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BARBA
RUIVA, O DUENDE FILHO DE IARA
"As
fábulas e as lendas, são estórias que devem ser
contadas e recontadas, para que não se percam as
vigas mestras da formação de um povo"
Rosane Volpatto |
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Um
mundo de mistérios nos envolve. Por detrás das lendas há
um novo mundo que nos aguarda. Um mundo que vive dentro
de nós e que aspira reflexões, mas raramente damos
ouvidos a esta "voz interior", que nada mais é do que a
nossa consciência-intuição que busca apresentar soluções
para os nossos problemas, dos mais insignificantes aos
mais importantes. Somente o diário exercício da
compreensão e da paciência nos abrirão as portas para
este mundo silencioso e tão íntimo.

Para
mantermos nosso equilíbrio, precisamos manter unidos o
interior e o exterior, o visível e o invisível, o
conhecido e o desconhecido, o temporal e o eterno, o
antigo e o novo. E...nenhuma outra pessoa pode
empreender esta tarefa por nós!
A Lenda
do Barba Ruiva nos fala de como uma "voz" pode ficar
aprisionada e sofrer com a indiferença daqueles que não
querem ouvir.

A LENDA...
Esta é
uma lenda popular sobre a Lagoa de Paranaguá no Piauí,
que por volta de 1830, já era conhecida. Conta-se que de
tão pequena (a lagoa), era quase uma fonte e que cresceu
por encanto. Tal magia aconteceu mais ou menos assim:
Na
Salinas, ponta leste do povoado de Paranaguá, vivia uma
viúva muito pobre com três filhas. Certo dia, a sua
filha mais nova adoeceu sem que ninguém conseguisse o
fato que produzira tal moléstia. Permaneceu triste e
pensativa até que descobriu que esperava um menino de
seu namorado que morrera, sem ter tido a oportunidade de
levá-la ao altar.
Chegando
ao tempo de dar à luz ao bebê, a moça embrenhou-se nos
matos, porém, arrependida, resolveu abandonar a criança.
Deitou o filhinho em um tacho de cobre e colocou-o
dentro da lagoa. O tacho afundou, mas foi trazido à tona
pela Iara, que tremia de raiva e amaldiçoou a moça que
chorava à beira da lagoa.
Enraivecida, a Iara provocou o crescimento das águas,
que em uma enchente sem fim, alagavam, encharcavam e
aumentavam sem cessar. "Tomou toda a várzea, passando
por cima das carnaubeiras e buritis, dando onda como
maré de enchente na lua", nos conta Câmara Cascudo.
Desde então, a lagoa tornou-se um lugar mágico, onde se
ouvem estranhas vozes e observam-se luzes de origem
desconhecida.
Todos os
que já se atreveram a morar às margens da lagoa, tiveram
que fugir assustados, pois durante à noite, ouviam o
choro de um bebê, procedente do fundo das águas, como
que solicitando o peito da mãe para alimentar-se. Mas,
com o passar dos anos, o choro cessou.
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Conta
ainda a lenda, que às vezes surge das águas um ser
humano que pela manhã é um menino, ao meio-dia um
rapaz de barbas ruivas e, pela noite, um velho de
barbas brancas. Muito tímido, foge dos homens quando
é visto, porém aproxima-se das moças bonitas para
observá-las e depois foge. Este é um dos motivos
pelas quais as mulheres evitam de lavar roupas
sozinhas.
O
Barba Ruiva, como ficou conhecido, é tido como filho
de Iara, a Sereia. Pacífico, a entidade não fere e
não maltrata ninguém e é tido como um duende bom. A
sina à qual está preso, só terminará quando uma
mulher atirar sobre sua cabeça algumas gotas de água
benta e algumas contas de um rosário, para convertê-lo
então, ao cristianismo. |

Bibliografia
O Folklore
Piauiense - Leônidas e Sá (Litericultura, II, 125-128 e
363-370)
Folklore no
Brasil - Basílio de Magalhães
Lendas Brasileiras - Câmara
Cascudo



  
 


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