IBAGÉ

 
Esta é uma versão da lenda de Ibag-é, segundo Walter Spalding:
 
Dizem que existiu, na Serra de Santa Tecla, uma tribo de índios que jamais se reuniu com com os Povos das Missões Orientais do Uruguai, dirigidos pelos padres da Companhia de Jesus.
 
Esta tribo, prezava muito por sua liberdade e escolheu viver sem lei e sem rei, como nos primórdios dos tempos. Acredita-se que eles tenham vindo do noroeste, da própria zona missioneira, que inconformados com a nova ordem estabelecida pelos jesuítas, foram descendo para o sul, radicando-se por fim na serra de Santa Tecla.
 
Como toda a tribo nômade, obedeciam sempre a um chefe, que era ao mesmo tempo conselheiro e médico, ou seja, um pajé.
 
Dentre os que dirigiram este povo, um se destacou pela sua vida e pela sua austeridade: IBAHÊ ou IBAG-É, que teria surgido vindo do céu, isto é, que apareceu nas proximidades da nascente do rio que mais tarde seria denominado de Bagé.
 
Logo que chegou, disse:
 
- "Sou enviado de Tupã, cheguei de Ibag (céu) esta manhã, nos raios dos raios de Jaci (Lua), e aqui estou para dirigi-los!"
 
Em seguida, reunidos os tuiabaé (anciões e conselheiros) da tribo, foi o recém-chegado reconhecido e, desde então, denominado de Ibahê ou Ibag-é.
 
Quando portugueses e castelhanos resolveram conquistar suas terras, a tribo de Ibagé foi obrigado a entrar em luta.
Embora não fossem grandes guerreiros, eram entretanto, exímios arqueiros e lançadores de bolas, tanto que puseram a correr o inimigo nos primeiros enfrentamentos. Foi neste momento, que surgiu, vindo das Missões, o bravo Sepé Tiarajú, também disposto a expulsar o invasor.
Ibagé agora com idade avançada e muito cansado, não pode acompanhar os guerreiros na empreitada, mas enviou seus homens para engrossar a legião vingadora dos donos da terra. Ele ficou meditando, no cume dos cerros, em contato com o deus Tupã, o verdadeiro dono de tudo.
 
Ao ter conhecimento da derrota de Sepé Tiaraju, encheu-se de tristeza e dor, mas não esmoreceu, antes pelo contrário, revitalizado em sua fé e em seu amor telúrico, reuniu seu povo e partiu ao encontro do valente chefe missioneiro. Lado a lado, iria lutar com ele, em defesa das terras que sempre foram deles.
 
O encontro dos dois bravos chefes foi emocionante. Uniram forças e legiões, marcharam para lutas mais perigosas, pois teriam que enfrentar dois exércitos: o espanhol comandado pelo Marquês de Valdelírios e o português comandado por Gomes Freire de Andrade.
 
Em Caibaté, finalmente, encontraram-se as forças. Sepé, após tremenda batalha, perde 1.200 homens, e é morto.
 
Ibagé assiste os últimos momentos do heróico chefe missioneiro e constata a subida ao céu de sua alma de santo guerrilheiro, e vê fixar-se lá no céu, naquele azul que cobre aquela rechã bendita, ensopada em sangue de seus filhos, o brilhante lunar que Sepé trazia gravado na testa, formando a maravilhosa constelação do Cruzeiro do Sul.
 
Volta então, para sua terra, com sua gente desfalcada, mas disposta, tanto que, daí em diante, conseguiram isolar por completo as terras de Ibagé, afastando delas os conquistadores.
 
Um dia, enquanto, a natureza sorria festivamente, toda em flores, frutos e cantos, um pio lúgubre de coruja, ao anoitecer, prenunciou que algo de ruim estava para acontecer e tanto era certo, que até os quero-queros pareciam soluçar...
Os anciões reuniram-se e correram para a cabana de Ibagé, esperando que ele lhes explicasse o que aquilo significava.
Mas já era muito tarde! Ibagé dormia o sono eterno embalado em sua rede. Puderam entretanto, ver sua alma subir ao céu, muito brilhante, e pousar, serenamente, quase no centro do Cruzeiro do Sul, que era o lunar de Sepé. E lá permaneceu para sempre, formando a quinta estrela da magnífica constelação sul-brasileira.
 
Em memória a este grande pajé indígena, os cerros, o rio, e toda aquela rechã, receberam seu nome sagrado, Ibagé, que os portugueses e castelhanos, depois, deturpando, denominaram Bagé, a terra encantada do índio que viera do céu e se estabelecera nas margens do murmúrio arroio que, no seu manso correr, parece soluçar, ainda hoje, o nome do grande amigo:
 
- IBAGÉ...IBAGÉ...IBAGÉ...

 
Texto pesquisado e desenvolvido por
Rosane Volpatto

 

Bibliografia:

Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul - Antonio Augusto Fagundes

 

 

 

 

 

 

 

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