Cauim era o "vinho" dos
indígenas tupinambás, que permitia alcançar um estado alterado de
consciência induzindo à visões premonitórias e outros fenômenos
para-normais.
A vida social e religiosa
deste povo era muito calorosa e incluía festas nas quais todos os
membros da tribo consumiam profusamente uma bebida fermentada. Tal
bebida era extraída de diferentes plantas, como a mandioca doce ou
amarga, o milho e o caju. Entretanto, a mais usual era a mandioca, que
os índios plantavam para os rituais.
Este vinho também era
feito do abacaxi, do ananás, da mangaba, da pavoca, da jabuticaba, da
batata e do jenipapo. Sua preparação era realizada exclusivamente por
mulheres jovens, mas sob o olhar atento das mais velhas. Se o homem
tomasse parte deste ritual tirariam suas virtudes próprias e seus
poderes premonitórios. Este trabalho feminino consistia em mascar as
frutas e impregná-las de saliva. Procedimento semelhante era realizado
pelos Incas no preparo de "Agna", bebida alcoólica, onde somente
mulheres mastigavam o milho para fermentá-lo.
Uma característica
importante, era que as índias que participassem deste labor deveriam
ser virgens, ou pelo menos, guardassem durante um longo tempo a
castidade. As moças bonitas também tinham preferência.
A explicação científica
para ser usada a mastigação é que a saliva ajuda na sacarificação do
amido, pelo fermento. Assim ocorre a produção de gases e elevação da
temperatura da bebida, daí a sensação de que estivesse quente.
As festas de beberagens
míticas tinham data certa para acontecer: após o nascimento de um novo
membro da tribo, a primeira menstruação da jovem índia, imediatamente
após perfuração do lábio inferior, nas cerimônias mágicas que
precediam a partida para a guerra ou seu retorno, nos rituais de
sacrifício dos prisioneiros ou durante o trabalho coletivo da tribo
para cultivar as terras. O consumo de cauim nestas ocasiões é
imprescindível. Se os índios não fabricassem o caium para beber até a
embriaguez, acontecimentos poderiam ser ruins para os membros desta
tribo.

ORGIAS
RITUALÍSTICAS

As primeiras informações
sobre estes rituais de caium foram divulgadas pelo religioso Fernão de
Cardim no século XVI.
Contava-se que o jovem
índio só poderia alcançar a condição de casado depois de participar de
uma bebedeira coletiva para festejar sua virilidade. A maioria das
vezes tais cerimoniais acabavam em grandes orgias, nas quais homens e
mulheres dançavam lascivamente até consumar o ato sexual.
Quando uma tribo decidia
pela realização de uma festa como esta, que na data acertada, acorriam
em massa na aldeia para dançar. De véspera os índios se enfeitavam e
com chocalhos nas mãos, rodeavam as cabanas à dançar, cantar
infatigavelmente a noite inteira. Durante a festividade os homens, ao
canto de hinos, recebiam das mulheres uma cuia cheia de cauim. Os
homens mais velhos observavam à distância a cerimônia, fumando
sossegadamente seus cachimbos e deliberando sobre assuntos pendentes
da tribo, depois já terem sorvido o seu quinhão de bebida. Aos anciões
era dedicada uma atenção especial, o mais idoso era sempre o primeiro
a ser atendido.
Enquanto todos cantam,
assobiam, agitam os maricás, alguns exclamam palavras de ânimo,
exaltação, buscando incentivo para suas próximas batalhas. As mulheres
igualmente aos homens podiam beber o caium. A maioria delas após o
consumo da bebida se entregavam a contorções, como se estivessem
possuídas por algum espírito.
Esgotado o caium da
primeira cabana, os indígenas passavam às seguintes, até que todas
estivessem vazias. Estas festividades podiam durar até três dias.
Durante este período ninguém comia, só interrompiam a beberagem para
fumar cachimbo. Com tanta bebida, era comum o aparecimento de algumas
brigas.
Os franceses tentaram
fabricar industrialmente o caium, mas o sucesso não foi o esperado,
pois como não usaram o sistema da mastigação, não obtinham as doses
alcoólicas exatas.
Durante o consumo moderado
do caium, os índios desenvolviam capacidades premonitórias. Assim, as
portas da percepção ficavam abertas aos participantes do cerimonial.
Imagens de grandiosas serpentes que devoravam homens e a própria
Terra, animais monstruosos e diabólicos, dilúvios que lambiam e
arrastavam consigo a selva, luzes que surgiam inesperadamente no céu
sobre os desprotegidos índios, eram uma das visões amedrontadoras que
o caium podia produzir. Porém, nem tudo era aviso de desgraça. O caium
prometia felicidade eterna para jovens noivos, sucesso nas batalhas e
saúde para os velhos.
O uso desta bebida
desapareceu com o tempo e o que sabe hoje são apenas descrições dos
primeiros exploradores do Brasil.
Texto pesquisado e
desenvolvido por
Rosane Volpatto