"As
plantas que por suas propriedades de alguma
maneira se singularizam, lançam raÍzes,
florescem e frutificam no fértil e dilatado
campo do mito e da lenda."

Segundo
alguns estudiosos, o tabaco começou a
crescer na América há quase uns 8.000
anos. Entretanto, seu consumo está envolto
em lendas. De todas, só citarei uma:
O
CURUPIRA E O POBRE




Por
todo este imenso Brasil, onde se falava o
tupi e o guarani, era conhecido o Curupira,
este ente fantástico, que para nós hoje,
é apresentado como um gênio protetor das
matas e dos animais, principalmente das fêmeas
prenhas. No Amazonas é conhecido como um índio
tapuio que imita as vozes dos quadrúpedes e
das aves, assim logrando o caçador. No
Maranhão é encontrado nas margens dos rios
pedindo fumo aos canoeiros. No Rio Grande do
Sul e na Paraíba, ele monta um veado. Em
Sergipe encontra-se nas estradas e quando
lhe negam tabaco para o seu cachimbo, mata a
pessoa de cócegas.
Pode
mudar de figura ou de nome, mas não a sua
paixão pelo tabaco! E agora, que todos já
o conhecem, vou contar a minha estória...
Conta-se,
que não se sabe como, um casal vivia em
extrema pobreza. Quando o homem ia à caça
de dia, nada encontrava e quando ia à
noite, topava só com quadrúpedes. Uma
noite quando andava a caça, ouviu um ruído
no mato e ficou a espreita, quando
repentinamente aparece o Curupira. Ao
contemplá-lo, viu o caçador que tinha
cabelo longo, os pés virados pra trás e
uma vara na mão.
-
"Que estás fazendo aqui nesta noite tão
escura? Tens coragem de ousar penetrar meu
mato?". Dizem que o Curupíra falava
assim, zangado e levantando a vara contra o
caçador.
-
"Estou a procura de caça", falou
ele, "sou um homem pobre e possuo
mulher para alimentar. Quando não encontro
caça de dia, caço a noite."
-
"Meu camarada, posso ajudar-te",
falou o Curupira compadecido. "Tudo
quanto quiseres, posso dar-te. Tens
fumo?", continuou ele.
O
caçador tirou logo o fumo de sua algibeira,
cortou um pedaço e lhe alcançou.
Como
fazia muito frio aquela noite, acendeu o
Corupira um fogo, assentou-se, encheu seu
cachimbo de tabaco, pôs em cima uma brasa e
passou a fumar o tabaco que lhe dera o
homem. Depois entretinha-se em conversar com
ele.
-"
Meu amigo", falou, "se cada noite
me trouxeres tabaco, guardarei para ti a caça
que desejares. Entretanto, não digas nada a
tua mulher. Não quero que ela saiba, pois
pode tornar-se ciumenta." Continuou a
falar o resto da noite até o despontar da
aurora, quando despediu-se.
Sendo
assim, cada noite seguinte, quando a mulher
estava dormindo profundamente, ia o pobre ao
mato à caça e levava o fumo ao Curupira.
Chegando lá, já o achava sentado perto de
uma fogueira e a caça estava a seu lado.
-"Eis
aqui a caça para ti. Ah! Ah! Dá-me o
fumo!"
Mas
a mulher do caçador, começou a ficar
cismada com tanta caça.
-
"Onde caça meu marido saindo a noite?
Onde achará caça neste adiantado da
hora?" Pensava ela, e então decide
espreitá-lo.
Quando
o seu marido foi outra vez à caça de
noite, fingiu dormir, mas estava acordada.
Tendo ele saído, seguiu-o.
No
lugar, onde o esperava, encontrou o Curupira
que logo lhe disse:
-
"Meu amigo, agora termina nosso
contrato, que devias encobrir tua mulher. E,
por mais que o queiras ocultar, ela já de
tudo sabe. Pensas que ela esteja longe
daqui? Julgas que esteja em casa? Lá está
ela. Tu não tens nada com aquilo que ela
vai sofrer". O Curupira então, deu um
pulo e lançou-se contra a mulher e a matou.
O homem ficou viúvo, enlouqueceu e fugiu.

A
planta, cientificamente chamada Nicotiana
Tabacum, chegou ao Brasil provavelmente
pela migração de tribos tupis-guaranis.
Quando os portugueses aqui desembarcaram,
tomaram conhecimento do tabaco pelo contato
com os índios. A partir do século XVI, o
seu uso disseminou-se pela Europa,
introduzido por Jean Nicot, diplomata francês
vindo de Portugal, após ter-lhe cicatrizado
uma úlcera de perna, até então incurável.
Antigamente, tinha o tabaco aplicação na
medicina, seu sumo matava os vermes que se
criavam nas feridas. Esta planta, chegou a
acender uma vivíssima guerra entre os médicos,
que discorriam sobre suas propriedades.
Ferviam as receitas sobre o modo de preparar
o tabaco e de como usá-lo. Tomou tais
proporções esta mania, que estiveram a
ponto de abandonar todos os outros
medicamentos para ficar o tabaco sendo remédio
universal.

