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LENDA DO FRADE E A FREIRA

 

"O FRADE E A FREIRA", formação granítica gigantesca natural no distrito do Rio Novo do Sul, que originou a linda lenda do Frade e a Freira. (Cachoeiro de Itapemirm-ES). Para chegar ao local utiliza-se a ligação rodoviária que leva a Belém (são cerca de 23 km ) seguindo-se posteriormente , a estrada que liga Belém a Cachoeirinha e, dessa forma chegar aos pés do morro através de trilhas em meio a mata e pelas plantações de café.

Quando o Brasil engatinhava sua história, chegaram aqui os semeadores da Fé. Mas além de sua missão espiritual, entregaram-se estes valorosos homens e mulheres ao exercício da medicina e às funções de professores. Em todas suas reduções, introduziram várias espécies de gado vacum, cavalar e lanígero, cuja importação fizeram com rigorosa escolha. E essa indústria dentro em pouco era uma das grandes riquezas do país.

Estabeleceram também o sistema de celeiro comum, para onde era destinada toda a produção da terra cultivada em regime de comunhão. O trabalho também era por eles regulado e obedecia uma distribuição proporcional. Todas as pessoas válidas trabalhavam três dias na semana. As principais culturas eram milho, feijão, arroz, mandioca, batatas, frutas de todo o gênero e principalmente algodão, que a maioria plantava em larga escala, por ser produto de comércio. A cana de açúcar, também era cultivada com intensidade e era beneficiada e industrializada, nos inúmeros engenhos.

Nas reduções jesuíticas não circulava dinheiro, o comércio interno e externo era realizado mediante o sistema de trocas de produtos.

A assistência social era prestada aos índios de diversos modos. Além das escolas, onde lhe foi ensinado a forma escrita de sua língua, havia muitos estabelecimentos pios, como asilo de viúvas, hospitais e casas destinadas especialmente ao estudo das tendências infantis. Até a educação física era cuidadosamente ministrada. Em todas as reduções havia indústrias organizadas e oficinas para todo o tipo de artefatos.

Como se vê as reduções apresentavam visivelmente a forma de uma confederação "sui generis", apresentando um governo independente, que era encarregado de resolver seus assuntos internos. Mas o que empresta feições de Estado a este domínio, se não houvesse a vassalagem devida à coroa portuguesa, era sua organização militar.

Valendo-se da inocência, da bondade e docilidade do selvagem, cujas arestas e defeitos procuraram aparar e corrigir, levaram a cabo os padres a fundação de um reino que não tem símilar sobre a terra. Nele se ostentava, em suas várias manifestações, o progresso material e por isso mesmo, o índio tinha como satisfazer as indispensáveis necessidades do corpo. Um pouco acima, porém, estadeava o primado espiritual, envolvendo, num todo místico, aquela massa humana.

A alma do índio, forte, sadia, sem as chagas geradas pelo egoísmo e ambições  terrenas, contava também, naquele mundo de harmonia e fé, com os meios adequados à satisfação das suas necessidades imprescindíveis.

 

A LENDA DO AMOR IMPOSSÍVEL...

 

Conta-se que há muito tempo atrás, época em que o país se povoava no trabalho da terra, aqui chegou um frade moço, forte, honrado cavaleiro do exército de Jesus Cristo. Ele missionava ensinando orações e espalhando exemplos de esperança.

Na mesma aldeia, freiras divulgavam a ciência do esforço e do sacrifício, silenciosa e contínua tal qual pingo de chuva fina, mas teimoso e persistente.

 

Eis que certo dia, um Frade e uma Freira, na santidade de seus olhares, apaixonaram-se. Sendo ele servo e ela esposa de Cristo, não lhes era permitido outro amor. Amando e padecendo, sufocavam na noite sombria de corações, todo o desejo fremente da sonora paixão.

As razões iam desaparecendo na marcha alucinante de um amor tão desperto e iluminado, tal qual terra virgem que os acolhia. E assim, orando, chorando, penando, furtivamente encontravam-se para um olhar mais terno e para guardarem na lembrança uma recordação deliciosamente cruel.

Mas, uma vez o amor desperto, a busca principia e nunca há caminho de volta. A partir de então, tudo se inflama, não permitindo mais estar na planícies da complacência e realização parcial. Não há acomodação ou ameaça de perigo que impeça o esforço por um grau máximo de aproximação. E assim, às margens do Itapemirim visualizava-se suas duas sombras, negras, lentas, numa procissão de martírio, tentando resistir às tentações da vontade envolvedora.

Se foram ou não um do outro, num milagre humano de esquecimento, não recorda a memória popular. Apenas uma vez, não retornaram ao seu leito de sonhos, por certo sonharam juntos no silêncio da floresta, assistidos e abençoados pela também enamorada Lua.

Ás margens do Itapemirim, sobre os fundamentos de granito, ergueu-se o casal, confabulando juras de amor, ouvidas pelas tempestades e compreendidas pelos passarinhos. Deus não os separou, nem os uniu em um perfeito abraço, mas deixou-os devidamente próximos, em atitude de reza e meditação, de sonho e resignação, frente a frente. E assim permanecerão eternamente.....

Texto pesquisado e desenvolvido por

 

Rosane Volpatto

Bibliografia:

Lendas Brasileiras - Câmara Cascudo; 3 Edição; EDIOURO