CEARÁ, TERRA QUE SEDUZ!

 
 

O Ceará é assim...de incomparável beleza, fascinante, berço de um povo hospitaleiro, um lugar, onde ainda a terra nos oferece o esplendor de seu clima ameno, o imprevisto de paisagens exuberantes e a paz religiosa de seu mar verde-esperança.

Esta terra, em seus braços voluptuosos só prende os fortes, aqueles que com sua tenacidade, a sua energia, a sua vontade indomável, decidida, vitoriosa, a subjugam e se constituem heróis vaqueiros dominadores do sertão e seus perigos. 

É através de danças e folguedos populares que o povo cearense nos conta a sua história de vitórias e lutas perdidas, suas tradições e costumes. Tais manifestações revelam sua grande religiosidade frente a luta desleal contra as adversidades da terra.

Em todas as atividades folclóricas cearenses é observado a fusão cultural do branco, do índio e do negro que já habitaram este pedaço de Éden e juntos definiram um gênero de vida incomum, desenvolvendo uma cultura sem similar.

O sertão cearense já foi palco de muitas lutas, conquistas e movimentos, como os Ciclos do Gado e do Algodão, que marcaram época, a cultura e a alma deste povo. Procurando, encontramos aqui vivos fatos, crenças e mitos cultivados por três séculos.

Entre os tipos humanos, encontramos aqui: o jangadeiro e a mulher rendeira no litoral, o valoroso vaqueiro e o agricultor no sertão e o homem do engenho da rapadura do cariri.

 

UM POUCO DE HISTÓRIA...

Antonio Cardoso de Barros deveria ter sido o primeiro colonizador do Ceará, mas antes de chegar ao Brasil sofreu um naufrágio, nas costas de Alagoas. Junto com o bispo D. Pedro Fernandes Sardinha, foram devorados pelos índios caeté. A terra passou para Pero Coelho de Souza, que fundou a Nova Lusitana.

Outro grande colonizador foi Martim Soares Moreno. O Moreno dos índios, sentia-se em casa, vivia nu, pintava o corpo e aprendeu a falar a língua dos donos da terra. Foi Moreno quem ajudou a expulsar os franceses e holandeses do Ceará. E, foi ainda Moreno, que inspirou José de Alencar a escrever o romance "Iracema".

A presença do negro no Ceará foi pequena, pois lá não existiam canaviais. A fonte de toda riqueza desta região era a pecuária. Outra de suas riquezas á a carnaúba, produzida em sessenta municípios.

O JANGADEIRO

A jangada faz parte da paisagem de todo o Nordeste e o jangadeiro é cantado em prosa e verso pelos poetas cearenses. Um destes poetas foi Juvenal Galeno.

A jangada veio da Ásia, daí seu nome: "xanga". Foi trazida pelo navegador português, no final do século XVI. Ela se adaptou perfeitamente as condições do Nordeste brasileiro, cujas as condições da plataforma e do vento sempre foram favoráveis.

O jangadeiro vive da pesca, navegando ao sabor doce das ondas nas embarcações que os portugueses trouxeram da Índia. Este homem condicionou sua existência ao meio ambiente.

No meio à brancura angelical das areias brotam os telhados de palha das choças destes pescadores. A terra é árida, a horta reduzida, portanto o homem teve que buscar o alimento de cada dia no mar, fonte quase única de sobrevivência.

A única fruta que não é escassa é o caju e à sua sombra erguem-se os casebres. Apanhar caju é ocupação feminina. Caju rasgado do dente, mastigado com vagar, engolido com bagaço, é segundo uma tradição, remédio purificador do sangue. Dizem os jangadeiros que "Deus mandou o caju para que os pescadores não passassem fome como os matutos do sertão". E realmente, o caju está presente em todos os pratos. Na tambança, o vinho de caju. No canjirão, a castanha pilada e misturada com farinha de mandioca e mel de caju.

Aos meninos, com mais de sete anos, cabe-lhes o ofício de desencalhe da jangada do pai, ou de quem lhe peça ajuda. O mar cearense imprimi desde cedo a sua posse à alma destes homens, tanto é fato que, é este um grupo que menos imigra para outras profissões. Todos os pescadores são filhos de pescadores e entre eles existe muita disciplina e solidariedade.. A hierarquia é respeitada.

O mestre tem a função de conduzir a jangada. Seu posto é o banco-do-governo. A jangada possui duas velas, uma mestra e outra menor que chamam de "estais", mas que corresponde a "genoa" na linguagem náutica. Quando içada esta vela, o leme folga. A escota é de nylon e a bolina mede 1,40m, necessária para uma maior estabilidade. A velejada toma duas direções: "contra-vento"e "través". A navegação é rudimentar, sem uso de equipamentos, nem mesmo uma bússola. O jangadeiro memoriza o lugar de pesca na cabeça e traça uma rota, sem muito comprometimento. O proeiro fica onde melhor equilibrar a jangada e também é responsável de caçar e folgar as velas. Cabe-lhe, além disso, o recolhimento da pesca que é colocada no samburá.

O jangadeiro é o herói anônimo cantado e louvado pelos cancioneiros. Ele foi também, o primeiro brasileiro a negar-se de transportar negros escravos, pois sempre acreditou que todas almas são livres para voar pelo mar verde-esperança, cujas vagas acariciam as areias de ouro. 

No Movimento Abolicinista Cearense, surgido em 1879, um homem humilde, de cor parda e jangadeiro destacou-se, seu nome"Chico da Matilde. Ele vinha à frente dos jangadeiros, recusando-se a transportar para os navios negreiros os escravos vendidos para o sul do país. 

Chico da Matilde, foi levado para corte em sua jangada, desfilou pelas ruas recebendo, inclusive chuva de pétalas de flores, ganhando também um novo nome: Dragão do Mar. Símbolo da resist6encia popular cearense contra a escravidão, o Dragão do Mar agora designa merecidamente o Centro de Arte e Cultura de Fortaleza.

 

ÔLE MULHER RENDEIRA....     

Era uma vez uma doce mulher, que com suas mãos de fada fazia renda em uma terra de se enamorar....Por certo, tal arte tenha nascido do simples observar do beijo das ondas às areias lânguidas e que a alma feminina quis imitar na textura e desenho de sua renda.

"Onde há rede, tem renda", este é um ditado popular, mais do que certo, pois a esposa do nosso pescador, geralmente é hábil rendeira. A escassez da pesca e das colheitas agrícolas, obrigaram  a mulher a lançar mão destas habilidades para reforçar a renda familiar.As delicadas mãos femininas entrelaçam fios que compõe lindos desenhos. 

Mas os caminhos da renda sempre foram tortuosos. A renda de bilro foi de Milão para França, alcançando seu maior desenvolvimento com Luiz XIV. Em Portugal, a renda chegou no ano de 1500 e foi rapidamente difundido por Viana de Castelo, Setúbal. 

A arte da renda foi trazida para o Brasil pelas mulheres portuguesas. Onde houve maior concentração de açorianos, verificamos a presença de trabalhos de renda.

 

 

A execução desta obra se processa sobre uma almofada, onde é preso o desenho que deve ser obedecido. O papel é todo crivado de furos, onde se espetam alfinetes. A medida que os fios se tramam, os alfinetes mudam de posição. A linha é enrolada em pequenos bilros de madeira.

As rendas apresentam os mais variados tipos, algumas simples e outras mais elaboradas. São entremeios, ourelas, bicos, galões, etc. As meninas desde muito cedo já aprendem a bater oito ou nove bilros. As rendeiras mais experientes trabalham com 32 bilros, podendo chegar a 64.

Todas as rendas possuem nome de acordo com o lugar onde são produzidas, assim como também recebem sobrenome quando lhe cabem denominações tiradas dos pontos e desenhos criados pela rendeira.

.....e esta história de conto de fadas, termina em grande estilo, pois o trabalho desta mulher simples já fez sucesso de norte a sul, atravessando os oceanos, construindo pontes e conquistando o reconhecimento dos olhos mais apurados. E a renda, deste modo, tornou-se um rendável negócio que já atraiu grandes investidores. 

Texto de ROSANE VOLPATTO

  

 

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