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O ABENÇOADO GAMBÁ E SUAS LENDAS

 

O gambá (de guaambá, que significa saco vazio, referindo-se ao marsúpio) é um marsupial do porte de um gato. Tem hábitos noturnos e, apesar de ser uma animal de movimentos lentos, trepa em árvores com facilidade, usando a cauda preênsil para agarrar-se aos galhos. Alimenta-se principalmente de frutos silvestres, ovos e filhotes de pássaros. Não raramente visita galinheiros, causando imenso estrago.

Quando perseguido, o gambá finge-se de morto ou expele um líquido fétido produzido por glândulas axilares. Na fase do cio, a fêmea também exala esse cheiro forte, facilmente reconhecível.

A principal característica dos marsupiais é a gestação, que dura apenas alguns dias porque uma placenta verdadeira não é formada. Os filhotes nascem em um estágio precoce de formação, tendo só um cm e completam seu desenvolvimento em uma bolsa (denominada ‘marsúpio’). Ficam nessa bolsa até 70 dias, período necessário para adquirem condições de enfrentar a selva.

As espécies de marsupiais são importantes na dinâmica das comunidades da mata atlântica. Além do gambá (Didelphis aurita), a cuíca-lanosa (Caluromys philander) e a cuíca Micoureus travassosi, são eficientes dispersores de sementes.

Os gambás podem ser encontrados em várias regiões das Américas , desde o Canadá  até à Argentina.. Alguns gambás são imunes ao veneno de serpentes, incluindo as jararacas  (Bothrops sp.),cascavéis  (Crotalus spp.) e corais (Micrurus spp.), podendo atacá-las pela cabeça e ingeri-los pela mesma. Podem ser vistos também, dentro dos centros urbanos. Esta adaptação à zona urbana, levou este exímio marsupial a abrange, em seu cardápio, iguarias encontradas nos lixos de residências e restaurantes. Acostumou-se a viver dentro de forros de casas e instalações de edifícios. Podem ser facilmente vistos, perambulando pelas ruas e estradas durante a noite. São, com certeza, os marsupiais mais freqüentes das habitações humanas. São freqüentemente atropelados por veículos, por terem a visão ofuscada pelos faróis. O gambá é visto ainda, em muitas regiões com certa antipatia. Mesmo sendo marsupiais inofensivos e muito úteis ao homem por apresentarem um grande "menu", o que reflete no controle do ecossistema, isso não impede que estes mamíferos sejam mortos corriqueiramente.

 

NOME POPULAR NO BRASIL

 Na Amazônia: mucura; na Bahia: suruê ou sarigüê; no Nordeste: cassac ou timbuo; no Mato Grosso e Paraguai: micurê e no resto do Brasil recebe o nome de Gambá.

 

AS LENDAS

 

O GAMBÁ E A ONÇA
(Lenda Indígena)

Nossos índios, como bons observadores, sempre estiveram atentos a luta pela vida entre os animais. Sempre considerando os bichos seus companheiros mais próximos depois da família, emprestavam a eles os mesmos sentimentos e ações que governavam seu mundo e interpretavam tais lutas, com suas sábias fábulas. Foi assim, que se deu o nascimento de inúmeras histórias que fazem parte do folclore brasileiro.

Entre tantas fábulas, apontamos uma que tem por protagonista a onça e o astucioso gambá:

A onça há muito tempo deseja dar cabo do gambá, não tanto pelo desejo de lhe comer a carne, mas por pura antipatia.

Certa vez, idealizou a onça uma estratagema: fingiu-se de morta. Desta vez, tinha certeza que o gambá viria vê-la e então ajustaria contas com ele.

Logo que correu a notícia de sua morte acudiram os vários "amigos da onça" para o velório, satisfeitos intimamente com a morte do terrível predador. O gambá também apareceu, mas como não punha pé em ramo verde, perguntou bem de longe:

-"A onça já arrotou?"

-"Não", responderam os que faziam o velório.

-"Olha, meu avô, quando morreu, arrotou três vezes", voltou a falar o gambá.

A onça, ao ouvir isso, para provar que estava mesmo morta, soltou três arrotos.

-"Essa é nova! Quem já viu morto arrotar?", concluiu o gambá, pondo-se em disparada.

Essa fábula pode soar como "piada", mas baseado em suas experiências, William T. James, professor do psicologia na universidade de Geórgia, descobriu que os gambás podem ser bem mais brilhantes do que qualquer um já imaginou. Talvez os índios já soubessem disso há muito tempo!

 

A ORIGEM DA BOLSA DO GAMBÁ

(Tribo De Koasati)


Uma mãe-gambá estava brincando no campo com seus filhotes quando um grande morcego foi agarrando um a um. A fêmea gambá implorou para que não tirasse seus bebês dela. Mas o morcego não lhe deu atenção e carregou-os para uma caverna profunda da rocha.

A mãe desolada andou pela floresta, gritando por seus filhotes. Quando um lobo ouviu seus lamentos, veio e perguntou o que tinha acontecido e ela respondeu-lhe:

-"O grande morcego tirou meus bebês de mim e não os trará de volta!".

Compadecido, o lobo falou:

-"Eu vou recuperá-los para você, se me disser onde eles estão".

