LENDA DE JAGUARÃO

 

Havia no nordeste da terra que ocupavam os indígenas guaranis, na margem direita do atualmente denominado rio Uruguai, um animal anfíbio, monstruoso, que vivia pelos rios da zona missioneira da Argentina, de onde teria entrado, também, na do Rio Grande do Sul, através do rio Uruguai e seus afluentes, indo parar no extremo sul, hoje gaúcho, entre o rio que recebeu o nome de Jaguarão e afluente deste e costa da Lagoa Mirim. Isto teria acontecido muito antes do aparecimento do branco europeu na vasta região em que vivia o tal monstro anfíbio.

Dizem que seu nome era JAGUA-RU ou JAGUA-RON e tinha corpo de lobo marinho e cabeça e patas armadas de garras de tigre, sendo do tamanho de um cervo ou cavalo pequeno.

Esse monstro era o terror dos indígenas, não porque os atacasse, mas porque suas vítimas, tanto homens como animais, jamais podiam salvar-se. Os índios, entretanto, perseguiram-no sempre, mas nunca conseguiram caçá-lo. O JAGUA-RU, resistia à todas as investidas e artimanhas de seus perseguidores e as flechas jamais o atingiram.

Conta-se, que era um só que percorria toda a região e visitava os rios em cujas barrancas fazia grandes escavações, de modo a provocar o desbarrancamento das margens sempre que animais ou pessoas delas se aproximassem demasiado. Quando a terra cedia, levava consigo o imprudente que ousou se aproximar muito perto da margem, jogando-o na água. Dali, em seguida, o monstro o retirava e arrastava para outra escavação. Abria-o, então, tirava-lhe os pulmões, única coisa que aproveitava e jogava novamente o cadáver no rio.

Outros diziam que eram vários, pelo menos dois ou três....enquanto que outros, ainda, acreditavam que houvesse um ou dois em cada rio....

O certo, segundo a lenda, é que existiu um desses anfíbios-monstros no atual rio Jaguarão, o que ficou provado pelas escavações de suas barrancas e por um caso que nele se passou com um grande grupo de guaranis dissidentes das tribos do rio Uruguai, ou Uruai, como falavam os antigos.

Pois...um dia, esse grupo dissidente da tribo guarani, depois de muito caminhar em busca de novas terras abundantes em caça e pesca, tendo atravessado o atual Rio Grande do Sul desde o rio Mirim, resolveram acampar por Pindaí até as margens da lagoa, ali entre a lagoa e as margens do bonito rio que lançava nelas suas águas cristalinas.

Foi então que, em certa noite de um muito claro luar, resolveram pescar pescar longe do acampamento, a pequena ocara erguida entre os atuais arroio Juncal e rio Jaguarão, e foram para as margens deste, justamente onde cavara seu leito formando altas barrancas. E estavam ali em busca de um lugar melhor para lançarem suas redes, quando um dos companheiros aproximou-se demasiadamente da barranca, sendo tragado pelo desbarrancamento. E logo após o desastre, viram o monstro anfíbio, o JAGUA-RU, avançar sobre a vítima, que ainda se debatia nas águas e arrastá-la para a margem oposta, onde a depositou numa escavação que fizera e.....abriu-lhe as entranhas, tirando os pulmões e, após saboreá-lo, jogou o infeliz indígena às águas novamente, dando-lhe assim, uma sepultura sagrada.

Eis aí a explicação do porquê do nome Jaguarão ao rio que banha a bela cidade brasileira e a pitoresca cidade uruguaia de Rio Branco, outrora Artigas.

JAGUA-RU, apesar de tudo, era para os indígenas, um símbolo de persistência e resistência, pois jamais foi abatido e porque, paciente e ativo, escavava longos trechos das barrancas dos rios para preparar a armadilha que lhe forneceria sua alimentação predileta, os pulmões dos homens ou animais que nelas caíssem.

JAGUARÃO é pois, o símbolo moderno da resistência e persistência do monstro que lhe deu o nome e, ao mesmo tempo, o pulmão da fronteira sul do Rio Grande, pulmão este, que pelo seu fôlego, mereceu o título glorioso de CIDADE HERÓICA.

Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto