
MATINTAPERERA, A
FEITICEIRA
AMAZÔNICA


Waldemar
Henrique
ilustrou
musicalmente os
versos em que o
poeta Antônio
Tavernard nos
conta a ingênua
lenda:
"Matintaperera
Chegou na
clareira
E logo silvou,
No fundo do
quarto,
Manduca Torcato
De medo gelou
Matinta quer
fumo
quer fumo migado,
meloso, melado,
que dê muito
sumo...
Torcato não
pita,
não masca nem
cheira.
Matintaperera
vai tê-la
bonita...
Matintaperera,
detardinha vem
buscar
o tabaco que
ontem à noite eu
prometi,
queira Deus ela
não venha me
agoniar,
Ah! Matinta,
preta velha,
mãe-maluca, pé
de pato.
queira Deus ela
não venha me
agoirar......
Matintaperera
chegou na
clareira
e logo silvou.
No fundo do
quarto
Manduca Torcato
de medo gelou.
Que noite
infernal,
soaram gemidos,
resmungos,
bulidos,
do gênio do
mal....
E, até amanhã,
bem perto da
choça
a fúnebre troça
dum vesgo acauã
acauã....
acauã...."


Existem pessoas
para quem a
noite se revela
como um cenário
de mistérios
singulares e
ideal para por
em prática seus
pensamentos. A
noite é trocada
pelo dia, com
todo o fascínio
e o terror que
pode provocar.
Neste cenário
noturno aparece
Matintaperera.
Matintaperera é
a designação
dada a uma
pequena coruja,
que goza, entre
os nativos, da
faculdade de
transformar-se
em gente e
pintar o sete,
brincando,
ralhando,
castigando os
meninos vadios e
mal-criados.
Pertencente a
família dos gnomos e
duendes, rouba
objetos das
casas ou os muda
de posição e
bate nas
crianças.
No interior e
até mesmo na
capital do
Amazonas e Pará,
a gurizada
acredita que a
ave ronda as
casas na calada
da noite, afim
de roubar os
meninos
travessos ou
fazer
estripolias.
Oferece-se-lhe
então, grande
quantidade de
tabaco,
convidando-a a
aceitá-lo:
- Matintaperera,
podes vir buscar
a encomendazinha.
Mau destino está
reservado à
pessoa que, pela
manhã seguinte é
a primeira a
entrar na casa
em que se faz
semelhante
convite. Fica
encaiporada para
o resto da vida,
é como se
virasse Matinta. Em
toda a Amazônia
é tida como
encarnação de
alma penada ou
metamorfose de
velha malvada a
exigir tabaco
para o seu
cachimbo.
Só pode ser
vista,
entretanto, por
quem cobrir as
mãos com um pano
preto, pois as
unhas humanas
são como fogo
para ela. Quem
quiser vê-la sem
ficar
assombrado, deve
se aproximar da
casa onde esta
mora, recitar
uma oração e dar
uma volta na
chave. Na manhã
seguinte é
encontrada
sentada à porta,
com forma
humana.
Existe uma
maldição lançada
por um pajé da
tribo dos
Waimiri Atroari.
Depois que sua
tribo ter sido
dizimada pelos
brancos, ainda
moribundo, o
pajé anunciou
que todos os que
haviam
participado do
massacre do seu
povo, estariam
fadados a
perambular
eternamente pela
floresta sob a
forma de uma
velha ou um
pássaro que
todas as noites
gritava:
Matintaperera,
Matintaperera!
Nas noites de
sexta-feira é
maior o temor
que inspira.
Fala-se que a
tal criatura
chegou a matar
vários seres
humanos.
A Matintaperera
pode
transformar-se
em vários
animais como
porcos, morcegos
e aves e é vista
como uma
perigosa
feiticeira.
Segundo a voz do
povo, é uma
bruxa velha que
quando moça
cometeu grandes
pecados e por
isso fica
cumprindo o seu
fadário. Os
fadista são
tidos como
pessoas que
fizeram pacto
com o demônio em
troca de algum
tipo de vantagem
e acabaram
punidos com um
fado como o de
se transformarem
em animais,
durante a noite.

