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PAI SUMÉ

Todos
os povos primitivos denunciam solene respeito por certos personagens que se
impuseram à sua crença como entes privilegiados por um poder sobrenatural. A
imaginação indígena se deleita em admitir a existência de heróis-mitos
civilizadores cujos destinos se cruzam entre diversas tribos, oferecendo-lhes
afinidades sociais. Sendo assim, encontramos em nossos estudos da religião dos
índios brasileiros um verdadeiro super-homem , com múltiplas denominações.
Entre
os tupinambás visualiza-se o culto à "Monan", uma espécie de deus
semelhante ao cristão. Mas existia também um outro Monan, que também
qualificavam de "Maire", ou seja, o "transformador".
Espírito desenvolvido, conhecedor de sortilégios, a ação civilizadora de
Maire-monan teria se manifestado na introdução da agricultura entre os avós
dos tupinambás, para os quais teria trazido todos os vegetais necessários para
a alimentação de seus descendentes.
Maire-monan,
também revelou-lhes os segredos das plantas alimentícias, necessários para se
distinguir os vegetais úteis e os nocivos, apontando-lhes o uso que podiam
fazer de suas virtudes medicinais. Coube-lhe ainda, representar o papel de
transformador de costumes e isso, ele fez por vezes, de maneira cruel,
levantando contra si a cólera dos homens que recebiam o seu justo castigo. A vida
de Maire-monan foi muito rica em peripécias de toda a sorte. Não se conhecem
entretanto, casos ou episódios que ilustrem sua passagem marcante, pois movidos
pelo ódio que despertavam suas sentenças, foi condenado à morte.
Conta-se
que o convidaram-no para uma festa e obrigaram-no a saltar por cima de três
fogueiras. Depois de ter sido bem sucedido na primeira, Maire-monan desmaiou na
segunda e foi consumido pelas chamas. O estalo de seu crânio queimando,
produziu o trovão, enquanto as labaredas da fogueira mudavam-se em raios.

Estes
mesmas virtudes de que se revestiam o culto de Maire-monan, foram encontradas
entre os tupis na figura de "Sumé". Os dados coletados pelos padres
Nóbrega e Simão de Vasconcelos, viam em Sumé a figura de São Tomé, que os
indígenas denominavam de "Zomé" e que, em épocas remotas, teria
sido um guia esclarecido. Versões encontradas na Bahia, identificam Sumé com o
apóstolo Tomé e, segundo um frade baiano, teria percorrido essa região
ensinando aos índios o cultivo da mandioca e suas múltiplas utilidades. Sumé
também exerceu o papel de legislador,proibindo algumas tribos de poligamia e
antropofagia. Em uma lenda, conta-se, que alguns índios enraivecidos pela
limitação de sua sexualidade, atearam fogo à casa de Sumé. Outros falam que
foi alvo de flechadas ou ainda que o amarraram a uma peada pedra e o jogaram no
rio. E, há quem diga que foi submetido a uma prova de resistência e teve que
caminhar sobre o fogo, queimando os pés.
Os
índios tupis acreditavam que Sumé partiu andando sobre as águas do oceano
Atlântico e que prometeu voltar um dia para continuar sua obra
civilizatória. Talvez esta profecia se cumpra e Sumé retorne para salvar os
índios brasileiros.
Uma
nova versão, conta que Sumé ao ser perseguido pelos tupinambás, foi para o
Paraguai e dali para o Peru. Para esta travessia, teria aberto uma estrada que
ficou conhecida como "Peabiru" ou o "Caminho das Montanhas do
Sol". Recentemente, um arqueólogo brasileiro reconstituiu tal estrada,
encontrando dezenas de marcos. Esta descoberta confirma que realmente existiu
intercâmbio entre os indígenas do Brasil com os do Peru.

Os
famosos vestígios de pés humanos, gravados em pedras, foram mostrados pelos
índios aos primeiros portugueses que chegaram ao Brasil. Em alguns lugares,
como em São Gabriel da Cachoeira, no rio Negro (Amazonas), os moradores, ainda
hoje, depositam velas e fazem preces em torno de uma forma de pegada feita em uma
rocha. Uns a atribuem a um anjo, outros a São Tomé, ou Pai Sumé. Nas costas
da Bahia, gente simples do povo, também se recreia a percorrer as escarpas
marinhas, onde se supõe terem ficado os indícios da fuga de Sumé. Inscrições
no mesmo estilo são encontradas na Bolívia e Peru, atestando a presença do
herói mítico, que talvez, partiu do Brasil em
direção aos Andes.
A
lenda de Sumé, constitui um poderoso elemento para se caracterizar a
procedência andina do tupi e, provavelmente, sua origem asiática. A história
nos fala freqüentemente no nome do apóstolo Tomé, que teria percorrido a
Índia, a China e até algumas ilhas da Oceânia. Entretanto, o nome deste
apóstolo também aparece entre os nossos tupis e isso nos serve de útil
indicação.
Existe
uma versão relatada pela população do Baixo-Amazonas dizendo que:
"Quando S. Tomé esteve entre os índios, meteu-se numa igarité com quatro
cablocos reforçados, deu um remo a cada um, ficou no jacuman (remo de popa que
serve de leme) e mandou remar rio acima. De vez em quando um cabloco cansava e
parava de remar. O santo não dizia nada, batia com o jacuman na traseira dele.
E onde o jacuman do santo batia, a carne ia murchando como por milagre."

Estas
histórias não justificam por si só, a passagem do apóstolo por estas
latitudes. Mas a notícia de sua existência na América Meridional, entre um
povo procedente do Pacífico, não constituiria uma tradição dos povos
asiáticos que tenham estado em contato com ele antes da migração por via
marítima? Desalojado dos Andes ou da orla do Pacífico por algum povo mais
forte veio o tupi estender-se ao longo do Atlântico e executava ele ainda a
conquista gradual da terra, quando Cabral ancorou em Porto Seguro.
Estas
são as suposições que se fazem em torno do difícil e arriscado problema
etnológico tupi, mas das conjecturas em torno das raças que aqui habitaram na
época do descobrimento, destacam-se os indícios das tradições colhidas pelos
missionários e naturalistas que acreditam na hipótese de uma caminhada
migratória que, seguindo do norte, através da Sibéria oriental, alcançassem
o estreito de Behring, tomassem a direção sul, atravessando o Canadá, os
Estados Unidos e México e, pelo estreito do Panamá se derramasse na parte
meridional do continente.
Este
exôdo milenar modificaria assim, por montanhas e vales, o povo retirante,
alternado-lhe a cor, a linguagem, o hábito, o porte, a crença, segundo as
terras, os céus, as águas, os rios percorridos, mas não teria o dom de apagar
de todo as tradições comuns, que surgem modificadas ou transformadas no tempo
e no espaço, como ecos de uma origem recuada.
Rosane
Volpatto
Bibliografia
consultada
Introdução
à Arqueologia Brasileira - Angyone Costa
A
Visão do Paraíso - Pe. Ruiz Monttoya
Sumé
e Peabiru - Hernani Donato
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