~*~A LUTA POR HELENA~*~


 

A LUTA POR HELENA

 O NASCIMENTO DE HELENA

Leda, filha de Téstio, rei da Etólia, era casada com Tindaro, filho de Ebalo, rei de Esparta, e de Gorgófone, filha de Perseu e de Andrômeda. Essa princesa despertou uma grande paixão em Zeus, que metamorfoseia-se em cisne para fecundá-la. Leda então produziu dois ovos: de um nasceram as gêmeas Clitenestra e Helena; do outro, os gêmeos Castor e Pólux.

Á primeira vista, sabe-se que Zeus tomou a forma de cisne para seduzir Leda, foi porque, para escapar de suas assiduidades ela se metamorfoseara em gansa.  A gansa é um avatar do cisne em seu simbolismo feminino, lunar e noturno. Os amores de Zeus e Leda poderiam, pois, representar a bipolarização do simbolismo dessa ave. Os gregos, aproximando de bom grado as duas acepções, diurna e noturna, fizeram dessa ave um símbolo hermafrodita, no qual Leda e Zeus formam uma só coisa na sublimação mística de sua união. Podemos ver nisso a união da ambivalência homem-mulher do ser humano e a integração dessa dupla natureza na psicologia do indivíduo.

OS IRMÃOS DE HELENA

CASTOR E PÓLUX

Castor e Pólux são os gêmeos de um dos ovos de Leda e, portanto, irmãos de Helena.

Castor era famoso como domador de cavalos e cavaleiro e Pólux, como lutador. Eram unidos por ardente afeição e inseparáveis em todos os seus feitos.

Os dois receberam honras divinas sob o nome de Dioscuros (filhos de Jove, ou Júpiter) e eram muito adorados pelos romanos. Acreditava-se que apareciam nos combates, um ao lado do outro, cavalgando magníficos cavalos brancos.

Quando Castor foi morto em uma batalha, Polúx, inconsolável com a perda do irmão, pediu a Zeus (Júpiter) que lhe permitisse oferecer sua própria vida pela do outro. Zeus consentiu que os dois irmãos vivessem alternadamente, passando um dia na terra e outro na morada celestial. Segundo outra versão, Zeus recompensou a afeição dos irmãos, colocando-os entre as estrelas, como Gemini, os Gêmeos.

TESEU RAPTA HELENA

A mulher mais bela do mundo é raptada pela primeira vez com dez anos de idade por Teseu. Ele já tinha cinqüenta anos nessa época e apaixonou-se por Helena ao vê-la dançar no templo de Artemisa na Lacônia.

Teseu era filho de Egeu, rei de Atenas e de Etra, filha do rei de Trézen, por quem foi criado. Ele com a ajuda de seu amigo Pírito a roubaram e quando chegaram perto de Atenas, a deixou aos cuidados de sua mãe, até que tivesse a idade para se casar. Essa situação provocou a primeira guerra entre os peloponenses e os atenienses. Esse rapto, longe de manchar a reputação de Helena, lhe deu mais prestígio ante aos olhos dos gregos.

Ela foi resgatada por seus irmãos Castor e Pólux, reconduzida a Esparta e, em seguida, pedida em casamento por muitos príncipes.

 

HELENA E MENELAU

Embora muitos pretendentes pedissem em casamento, Helena não decidia-se por nenhum. Tíndaro, marido de Leda, temendo a irritação daqueles a quem ela recusava sua mão, seguiu o conselho de Odisseus (Ulisses), e fez jurar todos os pretendentes que, quando a sua escolha recaísse sobre algum deles, eles se reuniriam para defendê-lo contra quem quer ousasse a disputar. A escolha acabou sendo a favor de Menelau, que era irmão de Agamemnon e estava casado com sua irmã Clitenestra.

Os primeiros anos dessa união foram felizes, até que Helena conheceu Páris, filho do rei de Tróia ou Ilion, Príamo e sua esposa Hécuba. Ele foi à poderosa Esparta como embaixador especial para tratar de um assunto delicado.

Quando Páris viu pela primeira vez Helena, apaixonou-se imediatamente pela linda moça, sentindo que não poderia mais viver sem seu amor. Helena não ficou indiferente aos olhares de Páris e à sua corte, tendo, também, se apaixonado por ele.

