LENDA DAS PERDIZES
Teschauer nos presenteou com uma lenda sobre
a perdiz, sua área nas Missões Argentinas e
os presságios ou indícios de chuva que são
associados ao seu canto. A fé que este canto
inspira ficou consagrada em inúmeros
provérbios, versificados, como nos
seguintes:
"Quando la perdiz canta
Nublado viene
No hay mejor señal de agua
Que cuando llueve.
Cuando la perdiz canta
Yel sol se nubla,
Dicen las pueblesitas
"Agua segura"
Norte claro y sur escuro
Aguacero seguro.
Cielo empedrado
Suelo mojado.
Mas, como lenda gaúcha, ela é encontrada no
livro ilustrado por José Lutzenberger, onde,
pela primeira vez, dá-se unidade ao assunto
entre nós.
Lenda sobre o castigo à falta de respeito:
"Quando a Sagrada Família se dirigia ao
Egito, algumas perdizes, escondidas nas
moitas do caminho, levantaram vôo, fazendo,
como sempre, o característico e inesperado
trinar de asas. Desta maneira, assustaram o
burrinho em que Nossa Senhora ia sentada,
pondo-o em disparada. Nossa Senhora
proibiu-lhes, para todo o sempre, o uso da
cauda, que até então possuíam muito linda".
O símbolo da perdiz é bastante ambíguo. Se
na Europa,, como na China, seu grito
desagradável foi notado, nem por isso ele
deixou de ser considerado às vezes apelo ao
amor; com isso sua fama lasciva estava
feita.
Em muitas tradições, a perdiz é símbolo de
graça e beleza. Assim, na iconografia da
Índia serve de referência à beleza dos
olhos. No Irã, seu andar é comparado ao
andar de uma mulher elegante e altiva. Nas
tradições populares cabilas, a perdiz é
símbolo de beleza e graça feminina. Comer
sua carne equivale a beber um filtro de
amor.
Para tradição cristã, esse pássaro é símbolo
de tentação e de perdição, uma encarnação do
Demônio.
A perdiz era o pássaro sagrado do herói
solar cretense Talus (Hesíquio diz que Talus
significa "sol"). Segundo uma lenda
ateniense, Talus haveria sido precipitado do
alto de uma falésia por seu tio Dédalo, mas
foi salvo pela piedade da deusa Atena, que o
transformou em perdiz durante a sua queda.
Todavia, essa ave teria assistido com
alegria aos funerais do Ícaro, filho de
Dédalo, morto em uma queda.
Entre Jericó e o Jordão, ao sul de Guilgal,
encontrava-se o lugar chamado Beth-Hoglah,
"o santuário do coxo". Nesse santuário
parece ter sido adorado Jah Aceb ou Jacob
(alcunha israelita do deus Baal). Segundo
São Jerônimo, esse lugar teria servido de
pista de dança circular, aparentemente
excecutada em honra de Talus, o herói
solitário cretense. Ora, o termo árabe para
"claudinação" que entra na composição de
Beth-Hoglah é derivado de uma palavra que
significa "perdiz". Pode-se então, pensar
que esta dança evocasse uma claudinação.
Plutarco descreveu os ritos invocatórios dos
sacerdotes de Baal, os quias dançavam
saltando diante do altar e exortavam o deus
a acender as fogueiras de alegria da
primavera e a queimar o cadáver do ano
velho.
Robert Graves lembra, a este respeito, que o
termo original hebraico é formado a partir
da raiz "psch", que significa "dançar
claudinando", da qual provém o termo
"pesach", que designa a Páscoa. A Páscoa
parece ter sido festa cananéia da primavera,
retomada e transformada pela tribo de José
em comemoração do êxodo do Egito, sob
Moisés.
A perdiz é uma ave migradora primaveril e
que foi consagrada à deusa do Amor (Ticiano
nos deu a visão de uma perdiz através da
vidraça do quarto no qual a deusa do Amor
meditava, lasciva, sobre suas futuras
conquistas amorosas), por causa de sua fama
de lasciva.



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