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FESTA DO ÇAIRÉ OU SAIRÉ

A
palavra Çairé origina-se dos dois termos Çai
Erê, que significa “Salve! Tu o dizes”, que
era usada pelos índios como forma de
saudação. Entretanto, fui alertada pelo Sr.
Jefferson Cardoso, conhecedor dessa história,
de que há uma controvérsia quanto a
grafia da palavra Çairé. Segundo ele, a
palavra original era Sairé, mas a comunidade
de Alter-do-Chão, achou por bem, ou talvez
por associarem sua derivação à linguagem
indígena, passaram denominar a festa com uma
nova escrita: Çairé. Entretanto, como pode-se
contatar não há na língua portuguesa nenhuma
palavra que inicie-se com "ç" e segundo seu
Jefferson, houve uma nova discussão sobre o
assunto e por consenso, voltou-se a chamar a
festa por seu nome original.
Originariamente, a Festa do Çairé era um
baile indígena (puracê), cujos festejos,
revelavam desde o primeiro século da
colonização, já a influência das missões
católicas. Era uma "corda em giro", ou
melhor, uma espécie de dança de roda
conduzida por um "arco", que era o motivo
indígena desse préstito e festival, o centro
geométrico de um animado puracê (baile). Tal
arco era um semi-círculo com diâmetro e raios
todos assinalados em algodão, onde deles
pendem fitas vermelhas. Era ornamentado
ainda, com uma cruz forrada e enfeitada,
revelando o símbolo católico que o jesuíta
acrescentou ao outro símbolo pagão o qual,
pela forma geométrica revelada, denotava sua
origem em povos americanos de civilização
mais avançada, quais os astecas e os incas. É
um exemplo de como foi o missionário
mestiçando a fé católica, através da dança e
do canto, para catequizar o índio e dominá-lo
por fim. Transformou-se portanto, em uma
cerimônia religiosa e profana, onde entram
nela a reza e a dança. Essa, consistia em
passos curtos, como o de marcar passos dos
soldados, com um movimento em que uma índia
do centro servia de eixo sobre o qual girava
o Çairé.
O cântico era uma melopéia triste, monótona e
rouca. E os versos?...
"Ito camuti pupé neiassucá pitani puranga ité",
assim traduzidos:
"Em uma pia de pedra foi batizado um belo
menino".
E logo o estribilho por todos repetido:
"É Jesus, é Santâ Maria.
"Santa Maria cunhã poranga imembira iaué catu,
iputira ipop".
Tradução:
"Santa Maria é uma mulher bonita e seu filho
como ela, com uma flor na mão".

Com o passar do tempo, a Festa do Çairé foi
incorporando características populares com o
acréscimo de danças e folguedos. Tais
modificações fizeram com que a Igreja
proibisse a sua realização em 1943. Somente
em 1973, os moradores da vila Alter do Chão
resgataram o evento, conservando mais o cunho
folclórico do que religioso. A festividade
era comemorada no mês de julho e
posteriormente passou para a primeira
quinzena de setembro.
A
Festa do Çairé é ainda hoje, realizada anualmente no
Estado do Pará, na vila balneária de Alter do
Chão (Santarém), sendo uma brilhante
manifestação popular, constituindo o maior
evento folclórico da região.
O Festival permanece misturando elementos
religiosos com profanos, apresentando
inúmeras manifestações folclóricas,
traduzidas através do boto Rosa e do boto Tucuxi.
Alter do
Chão era o local de uma antiga aldeia dos
índios Borari, que recebeu, com a chegada dos
jesuítas, o nome de Missão de Nossa Senhora
da Purificação. Como obteve desenvolvimento
próprio, a aldeia foi levada à categoria de
vila a 06 de março de 1758, com o nome
português de Alter-do-Chão. A vila é
privilegiada por seus belíssimos atrativos
naturais como o "Lago Verde" dos Muiraquitãs,
os amuletos sagrados das Amazonas.

COMPONENTES
- Um juiz
e uma juíza que são as figuras principais, a
quem cabe a organização da festa.
- Um
Procurador e uma Procuradora, que substituem
os juízes quando necessário.
- Um
Capitão que determina o movimento do Barracão
do Çairé e o cerimonial. Comanda a disposição
dos mordomos na procissão. Prende as pessoas
que não se portam com o devido respeito
dentro do Barracão do Çairé.
- Dois Rufadores de Caixa (foliões), pessoas que
acompanham a procissão, tocando e cantando.
- Dois
Alferes, que são os portadores das bandeiras
dos juízes: uma vermelha e uma branca, tendo
ao centro o desenho de uma pombinha que
representa o Espírito Santo.
- Nove
mordomos e nove Mordomas, as quais são
atribuída a execução dos trabalhos
necessários para a realização da festa
(construção e decoração do Barracão do Çairé,
ornamentação da praça, limpeza, etc.).
-Um
Sargento que colabora quando necessário.
-Uma
Saraipora, que é a mulher que conduz o Çairé.

A festividade inicia-se
uma semana antes, com a passagem "Busca dos
Mastros". Barcos e canoas são adornadas para
levar mordomos, procuradores e
juízes pelas matas para encontrar as toras
que servirão de mastro, para a abertura da
festa. Os troncos escolhidos são enfeitados
com folhas, flores e frutos e levantados em
competição acirrada entre homens e mulheres
para ver qual do grupo consegue levantar o
mastro primeiro.
A festa
do Çairé começa em uma quinta-feira com uma
procissão e carrega os mastros preparados uma
semana antes. Um deles é levado por homens e
o outro por mulheres. Na frente do cortejo,
segue a Saraipora, a mulher que conduz o Çairé.
A
procissão se repete todos os dias ao meio-dia
com um breve ritual em torno dos mastros. Às
sete horas da noite ela contorna a praça e
dirige-se para o Barracão do Çairé onde é
cantada a ladainha, em latim. Todos os dias
no encerramento há a cerimônia do Beija
Santo. A juíza, sentada em uma cadeira, com
uma estola branca no colo, coloca a Coroa que
representa o Espírito Santo. Obedecendo a uma
hierarquia vão, o juiz, os mordomos, os
procuradores e demais assistentes, que
reverenciam e beijam a Coroa. No momento em
que a juíza vai fazer a reverência é o juiz
que da mesma maneira coloca a estola e
deposita a Coroa no colo.
O grande
evento conta ainda com torneios
esportivos e um festival folclórico, com
apresentação de grupos que mostram ao público
toda a riqueza cultural da região.
Paralelo
ao lado religioso há a famosa disputa dos
botos Tucuxi e Cor de Rosa. Esse confronto
surgiu em 1997, com objetivo de preservar e
divulgar essa lenda que é um dos mais
perfeitos retratos da Amazônia.

Um espaço
físico conhecido como Çairódromo serve de
palco para realização dos shows musicais e a
apresentação cênica dos botos. Com belas e
criativas fantasias, além de alegorias
gigantescas Tucuxi e Cor de Rosa,
resgatam lendas da cultura amazônica,
atraindo milhares de pessoas à hoje conhecida
como "caribe dos rios", Alter do Chão. A 32
Km de Santarém, essa aldeia de pescadores
situa-se no coração pulsante da Amazônia.
Localizada à margem direita do rio Tapajós
(afluente do rio Amazonas), famoso pela cor
esmeralda de suas águas, é aqui que
encontramos o quadro mais bonito pintado
pelos deuses indígenas: praias exóticas e
primitivas de areias alvíssimas que formam
cordões dourados ao longo do rio, dunas e
mangue, tornam o lugar um verdadeiro paraíso
caribenho, que já é parada obrigatória dos
cruzeiros marítimos.
A vila de Alter-do-Chão abriga ainda, um Centro para
Preservação da Arte, da Cultura e da Ciência
Indígena (CPAI), conhecido como Museu do
Índio, onde podem ser encontrados objetos
raros e a história de 70 tribos da região
amazônica.

Além
disso, sabemos que a Amazônia é um Palácio
Encantado de lendas, onde à beira de seus
rios escutam-se traiçoeiros jacarés, ou
passeiam nostalgicamente jacamins e mutuns,
mas nada se compara a um peixe irrequieto e
inofensivo, para o qual são atribuídos
malefícios donjoanescos. Se uma donzela tiver
a má sorte de se deixar enlear nas falas
mansas e enganadoras de qualquer moço ágil,
já se sabe que foi o tal peixe, o boto, que a
fantasia ingênua dá formas galantes de Dom
João agreste, o maldito que a seduziu.
O Boto
tem inspirado inúmeras criações de danças que
retratam a sua lenda, mas é na festa do Çairé
que encontramos o mais bonito desenrolar
teatrólogo de sua morte e ressurreição. É no Çairódromo que entram em cena as performances
destes botos. A quadra é dividida em duas
facções e como os rios Tapajós e Amazonas os
botos se apresentam no mesmo espaço, mas sem
se misturar.
Adaptada
para o folclore, a "lenda do Boto" apresenta
além das já conhecidas personagens de sua
estória, figuras que expressam a cultura do Çairé de Alter do Chão como a Rainha do Çairé,
Rainha do Artesanato, Índios, Curandeiros,
etc.
O espetáculo apresentado provoca
comoção, que sem dúvida, coloca a Festa
do Çairé na berlinda dos grandes e
imperdíveis eventos nacionais.

No último
dia é quando a animação contagia toda a vila
e acontece a "varrição da festa, seguida da
disputadíssima derruba dos mastros. Segundo a
tradição, todo aquele que conseguir
apoderar-se de uma das frutas com as quais
foram decoradas os mastros, além de ter o
prazer de degustá-la, terá muita sorte.
Ocorre em seguida, a Cecuiara,ou seja,
um delicioso almoço de confraternização com
pratos típicos da cozinha mocoronga à base de
peixes da região como: tucunaré, tambaqui, jaraqui, pirarucu, acari e curimatá, além
várias outras espécies como o apapá, traíra, tranquinha, charuto, aracu, pirapitinga,
piranha, pacu, mapará, surubim e tantos
outros.
A noite,
acontece o encerramento com a "Festa dos
Barraqueiros".
A
Amazônia, para nossa felicidade, é um não
acabar de lendas, de festas e de interesses
folclóricos, um verdadeiro laboratório onde
se transformam e temperam as energias
humanas. Povoam ainda, nessa imensa região, a
imaginação de seus habitantes simples, que
interpretam a seu modo a natureza doce e
tumultuária desse paraíso verde.
A nós, só
cabe abrir os olhos, pois nada no mundo se
iguala a esse magnífico espetáculo que a
natureza nos oferece!
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Texto
pesquisado e desenvolvido por
ROSANE
VOLPATTO
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