~*~POROROCA, A ONDA LENDÁRIA~*~

 

POROROCA, A ONDA LENDÁRIA

 

O vocábulo Pororoca vem do tupi "Pororoka", gerúndio de "Pororog", que significa "estrondar". Por pororoca entende-se o fenômeno de encontro das ondas do mar, com as águas da foz de um rio. Não se pode falar em "Pororoca", sem pensar no rio Amazonas. Este fenômeno amazônico tão cheio de lances empolgantes, por muitos anos já foi desafio a argúcia dos que tentaram explicá-lo.

Deste fenômeno amazônico, nos dá sua impressão viva e real, Araripe Júnior, no prefácio do romance de Inglez de Souza "O Missionário":" em uma volta estacou a embarcação. Existia uma abertura no mato, alguma coisa que se assemelhava a um ponto de passagem de antas. A influência das águas dificilmente chegaria até ali, asseguraram-lhe, todavia, a igaraté foi encalhada e amarrada aos troncos marginais.

"Para mim, as recordações do que se seguiu são vagas, e neste instante apresentam-se-me ao espírito adornadas dos tons fugitivos e fulgurantes de uma mágica teatral."

"Um dos índios tinha-me tomado ao ombro e depois me colocara em terra. Ao clarão da almacega fomos conduzidos todos para a região mais elevada. Passaram-se minutos. Um clamor ao longe, se fez sentir no espaço, seguido de silêncio. Novo clamor e seguiram-se fragmentos de rumores desconhecidos espalharam-se dilacerados pelo vento da floresta. Os ouvidos dificilmente aprendem a sinfonia de ruídos misteriosos, que se avizinha. Era a "pororoca", que se aproximava. Um rugido indescritível atroou nos ares, propagando-se em mil sons que se perdiam pelas arcaicas da selva sem limites e num crescimento diabólico, ao qual pareciam assistir todas as bigornas do inferno invisível, a onda alva e espumante, de longe mal pressentida, aturdia-me até à paralisação do sentido auditivo. E, assim, passou por junto de nós, o pesadelo da natureza amazônica."

Investindo nas águas tranqüilas do rio Guamá, a "pororoca" tiranizava as florestas vergadas sob a agonia de sua raiva epilética. Os matos estalavam, desrraigavam-se as árvores colossais e subia a água em espumas até o ninho das aves. A fauna e a flora despertam de seu sono e lançam um alarido de socorro. Insensível, porém, a onda avança sempre e o seu brado superior a todas as vozes domina a amplidão. Enorme, revolta, furiosa, entalada entre duas massas escuras, devastando, destruindo, deitando por terra tudo quanto obsta à sua passagem, a onda soberana, como gênio sombrio dos rios, desaparece misteriosamente do mesmo modo que apareceu. A floresta, neste momento voltam a sua primitiva quietação, exalando aromas das ervas que foram despedaçadas pela torrente.

Na Amazônia, tudo é assim, grandioso e diferente, fascinante e enganador, sempre à estimular a tendência fatal do homem para os grandes mistérios inquietantes......

NA ONDA DA POROROCA...

                 

Este fenômeno também ocorre ainda em outros continentes, onde recebe outras denominações como: MASCARET (rio Sena) e BARE (no Ganges). O legendário fenômeno da pororoca tem sido estudado, descrito e explicado por diversos estudiosos.

Em nenhum lugar do mundo, no entanto, o fenômeno é tão intenso como no litoral do Amapá e do Pará, uma área influenciada pelas águas do maior rio do mundo, o Amazonas. A cada meio minuto, o Amazonas despeja cerca de 6 bilhões de litros d'água no Atlântico, ou litro para cada habitante do planeta. O litoral amazônico, por outro lado, registra as maiores marés do país (na Ilha de Maracá, Amapá, já ocorreu uma elevação de 7 metros do nível do mar) e é constantemente açoitado por fortes ventos alísios (que sopram de leste, no sentido mar-terra). Na conjunção desses fatores, quando o mar  sobe, suas águas acabam invadindo o estuário de outros rios que  desembocam na zona de influência do Amazonas (caso do Araguari), provocando uma colisão espetacular com a massa de água doce vinda na direção contrária. Este fenômeno intensifica-se nas noites de Lua Cheia e Nova.

No Estado do Amapá, ela ocorre na ilha do Bailique, na "Boca" do Araguari, no Canal do inferno da Ilha de Maracá em diversas partes insulares e com maior intensidade nos meses de janeiro a maio. A Pororoca também já virou atração para os praticantes do surf.

       

O surfistas  afirmam que a onda da pororoca, forma um tubo perfeito, mas para se arriscar nestas águas devem pedir licença para os três pretinhos (lenda baixo), chamando-os pelos seus nomes.Outra lenda afirma que quem beber três goles da água da pororoca, acabará enfeitiçado e lá retornará sempre.

As ondas da pororoca atingem a altura de 3 a 6 metros. O espetáculo tem duração de 40 minutos, percorrendo a seguir 30 Km por um período de uma hora e meia.

A pororoca é com certeza, um dos atrativos turísticos da natureza mais fascinantes, é temida, mas também admirada.

A LENDA DOS TRÊS PRETINHOS

 No Amapá a população conta a lenda dos três negrinhos, que diz que, há muitos anos, uma mãe colocou seus três filhos em uma canoa para que eles fossem à escola não muito longe de sua casa. No meio do caminho apareceu uma forte onda virando a canoa e matando os três irmãos, Lin, Nonô e Bita. E foi assim que começou o fenômeno da pororoca. Hoje, acredita-se que toda as vezes que a onda chega, os três negrinhos vêm em cima dela causando todo o estrago. Portanto se você for até a pororoca não pergunte sobre a onda para os nativos, eles só aumentarão o seu medo.

 

A LENDA DA POROROCA - de Raimundo Morais

"Diz a lenda que, antigamente, a água do rio era serena e corria de mansinho. As canoas podiam navegar sem perigo. Nessa época, a Mãe d’Água, mulher do boto Tucuxi, morava com a filha mais velha na ilha de Marajó. Certa noite, elas ouviram gritos: os cães latiam, as galinhas e os galos cocorocavam. O que é? O que não é? Tinham roubado Jacy, a canoa de estimação da família...

Remexeram, procuraram e, nada encontrando, a Mãe d’Água resolveu convocar todos os seus filhos: Repiquete, Correnteza, Rebujo, Remanso, Vazante, Enchente, Preamar, Reponta, Maré Morta e Maré Viva. Ela queria que eles achassem a embarcação desaparecida. Mas passaram-se vários anos sem notícia de Jacy. Ninguém jamais a viu entrando em algum igarapé, algum furo ou mesmo amarrada em algum lugar. Certamente estava escondida, mas, aonde?

Então, resolveram chamar os parentes mais distantes - Lagos, Lagoas, Igarapés, Rios, Baías, Sangradouros, Enseadas, Angras, Fontes, Golfos, Canais, Estreitos, Córregos e Peraus - para discutir o caso. Na reunião, resolveram criar a Pororoca, umas três ou quatro ondas fortes que entrassem em todos os buracos dos arrebaldes, quebrassem, derrubassem, escangalhassem, destruíssem tudo e apanhassem Jacy e o ladrão. Ficou determinado que a caçula da Mãe D´Água, Maré da Lua, moça danada, namoradeira, dançadeira e briguenta avisaria sobre qualquer coisa que acontecesse de anormal.

E foi assim que pela primeira vez surgiu em alguns lugares o fenômeno, empurrado pela jovem moça, naufragando barcos, repartindo ilhas, ameaçando palhoças, derrubando árvores, abrindo furos, amedrontando pescadores... Até hoje, sempre que Maré da Lua vai ver a família é um deus nos acuda! Ninguém sabe de Jacy e a Pororoca segue em frente destruindo quem ousa ficar na frente, cumprindo ordens do boto Tucuxi que, resmungando danado, diz: “Pois então continue arrasando tudo.”

VÍDEO DA POROROCA (Click imagem abaixo)

Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto