TERRITÓRIO DAS FADAS

Entre os latinos, os celtas, os germanos, e romanos, as divindades da natureza
e dos elementos eram chamados de "genius loci", o "gênio do local".
Os
altares e templos consagrados as ninfas, as ondinas e aos silfos não eram
edificados em qualquer parte, e sim em determinados locais precisos. Do mesmo
modo, as cidades se construíam em territórios eleitos entre todos pelas
qualidades dos "espíritos dos lugares" que habitavam neles.
Os
antigos temiam os poderes das fadas, do mesmo modo que se maravilhavam com eles.
Assim, os camponeses e pastores nunca se aventuravam no interior de grutas
construídas por fadas sem praticar uma oferenda aos gênios do local. Essa
oferenda podia resumir-se em um pequeno galho de determinada árvore, um pedaço
de pão ou algumas gotas de leite. Acompanhando a oferenda, devia ser feito um
voto, para ganhar a confiança delas.
Muitas
dessas grutas existiam, como: as grutas druídicas de Plombières; a "Cova das
fadas", na cercania das ruínas do castelo de Urfè; entre outras.
Corneille de Kempen nos assegura que, nos tempos de Lotario, havia em Frisia
numerosas fadas que moravam em cavernas, em torno das montanhas, e que só saíam
com a luz da lua. Olaus Magnus disse que se viam muitas na Suécia em seu tempo:
"Têm por morada grutas escuras no mais profundo dos bosques; as vezes me
mostram, falam para aqueles que as consultam e desaparecem subitamente."
As
colinas, os túmulos e as pedras druídicas também são consideradas obras das
"boas damas". A alguns quilômetros de Blois, entre Pont-Leroy e Thenay, se
observa uma "Pedra da meia-noite" que, ao que parece, gira sobre si mesma todos
os anos na noite de Natal. Perto de Tours existe outra pedra giratória; se diz
que as fadas a depositaram ali sustentando-a com a ponta dos dedos.
Supunha-se que os menires (pedras sagradas) atraíam as fadas, que dançavam ao
seu redor durante noites inteiras, a maneira das sacerdotisas celtas das quais
eram descendentes.
Também
se contava, no norte da Europa, que as fadas se reuniam a noite em torno das
pedras sagradas com instrumentos musicais fabulosos para interpretar uma dança
chamada "chorea Elvarum", a "Dança dos Elfos". Mas as fadas detestavam ser
observadas durante esses festejos e ao menor ruído desapareciam em uma fração de
segundos.
CRUZADA
CONTRA AS FADAS
Quando
se produz a expansão do cristianismo, todos os altares consagrados aos gênios
locais, aos deuses campestres, aos elfos e as fadas, assim como os cultos à eles
celebrados, foram em primeiro momento condenados e proibidos pelo clero.
No
vigésimo terceiro concílio de Arles, que se celebrou em 442, proibiu o culto das
árvores, das pedras e das fontes. Essas proibições foram repetidas por concílios
posteriores, como o Tours, em 567, o Leptines, em 743.
Um
capitulo de Aquisgrás, escrito no ano de 789, qualificou de sacrílegos todos os
pagãos que seguiam acendendo fogueiras a noite perto das árvores, dos menires e
das fontes, em homenagem as entidades feéricas. As leis de Luitprand renovaram a
proibição.
Entretanto, todas essas medidas resultaram ineficazes. O povo, por muitos
séculos, continuou desafiando as proibições para ir render homenagem ao pequeno
povo das fadas. Por isso, os clérigos pouco a pouco se viram obrigados a
reconverter esses templos pagãos em lugares em culto cristãos.
A
maioria dos centros cristãos importantes foram edificados em antigos lugares de
cultos pagãos. Assim, o monte Tombe, antigo lugar de peregrinação celta, foi
transformado em Mont-Saint-Michel. A catedral de Paris se elevou sobre um antigo
templo galês consagrado a Lug, o Deus da Luz. E os altares campestres, as
árvores sagradas, as cavernas habitadas por fadas foram convertidos em lugares
de adoração da Virgem Maria, que por essa razão, se converteu a padroeira das
fadas. Alguns afirmam inclusive, que um bom número de milagres ou aparições que
tiveram lugar nesses antigos lugares pagãos, não eram, senão manifestações das
fadas.
A
crença nas fadas, não se opõe em nada a crença cristã, ao contrário, a anuncia
em muitos pontos. Recordemos, por exemplo, a importância do número três nas
manifestações feéricas. O três é igualmente símbolo da Trindade cristã. As
Igrejas cristãs primitivas o compreendiam perfeitamente: assim, se pode ver na
Grécia um ícone ortodoxo em que Cristo aparece com criaturas aladas que se
parecem tanto com os elfos como os anjos.
Foi a
imagem da Virgem Maria que os sacerdotes colocaram em cima das árvores sagradas.
O velho carvalho de Loupe, parece ter sido um desses antigos monumentos de culto
druídico metamorfoseado pela religião cristã, pois hoje em dia o chamam de
carvalho da boa Virgem. Os dolmens foram transformados em calvários; as fontes
mágicas e os grandes carvalhos dos druidas foram consagrados a Virgem, e as
plantas e ervas medicinais de virtudes maravilhosas, que as bruxas iam colher a
luz da lua, foram colocadas debaixo do patrocínio dos santos. Mas, por baixo do
manto da religião, as fadas continuaram a exercer sua função de madrinhas dos
homens.
Texto
pesquisado e desenvolvido por
ROSANE
VOLPATTO



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