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ERVA MATE
O NÉCTAR DOS DEUSES

Quando o tempo desenha com sua
pena o ano de 1554, o General Irala, chegou a região de Guairá, situada à
oeste do atual território do Paraná e encontrou lá uma tribo de guaranis
pacíficos e hospitaleiros. Um dos hábitos destes indígenas lhe despertou
muita curiosidade. Tratava-se do uso generalizado de uma bebida feita de folhas
picotadas, tomadas dentro de um porongo, por intermédio de um canudo de
taquara. Ao indagar sobre a origem daquela bebida, responderam os índios
tratar-se da "caá-i", um hábito que teria sido inicialmente de uso
exclusivo dos pajés em suas práticas de magia, mas que foi estendido aos outros
guerreiros, em virtude de seus diversos benefícios.
E,
mesmo depois do término das guerras, o seu uso continuou, pois seus efeitos
estimulantes, fortaleciam tanto o corpo quanto a alma.
"Caá" era o nome da
ervateira e a "caá-i" era bebida do mate. Esta bebida nativa foi um
estrondoso sucesso entre os soldados de Irala. E, quando retornaram a
Assunção, levaram um carregamento da erva para apresentá-la aos amigos.
Esta bebida impressionou tanto
os espanhóis por sua natureza curativa e revitalizante, que despertou o
interesse dos comerciantes de Assunção que visavam antes de tudo, o lucro
financeiro. Foi uma correria doida até os ervais e em pouco tempo, a cidade
duplicou de tamanho e sua população de riqueza. Entretanto, tal consumo foi
condenado pela Igreja Católica, em plena Inquisição, em função dos índios lhe
atribuírem poderes mágicos que apontavam sua origem à deuses pagãos. Mas tal
proibição, acompanhada de multas, prisão e queima da erva, não impediu que o
hábito se disseminasse.
O MATE NO RIO GRANDE DO SUL
Se os soldados de Irala
estivessem se dirigido para o atual Rio Grande do Sul e não para Guairá, aqui, teria ocorrido a
descoberta do uso do mate pelos europeus.
Um expressivo número de
tribos guaranis vivam ao longo dos Rios Ijuí, Jacuí e Camaquã. Para colheita
da erva mate, eram empreendidas expedições à serraria vizinha da Lagoa dos
Patos, no vale do Rio Pardo e nos descampados do Planalto.
Acredita-se que os carijós,
no litoral, assim como os guenoas da Campanha, também fossem apreciadores de um
gostoso mate, mas inexistindo nestas redondezas, bosques de "caá",
este hábito somente poderia ser mantido por intercâmbio com os guaranis.
"Sem esta erva",
testemunhou o Pe. Nusdorffer, no século XVII, "o índio não pode
viver".
Enquanto os índios do Guairá
empreendiam suas viagens aos ervais subindo o Paraná em grandes embarcações,
os ervateiros das Missões rio-grandenses iam montados a cavalo, levando uma boa
provisão da erva, além de quinhentas a mil reses, para seu sustento naquela
viagem de cento e tantas léguas. E, depois de cumprida a tarefa, retornavam
eles, acompanhados por toda a população, procuravam a Igreja para agradecer o
sucesso do empreendimento.

