~*~FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO~*~

 

FESTA DO DIVINO

 

A festividade do Divino Espírito Santo é oriunda dos Estados Alemães onde, inicialmente, foram praticadas durante a dinastia dos Othons e destinava-se a lançar fundamentos de uma instituição, que, na forma de um banco, formado de esmolas, acudisse os pobres nos anos de penúria. E como os invocantes eram reis os festejos conservaram os aspectos de realeza.

Da divindade que invocavam, do invocante que tomara a iniciativa, nasceram os festejos religiosos que a confraria imperial votava ao culto do Espírito Santo, costume este, que se propagou por toda a Europa.

Na França, a festa foi facilmente difundida. A folia do Divino, assimilada rapidamente, foi chamada “Folias do Bispo Inocente”, solenizada anualmente em São Martinho , de Tours. Daí à Península Ibérica, Portugal e suas colônias foi questão de tempo.

Em Portugal, nos começos do século XIII, a devoção ao Divino Espírito Santo é instituída sob a forma de festa pela Rainha Dona Isabel de Aragão, esposa do Rei Dom Diniz. Ela foi, em vida, grande protetora dos humildes e da religião católica apostólica romana. Para se ter uma idéia, em 1320, não se encontrava, em terras de Portugal, mais que uma capela e quatro hospitais debaixo da invocação do Divino Espírito Santo.

 

Em Portugal continental a devoção se alastrou e alcançou seu ponto culminante na era das Grandes Descobertas, ou seja, no século XV. De Portugal continental para as suas Colônias e Possessões dependeu, unicamente, do movimento colonizador.

 

A introdução da festa do Divino Espírito Santo, no nosso Brasil é tão velha quanto a colonização lusa. Foi introduzida na Bahia em 1765 pelos ilhéus portugueses, na Matriz de Santo Antônio do Além do Carmo. Havia grandes folias, repastos em público e soltavam-se os presos.

Entretanto, no Rio de Janeiro, alcançaram o seu ponto clímax em meados do século XIX.

 

EM SANTA CATARINA

 

O aspecto folclórico que mais se reveste de popularidade em Santa Catarina é realmente a Folia do Divino, cuja tradição vem sendo conservada até a época atual. Algumas festas são pomposas, outras mais modestas, mas todas procuram manter o máximo de autenticidade, primando pelo rigor do ato litúrgico.

 

Na ilha de Santa Catarina, a festa é precedida da “romaria” da bandeira do Divino, cuja finalidade era, e ainda é, o recolhimento de “esmolas, óbulos e espórtulas”, destinados a auxiliar as despesas com a festa. Antigamente este coleta se revestia de cerimônia. Os “irmãos” das confrarias, portavam suas “opas” vermelhas, acompanhavam o grupo que conduzia a bandeira e a coroa. A coleta aos poucos foi simplificando-se e hoje são poucos os distritos de Florianópolis, ou mesmo de outros municípios, que a praticam.

 

As festividades do Divino Espírito Santo foram resultado de constantes acréscimos ao longo do tempo, sofrendo variações, sem romper a antiga tradição de, em nome do imperador, promover a coroação de pessoas simples da comunidade para, ao longo de três dias, distribuir caridade, benesses e determinar folguedos.

 

Os festejos começam após a quaresma com a saída da bandeira do Divino. Trata-se de uma bandeira de pano vermelho, no qual está bordada uma pombinha branca, sustentada por um mastro de dois metros aproximadamente em cuja ponta figura outra pombinha branca, ornada de flores. Da ponta caem fitas coloridas, geralmente doadas como pagamento de promessas.

 

O professor Nereu do Vale Pereira, em trabalho realizado nos Açores, revelou a importância do culto das pombinhas: “O Domingo da Pombinha é uma tradição importante baseada no aparecimento milagroso de uma pombinha na igreja matriz de São Miguel, quando se celebrava a primeira coroação em Ponta Delgada. A pombinha passou a encimar as coroas e a ser bordada nas duas faces da bandeira”. Essa tradição foi trazida para a ilha de Santa Catarina e vem sendo mantida.

 

O trajeto da bandeira com a pombinha é acompanhado de quadrinhas:

“A Pombinha vai voando;

Por cima da laranjeira;

Reina o dono da casa,

E sua companheira.”