Mas
apesar da rapidez com que se propagou pela
Europa e se estendeu às mais remotas partes
da Índia e até o Japão, encontrou muitos
influentes adversários. Os mais poderosos
monarcas se declaram contra a introdução
desta planta em seus domínios.
A
Rússia proibiu o uso do tabaco com a pena
de açoites, depois com a de ter o nariz
cortado o contraventor e, finalmente com a
pena capital. O xá da Persa, proibiu também
o tabaco em toda a extensão de seu reino.
Jacob,
rei da Inglaterra, publicou um tratado
escrito por ele mesmo em que mostrava o
prejuízo que causava esta planta. Na França
foi sustentada tese pública contra o
tabaco.
Mas,
não obstante esta guerra, tomavam, fumavam
e mascavam cada vez mais tabaco.
Inutilizadas já todas as outras armas,
recorreram até às censuras da igreja.
Urbano
VIII, proibiu o tabaco nos templos, onde
causava grande desordem o seu uso.
Entretanto, como acontece muitas vezes, a
proibição não impediu que o costume se
alastrasse até ao ponto que começou a
constituir uma das rendas mais promissoras
para o estado.

Já
muito antes de dividir o mundo civilizado em
dois partidos, contrário um, favorável o
outro a seu respeito, o tabaco tinha sua
história entre os nativos do novo mundo e
mais particularmente representava um papel
importante no domínio das lendas, como já
nos foi possível observar na narração do
episódio com o Curupira.
As
plantas que por suas propriedades de alguma
maneira se singularizam, lançam raÍzes,
florescem e frutificam no fértil e dilatado
campo do mito e da lenda.

Narrou
Gabriel Soares que os índios do Brasil,
quando andavam pelo mato e lhes faltava
mantimento, matavam a sede e a fome com este
fumo, que traziam sempre consigo. Portanto,
o tabaco servia de pão a quem tinha fome e
aos que tinham sede servia de água. Também
para os que tinham calor, o tabaco os
refrescava, aos que tinham frio, aquecia e
para aos que comiam em demasia, com seu
consumo, ficavam desalijados.
O
fumo também era considerado pelos povos
primitivos como um elo de ligação de uma
criaturas com os seres sobrenaturais. Sua
fumaça, subindo aos céus, transportava
preces místicas.
De
acordo com Oviedo, cultivavam os índios das
Antilhas, de São Domingos e Cuba, o tabaco
em suas hortas e seu uso parecia-lhes não só
proveitoso, mas coisa muito santa. Aspiravam
o fumo pelo nariz, introduzindo nele um
canudinho de junco.
Presenciando
este costume dos índios, os da comitiva de
Colombo, que antes haviam notado estes
mesmos homens fumarem as folhas da Nicotina,
julgaram que este pó ou rapé, fosse feito
das mesmas folhas secas e moídas e, sem prévio
exame, fizeram propaganda desta nova aplicação
do tabaco.
Entre
os índios pampas existia uma cerimônia em
que o feiticeiro da tribo, possuído pelo
"anhangá-tupi" e depois de ter
regalado com um ovo de avestruz, aspirava-o
até extasiar-se com sua "essência
sagrada". Pela boca do adivinho,
"anhangá" dava conselhos a tribo,
sendo depois aclamado pela assistência com
frenéticos: anhangá! anhangá!
Entre
as tribos norte-americanas, o tabaco também
estava intimamente ligado as cerimônias
religiosas e para eles, era erva sagrada. As
tribos do norte estendiam a veneração
desta ao aparelho chamado "calumet",
e assoprado contra o sol, imprimia um cunho
religioso a todas suas transações políticas
e sociais.


Na
bacia do Amazonas, conforme nos narrou P.A.
Vieira, usavam os índios o tabaco em cerimônias
de culto. Incensavam um pajé com tabaco,
que ele recebia com a boca aberta.

Suas
folhas foram comercializadas sob a forma de
fumo para cachimbo, rapé, tabaco para
mascar e charuto, até que, no final do século
XIX, iniciou-se a sua industrialização sob
a forma de cigarro. Seu uso espalhou-se de
forma epidêmica por todo o mundo a partir
de meados do século XX, ajudado pelo
desenvolvimento de técnicas avançadas de
publicidade e marketing. A folha do tabaco,
pela importância econômica do produto no
Brasil, foi incorporada ao brasão da República.
A
partir da década de 1960, surgiram os
primeiros relatórios médicos que
relacionavam o cigarro ao adoecimento do
fumante e, a seguir, ao do não fumante
(fumante passivo). Fumar, a partir de então,
passou a ser encarado como uma dependência
à nicotina, que precisa ser esclarecida,
tratada e acompanhada.
Texto
pesquisado e desenvolvido por

Rosane
Volpatto