Os ervais missioneiros faziam
parte do Tupambae, um campo comum, cujos produtos adviriam em proveito da
coletividade.
"Cada dia, depois de
ouvirem a missa e igualmente depois do rosário que se reza pela tarde, os que
acudiram ao templo vão receber o mate, uma onça e meia pelo menos para cada
pessoa, o qual lhe dá o mordomo em presença do cura e do corregedor. Aos que
estão ocupados em serviço público, seja em ofícios, seja fora no campo,
envia-lhes a quantidade de mate que parece proporcionada ao número de
trabalhadores. Igualmente é preciso prover de erva aos que cuidam do gado nas
estâncias e nas pastagens; e se alguns índios são enviados de viagem, não
há de faltar nunca este artigo em suas provisões". Pe. Carlos Teschauer
Quando do Tratado de Madri de
1750 e da sua subseqüente Guerra Guaranítica, o uso do mate já tinha se
tornado costume entre os dragões e demais soldados dos quartéis do Rio Grande
e Rio Pardo.
Depois da Guerra Guaranítica
efetuou-se a expulsão da Companhia de Jesus dos territórios europeus e
coloniais de Portugal e da Espanha. Desde modo, os Trinta Povos das Missões de
Guaranis perderam a unidade, subdividindo-se em quatro grandes províncias. Cada
povo passou a ser gerido por uma espécie de administração mista, a cargo de
um vigário e de um comandante militar. Em 1801, como reflexo de nova guerra na
Europa, um grupo de aventureiros rio-grandenses pratica a extraordinária
façanha de incorporar para o Brasil a região dos Sete Povos.
A partir dessa incorporação,
normalizou o fornecimento da erva missioneira para a Capitania do Rio Grande do
Sul, já sem burlas "aduanas"ou pagar direitos alfandegários, pois
tudo agora era Brasil.
Por volta de 1820 o hábito do
chimarrão já se enraizara definitivamente nas cidades e nos campos da
Capitania.
O grande papel que desempenhou
a erva-mate na sociedade gaúcha pode der avaliado por sua presença dentre os
símbolos nacionais farroupilhas. No brasão da República já encontrávamos
ramos de erva-mate contornando o barrete frígio e perdura até hoje no brasão
e na bandeira do Estado do Rio Grande do Sul.

Nos dias frios, os índios
tomavam o chimarrão e nas estações cálidas bebiam a cada instante o tereré,
mistura de erva-mate e água fria.

"Não
é a luz bem nascida
Já
eu junto do fogão
Me
preparo para a lida
Tomando
o meu chimarrão.
É
ele o constante amigo
Que
vem logo ter comigo
De
dia ao primeiro alvor.
Da
mente as névoas consome,
Mata
a sede, ilude a fome
E
a todo ser dá vigor."
(Assis Brasil)
LENDAS
VERSÃO INDÍGENA

Há muitos e muitos anos, no
tempo dos Tapes, uma grande tribo de fala guarani estava de partida. Precisavam
encontrar um outro lugar para morar onde a caça fosse farta e a terra fértil.
Lentamente os índios foram deixando a aldeia onde haviam vivido tantos anos.
Quando não havia mais
ninguém, pelo menos era o que parecia, de repente, pássaros voam assustados. O
couro que cobria a entrada de uma cabana foi afastado e surge um velho índio,
curvado pelo peso dos anos e com os cabelos completamente brancos. Atrás dele
caminha uma linda jovem índia. Ele é um velho guerreiro sem forças para
acompanhar a tribo em busca de novas terras. Ela chamava-se Yari e era sua
filha mais nova, que não teve coragem de abandonar seu velho pai, certa que
sozinho ele não iria sobreviver.
Numa triste tarde de
inverno, o velho entretido colhendo algumas frutas, assustou-se quando viu
mexer-se uma folhagem próxima. Pensou que fosse uma onça, mas eis que surge um
homem branco muito forte, de olhos cor do céu e vestido com roupas coloridas.
Aproximou-se e
disse-lhe:
-
Venho de muito longe e há dias ando sem parar. Estou cansado e queria repousas
um pouco. Poderia arranjar-me uma rede e algo para comer?
-
Sim, respondeu o velho índio, mesmo sabendo que sua comida era muito escassa.

