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A
ÁGUIA SAGRADA

"O
que é o homem sem os animais? Se todos os
animais fossem os homens morreriam de uma grande
solidão de espírito. O que ocorre com os
animais, breve acontece com o homem. Há uma
ligação em tudo. O que ocorrer com a terra
recairá sobre os filhos da terra. O homem não
tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um
de seus fios."
A
águia é considerada a "Rainha dos Pássaros",
mensageira ou a substituta do fogo celeste e da
mais alta divindade urânica. Considerada a
substituta do Sol tanto na mitologia asiática e
norte-asiática como nas mitologias ameríndias do
Norte e do Sul, em particular, entre os índios
das pradarias e entre os astecas. Também no
Japão, o Kami, cujo mensageiro e montaria é uma
águia denominada a águia do Sol.
Na representação do universo dos índios zuni, a
águia é colocada, com o Sol, no quinto ponto
cardeal (que é o zênite), isto é, no eixo do
mundo. Em pesquisas compulsadas, encontramos uma
concepção similar entre os gregos, onde as
águias, tendo partido da extremidade do mundo,
pararam na vertical do omphalos (umbigo) de
Delfos, o eixo do mundo.
Dotada dessa extraordinária força solar e
urânica, a águia tornou-se naturalmente ave
tutelar, iniciadora e psicopompa. Assim era
entre os antigos povos indo-europeus e, em todo
o mundo, a lama xamà é levada pela águia (morte
e vôo extático). O xamanismo, do Oriente ao
Ocidente, conservou essa simbólica, que se
encontra tanto na Sibéria como na América do
Norte. Entre os índios norte-americanos pavitso,
um bastão ornado com pena de águia, carregado
por um xamã, é posto sobre a cabeça do doente e
o mal é levado, exatamente como o xamã o é pela
águia em seus vôos mágicos. Na mesma área
cultural, uma águia constrói o ninho no alto da
árvore cósmica e cuida, como um remédio, de
todos os males contidos em seus ramos.
A
águia também é iniciadora e regeneradora,
trazendo em si tanto o poder da vida como o da
morte. Assim, a grande águia que salva o herói
Töshtük do mundo terreno é iniciadora psicopompa.
Só ela pode voar de um mundo para o outro.
Engole o herói moribundo, refaz-lhe um corpo em
seu ventre e restitui à vida, pondo-o no mundo
uma segunda vez. Esse poder de regeneração por
absorção está presente em muitos mitos
inicáticos
Em um mito siberiano, o Altíssimo envia a águia
para levar socorro aos homens atormentados por
maus espíritos, que lhes trazem doença e morte.
Mas, como os humanos nào compreendem a linguagem
da mensageira, o Altíssimo diz a águia que dê
aos homens o dom de xamanizar. Ela desce à
terra e engravida uma mulher, que dá à luz o
primeiro xamã.

A
Tradição Ocidental também dotou a águia de
poderes extraordinários que lhe permitem pôr-se
acima das contingências terrestres. Assim, de
acordo com os bestiários da Idade Média, quando
a águia envelhece, suas asas se tornam pesadas e
sua vista perde a agudeza; mas, em vez de
sucumbir à velhice, ela procura uma fonte,
depois voa na direção do Sol, para consumir suas
asas e queimar a inflamação de seus olhos sob
seus raios ardentes, que só ela é capaz de ousar
fixar. Em seguida, retorna à fonte e banha-se
três vezes nela; logo suas asas reencontram a
força e o vigor de sua juventude, seus olhos
clareiam e ela volta a ser tão jovem e vigorosa
quanto antes. A águia sempre foi considerada uma
rara criatura que consegue fixar o Sol sem
queimar os olhos e sem sequer pestanejar.
"Os homens da medicina", ou pajés, confeccionam
varas sagradas ornadas com penas de águias e
colocam-nas nos cantos das sementeiras para
obterem aos seus donos safras abundantes. Que
procuravam, por assim dizer, o contato da águia
com seus campos parece basear-se sobre a ilação
comum entre os índios, que da força, deve sair
de qualquer maneira a força, do mesmo modo que o
veado comunica velocidade para quem come a sua
carne.
Mas para ter à disposição estas forças
misteriosas, não bastava apoderar-se dos reis da
avifauna, mas também ser sustentados e nutridos
com esmero. A caça à águias, sempre eram
precedidas de certas cerimônias: acendiam, por
exemplo, uma grande fogueira, onde chagavam-se
todos os caçadores a ela e começavam a rezar e
inclinar reverentes a cabeça e em seguida passam
as armas pela fumaça da fogueira para atraírem a
si e as suas armas a benção da divindade.

