PODERES DAS FADAS

O homem se separou
definitivamente da natureza e condenou ao
esquecimento todos os seres que escapavam da
lógica. O ser humano ambicionava dominar a
criação e se sentia mais seguro quando lograva
racionalizar os fenômenos da natureza.
O arco íris, as chuvas, os jogos
das sombras na parede, os crucifixos de madeira,
deixaram de ser um mistério para ele e acreditou
que todos os demais mistérios deviam ter
idêntica explicação. Em algum momento da nossa
história o homem não mais assombrava-se quando
soltava um objeto e esse caia ao solo ante a lei
da gravidade.
A perda da inocência na criança
começa no dia em que não olha com admiração a
chuva que cai do céu, porque já sabe que sempre
choverá para baixo. Lamentavelmente para o
homem, cuja vida perde parte de seu encanto, os
mistérios se convertem em nomes latinos e gregos
com os quais batizam as distintas espécies de
animais e vegetais.
Desconhece o ser humano que
a natureza não pode ser dominada pelo simples
fato de nomeá-la ou classificá-la, mas deve-se
compreender suas regras e aceitar um ou outro
lugar no mundo e isso só as Fadas podem
ensiná-lo.
Os seres feéricos muito
mais primitivos e essenciais que o ser humano,
com ele convivem em um plano diferente, possuem
os sentidos mais aguçados e aprendem com a
natureza. A cura, a vidência,a telepatia,a
adivinhação e o controle dos fenômenos
meteorológicos são alguns de seus poderes. A
cura é um poder que só algumas fadas
desenvolvem. Normalmente se ajudam para esse
propósito das propriedades mágicas das fadas e
elaboram poção mágicas com elas.
Contam que as anjanas percorrem
os bosques portando uma garrafa com uma poção,
com a qual curam os animais e os homens que
encontra pelo caminho. E as Vila, que se conhece
como "curadoras dos bosques", utilizam o poder
das plantas e colocam suas mãos sobre o peito
dos animais e dos homens que necessitam de sua
ajuda.
A curas mais surpreendentes são
realizadas pelas mouras, que curam num instante
com um pouco de água que levam em seus cântaros.
As lâmias vascas e as korrigans da Inglaterra
tem a faculdade em converter em curativas as
águas de seus mananciais.
As fadas das flores e as ayalgas,
enquanto não exercem a cura de modo direto,
contribuem com a ciência revelando aos homens os
cohecimentos que possuem sobre as propriedades
medicinais das fadas, para que sejam eles que
encontrem o remédio para seus males.
Outro grupo de fadas, como as
melíades, aproveitam os poderes mágicos das
árvores e as cuidam para proteger as distintas
espécies. Contam que no passado, as melíades
formavam um círculo unindo as folhas de freixo e
criavam uma espécie de cova onde nem a chuva nem
o frio chegava e ocultavam ali as crianças que
se perdiam no bosque.
A fada da aveleira
compartilha com os homens o poder de sua árvore,
concedendo a fertilidade as mulheres que confiam
nela e se aproximam de sua árvore para invocá-la
e pedir-lhe que as convertam em mães.
A clarividência é outra
faculdade desenvolvida pelas fadas. Embora
muitas fadas exerçam a adivinhação, não todas a
fazem da mesma maneira: algumas lêem o futuro em
seus fios de roca, outras predizem a morte e um
terceiro grupo é capaz de ler a alma dos homens.
Dizem que as antigas moiras gregas tinham em
suas mãos o destino dos homens e por isso
conheciam seu futuro, porém aquelas antigas
moiras perderam com os séculos parte de seus
poderes e a seus descendentes só lhes foi
chegado o dom de prever o futuro.
As atuais moiras que habitam na
Grécia e Albânia só advertem os mortais dos
perigos e adivinham o futuro das crianças que
acabam de nascer. A giane, a fada fiandeira das
covas da Sardenha, vê passar ante os fios de sua
roca o destino dos homens.
A giane só conhece o código de
seus fios e interpreta o sinal de cada um. Entre
os múltiplos poderes que lhes são atribuídos, as
sereias, também se encontra a adivinhação.
Mais inquietantes nos parecem as
fadas que se apresentam ante aos homens para
anunciar-lhes a morte de um familiar. Esse dom,
quase uma maldição, provoca medo, embora muitas
delas são só doces fadas cuja única culpa é
conhecer aquilo que não sabem os demais.
A banshee, a fada irlandesa da
morte, se apresenta chorando ante as famílias
irlandesas mais nobres para informar-lhes a
morte de alguém querido para eles. Sua imagem é
espectral, seu rosto é uma pura lágrima, porém
em seus olhos vermelhos descobrimos que há sido
testemunho de uma morte. As lavadeiras, cuja
presença é um mal presságio em muitos lugares,
anunciam pelos rios de toda Europa a morte dos
homens. A diferença da banshee que esta revela a
morte de um familiar, enquanto as lavadeiras
anunciam nossa própria morte.
A telepatia ou transmissão de
pensamento é outra faculdade que muitas fadas
possuem, enquanto são as sílfides as mais
famosas por isso. A palavra "silfo" significava
em latim clássico "gênio, espírito" e por
extensão se passou a denominar com esse nome as
graciosas fadas do ar. Estas fadas estão
relacionadas com a telepatia. Conhecedores como
são do potencial da mente humana e da escassa
importância que o homem tem prestado até agora,
algumas fadas iluminam os homens que elas
consideram mais capacitados para que descubram
as grandes leis que regem a terra como a fada da
maçã, que concede a claridade de idéias e
estimula os homens.
A leanan sidhe era outra fada que
atua do mesmo modo da musa e concede a
inspiração aos artistas. Sob sua influência os
poetas escreviam poesias e os pintores criavam a
melhor de suas obras. Porém nem todas as fadas
mostram seus dons a troco de nada.
O poder das fadas é muito
poderoso, como o da leanan sidhe, que lhes
proporciona inspiração, porém podem se tornarem
loucos quando esta lhes abandona. As nayades e
as damas verdes também figuram entre as fadas
com poder para enlouquecer os homens. A dama
verde o faz por capricho, por vaidade, porque
gosta de fazer os homens se apaixonarem por ela;
as nayades o fazem por castigo, por vingança, e
só tornam loucos aqueles que se atrevem a entrar
em suas águas para espiá-las e assim vê-las nuas
enquanto se banham. A maioria das fadas têm o
dom da palavra e são capazes de comunicar-se com
distintas espécies de animais, de plantas e
árvores em sua própria língua. As ayalgas, as
fadas asturianas encantadas célebres por
cuidarem de seus tesouros, exercitam esta
capacidade como meio de defesa, conseguindo que
os animais as obedeçam e tragam os homens até
suas covas para que possam libertá-las.
As guardiãs dos bosques também
conhecem as distintas línguas dos animais e
assim podem atender sua chamada quando estes
estão em perigo. Os feitiços, que parecem mais
próprio das bruxas que de fadas, são utilizados
pelas fadas para liberar os animais feridos ou
castigar os homens. As fadas italianas, por
exemplo, tem o costume por a prova os mortais
para descobrir a bondade em seu coração. Aqueles
que não superam a prova se vêem condenados a
vagar com orelhas de burro ou um rabo de asno.
Mais surpreendente é o domínio que as fadas
exercem sobre a natureza.
As temperamentais rusalkis
controlam a chuva e o vento, favorecendo as
colheitas, enquanto as sílfides são capazes de
provocar o mais feroz dos furacões. As fadas do
mar, as nereidas, as sereias, as mulheres
marinhas e as merrow, são descendentes dos
antigos deuses gregos do mar, de Nereo, do titã
Oceano ou Poseidon. Essa origem é demonstrada no
controle total que exercem sobre os maremotos e
tormentas. Algumas como as nereidas, preferem
aplacá-las; outras, como as sereias e as
mulheres marinhas, se divertem criando-as para
atrair os marinheiros.
As fadas mais trabalhadoras podem
presumir de uma rapidez surpreendente na
execução dos trabalhos no campo. As portunes, as
seligen ou as ellylon, embora com aparência
humana, se reconhece como seres de outra
natureza por seu potencial.
O ser humano jamais conseguiria
arar a terra com a velocidade que a selig fazia,
nem com o entusiasmo que a ellulon põe em seu
trabalho ou com a presteza que a habetrot fiava.
Porém são os contos de fadas os que nos ensinam
os poderes mágicos das fadas e sua capacidade
para converter ratos em lacaios, a abóbora em
carruagem e um velho vestido em um traje de
festa. Uma varinha mágica e uns pequenos truques
são suficientes para devolver a ilusão a heroína
dos contos.
Uma qualidade fundamental
associada as fadas e que nos transporta ao mundo
mágico dos sonhos e sua capacidade para conceder
dons ou desejos. No conto tradicional de "A Bela
Adormecida" as fadas do reino se apresentam ante
ao soberano para entregar-lhe os melhores dons a
princesa que acabava de nascer.
A alegria, a beleza, a esperança,
a prudência, a justiça e a paciência são alguns
dos dons com que as fadas premiam os homens
nobres. Em alguns lugares tem o costume de
adicionar um quarto junto a mulher que está
parindo para que as fadas ajudem no parto e
concedam algum desses dons a seus filhos quando
nasçam.
A fada do espinheiro se mostra
eufórica na primavera, quando seu arbusto
floresce, ela concede um desejo a todo aquele
que a invoca e coloque uma fita colorida em um
de seus ramos.
As salamandras, as fadas mais
poderosas do universo, também concedem um desejo
se forem invocadas com respeito, sabedoria e
fortaleza de espírito. Vimos antes que as
lavadeiras é um sinal mal presságio e mesmo
assim muitos homens as buscam. O motivam é que
as lavadeiras premiam o valor e, se um homem
lograr atraí-las e se colocar entre a fada e a
água em que lavam, esta lhe concederá três
desejos.
A ceasg, a donzela do mar, é
outra fada com poder suficiente para conceder
três desejos, porém para isso os marinheiros tem
que lograr capturá-la quando nadam perto da
margem. O homem, que se crê tão inteligente e se
atreve a chamar as fadas, seres primitivos e
essenciais, se mostra ante a criação como um ser
desvalido que, em muitas ocasiões, necessita das
fadas para sobreviver.
ROSANE VOLPATTO


 
 
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