CABEÇA DE CUIA

 

"E quando o rio
Em cheia desce
A Cabeça-de-Cuia
Sempre aparece..."  

As criaturas aquáticas são constante na rica e pouco conhecida mitologia indígena brasileira. Elas representam o psiquismo, o mundo tenebroso e interior através do qual nos comunicamos com o deus ou o diabo. O Cabeça de Cuia é um destes seres que povoam o inconsciente coletivo, onde seu aspecto temeroso e perturbador nos faz refletir sobre sonhos e realidade.

O Cabeça de Cuia é uma entidade que vive dentro do rio Parnaíba, entre o Piauí e o Maranhão. Já foi descrito como um homem calvo, com um cabeça disforme que lembra uma cuia. Mas há quem diga, que ele se parece com um homem alto e magro, de cabelo comprido que lhe cai sobre a testa. De sete em sete anos, deve devorar uma jovem de nome Maria ou meninos que nadem nos rios, por isso as mães proíbem que os filhos se banhem. Há mulheres que deixaram de se lavar no rio Parnaíba, sobretudo nas enchentes, com medo de serem levadas por esta criatura.

A LENDA..

 

Crispim perdeu seu pai, que era pescador, muito cedo e em conseqüência deste fato, vivia em extrema miséria com sua mãe, já velha e muito adoentada. Ele abraçou a profissão de seu progenitor e pescava nas imediações do rio que recebe as águas do Rio Poti, na zona norte de Teresina.

Certo dia, após uma frustrada pescaria e cansado de tanta miséria, chegou até sua casa com muita fome. Sua mãe, serviu-lhe então, apenas um suporte com um corredor de boi. Foi a gota d'água para descarregar sua raiva e canalizar todas as suas dores e agressividade contra a pobre velha. Espancou-lhe com o corredor e ela caiu por terra agonizante, amaldiçoando o filho a tornar-se um morto-vivo, um monstro habitante das águas do Parnaíba. Somente após devorar sete Marias virgens, voltaria ao seu estado natural, desencantando-se.

Crispim, doido de desespero e tomando consciência do que fizera, sai em disparada, tomando a direção do rio, afogando-se. Seu corpo não foi encontrado, mas a partir daquele dia em diante, dizem que ele aparece nas cheias, virando as canoas, assustando mulheres e meninos, em sua frenética busca pelo descanso eterno...

Muitos pescadores já alegaram terem visto o Cabeça de Cuia com sua grande cabeça calva que se agarra às embarcações e tenta virá-las com seus ocupantes. Um aspecto que impressiona muito, segundo algumas testemunhas da aparição desta criatura, são seus enormes olhos vermelhos, que espreitam de forma apavorante suas vítimas.

Cabeça-de-Cuia
Letra e música: Pedro Silva

Remeiro valente do rio Parnaíba
Que rema a canoa pra baixo e pra riba
Que brinca com a morte e tem pouca sorte
Desprezando a vida contente a lidar

Remeiro valente lá do meu sertão
Que afronta a torrente e sorri do trovão
Que rompe o balseiro no mês de janeiro
Nas grandes enchentes que descem pro mar

Já viste o cabeça-se-cuia apontar
No meio do rio e depois afundar?
É o filho maldito por pragas aflito
Castigo tremendo que a lenda sagrou

Se vires um dia a cujuba surgir
No meu do rio e depois imergir
Não é ilusão, é assombração
A alma maldita, Crispim pescador

Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto

Bibliografia:

Lendas do Rio Grande do Sul - Dante Laytano - Publicação n. 7 da Comissão Estadual do Folclore do Rio Grande do Sul; RJ; 1956