MOÇA LUA

(Segundo  Walmir Ayala - Lenda Gaúcha)


 


Nos tempos muito antigos, para os nossos índios, tanto o Sol como a Lua habitavam aqui na terra. Como nos conta a lenda, só existia o dia e a noite sendo que esta última era muito temida. A noite sempre encerrou muitos segredos e era tabu. Os pajés sempre alertavam toda a aldeia para não se meterem com os segredos da noite, pois ela era um ser vivo, antromorfo.

-"Todos os homens bons dormem a noite, só os indivíduos maus andam por aí" é o que diz o mito. As conseqüências de tal procedimento imperdoável não se faziam esperar: os animais que habitam a noite como o escorpião, a aranha, a grande formiga branca e a cobra, mordiam o malfeitor. E, quando ele chorava de dor, era atirado mato adentro, pelo pajé, que de admoestador passava a desempenhar o papel de executor de sentença. E o homem mau transformava-se em um bicho da noite, em um dos seres sinistros que perfazem seus horrores, como a coruja.

 

Mas vamos então a nossa lenda...

 

Muito antigamente só havia a noite e o dia. E a noite era tão escura que deixava os homens assustados e aconchegados em suas casas, ao pé do fogo. Em toda a tribo, só uma índia não tinha medo da noite. Ela saía na escuridão e voltava com os cabelos cobertos de vaga-lumes. Passeava na beira do rio, mas todos ficavam tranqüilos porque ela dizia que não havia perigo.

 

Esta índia era diferente de todas as outras, pois nascera com a pele muito branca e nada lhe metia medo, muito menos uma noite escura. Entretanto, havia uma outra índia de olhar escuro como a própria noite que não via o ato da outra com bom coração. A inveja foi crescendo dentro dela e um dia tentou caminhar noite a dentro, mas acabou cortando os pés nos gravetos e seixos da margem do rio.

Cheia de ódio e inveja, foi então falar com a cascavel:

-"Cascavel, preciso de teu auxílio"

-"Para o bem  ou para o mal?", perguntou a rastejante

-"Para o mal"

A cascavel bailou feliz, pois sua vida e seu veneno estavam a serviço dos maus trabalhos:

-"Que quer que eu faça?"

-"Que mordas o calcanhar da índia branca"

- "A que não tem  medo da noite?"

-"Esta mesma"

-"Para matar?"

-"Que fique escura, verde, velha e muda".

A cascavel mais uma vez saltou de alegria e prometeu:

-"Hoje mesmo!"

 

À noite quando a índia branca foi fazer seu passeio...A cascavel se arrastou e ficou debaixo de uma pedra esperando.  Quando a índia passou cantando, a cascavel deu o bote, mas se deu mal, pois a jovem tinha os pés calçados com duas conchas de madrepérolas. A cobra acabou quebrando os dentes e com eles perdeu seu veneno:

-"Índia infeliz, o que fizeste comigo!

-"O que pretendias tu fazer comigo?"

-"Ia te fazer escura, verde, velha e muda"

-"Fui salva então, pelo sapato de conchas que o boto me deu".

-" E eu fiquei sem dentes e sem veneno".

-"Mas porque que querias me transformar?" indagou a índia branca.

-"Porque és linda e a índia escura não suporta tua presença..."

-"Foi ela que te mandou?

-"Sim, pois ela sofre"

Então a indiazinha branca começou a chorar, jamais imaginou despertar tanto ódio à alguém. Suas lágrimas eram gotas de luz, tão leves que flutuavam e permaneciam no céu. Todos os índios se espantaram com o acontecimento, pois agora a noite já não era tão escura.

Depois da índia chorar muito disse:

-"Não posso mais viver entre os que me odeiam". E passou por cima das águas do rio, até o outro lado. A cascavel meteu-se em um buraco de onde nunca mais saiu.

Chegando ao outro lado, procurou a coruja:

 

-"Mãe coruja, ajuda-me a chegar ao céu"

 

-"Minha filha, pede e eu farei".

 

Então a jovem foi colher cipó e flor de manacá. Trançou tudo e fez uma escada muito linda. Pediu então a coruja:

 

-"Voa bem alto e suspende esta escada para que eu possa subir".

 

A coruja obedeceu e chegou até a porta do céu com a maravilhosa escada e a índia branca subiu. Chegou até a céu, acomodou-se em uma nuvem e lá ficou para nunca mais voltar.

Os índios ao olhar para o céu viram aquela forma reclinada branca e brilhante, vagando entre as nuvens, rodeada de lágrimas de luz.

Disseram:

 

"A Lua, a Lua!"

 

A índia escura e invejosa olhou e ficou cega de ódio. Contam que foi morar na cova da cascavel, pois nunca mais foi vista.

Moça Lua, no entanto, continua até hoje a povoar a noite. E os homens sonham, um dia, poder construir uma escada igual à dela, para poder ir ao seu encontro.

 

RITUAL DA MOÇA-LUA

 

Monte um altar com uma toalha branca ou prata, oito velas azuis, uma vela prata, uma estatueta de coruja e um recipiente com água.

 

Trace o círculo e faça a invocação:

 

Venha Moça Lua, com sua coruja

Entre neste Círculo de Magia e Esplendor

Acenda em nós as labaredas do Amor

Esteja conosco aqui e agora

Pois é chegada a hora

Receba nossa singela homenagem

Nós te aguardamos!

 

 Sente em frente a seu altar em uma posição confortável. Respire e inspire profundamente três vezes e visualize uma nuvem de vaga-lumes que voarão até você lhe trazendo paz e serenidade.

 

Coloque à sua frente o recipiente com água, de modo que possa ver a imagem da lua refletida nele e fixe seu olhar nesta imagem. Da lua surgirá uma grande e maravilhosa escada de cipó e flores. A Moça-Lua descerá por ela, precedida de uma coruja que voará até você.

 

Seu círculo se encherá de luz cor de prata e você poderá pedir a ela que a conecte com as energias lunares. Converse o que tiver vontade, peça-lhe conselhos, use o tempo que lhe foi permitido passar com ela da melhor maneira possível. Se você tiver alguma pedra da lua, peça para que ela a energize e carregue sempre consigo, pois ela lhe trará proteção e é uma das maneiras de se conectar com a energia desta entidade.

 

Quando for chegada à hora da partida, agradeça e peça que ela sempre esteja presente quando você necessitar dela.

Ela irá embora, mas você sentirá que a luz da Moça-Lua a modificou.

Volte então a inspirar e expirar três vezes e quando se sentir bem abra os olhos.

Seja bem-vinda!

 

Obs:Não esqueça de desfazer o círculo e deixe as velas queimando no altar ou no seu quintal até o fim. (A lua mais favorável é a cheia).

 

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO