O termo "candomblé" era usado inicialmente para designar apenas certo tipo de
dança, mas passou a significar também o próprio ritual religioso dos negros
africanos. A principal diferença entre os vários tipos de candomblé existentes
no Brasil é a origem étnica. Existem, entretanto, quatro características comuns
e importantes para caracterizá-lo como de origem africana: a possessão pela
divindade, o caráter pessoal da divindade, o oráculo e o despacho de Exu.
Há quem faça distinção entre o candomblé e a umbanda enquanto rituais. Ambos
são religiões afro-brasileiras, mas a umbanda se caracteriza pela mistura do
candomblé e do espiritismo, estando, dessa forma, voltada para os feitiços. O
termo quimbanda, é usado para definir a parte da umbanda que é voltada para
magia negra, conhecida como: macumba. No candomblé utilizam-se mais as danças e
os trabalhos com forças advindas da natureza, como as do mar, do fogo, do ar,
dos rios e florestas, representadas pelos orixás.
O candomblé praticado atualmente se encontra modificado, marcado por forte
sincretismo religioso, decorrente das influências culturais dos brancos e
indígenas. Essa foi uma alternativa de sobrevivência da religião. Entretanto,
nos dias de hoje, observa-se a tentativa de retomar as tradições africanas,
afastando os elementos católicos de seus rituais.
O candomblé distingui-se dos outros cultos por não ser praticado diante do
altar, mas dançado de forma primitiva nos terreiros, com cantos envolventes ao
som do agogô e do atabaque, considerado instrumento sagrado por transmitir a
mensagem dos deuses.
Acredita-se que durante o ritual os orixás descem do mundo desconhecido e
incorporam-se em seus filhos, chamados cavalos, concedendo-lhes poderes de
atuação para o bem e para o mal. Os filhos-de-santo, na maioria do sexo
feminino, são os sacerdotes dos orixás, assim como os padres são os
representantes de Deus na Igreja Católica. Nem todo, porém, são preparados para
"receber" os santos. Existem os que cuidam dos cavalos quando os orixás
"baixam", os que sacrificam os animais, os que tocam os atabaques e os que
preparam a comida. Os búzios, usados como instrumento de adivinhação, é que vão
dizer qual a função de cada um.

Para cada orixá há um canto, dança e indumentária especiais. As cerimônias
acontecem de preferência em locais afastados, à noite, e em contato com a terra,
que transmite as forças da natureza. Sua estrutura, chamada "ordem de xirê"
(brincadeira, na língua iorubá). divide a festa em três partes. A primeira
acontece à tarde, com sacrifícios e oferendas. A segunda é a festa em si, à
noite, na presença do público, quando os filhos-de-santo "incorporam" os orixás.
E a terceira fase, o encerramento, com a roda de Oxalá, o deus criador do homem.
A entrada para essa hierarquia é a indicação do orixá. É o que se chama bolar no santo. A partir daí, o abiã (noviço) tem de se submeter aos rituais de iniciação cerimônias do bori, orô e saídas de iaô.
Um recém-iniciado passa de um a seis meses vivendo dentro de severas restrições. É o tempo de quelê o período em que o abiã usa um colar de contas justo ao pescoço. Enquanto usar o quelê, ele deve vestir branco, comer com as mãos e sentar-se só no chão. Estão proibidas as relações sexuais e os pratos que não sejam os de seu orixá.
As obrigações não terminam por aí: o iniciado terá de cumprir ainda três rituais
depois de um ano, três anos e sete anos , com sacrifícios, toques e oferendas.
Só depois ele pode se candidatar a ebômi, o degrau seguinte da hierarquia.
As danças do candomblé são executadas com movimentos exóticos de braços e
pernas, conforme cada orixá, com os olhos fechados ou arregalados, e chegam a
causar alterações fisionômicas em quem as pratica.
Através desse ritual, o candomblé perpetua-se e sua prática se espalha por
todo o Brasil. Encontra-se também associado aos cortejos do ciclo carnavalesco,
como afoxés,e maracatus, enriquecendo e fortalecendo, dessa forma, as festas
afro-brasileiras e o folclore nacional.

TIPO DE CANDOMBLÉS
Há quatro tipos de candomblé:
O Queto, da Bahia, o Xangô, de Pernambuco, o Batuque, do Rio Grande do Sul, e o Angola, da Bahia e São Paulo. O Queto chegou com os povos nagôs, que falam a língua iorubá
. Saídos das regiões que hoje correspondem ao Sudão, Nigéria e Benin, eles
vieram para o Nordeste. Os bantos saíram das regiões de Moçambique, Angola e
Congo para Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo. Criaram o culto ao
caboclo, representante das entidades da mata.
A mistura com o catolicismo foi uma questão de sobrevivência. Para os colonizadores portugueses, as danças e os ri- tuais africanos eram pura feitiçaria e deviam ser reprimidos. A saída, para os escravos, era rezar para um santo e acender a vela para um orixá. Foi assim que os santos católicos pegaram carona com os deuses africanos e passaram a ser associados a eles. A partir da década de 20, o espiritismo também entrou nos terreiros, criando a umbanda, com características bem diferentes.
Assim, o candomblé já se incorporou à alma brasileira. Tanto é que o país inteiro conhece o grito de felicidade a saudação mágica que significa, em iorubá, energia vital e sagrada: Axé!

TERREIROS
Os terreiros são comunidades de vida em que a visão de mundo africana se
mantém presente e viva; em que a reconstrução familiar-clânica continua
subsistindo e em que a vida comunitária revela os traços culturais dos
africanos.
Todos os membros se encontram unidos na mesma fé, protegidos pelos orixás,
submissos a uma autoridade religiosa e espiritual, na qual uma solidariedade
econômica-religiosa fundamenta a co-responsabilidade do trabalho.
Os membros estão unidos como uma parte num todo por laços consangüíneos de
iniciação e por referências a um mundo acompanhado pelos ancestrais.
A autoridade espiritual e moral é concentrada nas mãos dos “pais” ou “mães de
santo”, chamados também de “babalorixás”ou “ialorixás”. O nome “mãe” e “pai”
significa que os adeptos aceitam uma segunda educação pelas mãos de pessoas
significativas em suas vidas.
Cabe aos chefes do terreiro presidir as cerimônias religiosas, receber os
convidados, raspar a cabeça dos iniciados, supervisionar os ritos e apontar os
novos iniciados.

OS DOZE ORIXÁS AFRO-BRASILEIROS

Na África Ocidental, existem mais de 200 orixás. Mas, na vinda dos escravos para o Brasil, grande parte dessa tradição se perdeu. Hoje, o número de orixás conhecidos no país está reduzido a dezesseis. E, mesmo desse pequeno grupo, apenas doze são ainda cultuados: os outros quatro Obá, Logunedé, Ewa e Irôco raramente se manifestam nas festas e rituais.
Cada um deles tem o seu símbolo, o seu dia da semana, suas vestimentas e cores próprias. Como os homens, são temperamentais

Exu

Orixá mensageiro entre os homens e os deuses, guardião da porta da rua e das encruzilhadas. Só através dele é possível invocar os orixás. Elemento: fogo
Personalidade: atrevido e agressivo
Símbolo: ogó (um bastão adornado com cabaças e búzios)
Dia da semana: segunda-feira
Colar: vermelho e preto
Roupa: vermelha e preta
Sacrifício: bode e galo preto
Oferendas: farofa com dendê, feijão, inhame, água,mel e aguardente

Ogum

Deus da guerra, do fogo e da tecnologia. No Brasil é conhecido como deus guerreiro. Sabe trabalhar com metal e, sem sua proteção, o trabalho não pode ser proveitoso.
Elemento: ferro
Símbolo: espada
Personalidade: impaciente e obstinado
Dia da semana: terça-feira
Colar: azul-marinho
Roupa: azul, verde escuro, vermelho ou amarelo
Sacrifício: galo e bode avermelhados
Oferendas: feijoada, xinxim, inhame

Oxóssi

Deus da caça. É o grande patrono do candomblé brasileiro.
Elemento: florestas Personalidade: intuitivo e emotivo
Símbolo: rabo de cavalo e chifre de boi
Dia da semana:
quinta-feira
Colar: azul claro
Roupa: azul ou verde claro
Sacrifício: galo e bode
avermelhados e porco
Oferendas: milho branco e amarelo, peixe de escamas, arroz, feijão e abóbora

Obaluaiê
Deus da peste, das doenças da pele e, atualmente, da AIDS. É o médico dos pobres.
Elemento: terra
Personalidade:
tímido e vingativo
Símbolo: xaxará (feixe de palha e búzios)
Dia da semana: segunda-feira
Colar: preto e vermelho, ou vermelho, branco e preto
Roupa: vermelha e preta, coberta por palha
Sacrifício: galo, pato,bode e porco
Oferendas: pipoca, feijão preto, farofa e milho, com muito dendê

Oxum

Deusa das águas doces (rios, fontes
e lagos). É também deusa do ouro, da fecundidade, do jogo de búzios e do amor.
Elemento: água
Personalidade: maternal
e tranqüila
Símbolo: abebê (leque espelhado)
Dia da semana: sábado
Colar: amarelo ouro
Roupa: amarelo ouro
Sacrifício: cabra, galinha, pomba
Oferendas: milho branco,
xinxim de galinha, ovos,
peixes de água doce

Iansã

Deusa dos ventos e das tempestades.
É a senhora dos raios e dona da alma dos mortos.
Elemento: fogo
Personalidade:
impulsiva e imprevisível
Símbolo: espada e rabo de
cavalo (representando a realeza)
Dia da semana: quarta-feira
Colar: vermelho ou
marrom escuro
Roupa: vermelha
Sacrifício: cabra e galinha
Oferendas: milho branco,
arroz, feijão e acarajé

Ossaim

Deus das folhas e ervas medicinais. Conhece seus usos e as palavras mágicas (ofós) que despertam seus poderes.
Elemento: matas
Personalidade: instável e emotivo
Símbolo: lança com
pássaros na forma de leque
e feixe de folhas
Dia da semana: quinta-feira
Colar: branco rajado de verde
Roupa: branco e verde claro
Sacrifício: galo e carneiro
Oferendas: feijão, arroz,
milho vermelho e farofa
de dendê

Nanã

Deusa da lama e do fundo dos rios, associada à fertilidade, à doença
e à morte. É a orixá mais velha de todos e, por isso, muito respeitada.
Elemento: terra
Personalidade: vingativa
e mascarada
Símbolo: ibiri (cetro de palha
e búzios)
Dia da semana: sábado
Colar: branco, azul e vermelho
Roupa: branca e azul
Sacrifício: cabra e galinha
Oferendas: milho branco,
arroz, feijão, mel e dendê

Oxumaré

Deus da chuva e do arco-íris. É, ao mesmo tempo, de natureza masculina e feminina. Transporta a água entre o céu e a terra.
Elemento: água
Personalidade: sensível e tranqüilo
Símbolo: cobra de metal
Dia da semana: quinta-feira
Colar: amarelo e verde
Roupa: azul claro e verde claro
Sacrifício: bode, galo e tatu
Oferendas: milho branco, acarajé, coco, mel, inhame e feijão com ovos

Iemanjá

Considerada deusa dos mares e oceanos. É a mãe de todos os orixás e representada com seios volumosos, simbolizando a maternidade e a fecundidade.
Elemento: água
Personalidade: maternal e tranqüila
Símbolo: leque e espada
Dia da semana: sábado
Colar: transparente,
verde ou azul claro
Roupa: branco e azul
Sacrifício: porco, cabra e galinha
Oferendas: peixes do mar, arroz,
milho, camarão com coco

Xangô

Deus do fogo e do trovão. Diz a tradição que foi rei de Oyó, cidade da Nigéria. É viril, violento e justiceiro. Castiga os mentirosos e protege advogados e juízes.
Elemento: fogo
Personalidade:
atrevido e prepotente
Símbolo: machado
duplo (oxé)
Dia da semana: quarta-feira
Colar: branco e vermelho
Roupa: branca e vermelha, com coroa de latão
Sacrifício: galo, pato, carneiro e cágado
Oferendas: amalá (quiabo com
camarão seco e dendê)

Oxalá

Deus da criação. É o orixá que criou os homens. Obstinado e independente, é representado de duas maneiras: Oxaguiã, jovem, e Oxalufã, velho.
Elemento: ar
Personalidade: equilibrado e tolerante
Símbolo: oparoxó (cajado de alumínio
com adornos)
Dia da semana: sexta-feira
Colar: branco
Roupa: branca
Sacrifício: cabra, galinha,
pomba, pata e caracol
Oferendas: arroz, milho branco e massa de inhame