de todo o interior, graças aos poderes
secretos que lhe emprestam os mestres da pajelança local.
O
tajá "curado" ou trabalhado nos segredos e mistérios da bruxaria,
constitui-se num inestimável auxiliar e protetor de seus possuidor, podendo ser
usado para felicidade, amor, sorte ou caça e até prender o ser amado.

Nunes
Pereira escreve:
"As
virtudes dos tajás dos macuxis são incontáveis como seus tipos. Há tajás
para defender a casa e a roça indígena; tajás para fazê-lo bom caçador e
bom pescador; tajás para torná-lo invisível aos inimigos e mesmo aos astutos
do cruel Kemé; Tajás contra fadiga; tajás para vencer todas as provas; tajás
que o faz querido das mulheres."
Osvaldo
Orico, já lhe confere outros predicados:
"A
mais bela versão é emprestada ao tajá-sol. Possui este, no centro da folha,
uma grande mancha vermelha com formato de coração, cercado pela moldura verde.
Quando os índios estavam longe da amada e sentiam necessidade de vê-la,
recorriam a um processo mais veloz que o aeroplano e menos dispendioso que a
televisão. Gritam o nome da pessoa desejada no centro do tajá do sol. E logo,
a imagem do ente querido aparecia na parte rubra da folha, como um espelho
incendiado pelo poder da ausência."
O
tajá para ter todos estes poderes, precisa passar por uma preparação de
acordo com a finalidade almejada. Normalmente, deve-se regar esta planta todas
as sextas-feiras de lua nova ou cheia, com água contendo sangue de carnes ou o
próprio sangue.

LENDA DO TAMBA-TAJÁ

Ilustração:
Antônio Elielson Sousa da Rocha
Há
milhares anos atrás, na tribo Macuxi, havia um guerreiro forte e corajoso que
se apaixonou por uma linda jovem de sua aldeia. Ela lhe correspondeu tão nobre
sentimento e passadas algumas luas, uniram-se em matrimônio.
Casal
tão apaixonado nunca mais existiu. Passavam sussurrando juras de amor baixinho,
um para o outro. Mas eis que um dia, um estranho mal se acometeu da indiazinha,
tornando-a paralítica. O índio Macuxi, para não separar-se de sua amada,
teceu uma tipóia e a carregava em suas costas. Mas apesar de tantos cuidados e
carinhos, ela não resistiu à enfermidade e morreu.
O
guerreiro foi então à floresta e cavou um buraco à beira de um igarapé,
enterando-se junto com sua adorada esposa, pois sua vida não tinha mais
sentido sem ela.
Ao
cair de algumas e chegando a grávida Lua Cheia, da sepultura brotou uma
delicada planta, uma espécie desconhecida para os mais entendidos índios
Macuxis.

Era
a Tamba-tajá, planta de folhas triangulares, de cor verde, trazendo em seu
verso outra folha de tamanho reduzido, onde visualizava-se um bordado de um
desenho que parecia-se com o desenho de um órgão sexual feminino. A união das
duas folhas, representava o grande amor do casal que nem mesmo a morte conseguiu
separá-los.
Nunes Pereira forneceu a Waldemar
Henrique a letra graciosa e sugestiva de uma linda e amorosa página, intitulada
Tamba-tajá:
Tamba-tajá, me faz feliz.
Que meu amor me queira bem.
Que o seu amor seja só meu,
de mais ninguém
que seja meu,
todinho meu,
de mais ninguém.
Tamba-tajá, me faz feliz,
assim o índio carregou sua macuxi
para o roçado, para a guerra, para a morte,
assim carregue o nosso amor a boa sorte.
Tamba-tajá, me faz feliz.
Que mais ninguém possa beijar o que beijei,
Que mais ninguém escute aquilo que escutei,
nem possa olhar dentro dos olhos que eu olhei,
Tamba-tajá, tamba-tajá".
Nossa querida cantora Fafá de
Belém, reproduziu com sucesso esta canção nos anos 70.
Texto pesquisado e desenvolvido
por
ROSANE VOLPATTO
Bibliografia
Amazônia - Gastão de Bettencout
Moronguêtá - Nunes Pereira

 

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