A LENDA DAS ESMERALDAS

No
século XVII, ao norte de Minas Gerais, ficava uma serra muito alta ou Serra
Resplandecente, assim chamada porque, quando o Sol ao nascer se projetava sobre
ela, a montanha começava a brilhar, cheias de cintilações verdes. Tal
notícia chegou a São Paulo, à Bahia e a Portugal.
Os
reis de Portugal, ávidos por riquezas, prometeram céus e terras àqueles que
descobrissem a tão famosa serra. Lá sim, é que havia esmeraldas, ao alcance
da mão, tal qual cascalho em beira de rio.
Muitos
bandeirantes, desejosos de se tornarem nobres, resolveram sair à procura da
Serra Resplandecente. Era claro que a descoberta ficaria pertencendo ao rei de
Portugal, único dono de tudo que era encontrado nas terras do Brasil. Mas seu
descobridor, ganharia prestígio e um título de nobreza. Naquela época, ser
fidalgo era uma inspiração que enlouquecia muitos brasileiros.

Entretanto,
uma expedição deste tamanho, não era obra para qualquer um, pois era muito
dispendiosa. Foi então que, Fernão Dias Pais, já sexagenário, mas muito rico
e poderoso, aceitou o maior desafio de sua vida. Investido pelo rei com o
título de Governador das Esmeraldas, dedicou três anos apenas aos preparativos
da expedição, financiada com seus próprios recursos.
Em
21 de julho de 1674, com longas barbas brancas, que denunciavam seus já 66
anos, partiu de São Paulo à frente de 674 homens.
Vagou
por regiões desconhecidas e perigosas, semeando vilarejos pelo caminho e
ajudando a expandir o Centro-Oeste as fronteiras do território brasileiro. Em
meio a marchas e contramarchas, porém, os anos escoavam sem nenhuma riqueza
fosse encontrada. O desânimo do grupo era geral. Muitos morriam, vítimas da
fome ou de febres fulminantes. Outros desertavam, minados pelo esforço e pelas
privações da busca infrutífera. Fernão Dias Pais, entretanto, obcecado por
seu sonho, não aceitava desistir. Pelo contrário, escrevia a sua mulher,
pedindo mais alimentos, pólvora, roupas e remédios. Maria Betim vendeu as
terras que restavam, empenhou as jóias, enfronhou-se na pobreza, só para
contentar o marido.

Certa
noite, uma índia acordou o bandeirante e avisou-lhe que um grupo tinha se
reunido para tramar a sua morte. Sem ser notado, Fernão aproximou-se dos
conspiradores e escutou a conversa. Na manhã seguinte, mandou enforcar o líder
da rebelião: José Dias Pais, seu próprio filho.
Incansável,
Fernão Dias continuou a marcha com seu outro filho, Garcia Rodrigues Pais, e
seu genro e amigo, Borba Gato. Avançou pelas serras, chegando ao Vale do
Jequitinhonha, no norte mineiro.
Chegando
as cercanias da lagoa Vupabuçu, que ficava no sopé da tão sonhada Serra
Resplandecente, um índio mapaxó lhe avisou que não era permitido que os
civilizados chegassem até lá. O bandeirante quis saber o motivo e o índio
respondeu:
-"A
Uiara mora nas águas claras da Lagoa Vupabuçu. Seu canto seduzia os
guerreiros indígenas. Nas noites de Cairê (Lua Cheia), ela sobia à flor das
águas e se põe a cantar. Atraídos por seus cânticos os guerreiros chegavam
à margem da lagoa e eram puxados para o fundo, de onde eles nunca mais
voltavam. Foi então, que os índios mapaxós, pediram ao Deus da Guerra (Macaxera),
que salvasse seus jovens guerreiros. O Deus Macaxera fêz a Uiara dormir e
mandou que os mapaxós vigiassem o seu sono e a sua vida. Seus cabelos eram
verdes do limo da água que se encontra no fundo da lagoa. Esses cabelos, muito
longos, entraram pela terra e, em contato com a terra viraram pedra.
Mas
o Deus da Guerra ainda avisou, que a vida da Uiara estava em seus cabelos. Um
fio a menos, significa um dia de vida que ela perderá. Arrancar suas pedras
verdes acordará a Uiara e ela poderá morrer. E, se ela morrer, uma grande
desgraça poderá acontecer!"

Fernão
Dias Pais, entretanto, não acreditava em lendas, muito menos em coisas do outro
mundo. Por isso, não levou a sério o aviso do índio e mandou seus homens
arrancarem os cabelos verdes da Mãe Uiara, sem dó nem piedade. O importante
era não voltar de mãos vazias.
Pouco
depois do bandeirante apropriar-se das pedras verdes, uma febre abate o
desbravador. Tremores sacodem todo o seu corpo. Aos 73 anos, ele agoniza no
sertão mineiro. Morre apertando entre as mãos um punhado de pedras, consolado
com o sucesso de sua empreitada. Não sabe que as pedras verdes não possuem
valor, pois são apenas turmalinas. Para os índios, sua morte foi atribuída a
Tupã, como castigo por ter retirado um pouco dos cabelos de Uiara.
Entretanto,
foi Fernão Dias Pais que abriu o caminho para a descoberta do ouro.
Texto
pesquisado e desenvolvido por
Rosane
Volpatto


|