Assim a mãe-gambá mostrou ao lobo a entrada da caverna para onde o morcego levou os filhotes. O lobo penetrou furioso na escuridão. Momentos mais tarde, ouviu-se gritos de dor, mas então surgiu o lobo que acrescentou:

-"Peço-lhe muitas desculpas, mas infelizmente não consegui recuperar seus bebês!"

Para a pobre gambá, só restava continuar andando pela floresta gritando pelos filhotes. Quando um coelho ouviu seus lamentos, apressou-se para perguntar o que tinha acontecido de errado.

- "O grande morcego tirou meus bebês de mim e não os trará de volta!". falou novamente a fêmea gambá.

-"Eu vou recuperá-los para você, se me disser onde eles estão". Falou o coelho.

Sendo assim, a gambá mostrou ao coelho a entrada da caverna e o coelho andou corajosamente pela escuridão. Em seguida ouviu-se o som de seus gemidos e imediatamente o coelho foi posto para fora e disse:

-"Sinto muito, Dona Gambá, mas não e foi possível recuperar seus bebês!"

Agora sim, desesperou-se, pois se o lobo e o coelho não tinham conseguido recuperar seus bebês, que esperança lhe restaria? Mesmo assim, continuou andando pela floresta gritando histericamente por seus filhotes. Uma grande tartaruga da água doce ouviu seus lamentos e veio perguntar o que havia acontecido.

- "O grande morcego tirou meus bebês de mim e não os trará de volta!". fala pela terceira vez a mãe-gambá.

-"Eu vou recuperá-los para você, se me disser onde eles estão". Repete a tartaruga.

A gambá apontou a entrada da caverna e a tartaruga da água doce andou com cuidado na escuridão. O morcego tinha jogado brasas quentes por todo o trajeto da caverna, que começaram a queimar seus lisos pés grandes. Mas ela manteve-se caminhando, apesar da dor, pois podia ouvir os pequenos filhotes de gambá a poucos metros dali. Eles estavam chamando pela mãe. Ao alcançá-los, colocou-os em cima de seu casco, carregando-os até a saída. O grande morcego ainda tentou recuperá-los, mas depois de diversas tentativas sem sucesso, desistiu.

A tartaruga fez um corte na barriga da feliz mãe-gambá e colocou seus filhotes dentro dela, dizendo:

-"Você deve manter seus filhotes aí dentro até que parem de mamar. Quando não necessitarem mais de leite, poderá deixá-los sair."

Desse dia em diante, as mamães gambás carregam seus pequenos bebês em uma bolsa até que estejam o suficientemente crescidos para se alimentarem sozinhos.

Nessa linda e comovente lenda, podemos visualizar, o quanto é forte o amor maternal, até mesmo entre os animais irracionais. O gambá, assim como todos os marsupiais, por apresentarem uma bolsa ventral, simbolizam a proteção materna ou parental. E, a nossa mãe-gambá, não poderia ter sido ajudada por alguém mais experiente do que a tartaruga. Ela, com seu temperamento calmo e índole pacata, foi suficientemente teimosa para obter o sucesso em sua missão. Teimosa sim, pois todos os seus contemporâneos já partiram dessa pra melhor, exceto ela, que teima em não desaparecer do cenário do mundo. A tartaruga é o melhor dos exemplos, para quem deseja viver muito e com sabedoria, pois ela é símbolo de perseverança, tranqüilidade e longevidade.

 

 A LENDA DO GAMBÁ DAS MISSÕES (RS)

Essa é uma lenda de fundo católico, pois os gaúchos são muito religiosos e consideram todos os animais obras do Criador. Foi Barbosa Lessa o primeiro a contar essa lenda integralmente.

"Quando a Sagrada Família fugiu do Egito, porque o rei Herodes tinha mandado matar os piazinhos até soberano, lá pelas tantas, no meio da noite, Nossa Senhora, precisou fazer fogo.

Juntou uns gravetinhos, mas muito cansada, assoprava pouco e mal e o fogo não pegava. Então, desesperada, ela perguntou:

- Não haverá uma criatura de Deus para assoprar esse fogo?

  Foi aí que apareceu o Gambá, com oito filhos de sua ninhada e todos assoprando junto o fogo pegou. Agradecida, Nossa Senhora abençoou o Gambá, dizendo:

- Daqui por diante, tu vais ganhar os teus filhos sem as dores do parto, pela ajuda que me deu a tua família.

E assim é, até hoje. O Gambá ganha os filhotes umas coisinhas de nada e guarda todos numa bolsa que tem na barriga, onde eles mamam e crescem, até caírem no mundo."

 

Os gambás devem sentir orgulho de serem membros da espécie marsupialis, por ela ter sido a primeira a ser conhecida. Segundo os anais da História da América, a espécie ficou sendo, através de Vicente Yáñez Pinzón, em1500, o primeiro animal do Novo Mundo, conhecido na Europa.

A sabedoria das lendas podem ser usadas para a preservação das espécies, por isso é necessário que elas sejam lidas com os olhos do espírito, pois é somente desse modo, que desvendaremos as mensagens míticas e morais encerradas sob o véu dessas ingênuas palavras.

Texto pesquisado e desenvolvido por

 

ROSANE VOLPATTO

Bibliografia consultada:

Histórias, Lendas e Folclore de Nossos Bichos - Eurico Santos

O Simbolismo Animal - Jean-Paul Ronecker

Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul - Antonio Augusto Fagundes

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