A LENDA DA
SALAMANCA DO
JARAU
(Lenda Gaúcha)

Há
muitos séculos,
quando caiu o
último reduto
árabe na
Espanha, os
mouros foram
obrigados a
fugir e
acabaram
aportando no
sul do Brasil.
Trouxeram
consigo uma
jovem princesa,
transformada
por magia, em
uma enrugada
velhinha, a fim
que não fosse
reconhecida e
aprisionada.
Logo de
chegada, deram
com o
Anhangá-pitã, o
demônio dos
índios.
Contaram-lhe
toda a história
e o diabo
resolveu
ajudá-los.
Deste dia em
diante, a linda
princesa passou
a ser uma
salamandra com
a cabeça de
pedra brilhante
ou "Teiniaguá"
e viveria em
uma lagoa no
morro do Jarau.
Mas eis que um
dia, um moço
sacristão que
morava atrás da
Igreja da
aldeia,
assoleado com o
calor veio até
a lagoa, com o
intuito
refrescar-se.
Assustou-se ao
verificar que a
água fervia,
feito chaleira
quente e, de
repente no meio
dela surgiu a
própria
Teiniaguá.
Ficou pálido de
medo, pois
sabia que tal
bicho tinha
parte com o
diabo, mas
sabia também,
tratar-se de
uma linda
princesa moura
jamais tocada
pelo homem e
aquele que
conseguisse
conquistar seu
amor, seria
feliz para
sempre.
Num gesto
rápido, o
sacristão
agarrou-a,
colocou-a
dentro de uma
guampa e
encaminhou-se
às pressas para
os seus
aposentos atrás
da Igreja. À
noite ao
descobrir a
guampa, eis que
se opera um
milagre, a
Teiniaguá tinha
voltado a ser
princesa e lhe
sorriu
pedindo-lhe um
pouco de vinho.
Louco de
paixão, correu
até a sacristia
e roubou o
vinho do padre.
Todas as noites
era a mesma
coisa, uma
romaria até a
Igreja na busca
do vinho, até
que os padres
começaram a
desconfiar do
sumiço
inexplicável da
bebida e
invadiram o
quarto do moço.
A princesa
tomada de
susto,
transformou-se
em Teiniagá e
fugiu para as
barrancas do
Uruguai e, o
sacristão,
coitado, acabou
preso.
Um crime tão
terrível,
roubar o vinho
sagrado de
Deus, só
poderia ter uma
pena à sua
altura, e o
moço foi
condenado a
morte no
garrote vil.

No dia da
execução, toda
a aldeia
reuniu-se em
torno da
Igreja.
Teiniaguá
sentiu um
aperto no
coração,
pressentindo
que algo ruim
estava para
acontecer. Se
utilizando de
magia, começou
a procurar o
seu amado,
abrindo sulcos
na terra, até
chegar à
igreja, no
momento em que
lhe foi
possível
interromper o
garrotear do
sacristão. Se
ouve a seguir,
um estrondo
muito grande,
que produziu
muito fogo
fumaça e tudo
afundou.
A princesa
conseguiu
salvar seu
amado, mas os
dois ficaram
confinados a
uma caverna
muito funda e
comprida no
Cerro do Jarau
e só se
libertariam de
tal
encantamento,
quando surgisse
alguém capaz de
vencer todas as
provas de
coragem e,
depois de
realizar um
desejo que lhe
seria
concedido,
desistir dele.
Duzentos anos
se passaram sem
que ninguém
tenha
conseguido
quebrar o
encanto. Até
que em uma
tarde linda de
primavera,
campeando o
gado, Blau
chega à furna
de Jarau.
Conhecia a
lenda, pois sua
avó charrua já
tinha lhe
assoprado no
ouvido quando
era criança.
Sendo assim,
foi entrando.
Saudou o antigo
sacristão das
Missões e
submeteu-se a
todas as provas
de coragem sem
pestanejar. Ao
término delas,
foi levado à
presença da
salamandra
encantada, que
alertou-o sobre
o consentimento
de um desejo.
A resposta do
gaúcho a
espantou:
- "Não desejo
nada"
A princesa
ficou
cabisbaixa e
desiludida,
pois
necessitava que
ele aceitasse
algo para que
pudesse
desistir
depois, tal
qual rezava uma
parte do
encantamento.
Quando o gaúcho
montava seu
cavalo para ir
embora, o
sacristão
alcançou-lhe
uma moeda de
ouro como
lembrança de
sua estada.
Sendo assim,
não podia fazer
desfeita e
colocou-a no
bolso.

Durante muitos
dias, Blau nem
lembrou mais do
acontecido e
até tinha
esquecido da
tal moeda.
Então, lhe
apareceu um bom
negócio, um
amigo queria
desistir de
criar gado e
dizia-se
interessado em
vendê-los. Foi
quando puxou a
guaiaca e
lembrou-se da
moeda. Todos os
bois não
poderia
comprar, mas
que sabe um?
Retirou a
primeira moeda,
mas pelo peso
percebeu que
havia mais e
saiu então uma
segunda...uma
terceira... e
assim de uma em
uma, conseguiu
as moedas
necessárias
para efetivar a
compra.
O amigo
surpreso,
tratou de
espalhar a
notícia. E
todos ficaram
estarrecidos,
pois Blau era
um gaúcho
pobre, que não
tinha "eira nem
beira", de onde
teria vindo
tanta riqueza?
Todo mundo
sabe, que boato
é que nem fogo,
quando pega,
ninguém segura,
de ouvido em
ouvido
cogitava-se que
o homem tinha
feito um pacto
com o diabo.
Depois que
correu a fama,
ninguém mais
quis vender-lhe
nada. Tinha
gente que se
desviava
quilômetros só
para não
encontrá-lo.
O gaúcho
começou a
sentir saudade
de sua vida de
antes. Algum
tempo depois,
não agüentou
mais. Só tinha
um modo de
consertar tudo,
era devolver a
moeda mágica.
Foi exatamente
o que tratou de
fazer. Partiu
então decidido.
Chegando à
entrada da
gruta, contou
toda a sua
estória ao
sacristão,
depois pegou a
moeda,
colocando-a na
mão do homem,
dizendo:
- Eis aqui sua
moeda.
Agradeço-lhe o
presente, mas
não preciso
dele. Rico eu
era dono de
alguma coisa,
mas como pobre
recebo de
herança o
mundo.
O encantamento
foi quebrado
com uma grande
explosão. Das
furnas saíram
os dois
condenados,
transformados
em um belo par
de jovens.
Casaram-se e
trouxeram
descendência
indígeno-ibérica
aos povoados do
Rio Grande do
Sul.

Eu
agradeço a
Salamanca do
Jarau
Por me
ensinar o que
aprendeu com
“velho” Blau:
Com
ALMA FORTE e
SERENO
CORAÇÃO
Achei
meu rumo pra
sair da
escuridão.
Vi uma
luz no ritual
do Chimarrão,
E
descobri que
é a
Cordialidade
Que
nos conduz à
real
felicidade.
Avante,
cavaleiro
mirim!
Em
frente,
veterano
peão!
Lado a
lado, prenda
e prendinha!
Todos
juntos dando
a mão.
Avante,
seguindo os
avós!
Em
frente,
trazendo os
piás!
Coisa
linda é se
ver gerações
Convivendo em
santa paz.
E dá
uma gana de
sair
dançando, ou
gritando com
força
juvenil:
“Viva
a TRADIÇÃO
GAÚCHA
dos
campeiros do
Brasil”
Luiz Carlos
Barbosa Lessa

Na lenda da
"Salamanca do
Jarau",
visualiza-se um
motivo mítico,
incrustado na
tradição: a
atração que
exerce a mulher
sobre o homem,
quando esta,
apresenta-se
metamorfoseada
em um animal e
sob o total
domínio de seu
instinto. Deste
modo, ela age
como fêmea,
mulher
demoníaca,
recusando-se a
dar expressão
às
considerações
humanas. O
personagem Blau,
por sua vez,
representa num
só paradigma as
características
essenciais do
gaúcho e é o
elemento que
assegura a
ultrapassagem
regionalista
para alcançar o
território da
universalidade.
O imaginário
gaúcho
apresenta
sempre temas
contrastantes,
decorrentes da
miscigenação de
raças e
tradições que
aqui foram
chegando. Ao
contrário do
pensamento da
maioria, o sul
(Rio Grande do
Sul), sempre
acreditou na
magia da
diversidade
cultural e
apostou nela.
Seus contos,
lendas ou
músicas,
retratam um
pouco das
atividades,
sentimentos e
caráter de cada
um destes
povos.
As tradições
de cunho
regionalistas,
aqui
cristalizadas,
são as
expressões
máximas dos
diversos mundos
espalhados pelo
mundo, por isso
serem elas tão
enriquecedoras.

O cavaleiro
gaúcho viveu
sua época
dourada no
final do século
XIX, junto com
o surgimento da
literatura
romântica,
portanto a
formação deste
mito é bem
recente. O
símbolo do
gaúcho
representa uma
imagem sem
definição e que
transcende o
seu significado
e seu mito
exprime uma
experiência que
todos nós
gostaríamos de
viver.
O cavaleiro
gaúcho é um
arquétipo
universal: é um
homem honrado,
honesto,
hospitaleiro,
amigo de todas
as horas,
audacioso e
corajoso. Ele,
como se
observa, possui
os mesmos
atributos que o
cavaleiro
medieval.
Entretanto,
este herói
mítico vive num
mundo só seu,
gauderiando os
pampas, livre,
leve e solto,
deixando-se
carregar pelo
vento minuano,
que assobia e
assopra nas
verdejantes
coxilhas.
Vivendo de
acordo com suas
próprias
regras,
conforme o
famoso poema:
"Quem é
gaúcho de lei,
E bom de
guasca de
verdade,
Ama, acima
de tudo,
O bom Sol da
liberdade.
Nos campos
da minha terra,
Sou gaúcho
sem patrão;
De a cavalo,
bem armado,
Minha lei é
o coração."
(Meyer,
p.37)

Texto
pesquisado e
desenvolvido
por
Rosane
Volpatto
Bibliografia:
Lendas do
Sul - J.
Simões Lopes
Neto;
Martins
Livreiro
Editor; 2000
Cultura
Cívica
Brasileira -
Gonçalves
Ribeiro

 
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