O JULGAMENTO DE PARIS

Todos os Deuses Olímpicos, menos Éris, Deusa da Luta e da Discórdia, uma Deusa Menor, foram convidados para o casamento de Peleu, rei de Tessália, com a bela ninfa marítima Tétis. Mas Éris apareceu mesmo sem ser convidada e resolveu vingar-se pela desconsideração. Ela interrompeu as festividades atirando uma maçã de ouro onde estava gravado "para a mais bela" entre as convidadas reunidas.

A maçã rolou pelo chão e foi imediatamente reivindicada por Hera, Atenas e Afrodite. Cada uma sentiu que a maçã era legítima e merecidamente sua. Elas não podiam, certamente, decidir entre si qual era a mais bonita, portanto apelaram pela decisão de Zeus. Ele recusou fazer a escolha, e as enviou ao pastor Páris, um mortal que sabia apreciar as mulheres bonitas; ele seria o juiz.

As três Deusas encontraram Páris vivendo a vida bucólica com uma ninfa dos montes nos declives do monte Ida. Sucessivamente, cada uma das três bonitas Deusas esforçaram-se para influenciar sua decisão com um suborno.

Hera ofereceu-lhe poder sobre os reinos da Ásia se ele lhe concedesse a maçã. Atenas prometeu-lhe vitória em todas as batalhas. Afrodite ofereceu-lhe a mulher mais bonita do mundo. Sem hesitação Páris declarou Afrodite a mais bela, e ofereceu-lhe a maçã de ouro, incorrendo portanto no ódio eterno de Hera e Atenas. O Destino acabou selando o amor que já havia sido despertado entre Páris e Helena.

Páris então, aproveita-se da ausência de Menelau, que havia empreendido uma viagem e rapta Helena, conduzindo-a para Tróia.

A GUERRA

A disputa pela mulher mais bela do mundo, Helena, desencadeou a guerra de Tróia, pois Menelau, profundamente irritado, convocou todos os príncipes do país, pois havia um compromisso de todos eles, de se unirem, se alguma coisa acontecesse a Helena. Isso porque todos eles haviam desejado casar-se com Helena, que preferira Menelau, porém, e eles, em homenagem à sua beleza, haviam firmado aquele pacto de protegê-la, unidos, em qualquer situação.

Os príncipes atenderam à convocação de Menelau, cujo irmão Agamemnon, foi escolhido para chefe da guerra que iria ser travada contra os troianos. Aquiles, o bravo Odisseu (Ulisses), o astucioso Nestor eram os chefes mais notáveis dos exércitos que foram organizados.

O grande exército navegou para Tróia, desembarcando no seu litoral e sitiando a cidade, durante dez anos. Sim, dez anos durou o cerco, durante os quais se verificaram os mais diferentes e emocionantes episódios que inventou um famoso cavalo de pau, introduzido nas muralhas de Tróia. E se não fosse a astúcia de Odisseu, a luta talvez jamais tivesse fim.

O julgamento de Páris inspirou também uma parte da mais alta literatura e drama na civilização ocidental. Os acontecimentos postos em andamento foram imortalizados na Ilíada, Odisséia e Eneida, os três grandes clássicos épicos, assim como nas tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.

O CONFLITO DOS DEUSES

Cinco Deuses Olímpicos ficarão do lado dos gregos, durante a Guerra de Tróia: Hera e Atenas (cujo partidarismo pelos heróis gregos era influenciado por sua animosidade em relação a Páris), junto com Poseidón, Hermes e Hefesto. Quatro Deuses e Deusas ficaram do lado dos troianos: Afrodite, Apolo, Ares e Ártemis.

A principal defensora dos gregos era a Deusa Hera, a Deusa do Casamento, que insistiu na continuidade da luta até que Tróia fosse destruída e Helena devolvida a seu marido Menelau. Ajudando também estava Hefesto, o Deus da Forja, que fez a couraça para Aquiles. A simpatia de Hefesto pela posição dos gregos era compreensível, pois ele fora o marido enganado por Afrodite. Já Atenas, defensora dos direitos do patriarcado, naturalmente do lado do marido legítimo.

