Lenda dos Japiins

O japiim é uma ave que apresenta plumagem preta com amarelo (Cacicus cela) ou as vezes preta com vermelho (Cacicus haemorrhous), encontrada na América do Sul, principalmente na região Amazônica do Brasil. Todas as suas lendas possuem feições etiológicas, pois procuram explicar porque o japiim arremeda todos os pássaros e não possui canto próprio.

O Tanguru-Pará, é o único pássaro, conforme afirmação indígena, do qual o Japiim não imita o canto. Um dia, o avô do Japiim arremedou o Tanguru-Pará e este deixou o que estava fazendo, para acudir contra o Japiim e o matou. Desde então, todos os Tangurus-Pará nascem com o bico vermelho, e os japiins, que imitam o canto de todos os outros pássaros, não voltaram a imitar o canto do Tanguru-Pará. Assim escreveu Stradelli a respeito deste pássaro.

Os indígenas explicam que como alma penada, o japiim só está cumprindo seu fadário. Contam que outrora, o japiim vivia no céu cantando para o deus dos índios.

Mas, certo dia uma grande epidemia alastrou-se rapidamente pelas tribos indígenas, então, pediram a Tupã que os levassem para o céu, onde não havia doenças.

Tupã resolveu enviar à Terra o japiim para consolar os índios. Com o maravilhoso canto do pássaro, todos esqueceram suas mágoas e recomeçaram a trabalhar. A epidemia extinguiu-se e a felicidade voltou a reinar absoluta. Mas, para que tudo permanecesse bem, pediram a Tupã para que o japiim continuasse a viver entre eles.  O pássaro ficou como um presente divino.

O japiim começou a ficar soberbo e a achar que era grande coisa. Quando os outros pássaros cantavam, se punha a arremedá-los, até que aborrecidos, se queixaram a Tupã. Esse, mandou chamar o japiim e pediu-lhe que parasse com aquela conduta desagradável. Mas pouco adiantou tanta conversa, pois ao retornar à Terra recomeçou a arremedar os outros pássaros.

Tupã irritou-se com seu procedimento e falou:

-"Pois de hoje em diante perderás o teu canto e só conseguirás arremedar as outras aves e elas te odiarão e te perseguirão."

 

os Japiins e a Vespa

contada por Barbosa Rodrigues, a lenda é a seguinte:

"Dizem que antigamente os pássaros eram inimigos dos Japiins e, quando estes iam passear, ou quando iam buscar alimentos, os outros vinham quebrar-lhes os ovos e matar-lhes os filhos. Então os Japiins conversaram com a Vespa e contaram toda a história da tremenda conspiração das aves contra eles, que não faziam mal a ninguém e que, apenas por serem alegres e dotados de bom humor, imitavam a cantiga dos outros pássaros.

Disseram tudo isso com lágrimas nos olhos e convidaram a vespa para madrinha de seus filhotes

A Vespa comovida, aceitou o convite e falou:

" - Vocês façam as casas perto da minha, para eu velar por meus afilhados." Depois disso, sempre os Japiins fazem os ninhos perto das casas da comadre.

E Barbosa Rodrigues esclarece, em duas notas de pé da página, que todos os pássaros eram inimigos dos japiins porque eles arremedavam os outros pássaros. E que é "fato notado por todos: sempre onde os Japiins fazem os ninhos, se aninham também os maribondos, pelo que, dizem os índios que são compadres."

O japiim é uma vistosa ave, da família dos "icterídeos", de cerca de trinta e três centímetros da ponta da cauda à ponta do bico. 

Os ninhos dos japiins, possuem o feitio de uma bolsa, de cerca de 30 cm de comprimento, sempre em número de 10 a 20, e acham-se sempre pendurados nas árvores onde existem os ninhos de certas vespas muito agressivas. São conhecidos ainda, por "zeuzéu" e "bom-é".

Recolhemos na Amazônia a crendice de que, quando os japiins abandonam uma árvore onde construíram seus ninhos, certo é que morre alguém que more nas vizinhanças.

Todos os povos que já caminharam por esta terra, deixaram dois jazidos de relíquias. Um no espaço, que é o cemitério, onde descansam seus corpos. Outro no tempo, que é a tradição. O espaço é precário e tudo o que há nele um dia desaparecerá, mas o tempo é perene e eterniza tudo o que se recolhe. Portanto, são as histórias e lendas contadas por gerações que buscará no tempo a herança das almas.

Dedique-se você também a passar adiante este relicário de lendas e cantigas que chamamos de folclore, pois sem nossas tradições somos árvores sem raízes, corpo sem alma.

TEXTO PESQUISADO E DESENVOLVIDO POR

ROSANE VOLPATTO

Bibliografia

Lendas e Mitos da Amazônia - Ararê Marrocos Bezerra e Ana Maria T. de Paula

História, Lendas e Folclore de nossos Bichos - Eurico Santos