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duas origens para o início das Festas da Santa Cruz. Uma delas é a festa de
Exaltação de Santa Cruz, realizada em Roma (dia 14 de setembro) e na Gália (03
de maio – chamada Invenção de Santa Cruz), por ocasião da descoberta da Santa
Cruz por Santa Helena (fato este que se deu, segundo a lenda, no dia 03 de
setembro do ano de 320), mãe de Constantino.
Outra interpretação seria a
recuperação e reconstituição da Santa Cruz por Heráclito, que conduziu o Santo
Lenho pelo Calvário, após tê-lo reconquistado das mãos dos persas, fato esse que
se deu no dia 03 de maio.
A Festa de Santa Cruz
corresponde à que em Roma se chamava Invenção de Santa Cruz.
No Brasil, a devoção e a
festa de Santa Cruz foram trazidos pelos colonizadores portugueses.
Quando os jesuítas
plantaram em frente das malocas indígenas as primeiras cruzes, jamais imaginaram
de que este símbolo se tornasse tão popular.
"Santa Curuzu", chamada
pelos guaranis e "Santa Curuçá" pelos tupis, a Santa Cruz, assim como todas as
manifestações religiosas decorrentes de Sua Adoração, acabaram figurando no
devocionário dos mamelucos, mestiços e caboclos.
Por ocasião do IV
Centenário de São Paulo, em 1954, a dança de Santa Cruz foi considerada
contribuição da cultura do indio-jesuítica para a formação do Estado de São
Paulo.
A
mais famosa destas festas é ainda realizada pelos moradores da Aldeia de Carapicuíba e
compreende três partes: Saudação, Roda, Despedida. Essas partes possuem
sentidos díspares: a Saudação e a Despedida são consideradas sagradas e a
Roda, profana. As primeiras têm melodias que lembram a seqüência sonora dos
cantos gregorianos, os versos são fixos e a temática é devocional. São
realizadas em frente à cruz maior, que fica diante da igrejinha local e depois
e, frente a cada cruz que se situa na dianteira de cada uma das casas da aldeia.
A
coreografia consta de passos para frente e para trás, batidas de palma, reverências
à cruz, volteios e meia-volta, todos desenvolvidos em conjunto.
Na
roda, as melodias têm versos tradicionais ou circunstanciais, com texto amoroso
e jocoso. Para realizá-la, os dançarinos postam-se em um semicírculo, ficando
os homens na linha de fora e as mulheres na de dentro. Mestre e contramestre
ficam na extremidade que levará a roda a girar no sentido anti-horário.
Os
movimentos são feitos com passos laterais e volteios entremeados de mesuras
entre os pares. A Despedida vai se distinguir da Saudação apenas pelas letras
dos versos próprios às despedidas.
Finda
esta parte, o grupo se dirige para a cruz vizinha, onde tudo se repete.
A
melodia é executada a quatro vozes: primeira, segunda, uma terça abaixo da
primeira, triple, falsete, e contralto, acompanhadas por duas violas, adufos e
reques, reco-reco feito de grandes porongos com uma tabuinha dentada encaixada
no corpo, friccionada com vareta de madeira.
A
festa de Santa Cruz é encerrada com outra dança, a Zagaia. Os movimentos são
de recuos, avanços e vênias, feitos em fileiras, além da roda que gira em
dupla direção. Feita diante da igreja, termina com vivório à Santa Cruz.
A Aldeia de Carapicuíba
é formada por uma igreja antiga e diversas casinhas, algumas moldadas com taipa
de pilão, dispostas em um quadrilátero, estando tombada pelo Patrimônio
Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo.
Seus 15 mil habitantes,
queixam-se da falta de interesse das autoridades para com a aldeia. Entretanto,
ela ainda sobrevive em sua forma original e há quatro séculos a Festa da Santa
Cruz se realiza anualmente, apresentando imperdíveis danças tipicamente
indígenas, como o Zagaia e a Sarabaqué.
FESTA DA SANTA CRUZ EM EMBU