 

A bandeira percorre todas as casas, realizando a coleta dos donativos para grande festa, que pode ser em espécie ou em forma de prendas, galinhas, porcos, etc., que serão usadas no preparo das comidas ou rifadas durante as festividades.

Tradicionalmente a bandeira era acompanhada de um grupo de foliões composto de três ou quatro músicos, cantadores e acompanhantes. A orquestra compreendia rebeca, violão, cavaquinho, tambor surdo e gaita. Com o passar dos anos, poucas são as comunidades que ainda mantêm este costume. Algumas apenas portam a bandeira, outras deixam-se acompanhar por um tambor. Entretanto, nas comunidades do Ribeirão da Ilha, Campeche e Santo Antônio de Lisboa, assim como, nos municípios de Governador Celso Ramos, Tijucas, Enseada do Brito e Laguna, ainda se encontram bandeiras em sua expressão mais tradicional.

Em Santo Amaro da Imperatriz a festa do Divino é considerada a mais pomposa do estado. No entanto, não possui mais foliões nem cantorias e a bandeira percorre o município silenciosa, sem música e sem foguetório.

 

As festas do Divino Espírito Santo ocorrem nos meses de maio, junho ou julho. Com uma duração de três dias (sábado, domingo e segunda-feira), a festa é precedida por novenas e tríduos. No sábado, realiza-se o cortejo imperial com missa festiva em honra ao Espírito Santo. Em alguns municípios, o cortejo parte dos “impérios” ainda existentes. Todavia, em sua maioria, parte da casa do festeiro (casal imperador) ou da prefeitura local, como ocorre em Santo Amaro da Imperatriz, onde recebe a “chave da cidade”. Após a missa, realizam-se apresentações folclóricas, folias, bailes e queimas de fogos de artifício. No domingo, acontece a festa propriamente dita, com a coroação da imperatriz e do imperador durante missa solene. A seguir, os imperadores e toda a corte são conduzidos para o local apropriado que represente os antigos “impérios e teatros”, onde recebem as homenagens da população. Ainda no domingo se procederá a escolha ou sorteio do casal imperador que coordenará as festividades do ano seguinte. O casal proclamado toma posse na segunda-feira, encerrando-se o “Ciclo do Divino Espírito Santo”.

A “Alvorada do Divino” é outra tradição que se registra entre o povo catarinense, que é realizado durante a folia do Divino, preservando os mesmos rituais das ilhas açorianas.

Quando as primeiras sombras da noite surgem, é hora de recolher a bandeira à casa onde o santo está morando. A esse recolhimento dá-se o nome de “alvorada”. Às crianças presentes e aos adultos, são distribuídas velas acesas, formando-se duas alas. São inúmeros os versos referentes ao ato de recolhimento e agradecimento das ofertas:

 

“Quantos anjos ao redor, ai...

Promessas são aos inocentes, ai...

Deus ajude ao pai e mãe, ai...

E as crianças para sempre, ai...

 

Os foliões regressam acompanhados pelas crianças e adultos com suas velas acesas, sob os cânticos da Alvorada. Os versos são repetidos pela cantoria.

O santo vai na frente, ai...

E atrás vão os "foliões", ai...

Os anjos "aluminando", ai...

Com as velas nas mãos, ai...

Bandeira vitoriosa, ai...

Aí Bandeira vitoriosa, ai...

Cheia de grande esperança, ai...

Os versos continuam até a morada do santo, onde são realizadas as novenas até a realização da Festa do Divino.

As massas são outro ponto de destaque da festa de Divino, sempre em agradecimento ao atendimento de uma promessa relativa a questão de saúde. Também chamadas de ex-votos, são massas de pão feitas nos mais diversos formatos, geralmente na forma da parte do corpo doente que deu motivo à promessa. Deste modo, são vistas penas, mãos, braços, corações, cabeças, pés e outros órgãos, que na hora da festa são adquiridas e oferecidas simbolicamente ao Divino, em louvor à graça obtida.

FESTA DO DIVINO EM MINAS GERAIS (DIAMANTINA)

Diamantina é berço da famosa escrava Chica da Silva e do presidente da República, Juscelino Kibitschek e ostenta a fisionomia de uma cidade muito alegre. Essa alegria, longe de ser simples reflexo de um traço psicológico fundamental em seus habitantes, é um elemento de tradição inarredável da cultura peculiar que ali se moldou ao longo dos séculos XVIII e XIX.