Quando
chegaram à sua cabana, ele apresentou ao visitante a sua filha.
Yari
acendeu o fogo e preparou algo para o moço comer. O estranho comeu com muito
apetite. O velho e a filha cederam-lhe a cabana e foram dormir em uma das outras
abandonadas.
Ao
amanhecer o velho índio encontrou o homem branco e fez tudo para que ele
parasse. O outro, porém, respondeu-lhe que tinha percebido a necessidade dos
pois e se propunha ajudar. Dito isso, embrenhou-se em direção à floresta.
Depois de algum tempo retornou com várias caças.
-
Vocês merecem muito mais! explicou o homem. Ninguém já me acolheu com tanta
hospitalidade, me dando tudo o que possuíam.
Falou
também que tinha sido enviado por Tupã, que encontrava-se muito preocupado com
a sorte dos dois.
- Pela acolhida que
recebi, lhes reservo o direito de atender a um pedido. Diga o que deseja!

O
pobre velho queria um amigo que lhe fizesse companhia até o findar de seus
dias, para que pudesse deixar de ser um fardo para sua doce e jovem filha.
O
estranho levou-lhe então até uma erva mais estranha ainda dizendo:
-
Esta é a erva-mate. Plante-a e deixa que ela cresça e faça-a multiplicar-se.
Deve arrancar-lhe as folhas, fervê-las e tomar como chá. Suas forças se
renovarão e poderá voltar a caçar e fazer o que quiser. Sua filha poderá
então retornar a sua tribo.
Yari
resolveu que de qualquer jeito jamais ficaria para fazer companhia ao pai. Pela
sua dedicação e zelo, o enviado do tupã sorriu emocionado e disse:
-
Por ser tão boa filha, a partir deste momento passará a ser conhecida como
Caá-Yari, a deusa protetora dos ervais. Cuidará para que o mate jamais deixe
de existir e fará com que os outros o conheçam e bebam a fim de serem fortes e
felizes.

Logo
depois o estranho partiu, mas deixou na cabeça de Yari uma grande dúvida: como
poderia ela, vivendo afastada das demais tribos divulgar o uso da tal erva? E o
tempo foi passando...
Em
uma tribo não muito distante dali, os índios estavam contentes com a fartura
das caçadas. Organizaram uma grande festa para comemorar, não faltava
comida e muita bebida. Mas a bebida demais levou dois jovens índios a
começaram a discutir. Tratava-se de Piraúna e Jaguaretê. Da discussão ao
enfrentamento foi um passo.
No
furor da briga Jaguaretê empunha um tacape e dá violento golpe na cabeça de
Piraúna, matando-o. Jaguaretê foi então detido e amarrado ao poste das
torturas. Pelas leis da tribo, os parentes do morto deveriam executar o
assassino. Trouxeram imediatamente o pai de Piraúna para que ordenasse a
execução. Muito consciente que a tragédia só aconteceu por estarem os jovens
sob o efeito da bebida, liberou o Jaguaretê, que foi então expulso da tribo e
foi buscar sua sorte na seio da floresta e quem sabe nos braços de Anhangá,
espírito mau da mata.
Conforme
caminhava e o efeito do álcool era amenizado, mais se arrependia do mal que
fizera.
Passadas
muitas décadas, alguns índios daquela tribo, aventuravam-se na mata fechada em
busca caça que já estava rara no local em que viviam. Entrando no sertão, no
meio da floresta, encontraram uma cabana e foram aproximando-se com cuidado, mas
mesmo assim foram pressentidos e saiu da cabana um homem muito forte e
sorridente. Muito embora seus cabelos fossem totalmente brancos, sua fisionomia
era de um jovem e ofereceu-lhes uma bebida desconhecida. Identificou-se então
como sendo Jaguaretê, o índio expulso de sua tribo e que a bebida desconhecida
era o mate.

Contou
que quando foi abandonado a sua sorte, muito andou e quando estava apertado de
cansaço e remorso, jogou-se ao chão e pediu para morrer. Acordou-se com a
visão de uma índia de rara beleza que apiedando-se dele disse-lhe:
-
Meu nome é Caá-Yari e sou a deusa dos ervais. Tenho pena de você, pois não
matou por gosto e agora arrepende-se amargamente pelo que fez. Para suportar seu
exílio, eis aqui uma bebida que o deixará forte e lhe esclarecerá as
idéias.
Levou-o
até uma estranha planta e voltou a dizer:
-
Esta é a erva-mate. Cultive-a e a faça multiplicar. Depois prepare uma
infusão com suas folhas e beba o chá. Seu corpo permanecerá forte e sua mente
clara por muitos anos. Não deixe de transmitir a quem encontrar o que aprendeu
com o mate.
-
Por tanto, jovens guerreiros, quero que leve alguns pés da erva-mate para a sua
tribo e que nunca deixem de transmitir aos outros o que aprenderam.
Aqueles
índios voltaram e contaram aos outros o que haviam ouvido. O mate foi plantado
e multiplicou-se. Outras tribos apreenderam e foi desta forma que seu uso chegou
até nós.

Há
porém, uma outra tradição assaz diversa sobre a aplicação e uso da
erva-mate. Ela foi também um veículo dos mais eficazes usados na feitiçaria
ou magia guaranítica.
Narra-se
que um feiticeiro foi ensinado por Anhangá como deveria beber a erva, quando
quisesse consultá-lo. O pajé seguiu a risca as instruções e desde então
fazia maravilhas. Passou a usá-la também como ingrediente nas suas
feitiçarias.
Diziam
os feiticeiros:
-
"A erva me disse ou aquilo..", quando davam seus oráculos.
Os
feiticeiros comunicaram seu mistério a outros e, pouco a pouco, o uso se tornou
geral. Diziam que não havia coisa que se prestasse mais para causar dano. Esta
bebida também servia de filtros e muitas mulheres fizeram deste negócio um
comércio.

Ainda
hoje se tem o costume, de quando se oferecer a cuia a um amigo, o dono da casa
deve sugar os primeiros goles e jogá-los fora, pois por herança deste costume
antigo, acredita-se que os primeiros sorvos não são bons. A alegação para
tal feito é que o demônio Anhangá contamina a erva com seu maléfico influxo.
Deve-se
atirar os primeiros goles da boca para as costas, um por cima do ombro direito e
o outro por cima do esquerdo.
LENDAS
CRISTÃS
Tem
o uso da erva, no dizer de Granada, uma alta origem no que poderíamos chamar de
mitologia cristã. Já desde o primeiro quartel do século XVI, corria na
América do Sul a lenda da estada do Apóstolo São Tomé no Brasil e países
vizinhos.
Conta-se
que chegando ao Paraguai, viu imensos matos de árvores do mate. Os índios,
porém, não lhe davam utilidade nenhuma, até olhavam-nas com certa repulsão,
porque as tinham por venenosas.
São
Tomé achou entre os guaranis muita disposição para receber a fé e as águas
do batismo. O santo, vendo a dedicação deste povo, quis fazer-lhe um
benefício ensinando-lhes o uso da erva. Atraída por sua palavra, tinham-no
seguido, uma grande multidão, quando arrancou uma porção da erva e a ajuntou
cuidadosamente. Depois fez uma fogueira, estendeu as folhas da erva de tal
maneira sobre as brasas que sem queimá-las, as tostasse. Por intermédio da
lenta ação do fogo, perderam as folhas da erva, por evaporação, as
substâncias danosas que possuíam.

O que serviu para grande
consolação e regozijo dos índios guaranis foi que as folhas emitiam uma suave
fragrância, circunstância que aguçou-lhes a curiosidade em relação a erva.
Desfizeram as
folhas tostadas e pondo-as em água produziram uma bebida de gosto tão agradável
quanto proveitosa. É Lozano que narrou este episódio na sua história da
conquista.
Segundo
o mesmo autor, conferiu a São Tomé a esta erva, virtudes medicinais contra
pestes e várias doenças. Conta, que certa vez uma terrível peste dizimou
quase todos os povos guaranis. Os infelizes, recorreram a São Tomé, que andava
pregando por aquelas regiões.
O
santo apóstolo respondeu:
-
"Em casa possuis o remédio; a misericórdia divina nunca desampara os
justos".
Em
seguida mandou trazer os ramos da erva-mate, tostou-os, triturou as folhas,
colocou-as na água e bebeu, para que eles não receassem bebê-la também.
-"Bebei",
acrescentou, "as folhas desta erva e com elas curareis todos os enfermos e,
vós, os sãos, ficarão imunes à peste."
Obedeceram
os índios e nenhum dos enfermos tornou a morrer, assim como não adoeceu mais
ninguém.
OS AVIOS DO CHIMARRÃO
Denomina-se "avios do chimarrão" os
apetrechos ou utensílios necessários para tomá-lo.
É tudo muito simples, você precisará de
uma chaleira ou um vasilhame que possa ser levado ao fogo para aquecer a água
(nunca ferver!). Fora isso, a cuia, a bomba e a erva.
A cuia (do guarani "iacuhi" = cabeça)
faz as vezes de uma chícara ou taça de chá, mas não dispõe de alça e deve
acomodar-se naturalmente na mão.
Tradicionalmete, utiliza-se como cuia o
fruto seco de duas cucurbitáceas diferentes: a "lagenaria vulgaris", que dá o
porongo propriamente dito, redondo e arredondado, e a "crescentia cujetare", que
dá a cuia propriamente dita, achatada, para os uruguaios conhecida como "galleta".

Nas regiões produtoras, como o Planalto,
a fartura do produto permitiu a popularização do porongo de boca larga, mas nas
regiões aonde o produto chegava em morosas caretas e no lombo de cargueiros (Compahia
rio-grandense, Uruguai, Argentina), ou se cortava o porongo "ao contrário" (ao
contrário da maneira planaltina), deixando uma boca de no máximo uma polegada,
ou se usava diretamente a cuia chata ou "galleta", pequenina e econômica.
Houve época em que se fabricavam cuias
finas, de porcelana, de formato achatado, para uso no mate doce das casas de
estância; e mais recentemente industrializam cuias de madeira, de vidro, de
madeira recoberta com alumínio, etc.; mas nada se compara ao porongo ou a cuia
tradicional.
A bomba consiste num canudo de 20 a 30
cm de comprimento por 5 a 10 mm de diâmetro, achatado numa extremidade (bocal) e
apresentando, na outra, um bojo oco e crivado de furinhos.
No século XVII dois tipos de bomba eram
conhecidas: a de prata, metal abundante então na América, e a taquara,
confeccionada pelos indígenas e resultante de um paciencioso trançar de fibras
de duas cores.
Atualmente é desconhecida a bomba
vegetal: utiliza-se tão somente a bomba de "metal branco", entre os gaúchos
menos abastados, e a bomba de prata, muitas vezes com relevo e bocal de ouro.
Um outro elemento, não essencial,
poderia ser incluído entre os avios: o tripé, ou outra base qualquer, em que a
cuia possa se firmar quando não está em uso.

Apesar de simples esses apetrechos são
fundamentais e já rendeu até inspiração aos poetas gaúchos:
"Quanto aos furos de uma bomba
calibre não muito estreito;
do contrário, se o sujeito
se prende louco a chupar,
quando menos se dá conta,
de tanto que chupa e chupa,
o pobre diabo, num upa
pode do avesso virar!"
(Eugênio Severo)
COMO PREPARAR
O CHIMARRÃO |
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O CHIMARRÃO é uma das várias formas de preparar a ERVA
- MATE para ser tomada, tanto no inverno como no verão, a
qualquer hora. Uma das maneiras de preparar um bom
chimarrão é seguindo essa receita: 1º )
Colocar erva-mate na cuia, aproximadamente até 2/3 de
sua capacidade.
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2º )
Tapando a boca da cuia com a
mão, procura-se, com a cuia de boca para baixo, através
de leves movimentos para cima e para baixo, separar os
talos e palitos da erva-mate propriamente dita.
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3º )
Inclina-se a cuia mais ou
menos 45º e retira-se a mão, fazendo com que os palitos
da erva fiquem na parte inferior (cestinho da cuia),
formando uma trama que facilitará a entrada de água na
peneira da bomba. |
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4º )
Na mesma posição anterior
despeja-se água fria ou morna (água fervente queima o
mate, dando um gosto amarguento) até o topete da erva,
que não deverá ser molhado. Aguarde até que a água seja
absorvida (2 a 3 minutos). |
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5º )
A colocação da bomba é um
momento decisivo no preparo de um bom chimarrão. Tapando
o bocal com o polegar, introduz-se a bomba no lado cheio
d'água da cuia, até o fundo do cestinho. Com
movimentos de pulso, procura-se a melhor posição, para
que a bomba fique firme. Retira-se o polegar e
observa-se o nível da água, que deve baixar alguns
milímetros. Isso prova que o chimarrão está desentupido.
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6º )
Com a cuia na posição
vertical, coloca-se água quente. A temperatura ideal da
água é 75 graus, obtida quando a chaleira começa a
chiar. OBS: Nunca "desbarranque" o talude formado
pela erva, pois molhando o topete não vai conseguir
melhor sabor. Na realidade o sabor se prolongará de
acordo com a quantidade de erva que a cuia suporta e que
gradativamente vai sendo retirado pela água na medida
que o mate vai sendo "lavado". |
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7º )
Pronto. O primeiro mate pode
ser ingerido, não há nada de mal nisso, porém alguns
mateadores costumam cuspi-lo fora até ouvir o "ronco" da
cuia. Isso porque o primeiro mate não é o mais saboroso,
a bomba retém resíduos de pó da erva e a água ainda não
alcançou a temperatura ideal.
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Fonte: Casa do Chimarrão
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HORÓSCOPO DO CHIMARRÃO
CHIMARRÃO, nossa
Poção Mágica:
Te aconselho a
tomar o chimarrão no início do teu dia, mesmo que ele comece às quatro da
tarde. Os índios, seus inventores, o tomavam antes de ir para as batalhas.
0 Chimarrão te dá força e pique para ires à luta no dia a dia, e, ainda
por cima, te deixa buenaço ou lindona, no más.
Aproveita
essa hora sagrada para abrir um livro, jogar um tarot, ou fazer uma
meditação sobre a tua vida. Aí, ficarás bonito ou bonita, por dentro e por
fora!

E
vamos aos locos!
ÁRIES - Esse, acha que a cuia é dele! Tu tá recém
pondo a chaleira no fogo, e ele já tá ali, perguntando se tá pronto.
Esbaforido, sempre se queima, ou fica com a bomba entupida, pões que não
tem paciência pra esperar que a erva assente. Dá-lhe um Trancaço, c diz
que no Natal ele vai ganhar uma cuia só pra ele. Não te preocupa, que é
loco manso.
TOURO - ele primeiro vê se a cuia é linda, no más, e
depois, fica ali, acariciando a dita, com cara de libidinoso. Como em
geral, é guloso pra caraco, te passa o mate, mas fica te olhando
atravessado, e ruminando... como é do seu feitio. Não vale a pena discutir
com o bagual, pois além de cabeçudo, quase sempre é o dono da cuia e da
bomba...
GÊMEOS - o vivente já entra no rancho falando e
contando causo, trovando e matraqueando que é um inferno. Tudo com a cuia
na mão. Até que o povaréu começa a ficar nervoso. Conselho: antes que
esfrie até a água da térmica, saiam de tininho e vão tomar mate em outro
lugar. Ele nem vai notar.
CÂNCER - esse já pega a cuia com ar de desolado,
pois que a cuia lhe lembra a mãe. De tão sentimental, às vezes, ate chora,
lembrando do primeiro chimarrão (que a gauchada nunca esquece). Quando
sente medo do escuro, dorme com a cuia embaixo do travesseiro. E tem
pencas de cuias e bombas entupindo as as gavetas... de recordação, ele
diz.
LEÃO - loco o convicto, não é que me inventou de
mandar gravar um brasão de família na cuia e outro na bomba? Só toma
chimarrão, se tiver um povo em volta pra ficar lhe olhando, e aí,
aproveita, e desata a trovar e a declamar, esperando que lhe aplaudam.
Sempre é bom não contrariar.
VIRGEM - primeiro, ele lava as mãos e todos os
apetrechos, depois, confere se a erva é ecológica, e por aí vai. Acha que,
o certo mesmo, era cada um ter a sua própria cuia, bomba e mate. Mas, por
via das dúvidas, carrega sempre um paninho que, discretamente, vai
passando no bocal da bomba. Como é metido a botiqueiro, e conhece todo
tipo de erva deste Rio Grande, enquanto mateia, vai dando receitas e
curando, de lombriga a esquizofrenia.
LIBRA - flor de fresco, chega a pegar a bomba com o
dedinho levantado. Mas compensa, pelo senso de justiça. Só toma o mate
depois que todo mundo já se serviu. Pra ele, matear, também pode ser
sinônimo de namorar; daí que, se prenda, só faz roda de mate com a indiada
marmanja, e, se marmanjo, põe açúcar e mel na cuia, e vai, todo lampero,
pro Brique, ver se atrai as mosca, quer dizer, as moça.
ESCORPIÃO - pega a cuia, e matreiro... sai de
fininho para algum canto, remoendo traumas, encucações e toda a sorte de
loucuras. Sem essa de que vingança é um prato que se come frio, pões que,
na água quente do amargo, fica tramando seus planos de vingança
(inclusive, e principalmente: Revolução Farroupilha, a revanche!). E, ai
daquele que não lhe passar a cuia. Outro que tem fantasias sexuais com a
cuia, com a bomba e com a térmica. Só não me pergunte quais.
SAGITÁRIO - em geral estrangeiro, pois sagitariano
que é sagitariano, nunca está em seu país de origem; aqui, no Rio Grande,
pode ser um carioca, paulista ou baiano que, sem entender nada de
tradição, fica mexendo o mate, com a bomba como se o amargo fosse um
milk-shake. Conheci um que queria misturar mate com fanta uva.
CAPRICÓRNIO - inventou o tele-chimarrão com
pingo-boy e tudo, e o chimarrão de negócios, o qual pratica toda a
sexta-feira na sua empresa, que, aliás, exporta cuia, bomba, erva e demais
aparatos para a gringolândia. Diz que já tá fazendo até japuca largar o
chá e pegar a cuia.
AQUÁRIO - rebelde até a última cuia, acha que esse
negócio de chimarrão tá superado. Só não sabe pelo quê. Doido, mas metido
a bonzinho, adora um povaréu; daí que, convida todo o vivente que estiver
passando, pra sua roda de mate. Acha que se: o chimarrão fosse servido na
ONU, o mundo seria outro.
PEIXES - inventou a leitura de cuia e "recebe"
entidades durante a mateada. Se desconhece o tipo de ervas que usa... mas,
diz que faz roda de chimarrão com os daqui e com os do além. Por isso, um
conselho de amiga: se a roda de chimarrão for em outra estância, que volte
de táxi.
Fonte: Livro "A Bruxa Gaudéria e o bando de loco!", de Rose de Portto
Alegre. Martins Livreiro Editora, 2003.

"E
a cuia, seio moreno
que
passa de mão em mão,
traduz
no meu chimarrão,
em
sua simplicidade,
a
velha hospitalidade
da
gente do meu rincão".
(Glaucus Saraiva)

Texto pesquisado e desenvolvido por
Rosane Volpatto
ASSISTA
O VÍDEO - Click na Imagem

Bibliografia consultada:
História
do Chimarrão - Barbosa Lessa
Mitos
e Lendas do RS - Antonio Augusto Fagundes
Lendas
do Brasil - Gonçalves Ribeiro
Ilustrações
J. Lanzellotti
O Livro do Mate - Romário Martins
Contos Gauchescos - João Simões Lopes Neto
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