Todos esses Deuses olímpicos representam as atitudes no interior da mulher, que agem nela para preservar o casamento. Eles vêem o casamento como voto sagrado e como instituição legítima, acreditando que a esposa era posse do marido e por isso, sentiam simpatia pelo marido.

 

Afrodite, a Deusa do Amor e vencedora da maçã de ouro, estava logicamente ao lado de Tróia. Curiosamente, da mesma forma estavam Ártemis e Apolo, os gêmeos andróginos, que podem simbolizar os papéis estereotipados para os homens e as mulheres, permitidos somente quando o poder do patriarcado é desafiado. O quarto Deus olímpico do lado de Tróia foi Ares, Deus da Guerra que, como Páris, fez amor com a esposa de outro homem. Ares foi amante de Afrodite.

Esses quatro Deuses representam elementos ou atitudes na psique de uma mulher que muitas vezes ficam unidos numa aventura. Eles representam paixão sexual e amor. Representam autonomia, uma insistência de que sua sexualidade pertence a ela e não é posse do casamento ou de seu marido. Esses quatro Deuses rebelam-se contra os papéis tradicionais e são impulsivos. Juntam forças numa aventura que pode ser vista como declaração de guerra contra o marido.

A GUERRA DE TRÓIA CONTEMPORÂNEA

Quando uma mulher casada está envolvida em uma aventura amorosa, pode ficar fortemente indecisa quanto a acabar com ela, pois sabe, que esta poderá acabar com seu casamento. O conflito que se estabelece em seu interior pode ser tão sem resolução e sem fim quanto pareceu a guerra de Tróia. Toda mulher com um "ego" ineficaz termina repetidamente a aventura, apenas para ser arrastada a ela repetidas vezes.

A guerra de Tróia é a metáfora adequada para essa situação. Helena, a razão de ser da guerra, era como um "ego" passivo no conflito entre o casamento e a aventura. O ego passivo é mantido refém, posse primeiro de um lado e depois do outro.

Quando surgem conflitos violentos na psique da mulher e o "ego" não consegue manter a ordem, então um processo ordenado não pode sequer começar. Muitas vozes se erguem e daí resulta uma cacofonia de tumulto interno, como se todas as Deusa estivessem gritando seus interesses, cada uma tentando afugentar as outras. O "ego" da mulher não consegue separar o que as vozes estão dizendo dentro dela, enquanto uma grande pressão instala-se no seu interior. A mulher em que tal desordem se instala se sente confusa e pressionada a fazer alguma coisa, num momento em que não se consegue manter os pensamentos em ordem.

Entretanto, quando esse caos se estabelece, o mais útil a se fazer é falar sobre seus medos, incertezas e impulsos conflituosos, ou escrevê-los por extenso para se iniciar o processo de separar as questões competitivas. Quando uma grande quantidade de problemas é analisada separadamente, o ego não se sente desarmado.

A reunião caótica é na maioria das vezes temporária, um curto lapso seguindo uma reação inicial confusa a alguma coisa que é percebida como nova e ameaçadora. Contudo, se o ego não restaura a ordem, a confusão mental pode conduzir a um esgotamento. A mente permanece cheia de emoções competitivas, pensamentos e imagens. Pensar logicamente se torna impossível e a pessoa pode parar de atuar.

HELENA, A HEROÍNA DAS MULHERES

O significado de "Helen" é luz. Observe que os gregos se chamavam de helenos (iluminados) e, portanto, podemos afirmar que o nome "Helena" seria a "luz feminina" que pode ser encontrada tanto na alma feminina como masculina.

Helena, considerada a mulher mais bela do mundo, tinha na Deusa Afrodite o seu arquétipo mais ativo, por isso os homens faziam de tudo para possuí-la, inclusive lutaram na guerra de Tróia para obtê-la de volta. Entretanto, deveriam sempre estarem preparados para sentir sempre uma certa dose de dor: dor da separação, da perda, do ciúme da mágoa e da rejeição. Helena, como toda a mulher-Afrodite exigirá de todo o homem que antes de ser forte, sofra com as mágoas da própria imaturidade de sua natureza sensível antes de tornar-se verdadeiramente digno de seu amor. Raptá-la era simples, mas conquistá-la e conservá-la já não seria uma tarefa fácil. Além disso, Helena não era regida pelas convenções sociais impostas pelo patriarcado, portanto, do mesmo modo que enternecia inúmeros corações masculinos, acabava partindo-os.

Um homem para se sentir confortável e seguro ao lado de Helena, tinha que estar muito bem consigo mesmo e estar aberto à sua própria capacidade para a sensualidade, a beleza e o amor em todas as formas.

A mulher atual que identifica-se com Helena, terá ativo ainda os arquétipos dos Deuses: Ares, Apolo e Ártemis. Será portanto, uma mulher totalmente diferente do esteriótipo criado pela sociedade vigente, onde a Deusa Hera e Deméter aparecem como dominantes, exigindo que a mulher contemporânea seja boa esposa e uma pessoa zelosa. O "ego" dessa mulher reprime as "Deusas Virgens" como Afrodite e Ártemis que se ressentem de cuidar dos outros. Ártemis é a Deusa que nos presenteia com a ambição e é Afrodite que nos ajuda a expressar todo o nosso talento. Portanto, censurar uma Deusa em detrimento de outra, poderá nos causar grandes problemas.

Todas nós somos mulheres de muitas Deusas, pois as mudanças diárias são perfeitamente normais. Em cada situação de nossas vidas, sempre podemos sentir que as Deusas se "revezam" dentro de nós. Esse fato é comprovado, pois inúmeras vezes sentimos existir "mais de uma pessoa" em nosso íntimo. Em uma grande festa podemos ser uma Afrodite esfuziante, já em outro cenário, uma Atena cuidadosa, dedicando-se a um projeto. Pode-se ser igualmente introvertida e extrovertida, dependendo das circunstâncias e da Deusa dominante: uma Ártemis ou Deméter extrovertidas podem ficar com a "maçã de ouro" numa situação, mas passá-la às introvertidas Héstia ou Perséfone em outra. Quando as Deusas cooperam e se revezam no interior de uma mulher, "qual Deusa conquistará a maçã de ouro" dependerá da situação e da tarefa à mão.

Quando nos tornamos conscientes da existência das Deusas que habitam nosso interior, podemos reconhecer suas "vozes" e distinguir quem está falando. Ter idéia dos padrões arquetípicos e reconhecer a capacidade das Deusas pode nos ajudar a identificar aquelas que necessitam de reconhecimento.

Uma vez que todas as Deusas são padrões inatos em cada mulher, a mulher particular pode compreender a necessidade de familiarizar-se melhor com uma Deusa determinada. Nesse caso, os esforços para desenvolver ou reforçar a influência de uma Deusa particular podem ser bem sucedidos.

A HEROÍNA QUE HÁ EM NÓS

 

O início da história da minha vida não foi das mais felizes, pois fui uma das tantas crianças que foi surrada e humilhada por um pai abusivo e nunca fui protegida por minha mãe, pois essa quando não estava deprimida, se isentava de qualquer atitude em defesa dos filhos. Mas, apesar dos pesares, sempre me considerei uma guerreira, nunca uma vítima. Entendia que o drama presente era uma "provação", uma individual guerra de tróia, mas que num futuro próximo teria fim, como realmente, um dia teve.

A experiência traumática de minha infância deixou marcas, não saí ilesa, no entanto, a capacidade de amar sobreviveu e consegui me tornar uma pessoa totalmente diferentes dos adultos que abusaram de mim.

Tudo que aconteceu na minha vida, deu forma ao que hoje sou: a heroína de minha vida.

Consegui ainda, formar uma familia maravilhosa e hoje vivencio momentos de muito amor e união, principalmente com minha filha, momentos esses, que jamais tive com minha mãe e que ela, jamais terá o prazer de desfrutar.

A história de minha vida exemplifica que todos nós somos moldados por nossas escolhas, por nossa fé e amor e pela habilidade de aprender com nossas experiências, por pior que elas sejam. Embora a vida seja repleta de pequenas batalhas ou guerras interiores troianas, sempre há momentos de decisão e para que possamos nos tornar heroínas da nossa jornada, deve-se começar a ter a atitude que as escolhas exijam. No processo de viver à partir dessa premissa alguma coisa acontece: nos tornamos selecionadoras, heroínas que modelam quem desejamos nos tornar.

Seja você também heroína de sua vida!

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO