GRUTA DO MARCO

A Gruta do Marco está situada próxima a São Sepé na Estância do Marco, localidade conhecida como Pulquéria. Tal gruta é uma casa de pedra com quatro compartimentos, tendo quatro metros de altura por 30 metros de comprimento, habitada hoje, por uma diversidade de pássaros.

Segundo uma lenda, a casa é a morada da alma de Pulquéria.

É Simões Pires, no seu livro de versos "Caraguatás" que nos conta a história desta afamada assombração:

 

Quando a noite é muito escura, gelada e com neblina, vê-se, ao cruzar a estrada uma alma penada que se some nas trevas. Alguns imaginam ser um lobisomem, outros acreditam ser o Boitatá. Mas é Pulquéria, uma índia que segue campeando noite adentro por quase 200 anos, sem paradeiro. Passeia ela pela campanha, recolhendo flores silvestres do chão para adornar a sepultura do seu querido esposo.

 

Conta-se que na época das Guerras das Missões (1750/1756), viviam na Gruta do Marco um casal de índios Tapes. Quando iniciou-se a luta que espanhóis e portugueses moveram contra os silvícolas e jesuítas, o marido de Pulquéria apresentou-se a São Sepé para ajudar no combate. Entretanto, os europeus eram superiores em número, em táticas e em armamento e derrotaram com muita facilidade seus oponentes.

O companheiro de Pulquéria acabou seriamente ferido em um confronto e quis morrer, pelo menos, em sua gruta encantada, na companhia de sua amada esposa. Foi assim, que depois de uma longa cavalgada pelas coxilhas lavadas de sangue inocente de Caiboaté, que o índio conseguiu alcançar seu fatídico destino final.

Mesmo depois que já não existiam mais índios naquela região, Pulquéria, teimava em não deixar a gruta, para ficar próxima da sepultura de seu marido.

E ela está lá, até agora! Vela pelo seu índio soldado. Quem não acredita, poderá ir até o local e constatar na areia as marcas dos pés de Pulquéria. E, se encostar o ouvido no chão da vasta e silenciosa gruta, escutará seus passos perdidos.

Pulquéria não deixa ninguém perturbar o sono de doce amor que ali repousa!

 

Esta lenda enriquece nossos conhecimentos sobre diferentes aspectos da morte e do amor.

A morte de uma pessoa íntima é uma experiência estranha e desconsoladora, pois rompe-se dentro de nós algo que jamais se reatará. Foi-se uma pessoa que tanto amávamos. Não mais a veremos em nosso mundo visível, e sua ausência começa a crescer ao nosso lado como uma árvore.

A morte é a fronteira extrema que ninguém deseja transpor, justamente porque o mundo atual empurrou a morte para as margens. A nossa sociedade perdeu o senso de ritual e sabedoria necessários para reconhecer esse rito de passagem. Mas, os indígenas reconheciam a importância deste momento e sempre procuravam passá-lo em um ambiente familiar.

É importante não deixar o morto sozinho, de modo que possa fazer sua transição de maneira confortável, suave e segura. Por isso existe a tradição de velar a pessoa falecida por até um dia após sua morte.

Todo este ritual é justificado porque acredita-se que a alma não abandona o corpo abruptamente, ela parte lentamente. E, para algumas pessoas podem levar até dias para que a retirada final da alma se complete.

 

Há uma história linda que li sobre um homem que morreu que ilustrará minhas afirmações:

"Depois de abandonar o corpo a alma foi até a porta de sua casa a fim de iniciar sua jornada à um lugar eterno. Mas a alma olhou para trás e viu seu corpo, então vazio, e demorou-se à porta. Em seguida, ela voltou, beijou seu corpo e falou-lhe. A alma agradeceu ao corpo por haver sido um local tão hospedeiro para a sua viagem da vida, e lembrou-se das gentilezas que o corpo lhe havia dispensado durante a vida."

Os mortos não estão longe, mas bem próximos de nós e um dia, cada um de nós terá de atravessar esta fronteira para reencontrarmos nossos entes queridos.

Gosto de pensar que a morte nada mais é do que uma viagem em direção a um novo horizonte. Será este o único caminho que nos levará a contemplação da beleza e da luz do nosso rosto interior.

 

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO

 

Bibliografia:

Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul - Antonio Augusto Fagundes

Lendas do Rio Grande do Sul - Dante Laytano; Publicação n´7 - Comissão Estadual do Folclore do Rio Grande do Sul; RJ