PIRIPIRIOCA

A fuga do enfrentamento de certas situações, pode ser devida a timidez ou à busca da proteção da individualidade e intimidade. Este é o ensinamento que podemos assimilar desta maravilhosa lenda indígena.

A LENDA (Lenda dos índios Manaus)

 

O Piripirioca era um índio muito belo e valente, que habitava em uma aldeia ribeirinha na Amazônia e que exalava um perfume muito suave de apaixonava todas as jovens índias.

Ele também possuía o poder de transformar-se em nuvem, desaparecendo no ar, quando se sentia muito assediado ou em uma situação muito comprometedora...

Entretanto, certa vez, estava Piripirioca tomando banho no rio, quando três jovens índias aproximaram-se dele e perguntaram:

-"De onde vens, ó moço bonito? Nós nunca te vimos por aqui? Serás filho da bela Deusa Ceuci?"

O jovem não respondeu e uma das moças coloca a mão em seu ombro, para despertar sua atenção. E ele imediatamente falou:

-"Sou Piripirioca", pulou no rio, levando as três jovens na ponta de sua linha de pescar.

A moça que tinha colocado a mão no ombro de Piripirioca ficou toda perfumada. O cheio espalhou-se com o vento e chegou até a aldeia.

O jovem então acrescentou:

-"Não se enamorem de mim, pois minha mãe não deixará eu casar enquanto eu estiver bebendo seu leite."

-"Quem é sua mãe?" perguntaram curiosas as índias.

-"Não posso dizer. É segredo", disse ele. E no mesmo instante, uma nuvem envolveu-o e sumiu.

Quando as outras jovens da aldeia escutaram a história do moço bonito e cheiroso, partiram em sua procura. Procuraram no céu, na terra, nos rios, de noite e de dia. Um belo dia, viram Piripirioca, que estava perto de uma gruta assobiando.

Da gruta saiu uma veada e o moço, magicamente se transforma em filhote veado e começa a mamar na mãe. As indiazinhas foram correndo para a aldeia contar o segredo que tinham descoberto.

As índias manaus, que queriam pegar Piripirioca, pintaram-se de urucum e partiram para o surpreender à beira do rio. Chegaram e esconderam-se. Mais tarde, viram Piripirioca se aproximando, cantando alegremente. E logo depois a veadinha saiu da gruta e correu para ele. Tomou então, a forma de um gavião, suspendeu o filho em vôo e o transportou para outra margem do rio, bem longe dos olhares curiosos das moças, que desataram em prantos.

Existia entretanto, uma índia, cujo nome era Siriê, que se sentindo muito apaixonada, procurou o pajé Supi, pedindo ao feiticeiro que lhe ensinasse algum encantamento para prender Piripirioca. Compadecido e por tratar-se de sua própria filha, aconselhou-a a procurar o índio em uma noite de lua cheia e amarrar seus pés com seu próprio cabelo.


 

Em uma noite própria, a índia aproximou-se do rio onde Piripirioca estava pescando. Fisgou um peixe com o anzol e depois de retirá-lo da água, enterrou-o na areia. A lua subiu e ficou muito alta e cheia. O peixe foi virando gente...Era Piripirioca!

A jovem índia aproximou-se devagar e o amarrou com seus cabelos. Ele não se mexia: ficava olhando para o céu, cantando uma cantiga bonita e alegre que ia morrer lá longe...

Como ele não parava de cantar Sairiê foi consultar o pajé para saber o que fazer.

-"É assim mesmo", respondeu o feiticeiro:"enquanto ele canta, sua alma anda passeando pelas estrelas. Não toque no corpo dele, senão ele se espanta e sua alma fica presa no céu. Mas, quando ele se calar, podem levá-lo para casa.

Sairê voltou para junto do amado, mas não sabendo esperar, começou a chamá-lo pelo nome. Muito afoita, sem querer, coloca a mão no ombro do moço para falar-lhe no ouvido. Piripirioca parou de cantar. A lua escureceu. Soprou um vento frio e forte e a indiazinha, sem poder resistir, pegou num sono de pedra. Quando despertou, o seu príncipe tinha desaparecido e, em seu lugar, tinha nascido uma planta que conservava o seu perfume.

Supi então, ensinou a todas as índias a usarem aquele cheiro para embriagar e apaixonar o coração dos homens.

Mas para onde teria ido Piripirioca? Estaria ele personificado na planta? Não, Piripirioca tinha subido ao céu por seus poderes mágicos e transformando-se na constelação do Ararapari, o cinto da constelação que conhecemos como Orion.

É da raiz priprioca (nome conhecido hoje) que emana um aroma incomum, amadeirado e picante que é usado na elaboração de sofisticados perfumes. A priprioca é usada tradicionalmente na região Norte para os famosos "banhos de cheiro", principalmente em Belém do Pará. No sudeste é usada como planta medicinal para problemas com o aparelho digestivo.

 

Ainda hoje, a cabocla da Amazônia, não se descuida de trazer junto ao corpo, guardado na roupa de baixo a priprioca (Cyperus articulatus L., Cyperaceae). Tornou-se tão popular, que pode-se encontrar tanto a infusão de cheiro, como o pó, a raiz e suas sementes a venda em toda esta região. Seu perfume é tão característico que nem se precisa perguntar a mercadoria o artigo que se procura. A demonstração é feita na sua própria pessoa, perfumada da cabeça aos pés com os produtos que se propõe à vender. E se alguém não se deixar domar pelo cheiro às soltas, a vendedora não se faz de rogada e não põe dúvida ao permitir que o cliente verifique o artigo, fazendo-o aspirar sua nuca e seus cabelos. Vê-se logo, que não deixará de vender sua mercadoria...

Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto