A LENDA DO PADRE E DO MENINO

Essa lenda é contada por Antonio Augusto Fagundes em seu livro "Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul", que é bastante difundida em Nonoai, cidade ao norte do estado. Inclusive, diante da igreja matriz de Nonoai, na praça principal da cidade, podemos ver um maravilhoso monumento em homenagem ao Padre e ao Menino, obra realizada pelo artista Paulo Ruschel.

Manoel Gomez Gonzalez (espanhol de nascimento) era padre e um homem santo, muito amigo das crianças e dos bichos. O município de Nonoai antigamente era muito grande, nele viviam índios, caboclos, negros e descendentes de alemães, na santa paz de Deus. O Padre andava de um lado para o outro, sempre acompanhado pelo Menino, chamado Adilio Daronck, que era igualmente uma criatura pura e santa, ajudante, sacristão e coroinha, ao mesmo tempo.

 

Nonoai era um local onde reinava a paz, mas perto dali e ao seu redor andavam bandidos que tinham sobrado das revoluções, caudilhos e seus capangas para quem a vida não valia nada.

Um dia o Padre foi realizar uma missa longe da igreja, no meio do mato, sempre acompanhado pelo menino, montado num burrinho. Lá um bodegueiro viu os três, numa picada. Na bodega, estavam uns capangas, Turisbião, Geremias, Raimundo e outros, famosos pelo banditismo, bebendo muito. E assim que o Padre e o Menino passaram, eles saíram, como quem não quer nada.

No meio do mato, eles logo encontraram o Padre e o Menino. Queriam jóias e dinheiro, mas a única jóia que aquelas criaturas de Deus possuíam era a vida que levavam e essa lhe foi tirada cruelmente pelos bandidos que roubaram também roubaram o cálice da Santa Missa e o burrinho, depois de atirarem os dois corpos no meio do mato, pra que os bichos dessem cabo deles.

Com o passar dos dias e como o Padre e o Menino não regressavam a Nonoai, o povo passou a se preocupar. As pessoas sabiam dos bandidos e do que eles eram capazes.Alguns moradores falaram com o bodegueiro e ele contou o que sabia. Inclusive disse que tinha visto os bandidos de volta, puxando o burrinho, bebendo vinho no cálice sagrado e dando grandes risadas.

Cheios de dor, os homens de Nonoai começaram a procurar nos matos. E aí viram uma coisa incrível: um bando de pássaros que revoava no mesmo lugar, fazendo círculos. E não eram corvos, mas pássaros de todo tipo, algo nunca visto. Eles então se guiaram pelas aves e acharam os dois corpos. E o mais curioso: estavam inteirinhos! Se não fossem os ferimentos, até pareciam que estavam dormindo. Nenhum bicho de Deus tocara neles. Com o maior cuidado e respeito, os corpos foram transportados para Três Passos. E durante toda a viagem foram acompanhados pelos pássaros. E quando os corpos foram velados na igreja, lá estavam eles, agora em maior número, pois se uniram as aves da cidade. E assim foi no cemitério, os passarinhos ficaram voando sobre os caixões e depois de sepultamento ainda ficaram muito tempo revoando em cima do cemitério.

O povo viu no fenômeno a mão de Deus e começou assim uma forte devoção pelo Padre e Menino, que cada dia é mais forte em Nonoai.

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO