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A
LENDA DOS DIAMANTES

Os
bandeirantes com sua "febre do ouro",
aventuraram-se floresta adentro, alargando os limites do
Brasil, em busca do tão sonhado metal que a natureza
guardava no interior de seu ventre. Mas, tal empreitada,
não era vista com bons olhos pelo nosso indígena e
não demorou muito para que as hostilidades se
iniciassem.
Sendo
assim,os índios Puris, que habitavam o alto do Ibitira,
conclamaram toda a tribo para defender suas terras e na
conservação das relíquias deixadas por seus
antepassadas. Entre elas, havia uma sagrada e secular
árvore (Acaiaca), uma Deusa-árvore, que segundo suas
crenças, havia servido de arca e abrigo para o primeiro
"casal povoador", os pais dos Puris, quando o
Jequitinhonha, com sua fúria devastadora inundou toda a
região. Era justamente à sombra desta Catedral da
Natureza, que os índios deliberavam e buscavam força e
energia para derrotar seus inimigos.

Mas,
os bandeirantes de modo a se locupletar com o ouro que a
civilização européia exigia, sequiosa, para o seu
luxo e conforto, prepararam-se para um grande ataque.
Contaram então, com a ajuda do mameluco Tomás Bueno,
que traindo o sangue que corria em suas veias,
avisou-lhes que para derrotar completamente os Puris,
deveriam cortar à árvore sagrada.
Quando
toda a tribo retirou-se na primeira Lua Cheia, para
margens do Ipiacica, lugar onde iriam festejar com uma
grande tabira os esponsais de Cajubi com Iepipo (jovem e
valente guerreiro), os invasores subiram até o Ibitira
para cortar a frondosa Acaiaca.
Terminados
todos os cerimoniais das núpcias, toda tribo retorna à
taba. Lá aguardava-os a mais terrível das surpresas.
Lançada ao solo, a Grande Deusa-Árvore, derramava suas
últimas seivas de vida, depois dos duros e impiedosos
golpes do machado, que a assassinaram.
Foi
então, que tomado por cega fúria, o pajé Piracaçu,
erguendo seus braços, deu seu grito de guerra,
inspirando toda a sua tribo.

Os
índios, até então pacíficos,deixaram de viver em
harmonia, pois faltava-lhes Acaiaca,a árvore sagrada, o
elo que os prendia à vida. Sobreveio a luta
fratricida e eles não puderam defender-se do inimigo
comum, invasor, sedento de ouro.
Os
poucos sobreviventes fugiram e Iepipo, o corajoso
guerreiro, a esperança dos Puris, jazia entre os
mortos. Cajubi, sua esposa, a flor de manacá,
desaparecera levando no coração o ódio e o desejo de
vingança.

Piracaçu,
o velho pajé, deitou um frio olhar sobre o que restou
de sua tribo e subindo no tronco da árvore caída
lançou sobre os bandeirantes uma eterna maldição.
O
céu escureceu renunciando uma tempestade e foi
iluminado pelas labaredas que subiam da árvore, do fogo
ateado pelas mãos trêmulas de Piracaçu. Em meio as
chamas, no topo da Acaiaca, ergueu-se a figura serena do
pajé. Relâmpagos rasgavam a noite, seguidos de
ensurdecedores trovões. Um verdadeiro cataclisma
convulsionou a terra, rachando-a. Uma chuva torrencial
desabou e um surdo estampido ecoou, quando a Deusa dos
Puris foi dragada para dentro do ventre da Mãe Terra.
Os
carvões ainda incandescentes que haviam se espalhado
por toda a parte, transformaram-se então, em grandes
pepitas de diamantes.

Texto
pesquisado e desenvolvido por Rosane Volpatto

Bibliografia
Vultos e Fatos de Diamantina - Afonso Schmidt,
baseado em Sóter Couto; Belo Horizonte, 1954, p.25
Estórias e Lendas de Minas
Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro - Mary Apocalypse; Gráfica e
Editora EDIGRAF Ltda; SP


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