A Festa da Santa Cruz de
Embu, é realizada depois da "Adoração", com algumas danças folclóricas, dentre
as quais, destaca-se o "Chimarrete". A participação mais importante nesta dança
é a do violeiro, que atua como uma espécie de mestre.
Versos são cantados
livremente tanto pelo violeiro como por participantes, sendo em geral quadrinhas
conhecidas em redondilha maior. Todos os participantes, mulheres e homens, sem
apresentarem indumentária especial, formam duas alas frente a frente. Homens de
um lado, mulheres de outro, deixando cerca de dois metros entre uma ala e outra.
O violeiro em geral fica em uma extremidade, não havendo lugar rigorosamente
fixo.
Enquanto está sendo
tocado o ritmo ou cantada uma quadra, os participantes, dão meios passos
laterais, uma vez para cada lado, sem sair do lugar, e nesse movimento
encostando o calcanhar do pé solto no calcanhar do pé em que se apóia o corpo.
Quando entra o
estribilho, há mudanças de posições. Cada participante dá então, três passos
para a frente, ficando bem perto do par e fazem uma ligeira genuflexão,
apoiando-se na perna esquerda, ao mesmo tempo em que aproximam os ombros
esquerdos. Nesta aproximação, o violeiro estará no fim do primeiro verso do
estribilho. Volta-se a seguir para a posição inicial.
No terceiro verso do
estribilho é dado novamente três passos à frente, de forma que cada elemento de
cada par se encontra, cruzando-se pela esquerda e de frente um para o outro.
No último verso do
estribilho, já tendo sido feita uma meia volta logo após o cruzamento, cada
participante recua três passos. Assim, no "passa seis", os elementos terão
trocado de lugar com o respectivo parceiro.
Logo a seguir, repete-se
todos os movimentos em sentido contrário, de modo que ao terminar o estribilho,
cada participante estará na sua inicial posição.
Todo este importante
evento festivo de exaltação da Santa Cruz é realizado na Praça da Lagoa, no mês
de maio com duração de aproximadamente 11 dias. A Adoração da Santa Cruz e de
Nossa Senhora foi a única exigência de Fernão Dias Paes, para doar estas terras
aos jesuítas.
FESTA EM ITAQUAQUECETUBA

Em Itaquaquecetuba, a
Festa da Santa Cruz costuma ser realizada entre 2 a 3 de maio, ou na noite de um
sábado próximo. Comparecem violeiros e devotos dos arredores, inclusive de
outros municípios. Os violeiros são geralmente idosos e apreciam também a Dança
de São Gonçalo.
A maioria das
residências são adornadas com cruzes enfeitadas com flores em atitude de
reverência à Santa Cruz.
Na noite dedicada à
"Adoração", é realizada uma grande missa na Igreja de Nossa Senhora da Escada.
Em seguida, em frente a porta da Igreja, dois violeiros iniciam a cantoria.
Após um intervalo, os
violeiros dirigem-se ao cruzeiro da praça, onde há um obelisco, com sete degraus
de cimento construídos a sua volta. É aqui que novamente iniciam-se as rezas e
acende-se velas em louvor a Santa Cruz. Muitos versos também são recitados, a
maioria com temas religiosos.
Os participantes da
dança da Santa Cruz, posicionam-se em duas filas indianas, sendo que o violeiro
principal fica na esquerda, tendo um outro violeiro à direita. A dança, que não
exige indumentária especial, é iniciada com sapateados e bater de palmas, não
havendo uma padronização geral, pelo fato de se achar em decadência e sendo
assim, muitos dos participantes desconhecem suas verdadeiras características.
Após o cântico da primeira estrofe, é costume os violeiros desviarem-se para a
esquerda, acompanhados dos demais elementos, conservando as filas indianas e
buscando a retaguarda, voltam então à posição inicial. Outra movimentação, tal
como a "meia-lua" de outras danças, é a que fazem saindo cada violeiro por fora
(um sai pela esquerda e o outro para a direita) também indo até o fim de sua
respectiva fila e sendo acompanhado pelos demais; logo se acham de novo na
posição inicial. Por fim, depois de cantadas duas ou três estrofes, há o
movimento de recuo-e-avanço em relação à cruz, "pra arrematar a volta", ou seja,
para terminar. O fecho é como o VIVA A SANTA CRUZ!.
Mas, como todas as
Festas Folclóricas Brasileiras, para acompanhar as rezas, as danças e músicas,
são servidos em um pequeno salão, na "Casa da Festa", pães, café e biscoitos a
todos os participantes do evento.
Há muito poucos
registros sobre a Festa da Santa Cruz de Itaquaquecetuba.
Texto pesquisado e
desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO


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