~*~ISOLDA, A DAMA DE VERGEL~*~

  ISOLDA, A DAMA DE VERGEL

 

A história de Isolda e Tristão é a mais famosa lenda celta, que nos chegou a partir do século XII, através de textos fragmentados. Por detalhes da história, se trata de uma lenda pancelta, pois encontramos, atestando uma trama original, elementos bretões, gauleses, córnicos, pictos (em particular, o nome de Tristão) e irlandeses. Todos os elementos se fundem num grande épico cuja beleza poética está fora de dúvida. Com a lenda de Isolda e Tristão possuímos uma das obras mestras da humanidade.

Os textos mais antigos são franceses, mais exatamente anglo-normandos, pois os normandos, senhores da Inglaterra, constituíam, no século XII, os intermediários constantes entre os bretões e os franceses.

Tristão é filho de Rivalen de Loonois e da irmã do rei Mark de Cornualha. Tinha sido criado o Rohald o Fiel, e confiado ao ginete (cavaleiro) Gorvenal. Aprende a arte da caça, a arte militar e também a música e poesia. Sobressaía-se tocando harpa, cantando e compondo. Com a idade de 15 anos é levado a mansão do rei Mark, em Tintagel, o qual o acolhe em sua corte sem saber quem ele é. Três anos mais tarde, chega o prazo do tributo por o rei Mark ao rei da Irlanda, trezentos jovens do sexo masculino e trezentas donzelas eram reclamados a cada cinco anos por um temível guerreiro, Morholt, irmão da rainha da Irlanda, a menos que um cavaleiro de Cornualha se oponha  a ele.

Entretanto, Tristão é ferido pela espada envenenada do gigante e sabendo que a cura é impossível, pede para ser abandonado em uma canoa sem remos nem velas, ao sabor da brisa do mar.

A pequena embarcação fica à deriva e costeando a margem, é encontrado e recolhido por duas mulheres loiras e muito belas, que são a rainha da Irlanda e sua filha, ou seja, a irmã e a sobrinha de Morholt. Ambas se chamavam Isolda e todas as duas praticavam magia e possuíam o dom da cura. Ignoravam, entretanto, que o homem que elas estavam curando era o assassino de seu parente. Ninguém arrisca-se a enfrentar Morhold, exceto Tristão, que decide ir combatê-lo, desvendando sua verdadeira identidade ao tio. O combate tem lugar na Ilha São Sanção. Tristão resulta ferido pela espada envenenada  de Morholdt, porém fere mortalmente a este, inclusive arrancando-lhe a cabeça.

Tristão é festejado como herói, porém sua ferida se agrava e os esforços médicos são inúteis. Ele pede então para que o deixem partir em um pequeno barco à vela, com provisões e sua harpa: navegará até sua morte ou cura. Assim é feito. No quinto dia, Tristão atraca na Irlanda. Ali  é tratado e curado  pela rainha  e sua filha Isolda. Havia ocultado sua identidade e disse chamar-se Tantris. Como agradecimento a rainha, dá lições de canto e harpa a jovem Isolda.

 

Depois, retorna ao castelo de seu tio, em Tintagel, e desta vez, enfrenta o ciúmes dos outros sobrinhos do rei Mark. O rei não tinha filhos, pois não era casado, e todos sabiam de sua preferência por Tristão para o suceder. Pressionado pelos nobres , Mark afirma só se casar com uma mulher a quem pertença um longo cabelo dourado que uma golondrina acaba de deixar cair. Tristão imediatamente reconheceu o cabelo como pertencente a Isolda e se oferece ao tio para ir pedi-la em casamento.

Tristão parte disfarçado de mercador e chega novamente a Irlanda. Para obter a mão da filha do rei, vence um dragão que estava devastando a região. Ferido, desta vez pelo dragão, Isolda volta a curá-lo.

Tristão é o assassino de Morholdt e só lutou pela mão de Isolda para oferecê-la ao seu tio, o rei de Cornualha, tradicional inimigo da Irlanda.

A mãe de Isolda prepara uma poção a base de ervas do amor, um filtro mágico, que tinha o poder de fazer nascer um amor profundo e verdadeiro entre as pessoas que o bebam. Confia-o a Brangien, a aia de Isolda, para que essa só sirva a sua filha e ao rei Mark na noite de núpcias.

 

Quando Tristão e Isolda estão a bordo do navio acabam bebendo por erro o filtro, e instantaneamente caem vítimas de um amor profundo, uma paixão desenfreada, a qual se abandonam por completo já que avistam ao longe as costas de Cornualha.

Mas não tinha como voltar atrás e Isolda casou com o rei e, na noite de bodas, é Brangien, sentindo-se culpada pela confusão do filtro, quem ocupa o lugar de sua dama no leito nupcial, para que Mark não descobrisse a traição dos amantes. O casamento não foi obstáculo para Tristão e Isolda, que, vítimas do filtro, se reúnem sempre que podem. Seu lugar preferido é um vergel, um lugar cerrado ou um jardim, onde os amantes reconstruíam um estado primitivo parasidíaco. Por isso, Isolda ficou conhecida como a Rainha do Vergel.

Os adversários de Tristão buscavam mil maneiras para avisar o rei sobre a traição. Um certo dia, os amantes são descobertos e condenados a morrer na fogueira.

Graças a sua astúcia e força física, Tristão consegue evadir-se e libertar Isolda que havia sido entregue aos leprosos.

 

Perseguidos pelo rei refugiam-se na praga do Morois, onde vivem livres e felizes muito tempo, mas enfrentando as dificuldades da vida selvagem. Tristão é um excelente caçador, fabrica um arco "que nunca falha" que lhes assegura o sustento. Músico maravilhoso, com as notas retiradas de sua harpa consegue distrair Isolda.

Depois de muitas aventuras, Isolda irá se reconciliar com o rei. Algumas versões da lenda, diz que o filtro tem duração de três anos e ao final desse Isolda retorna para Mark. Mas a condição para reconciliação era que Tristão deveria abandonar a corte do rei Mark. E assim ele fez, embarcando para a pequena Bretanha continental.

Lá chegando, ajuda o conde Hoël a vencer seus inimigos. Esse concede então a mão de sua filha, a bela "Isolda das mãos brancas". Tristão consente no matrimônio, justamente por causa do nome da princesa, mas nunca terá contato físico com ela, pois seu corpo e seus pensamentos seguem pertencendo a outra Isolda.

 

Passa um tempo e depois de muitas batalhas, Tristão é ferido por uma lança envenenada. Sente sua vida esvair-se e sabe que só a "Isolda a Loira" poderá curá-lo. Manda mensageiros pedindo que viesse salvá-lo. Se conseguirem realizar a missão, deverão ao retornar colocar uma vela branca na embarcação, si não, uma vela negra. "Isolda das Mãos Brancas", sua esposa, debate-se entre o amor de Tristão e os ciúmes frente a outra Isolda.

Os mensageiros cumprem a missão e trazem "Isolda, a Loira", em seu socorro, mas enfrentam uma grande tempestade e depois uma calmaria. Finalmente, quando estão quase chegando no porto, Tristão já não tem mais força para manter sua vida, mas ainda pergunta que cor era a vela da embarcação que chegava. A esposa, que sabia do acordo  que fizera com os mensageiros, anuncia ao marido que a vela é negra. Tristão morre e quando "Isolda, a Loira" chega ao palácio, morre também. Assim, os amantes se reúnem na morte e, quando os enterram lado a lado, em tumbas diferentes, uma vinha e um rosal surgem em cada uma das tumbas e se entrelaçam e não foi possível separá-las.

INTERPRETAÇÃO DA LENDA

ISOLDA, A MULHER-SOL

Tristão, antes de conhecer Isolda, se encontra em um estado de latência, de consciência indiferenciada. Seria como o Adão primitivo antes de experimentar a maçã que lhe oferece Eva.

Tristão, depois de Isolda, transforma-se em um "Homem Novo": desterrado do reino, exilado em um bosque, à margem da lei e adúltero. É o segundo Adão, o qual se vê nu depois da "culpa", isso é, revela-se consciente de si mesmo e deve pagar por seu amadurecimento de consciência com a luta constante contra um universo, que agora havia se tornado hostil.

Tudo isso, parece muito com as provas iniciáticas, no centro das quais brilha em todo seu esplendor a personagem solar da Mulher: seja ela Isolda ou Eva. Porém, se Isolda sai magnificada  do juízo moral emitido pela opinião pública (o filtro do Amor redime tudo), a desgraça de Eva é ser considerada pela mesma opinião como responsável de todos os males que afligem a humanidade. É bem evidente que Isolda e Eva são rostos de um único personagem, a Mulher Sol, a iniciadora, a reveladora, sem a qual a humanidade, representada no mito por Tristão ou Adão, não poderia ter saído da inconsciência, ou seja, não existiria.

Todas as "Grandes Deusas", tiveram sua hora solar fecundada pela lua, estéril e passiva. A essa hierogamia invertida, comum em numerosas místicas, é que nos convidam a maioria das epopéias celtas. O amor, a nível da alma, no é só um desejo brutal impulsivo, e sim uma amor divinizado. Pode-se dizer, que o que se considera "culpa" desde a redação truncada da "Gênesis", não tem na realidade, nenhuma conotação moral senão que concerne unicamente a um passo de um nível de consciência a outro, passo que só a Mulher, inclusive está de acordo nessa versão truncada e moralizadora, era capaz de provocar e chegar a término.

 

A mulher celta, tal como aparece nas lendas, não faz mais do que refletir um estado anterior que viu a preeminência da "Mulher Sol" como símbolo revelador. Tristão não existira como indivíduo sem a presença de Isolda, igual a Lua que se tornaria invisível, sem a luz que lhe chega do sol. Daí, a constatação dessa perspectiva singular de que, a Lua, com sua umidade, se converte em mediadora do calor do Sol fecundante, transformando seu braseiro em fogo suave, para fertilizar a Terra.

É por isso que fala-se em "fogo" da paixão e poetas de todas as épocas exaltam a "chama ardente do amor", a tal ponto, que essa imagem passou a ser freqüente na literatura universal. No fundo, essas expressões não passam da reatualização de um tema muito arcaico da tradição celta que foi conservado através de suas diversas flutuações e encontra seu apogeu poético no texto de "La folie Tristan", provavelmente a mais alta expressão da feminilidade.

Segundo esse texto, manuscrito de Oxford, o casal foi morar no Palácio do Sol que é todo de cristal, pavimentado de mármore. Esse palácio é um lugar de regeneração, onde se operam sutis metamorfoses que poderíamos classificar de alquímicas.

 

O que caracteriza o Palácio do Sol é a luz, que evidentemente se opõe as trevas do "Caos primordial", matéria prima dos alquimistas, consciência ainda não madura de Tristão antes de seu encontro (sua conjunção) com Isolda. Essa, portanto, é o sol nascente que vem iluminar o mundo indiferenciado. O Palácio é a "matriz divina" de onde procede a noção da divindade feminina primordial que se impõe a humanidade há milênios, quaisquer que sejam as ideologias religiosas dominantes.

A mulher, portanto é a chave de toda a Criação, e particularmente da "segunda criação" do humano, quando o sol consciência inunda as trevas da lua inconsciência, quando Tristão se desperta ao contato com Isolda.

Isolda, antes de conhecer Tristão era a totalidade, porém não tinha consciência disso, pois não havia realizado nenhum processo funcional que a justificasse. O mesmo acontece com  "A Bela Adormecida", que só alcança seu segundo nascimento com o beijo do príncipe, o qual, mediante um gesto e mediante o contato com a Mulher Sol adormecida, ascende um grau superior de consciência (e de conhecimento).

O MEDO DO FEMININO

Toda a criança do sexo masculino, no início, experiencia a qualidade da "anima" (Feminino) na mãe. Mas o desenvolvimento do relacionamento com a "anima" leva para longe a mãe,e a um relacionamento com uma mulher da mesma idade que já não pode ser identificada com a mãe, mas inicialmente como irmã. A tarefa do homem adulto é entrar em um relacionamento com sua contraparte como "tu" feminino inteiramente desenvolvido, mas essencialmente diverso.

 

O dragão que Tristão enfrenta antes de receber a mão de Isolda em casamento, representa a batalha que enfrenta para se libertar do Feminino materno para tornar-se um "tu" autônomo e independente da dominação da mãe no relacionamento primal. Faz parte do desenvolvimento normal do ego masculino como herói que ele tenha êxito em resgatar o "Feminino" da dominação materna. Essa libertação é pré-requisito para o "hierosgamos" com o Feminino, o casamento fecundo num relacionamento do "Eu" com um "Tu" enquanto "não-Eu". Esse relacionamento é sagrado, porque, para ambos os parceiros, constitui o pré-requisito para o desenvolvimento do "Eu" no qual os opostos estão contidos e a inteireza pode ser obtida. Mas a libertação da "anima" pressupõe uma outra batalha com o dragão, independentemente do conteúdo ao qual está associada a figura do dragão, e naturalmente, o ego receia essa batalha.

Assim, o segundo medo importante do Feminino, que aparece ao lado do medo da mãe, é o medo da "anima" como medo da transformação à qual irá forçá-lo a libertação da "anima" do âmbito do dragão e a confrontação com a alteridade independente do Feminino.

 

Em virtude do caráter transformador sempre pedir algo novo, a "anima" é o lado da psique masculina associado ao Feminino que atrai o homem à aventura, à conquista do novo. Mas também está associado negativamente a tudo aquilo que significa ilusão e desilusão e, de fato, como loucura significa um perigo real. Assim como o herói Tristão não pode existir sem a conquista do perigo, o indivíduo do sexo masculino não pode se desenvolver sem entrar no perigo incalculável que a transformação exige.

As perturbações produzidas pelo medo do Feminino no homem adulto são caracterizadas essencialmente pela fixação do medo à mãe (complexo da mãe) ou fixação do medo à anima (complexo da anima). O complexo da mãe é o mais precoce e aquele que tem efeitos mais profundos, ao passo que uma perturbação que se limita à "anima" pressupõe um certo grau de desenvolvimento bem sucedido, e, conseguinte, uma maior possibilidade de adaptação.

Uma fixação total na mãe pode levar a uma falência completa de desenvolvimento. Aqui encontramos os solteiros e excêntricos que ainda moram com as mães e desmoronam completamente quando ela morre.

Há entretanto, o masculino ameaçador, que volta-se contra o relacionamento pessoal com a mãe e nele, vemos o elemento paterno paterno, que não apenas "castra", mas também proíbe categoricamente Feminino, exigindo virilidade do filho, isto é, seu heroísmo e renúncia à mãe e se apego à ela, que é a pré-condição para autêntica, e coletivamente exigida, masculinidade individual. Nessa categoria, encontramos homens inteiramente capazes de lidar com um emprego, mas são impotentes ou fixados numa perversão específica, ou que somente são capazes de manter um relacionamento homossexual.

O medo avassalador do Feminino também pode resultar em uma incapacidade de se comprometer com uma única mulher. Toda forma de auto-proteção masculina, até mesmo, a ideologia patriarcal do "Feminino negativo", repousa em um desenvolvimento insuficiente do masculino, seja porque o indivíduo do sexo masculino teme o caráter vinculador, repressor, do Feminino predominante da mãe, ou o oposto, o caráter transformador incorporado na anima que  não vai "deixá-lo em paz".

Nunca devemos nos esquecer de que, para o homem, o Feminino como "inteiramente outro" significa e deve significar algo numinoso, e sem o confronto inevitável com esse numinoso, com esta outra metade do mundo, nenhuma vida pode alcançar seu potencial de maturidade e inteireza.

O AMOR MÁGICO

Só quem vive uma vida mágica, sabe o quanto o amor é poderoso, pois é ele que molda nossos corações.

Dizer "eu te amo" pela primeira vez a uma pessoa é um ato repleto de mistério, espanto e perigo. Mas, dizer essas três palavras é ainda, um ato de poder altamente energizado. O poder da palavra não é um ato banal e por isso, pensamos e escolhemos as palavras cuidadosamente, pois só o poder da palavra nos ligará àquele que amamos. Inclusive não é preciso ser um grande poeta para escrever versos ou poemas quando estamos apaixonados. Portanto, comece você agora a escrever um soneto e encantamento pedindo sabedoria para discernir o que é necessário para sintonizar-se com o verdadeiro amor ou a coragem de abrir sua vida ao amor. Os dois objetivos são extremamente válidos, já que os maiores obstáculos ao amor são a ignorância do que é o amor e o estilo de vida e por vezes egoísta, onde não há espaço para o amor.

Para aumentar a força mágica do amor use a "chuva das fadas" (orvalho), pois seu poder repousa em origens misteriosas. O orvalho é a umidade natural da terra que aparece da noite para o dia, enquanto ela (terra) sonha. No mundo das Fadas, o orvalho é especial por sua beleza e fragilidade.

Você pode realizar um ritual muitos simples para ativar o poder do amor se utilizando desse elemento mágico da natureza. É só acordar cedinho, antes do amanhecer e colha algumas folhas ou graminhas úmidas de orvalho. Examine-as bem de perto e em seguida, ofereça-as aos quatro pontos cardeais, traçando um círculo informal em torno de si. Vire para o leste, levantando as folhas e diga:

"Esfrego esse orvalho das Fadas na minha cabeça para que seja invadida de pensamentos de amor". Esfregue as folhas na testa.

"Esfrego esse orvalho das Fadas no meu coração para que transborde de sentimento de amor". Esfregue as folhas no peito.

Depois guarde as folhas para lembrar da magia. Junte um pouco de orvalho numa garrafa, passe um pouco em seu amor ou guarde-o para qualquer outra magia.

 

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO

 

Bibliografia consultada:

La Mujer Celta - Jean Markale

Les Celtes - H. Hubert

La Mythologie Celtique - Y. Brékllen

 






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