Escolhida como patrimônio mundial da humanidade em dezembro de 1999, Diamantina obteve o título graças à arquitetura de seus casarões e ruas e à tradição de suas festas, sendo a do Divino, realizada no domingo de Pentecostes, a maior e mais emocionante manifestação popular da cidade. O evento compreende duas partes importantes, com a presença de elementos religiosos e folclóricos. A parte litúrgica é aberta com o cortejo, no qual se destaca a figura de uma moça jovem, ou criança, que representa a corte imperial, acompanhada de sua família e de seu séquito. A festa é promovida tradicionalmente por grupos representativos da sociedade diamantinense, que elegem todos os anos um festeiro, o imperador, responsável por sua realização, ocorrida geralmente no mês de junho.

A programação compreende principalmente a chamada "folia", com número variável de integrantes (imperador, imperatriz, pajens, alferes da bandeira, etc.) que desfila em procissão pomposa da casa do festeiro até a Imperial Capela do Amparo, acompanhada por uma banda de música. No cortejo, observa-se a presença de três meninas, que simbolizam as virtudes, com trajes em cores distintas que representam a fé (branco), a caridade (vermelho) e a esperança (verde).

Os dons do Espírito Santo também estão presentes, representados por sete meninas vestidas de vermelho que carregam dizeres informando os respectivos dons: Entendimento, Ciência, Sabedoria, Conselho, Fortaleza, Piedade e Temor a Deus. Doze meninas, em túnicas azuis, desfilam representando os frutos do Espírito Santo: Castidade, Brandura, Benignidade, Longanimidade, Gozo, Paz e Humildade. Após a realização de missa solene, onde há outras comemorações e distribuição de doces, perdurando os festejos por dois ou três dias.

Verificam-se em Diamantina, até os nossos dias, algumas características essenciais, tais como a coroação do imperador, a coleta dos donativos, a distribuição de esmolas e comida, além da manutenção dos principais símbolos: a bandeira, geralmente vermelha com uma pomba bordada e outra de madeira arrematando a haste, e a coroa e o cetro do império.

Atualmente, a festa do Divino da cidade atrai grande quantidade de turistas, o que transformou o evento religioso também em uma grande espetáculo, com a apresentação e desfile de grupos folclóricos, bandas de música, crianças vestidas de anjo e adultos trajados como personagens bíblicos.

FESTA DO DIVINO EM PIRENÓPOLIS

Uma da maiores manifestações em homenagem ao Divino Espírito Santo no Brasil ocorre no interior de Goiás, na histórica cidade de Pirenópolis, e guarda características peculiares na sua execução e planejamento. A festa, que tem início cinqüenta dias após o Domingo de Páscoa, é realizada desde 1819, com duração de doze dias, em uma data móvel. Seus elementos sacros estão presentes nas missas, procissões, novenas e repiques de sinos, e os profanos são revelados pelas apresentações de grupos folclóricos e pequenas orquestras, queima de fogos e alvoradas com bandas de música na praça.

A festa inicia-se com a peregrinação de um grupo de foliões pelas localidades vizinhas em busca de donativos para a comemoração. Levam consigo a Bandeira do Divino, cujo símbolo é a pomba branca, e entoam cânticos de louvação, rezas e novenas, terminando a noite com bailes, festas e pedido de pouso. Ao chegarem aos locais designados previamente, a bandeira é reverenciada pelo dono da casa e levada aos cômodos das moradias para abençoá-los.

Segundo a tradição, a folia simboliza uma viagem de quarenta dias que teriam feito Jesus Cristo e seus apóstolos, pedindo esmolas e pouso. Outra folia que ocorre na cidade é formada por dois homens que carregam a coroa do imperador e a Bandeira do Divino, seguidos de um grupo de moças que levam as bandejas para recolher as oferendas. Acompanham ainda grupos de músicos, cantadores e encarregados de soltar os fogos anunciando a chegada deles.

A escolha da pessoa que representará a principal figura da festa do Divino é definida um ano antes da data festiva. A eleição do imperador e sua corte, que simbolizam a Coroa portuguesa, é feita por um sorteio, do qual todos os pirenopolinos podem participar. Se o escolhido for rico, promoverá a comemoração com suas posses; se for pobre, receberá ajuda do povo. Após a celebração de uma cerimônia simples, o padre convida o imperador do ano para a troca de coroa, que passará para a pessoa que promoverá a festa no ano seguinte. Durante a missa, o imperador ocupa o trono, e nas apresentações das cavalhadas, um palanque imperial.

O Imperador do Divino retrata, com toda sua simbologia, o Rei, a Rainha e a Corte portuguesa, autenticados pela Coroa, pelo Cetro e pelas virgens vestidas de branco que os antecedem na Procissão do Divino, onde, na Procissão do Divino, com toda pompa, caminham pelas ruas da cidade, circundados por quatro varas sustentadas por quatro virgens, seguidos pela Banda de Música a frente da população.

O ápice da festa do Divino é a procissão que leva a corte, acompanhada pela banda de música e pela multidão, à igreja. Após a missa, o imperador distribui verônicas de alfenim, espécie de doce, e pãezinhos do Divino a todas as virgens.

Na parte profana da festa, ocorrem as cavalhadas, com ênfase no jogo das argolinhas, as apresentações das pastorinhas, originalmente do ciclo natalino, e de congos e moçambiques, provenientes das Festas de São Benedito e Rosário. Durante os dias em que se festeja o Divino, ocorre um festival de sons ensurdecedores, denominado roqueira ou ronqueira, seguindo uma tradição portuguesa. São tiros de pólvora e farinha de trigo que saem de um cano de ferro afixado em tocos de madeira enfileirados, que após serem acesos promovem uma seqüência de estrondos para anunciar a festa, saudando o Divino e o imperador.

 

 

EM SÃO PAULO

 

MOGI DAS CRUZES

 

Pesquisas constatam a existência de registros da realização de Festas do Divino no interior de São Paulo, desde o início do século XVIII. Através da constatação destes dados, acredita-se que esta festa é comemorada em Mogi das Cruzes há mais de trezentos anos.

 

A festa do Divino inicia-se numa quinta-feira, contados 40 dias após a Páscoa, quando as bandeiras reúnem-se na Casa dos Festeiros do ano. A partir de lá dirigem-se ao Império, quando realiza-se a abertura solene das atividades. A festa dura dez dias, até o Pentecostes (domingo).

 

Mogi das Cruzes comemora a Divino, com festas muito animadas, cuja participação popular tem aumentado a cada ano. Nas Alvoradas da madrugada são mais de mil pessoas; na quermesse, mais de 20 mil, só durante a semana; nas Passeatas das Bandeiras, outras centenas de devotos. Neste último ano, o evento superou as expectativas reunindo 300 mil pessoas nos 10 dias. Neste período, o município inteiro se mobiliza. Uma das coisas curiosas da festa é que os homens vão para a cozinha preparar um prato muito típico: afogado.   O afogado é uma comida com carne de segunda, como a feijoada.


Durante a preparação do prato, mulher não entra na cozinha. Apenas os homens, cerca de 15, trabalham na cozinha e preparam o afogado. As mulheres participam apenas cortando os legumes e fazendo outras coisas menores.

Outra atração é o "panelaço" para avisar que a comida está pronta.
Neste momento, os homens batem as tampas e fazem bastante barulho para atrair os consumidores
.

 

A praça da cidade foi escolhida como o berço da Festa do Divino, onde todos, alimentados pela fé, estarão bem pertinho do céu, espaço sagrado do Divino Espírito Santo.

 

A festa de Divino Espírito Santo é uma festa católica destinada ao agradecimento, pagamento de promessas, onde se  comemora a fartura, sem esquecer de levar conforto aos doentes e reforçar a cada dia nossa fé por um mundo melhor para todos.

 

" A bandeira vem chegando
Com ela o nosso carinho
As fitas esvoaçando
E a pomba no seu ninho

Aceitem esta lembrança
Obra do porta bandeira
Se notar a semelhança
É pura brincadeira

Que tenham muita saúde
Bom vinho para beber
Conservem vossas virtudes
Com Deus tudo é prazer"

 

 

 

Texto pesquisado e desenvolvido por

Rosane Volpatto

 

Bibliografia consultada

 

Folclore Catarinense – Doralécio Soares.

Aspectos Folclóricos Catarinenses – Walter F. Piazza

Folclore Paulista – Américo Pellegrini Filho

Dança Brasil - Gustavo Cortês