Uma outra
versão, nos
conta que
Matinta é uma
velha vestida
com uma longa
saia negra, que
vira carambolas
com uma
lamparina acesa
na cabeça. A
chama dessa
lamparina se
mantém acesa até
a velha se
transforme em
duende. Assombra
as pessoas,
dando-lhes
violentas dores
de cabeça ou em
todo o corpo.
Quando ela está
rondando a casa,
quem quiser
prendê-la, deve
espetar uma
agulha virgem em
um cinto de
couro e proferir
pequenas
orações. A
Matinta se
prende por ela
mesma.
Há outras fórmulas
mágicas que
permitem
"prender" a Matinta Perera.
Um deles exige
uma tesoura
virgem, uma
chave e um
terço. Cerca de
meia noite
deve-se abrir a
tesoura,
enterrar na
área, colocar no
meio a chave e
por cima o
terço, após o
que rezam-se
orações
especiais.
A Matintaperera
ficará presa ao
local, não
conseguindo
afastar-se...
Uma forma
de espantar a
entidade é a de
tirar o capuz ou
barrete
encantado do Matintaperera.
Os tupinambás
atribuíam a
função de
mensageiro das
coisas da outra
vida, aquele que
vinha dar
notícias dos
parentes mortos
e davam-lhe, por
isso, o nome de
Matintaperera.
Porém, passou
posteriormente
aos direitos de
certos pajés e
feiticeiros
transformarem-se
em Matinta e,
pela madrugada
retornar à forma
anterior.
Todas estas
crendices foram
herdadas das
superstições
indígenas e
chegaram até nós
pelo veículo dos
pajés e
curandeiros,
interessados em
arranjar sempre
maior número de
motivos para
suas artes
misteriosas.
Matintaperera
associa-se à
face da
Deusa-Anciã.

OS PÁSSAROS DA
NOITE
No mundo
inteiro, os
pássaros da
noite foram
associados à
almas penadas e
fantasmas que
aproveitando-se
das sombras
noturnas voltam
para gemer perto
das casas onde
moraram.
A coruja, em
especial, era
considerada um
pássaro de
mau-agouro e seu
repetitivo grito
pressagiava
morte vindoura
na vizinhança.
No Altaí, o
traje xamã
(sempre
ornitomorfo) é
freqüentemente
ornado com penas
de grão-duque.
Segundo Harva, o
conjunto do
traje, como era
antigamente,
devia
representar um
grão-duque. Esse
pássaro noturno,
na crença
popular do Altaí,
afasta os
espíritos.
Uno Harva
escreve:
"Em muitos
lugares, quando
as crianças
estão doentes, é
costume ainda
hoje, capturar
um grão-duque e
dar-lhe comida,
pensando-se que
esse pássaro
afastará os maus
espíritos que
assediam os
berços. Entre os
iogulos, nas
festas do urso,
uma pessoa
disfarçada de
grão-duque é
encarregada de
manter a
distância a alma
do urso morto".
Entre os
astecas, a
coruja era, como
a aranha, o
animal símbolo
do deus dos
Infernos. Vários
códices
representam-na
como "guardiã da
casa escura da
terra".
Associada às
forças ctônicas,
é também um
avatar da noite,
da chuva e das
tempestades. É
associada ainda
à morte e às
"forças do
inconsciente
luni-terrestre
que comandas as
águas, a
vegetação e o
crescimento em
geral."
Ainda hoje, para
as etnias
indo-americanas,
a coruja é uma
divindade da
morte e guardiã
dos cemitérios.

Texto pesquisado
e desenvolvido
por
Rosane Volpatto
 
>
<
|