A ÁGUIA E SUA FACE OCULTA...
Como todo símbolo, também a águia tem sua face
oculta, sombria, noturna e maléfica. O exagero
da qualidade e seus excessos, transforma-a em
defeito. O valor positivo então, torna-se
negativo, o poder se depurta. Este dualismo do
símbolo é observado entre os índios pawnee da
América do Norte. Na tradição deles, a água
parda fêmea, é associada á noite e á escuridão,
à Lua, ao Norte, à Mãe primordial em seu aspecto
terrível, ao passo que a águia branca macho,
recebe sua natureza profunda da luz do dia, do
Sol, do Sul, do Pai primordial, cujo aspecto
paternalista e protetor às vezes se tornam
dominador e tirânico. A águia maléfica encarna,
pois, a astúcia e a tradição a serviço da
tirania, o poder da força bruta, os valores
masculinos destruidores.
A
pena da águia e o apito feito do seu osso são
utilizados como instrumento de cura pelas tribos
ameríndias.

NA COSMOGONIA AMERÍNDIA - PÁSSARO-TROVÃO
Na cosmogonia ameríndia, a águia é representação
material do Grande Pássaro Trovão, pássaro
sobrenatural que se dissimula nas nuvens de
tempestade, cujos olhos lançam raios e cujas
asas gigantescas, quando batem, produzem os
ribombos do trovão.
O
Pássaro do Trovão, enquanto encarnação da voz do
Grande Espírito, é escoltado por uma multidão de
espíritos menores, que têm a forma de águias ou
falcões. Assim, a águia evoca não só o trovão,
mas também o raio, cuja semelhança vemos nas
flechas. E essa flecha, o raio, é do Sol. Por
assimilação, a águia se torna, portanto, a
representação do próprio Sol, Sol que na
cosmogonia ameríndia, ocupa o lugar supremo da
escala das manifestações de Waran-Tanka, o
Grande Espírito Criador.
Na tradição helênica, a águia é atributo de Zeus
(possuidor do raio e do relâmpago); em Roma
antiga, era o emblema de Júpiter e entre os
astecas o Sol (Tonatiuh) era invocado como o
resplandecente, como a águia que sobe. No Egito
Antigo, o falcão (versão norte-africana da
águia) era a forma material do deus hórus. Ele
era também mensageiro de Rê, o deus Sol,
representado com a cabeça de falcão. Na
mitologia nórdica, um capacete fourado ornado
com grandes asas de águia, é usado pelo deus
supremo Odim, intimamente ligado à tempestade,
ao trovão e ao raio de Caça selvagem, horda
aérea que ele conduz com as Valquírias, nas
noites de tempestades.

Texto
pesquisado e desenvolvido por
Rosane Volpatto
V

Bibliografia consultada:
O
Simbolismo Animal - Jean-Paul Ronecker
Les
Indiens de la Prairie - George Catlin
Dictionnaire symbolique des animaux - Dom Pierre
Miquel
De
Natura Animalium - Claudius Aelanius
Mythologie zoologique - A. de Gubernatis
Dictionnaire de mythologie celtique - Jean Paul
Persigout
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